domingo, 16 de setembro de 2012

AFINAL, É PARA TEMER OS MUÇULMANOS?



O ódio contra os americanos, por suas intervenções logísticas e armadas no mundo muçulmano. O Alcorão prega a violência? Os islâmicos que interpretam versículos do seu livro sagrado “para objetivos particulares”

Estabelece-se um consenso a propósito da fúria muçulmana contra instituições americanas em países do Oriente Médio e norte da África.

Havia a chama acesa e o pavio do explosivo pronto a incendiar a qualquer momento contra diversas intervenções, interferências americanas ou sua influência em vários desses países.  O pavio foi aceso com a divulgação na internet de um filminho de quinta categoria, amador ("Inocência dos Muçulmanos"), produzido nos Estados Unidos, no qual é ridicularizado o profeta Maomé, o guia espiritual supremo dos muçulmanos.

Há, ainda, feridas não cicatrizadas, apenas para lembrar, dos resultados danosos na intervenção americana no Iraque e no Afeganistão e, claro, influência logística e política nos vários países que vivem a “primavera árabe”, particularmente na Líbia onde seu ditador Muammar Kadafi foi morto sofrendo sevícias e torturas. (1)

E eis que como um troco aos ataques de 11 de setembro em Nova York pela rede Al Qaeda, a operação militar no Paquistão, que resultou na morte de Osama Bin Laden comemorada com estardalhaço pelos Estados Unidos.

Repercute, também, a pressão americana sobre o Irã e o seu ainda não provado projeto de obtenção de arma nuclear.

Há, pois, esse clima de ódio contra os americanos em toda aquela região, países que a par de repudiar as intervenções, rejeitam a cultura ocidental ou o seu (o nosso) modo de vida, dos quais os Estados Unidos são os principais atores e exportadores.

Bastou, então, a divulgação daquele vídeo medíocre para que a revolta e a agressão se voltassem contra embaixadas e próprios americanos em alguns desses países. Na Líbia, foi morto o embaixador americano e outros funcionários da embaixada. (2)

Pouca adianta a secretária Hilary Clayton sair a público para afirmar que o seu país preserva a liberdade de expressão. Pouco resolve. Há uma massa muçulmana que rejeita qualquer expressão que não seja a sua, ainda que, para isso, precise distorcer ou mal interpretar mandamentos do Alcorão.

Esses os fatos.

E todos nós, ao ver essas manifestações graves por tão descabida causa nos preocupamos. Afinal, a que ponto podem chegar esses radicais no dia-a-dia, nos aeroportos, nas viagens, nos locais públicos com a prática de atos terroristas violentos, “sem olhar cara ou coração”?

Diante disso tudo achei necessário dar uma lida em itens do Alcorão e assim fiz. 

Mas, a melhor discussão se dá a partir duma pergunta à Sociedade Beneficente Muçulmana. A pergunta resumida:

Espero que os estudiosos me tirem da confusão em que me encontro desde os acontecimentos de 11 de setembro, principalmente no que diz respeito a alguns versículos alcorânicos. Esses versículos contradizem inteiramente o que os muçulmanos dizem a respeito de sua religião, que é uma religião de paz que condena a violência. Como os senhores interpretariam um versículo que diz "Matai-os onde quer que os encontreis"? (al-Bacara 191) e ..."Mas, se se rebelarem, capturai-os então, matai-os, onde quer que os acheis, e não tomeis a nenhum deles por amigo ou socorredor."? (an-Nisá 89).  Muito apreciaria uma resposta rápida.

A resposta foi dada pelo Dr. Muzammil H. Siddiqi, diretor da Sociedade Islâmica do Condado de Orange, e presidente da Sociedade da América do Norte:

"Agradeço as palavras gentis de que você não odeia os muçulmanos. O ódio não é bom para ninguém. Quero assegurar que nós muçulmanos também não odiamos os não muçulmanos, sejam cristãos, judeus, hindus, budistas ou seguidores de qualquer outra religião, ou que não tenham religião. Nossa religião não permite a morte de qualquer pessoa inocente, qualquer que seja sua religião. A vida de todos os seres humanos é santificada, de acordo com os ensinamentos do Alcorão e a orientação de nosso abençoado Profeta Mohammad, que a paz esteja com ele e com todos os profetas e mensageiros de Allah.”

No que concerne aos trechos contidos na pergunta acima, diz o consultado, o seguinte, em resumo:

“De acordo com Alcorão, matar uma pessoa sem  justa causa é um grande pecado, como se matasse toda a humanidade, assim como salvar a vida de uma pessoa é uma boa ação que corresponde a salvar toda a humanidade (ver al-Máida 32).”

E depois transcrevendo todos os textos na íntegra dos versículos mencionados na pergunta, ele pondera:

“Agora, diga-me honestamente, estes versículos dão permissão para se matar livremente qualquer um em qualquer lugar? Esses versículos foram revelados por Allah ao Profeta Mohammad, que a paz esteja com ele, na época em que os muçulmanos vinham sendo atacados constantemente pelos não muçulmanos de Meca. Eles estavam aterrorizando a comunidade muçulmana de Medina. Pode-se dizer, usando o jargão contemporâneo,  que havia constantes ataques terroristas a Medina e, nesta situação, os muçulmanos tinham a permissão de combater os "terroristas". Esses versículos não significam uma permissão para a prática do "terrorismo", mas são uma advertência aos "terroristas”. Porém, mesmo nessas advertências,você pode perceber como a moderação e o cuidado são bastante ressaltados."

E assevera:

"É importante que estudemos os textos religiosos dentro de seu contexto.  Quando estes textos não são lidos dentro dos contextos histórico e textual, eles são manipulados e distorcidos. É verdade que alguns muçulmanos manipulam esses versículos para alcançar objetivos particulares.  Mas isto acontece não só com os textos islâmicos, mas, também com textos de outras religiões. Posso citar dezenas de versículos da Bíblia que parecem violentos  se tomados isolados  de seu contexto histórico.  Esses textos bíblicos foram usados por muitos grupos judaicos e cristãos. Os cruzados os usaram contra muçulmanos e judeus. Os nazistas os usaram contra os judeus. Recentemente, os cristãos sérvios os usaram contra os muçulmanos bósnios. Os sionistas os estão usando regularmente contra os palestinos."

(Textos bíblicos mencionados pelo islamita em sua resposta que se referem à aceitação da violência contra opositores e inimigos: Velho Testamento: “Deuteronômio 20:10.17” e “Números 31:17.18”; Novo Testamento: “Lucas 19:26-27”).  

Concluindo...


No texto grifado é reconhecido que “alguns muçulmanos manipulam esses versículos para alcançar objetivos particulares.” (3)

E é inequívoco que, a despeito de todas as intervenções americanas no mundo, seus desastres, seu “carma” decorrente dos atos praticados no século XX e XXI no mundo – foi o único país que experimentou a bomba atômica, no caso, contra o Japão no final da 2ª Guerra contra civis, ceifando milhares de vidas – eu tenho um conceito negativo em relação àqueles e outros atos de muçulmanos que interpretam a seu modo o Alcorão.

Mas, o que fazer, se os conceitos deles são outros, se a liberdade que eles desejam, não é a nossa liberdade – que eu prefiro de modo incondicional?

Reconheço que tanto do lado islâmico como ocidental há santos, sim, mas há muitos radicais, fanáticos, assassinos que não valorizam a vida humana e, no todo, a do próprio planeta.

É claro, porém, que esse ódio cuja causa, neste momento, seja tão desprezível, torna os muçulmanos temidos pela imprevisibilidade dos seus atos, pela violência que praticam e intolerância sem limite que demonstram. 

Quem são eles quando se aproximam?

É como sinto e vejo à distância.

(“Todos os louvores e agradecimentos são devidos a Allah e que a paz e a bênção estejam com seu Mensageiro”).

Melhor se, em vez da intolerância e agressões esclarecessem ao Ocidente o sentido do islamismo e do Alcorão.

Referências:

(1) Recomendo a leitura do artigo do jornalista Caio Martins de 11.09.2012, “11 de setembro: qual?” muito esclarecedor sobre as intervenções americanas recentes, no portal www.votebrasil.com;
(2) Recomendo a leitura do artigo do jornalista Caio Martins, de 16.09.2012, “Primavera árabe e o outono da democracia”, no portal www.votebrasil.com;
(3) Mais informações consultar: Sociedade Beneficente Muçulmana, “O Alcorão ensina a violência?” (http://www.sbmrj.org.br/Alcorao-violencia.htm)

Imagens: A Bíblia e o Alcorão

APÊNDICE 

Paz ‘made in’ São Paulo

O jornal “O Estado de São Paulo” de 16.09.2012 trouxe notícia sob o título “A paz ‘made in SP’ de cristãos, judeus e muçulmanos”, iniciativa de empresários dessas religiões que se uniram para organizar exposição, destacando-se totens pela cidade com as palavras Solidariedade, Amor, Paz, Diversidade, Liberdade, Amizade e Respeito com até 19 metros de cumprimento. Haverá, também, uma corrida, a simbólica, a Caminhada de Abrão, profeta que depois de receber o chamado de Deus, “caminhou por 1,2 mil quilômetros na região Oriente Médio – cruzou o Rio Eufrates, a região montanhosa do Norte da Jordânia, Belém e Jerusalém.”

O patriarca Abrão que viveu há quatro mil anos, é considerado o fundador do monoteísmo e figura importante para as três religiões.

Os organizadores consideram São Paulo “o melhor lugar do mundo” para tal evento, por ser “o único onde há convivência, interação entre árabes, judeus e cristãos”.


sábado, 8 de setembro de 2012

AQUECIMENTO GLOBAL: AVANÇOS DO CONHECIMENTO



Não considero as divergências quanto ao aquecimento climático como “debate” propriamente dito, mas o fortalecimento de conhecimentos que atestam a gravidade da degradação ambiental.

Registrei no meu artigo “Vete, Dilma, vete (O Código Florestal)” a repercussão relativa que se dera com a “retratação” que fizera o suposto “guru dos ambientalistas”, o cientista britânico James Lovelock que previra situações climáticas catastróficas, apocalíptica por conta do aquecimento global porque nos últimos 20 anos nada do que dissera aconteceu.
Para relembrar o que dissera o cientista ao rever sua teoria:
“O problema é que não sabemos o que o clima está fazendo, embora achássemos que sabíamos 20 anos atrás. Isso levou à publicação de alguns livros alarmistas, inclusive o meu.”
E mais:
“O clima continua fazendo os seus truques de sempre. Não tem nada de muito emocionante acontecendo agora. Deveríamos estar a meio caminho de fritarmos, mas não é isso o que está acontecendo.”
Com essa revisão assumida pelo cientista, nessa esteira, foram chamados a opinar cientistas ou climatologistas que desdenham do aquecimento global, pelo que, de regra, classificam esses estudos como alarmistas não sendo necessária a “descarbonização” do planeta e que o clima esfriará até 2030. Que não faltará água, porque o planeta é composto de 70% dela. Esse alarmismo todo, então, poderia ser uma estratégia da ONU que aspiraria controlar o planeta a partir dos níveis de emissões de poluentes de cada país. O “grande irmão” da poluição...que me parecera uma bobagem tamanha. E isso deixei registrado no meu artigo  “O aquecimento do clima, sim é não...”.
Tal a forma dessa abordagem que até mesma apelara para verdadeiros cientistas que saíssem a público para rebater essa teoria que no seu bojo, ainda que sem essa intenção, tinha, como tem, forte apelo predatório. Ora, se nada de anormal ou significativo vem ocorrendo no clima, é sinal de que, por exemplo, a Amazônia – que tem influência sobre as chuvas no continente - pode ser exterminada porque até agora mesmo com a devastação que se processa, mantém o planeta hígido.
Não demoraria muito, e o professor José Goldemberg exporia sua opinião em artigo no jornal “O Estado de São Paulo” de 20.08.2012.
Disse ele:
“Há incertezas nas previsões científicas, mas com o passar do tempo elas estão cada vez mais confiáveis e precisas. Por exemplo, James Lovelock, ídolo dos ambientalistas por suas ideias sobre a “hipótese de Gaia” – que considera a Terra toda com características de um ser vivo -, não questiona a realidade do aquecimento global como resultado da ação do homem, mas sim a necessidade de mais pesquisas sobre a terra.
É contra essas evidências que se manifestam os “céticos”, cuja motivação não é clara. Alguns o fazem para atrair a atenção do público e outros podem estar sendo estimulados pelas indústrias que serão prejudicadas caso seja limitado o uso de combustíveis fósseis, que tem sido proposto por vários países.
Esses “céticos” não adotam o método científico ao fazerem as suas críticas. Eles simplesmente emitem opiniões e previsões esdrúxulas, como a de que a Terra estaria passando por um processo de resfriamento, em lugar de se aquecer num futuro que eles não especificam. Cartomantes podem fazer isso, mas não cientistas.” (1)
Como defensor ambiental por observação e convicção muito me conforta as opiniões do professor José Goldemberg porque são as minhas opiniões.
Aliás, talvez por ter me fixado no seu texto é que, para minha surpresa, me vali também da cartomancia no meu artigo “Código Florestal: vitória da inconsequência”. No meu inconformismo e tristeza com o descaso que ocorre em relação ao meio ambiente escrevera e, creio, nem bem compreendido:
“Vejam só, nestes últimos anos o clima está “estável”, não há aquecimento climático como apregoam alguns desavisados como se ledores de cartas fossem, “donos da verdade”. Ora, as secas e as devastações no mundo também pelas chuvas intensas se devem à essa “estabilidade”. “Nunca faltará água”, afirmam esses cartomantes, mas aqui no Brasil, milhares de concidadãos matam a sede no que resta de açudes, no barro e se movimentam nos próprios esgotos que produzem.”
Houve, um efetivo alvoroço à revisão em suas teorias, anunciada pelo cientista britânico James Lovelock.
Todavia, passa ao largo um outro “revisionista”, mas até então um cético no que se refere  ao aquecimento global.
De artigo de Marcelo Gleiser:
“Richard Muller, um cientista da Universidade da Califórnia em Berkeley, conhecido por seu antagonismo ao aquecimento global, não só virou a casaca como deduziu, a partir de uma reanálise de dados de sua pesquisa e da de outros grupos, que os culpados somos nós.”
E prossegue:
“Muller argumenta que dados coletados de estações que monitoram mudanças de temperatura pelo planeta o forçaram a concluir que “a temperatura média do planeta subiu 1,39°C nos últimos 250 anos e que 0,84°C de aumento aconteceu nos últimos 50 anos. Ademais, é muito provável que todo esse aumento tenha resultado da emissão por humanos de gases-estufa.” (2)
Richard Muller, pela mudança de posição anunciada, também vem sendo questionado no seu país.
Não considero essas divergências como “debate” propriamente dito, mas o fortalecimento de conhecimentos que atestam a gravidade do aquecimento global e da degradação ambiental que muitos e muitos insistem em ignorar ou simplesmente se omitem porque seus efeitos graves eclodirão num futuro não tão distante. Nas próximas futuras gerações. Por ora, estamos tendo os primeiros sintomas.

Referências:
(1) “Mudanças climáticas e os céticos” de José Goldemberg, professor emérito e ex-Reitor da USP, ex-secretário do Meio Ambiente do Governo Federal e do Estado de São Paulo
(2) “Antigo cético do clima ‘vira a casaca’ e aquece discussões sobre as mudanças climáticas na Terra” artigo de  Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College em Hanover (EUA). Fonte: “Folhapress” transcrito pelo Jornal de Piracicaba de 06.09.2012.

Meus artigos mencionados no texto e publicados neste portal:
“Vete, Dilma, vete (O Código Florestal)” de 06.05.2012
“O aquecimento do clima, sim é não...” de 02.07.2012.
“Código Florestal: vitória da inconsequência” de 02.09.2012

domingo, 2 de setembro de 2012

JULGAMENTO DO MENSALÃO: PRIMEIRAS IMPRESSÕES





O julgamento do mensalão, por mérito do relator ministro Joaquim Barbosa, vem atendendo, com isenção, à aspiração pública de dar um basta à impunidade no país.






O que dizer da primeira “fatia” do julgamento do mensalão?

De plano reconhecer que o relator, ministro Joaquim Barbosa avançou nos detalhes no imenso processo do escândalo.

Não vou, como princípio, tecer loas à sua postura, apenas dizer que, seguramente, ele respondeu a uma aspiração do povo brasileiro, aquela imensa parcela inconformada com os desmandos havidos nos governos recentes do país.

Desmandos, como tantos outros, que iam passando incólumes mesmo com a “festa de arromba” que vinha fazendo o partido oficial do governo por seus principais próceres.  “Tudo posso, porque os fins justificam os meios”.

Creio que, nunca antes neste país, ao alcançar a democracia, tantos escândalos vieram à tona. Nem nos tempos de Fernando Collor.

Um exemplo real de que as coisas já se processavam às claras, foi a ostentação do Land Rover do ex-secretário do PT, Silvio Pereira, presente da GDK, empresa que prestava serviços à Petrobrás. 

Seguiram-se dossiês falsos – ação dos “aloprados”-, dinheiro na cueca e outros tantos escândalos que envergonham aquela parcela de brasileiros que lê jornal e que não reverencia o “mentor” do "bolsa família", mui “safo”.(1)

O que me admira é a influência via PT de Lula perante essa parcela sofrida que o endeusa por tal programa, cuja origem, bom que se lembre, nem é petista, foi lançado no governo do PSDB – que ele, Lula, criticara e depois o ampliara, porque tempo tivera para isso. E navegou nas águas calmas da estabilidade que herdara e arrotava críticas duras a tudo o mais que amealhara do governo anterior para fixar a sua “marca”.

Só foi contido não faz muito, pela sua protegida, já na presidência, que elogiara FHC por ocasião do seu 80° aniversário, por tudo o que representara e realizara o seu governo. (v. meu artigo “FHC 80 anos: agora é “Pai da Pátria” de 20.06.2011 neste portal).

Nesse passo, o que fez o relator ministro Joaquim Barbosa, com isenção, foi dar voz a esse inconformismo contido mas que vinha sendo externado nas redes sociais.

Como sábias se manifestam as forças depuradoras!

Certos episódios políticos e sociais deflagrados resultam em desdobramentos irreversíveis. Por exemplo, quem poderia imaginar que o senador cassado Demóstenes Torres, paladino da ética e pureza no Senado fazia parte do jogo do bicheiro Carlinhos Cachoeira?

Como seriam, no caso do mensalão os encaminhamentos fora relator e não revisor o ministro Ricardo Lewandowski? Quais argumentos usaria aos demais petistas, partindo da absolvição que proclamara do deputado João Paulo Cunha?

Mas, o relator não é ele...

Sou advogado militante e tenho como princípio recorrer de decisões judiciais sejam teratológicas ou fundamentadas, mas tento sempre – com raras exceções, esquecer a figura do juízo prolator.

Mas, no julgamento do mensalão há que se reconhecer que o ministro José Dias Toffoli não poderia estar entre seus pares como julgador pela sua ligação com o PT. O melhor seria declarar-se suspeito por “razões íntimas”. Talvez fosse seduzido pelos holofotes que eclodiriam como eclodem no andar do julgamento.

Porém, sua permanência no julgamento é contraproducente: não acredito que algum dos seus pares o ouça, leve em conta seus votos, mesmo que elaborado de modo alentado. Há uma questão complicada aí: a (in) certeza da isenção.

Ademais, menos que clamores há um brado de esperança brasileira de que as coisas mudem um dia neste país. Quem sabe não seja com esse julgamento. A impunidade posta em xeque a partir daí sem condescendências e retribuições.

Quanto a Lula sobre o escândalo, bem ao seu estilo, num primeiro momento afirmou que o desconhecia, depois que foi traído, discursaria que o PT e o governo deveriam pedir desculpas ao Brasil, depois que o mensalão não existia, era apenas “caixa 2”, “legítima” – e isso vem afirmando até agora, mas que “respeitará a decisão do STF”. O STF exatamente desvenda o mensalão... (2)

Por isso, seu governo, tudo indica, ficará marcado para a história com o incômodo apêndice do mensalão, pelo menos.

E não sei não se não venha a se transformar num estorvo nacional.



Referências:

(1) Jornal “O Estado de São Paulo” de 06.08.2012:

"Sujeito safo - "Questionado pela reportagem a quem beneficiava o esquema e se o então presidente Lula não sabia, o ministro (Marco Aurélio do STF) disse: "Você acha que um sujeito safo como o presidente Lula não sabia? O presidente se disse traído. Foi traído por quem? Pelo José Dirceu? Pela mídia? O presidente Lula sempre se mostrou muito mais um chefe de governo do que chefe de Estado."
(Safo, no Dicionário Aurélio, entre outros significados: "Que se safou.")

(2) O advogado de Roberto Jefferson, Luiz Francisco Correa Barbosa, em sua defesa no STF – ele, Jefferson, que fora o denunciante do mensalão – acusou Lula de ser o chefe do esquema. E que deveria estar entre os réus. Mas, fora ele, Jefferson, ao revelar o escândalo, afirmara que Lula de nada sabia. Que todos sabiam que Lula sabia, era coisa óbvia! Mas, ao contrário do que muitos apregoam, setores influentes diversos e a própria imprensa, pouparam Lula do desgaste e como decorrência evitar o fortalecimento de novo processo de impeachment por estas plagas.


CÓDIGO FLORESTAL: VITÓRIA DA INCONSEQUÊNCIA





O título acima é um contraponto ao meu artigo “Código Florestal: iminente vitória da inconsequência” de 23.04.2012.  Naquele artigo apontávamos os golpes ao meio ambiente que vinham sendo engendrados pela ala rural do Congresso Nacional.






Vejam só, nestes últimos anos o clima está “estável”, não há aquecimento climático como apregoam alguns desavisados como se ledores de cartas fossem, “donos da verdade”. Ora, as secas e as devastações no mundo também pelas chuvas intensas se devem à essa “estabilidade”. “Nuca faltará água”, afirmam esses cartomantes, mas aqui no Brasil, milhares de concidadãos matam a sede no que resta de açudes, no barro e se movimentam nos próprios esgotos que produzem. (1)

Ora, direis, mas as águas dos mares podem ser dessalinizadas.

Até agora, nada foi feito, esses milhões de brasileiros estão abandonados, relegados a um segundo plano por conta de projetos mirabolantes que não vão em frente, como é o caso da transposição do Rio São Francisco, muito criticado mas que se executado, quem sabe minorasse a falta d’água por onde fluíssem seus canais.

As contradições são tão grandes, tão contraditórias, que o Governo Federal incentiva a indústria automobilística com renúncias fiscais para que continue vendendo milhões de carros, logo para ela que tem no seu “passivo” a poluição e a emanação de CO2 além da conta.

Essa introdução talvez seja uma síntese de tudo o que já escrevi por aqui, sobre questões ecológicas de um modo geral e sobre as discussões do Código Florestal, no particular.

Há pouco fizera críticas pelo inconcebível, no meu artigo “Insanidade ambiental no Congresso” porque nas discussões do Código Florestal, houvera proposta que explicara deste modo:

“Mas, a bancada ruralista, nas disputas que se dão na comissão do especial que examina a Medida Provisória do Código Florestal, aprovou uma emenda simplesmente inacreditável: os rios intermitentes – assim considerados aqueles que durante um período do ano secam – poderão ser convertidos em estradas, roças e pasto.(2).

Na farsa contida nessa proposta efetivamente insana, a bancada ruralista, para dela desistir, propusera em troca a diminuição da mata ciliar a beira dos rios.

Essa imposição não tinha nenhum sentido – considerando as mudanças climáticas notórias que se verificam – que não fosse fazer prevalecer o posicionamento, retrógrado, afirme-se, da bancada ruralista, cuja mentalidade é predadora.

Quando do veto parcial do Código Florestal pela presidente Dilma, a Medida Provisória que se seguiu para repor a matéria vetada no que se refere à recuperação das margens dos rios já significava o mínimo suportável.

Mas, eis que no “acordo” obtido na Comissão Mista do Congresso, as coisas foram assim “resolvidas”

Texto da MP:
● Propriedades de 4 a 10 módulos fiscais: 20 metros de proteção de matas nas margens;
● Propriedades maiores: mínimo de 30 metros e máximo de 100 metros de proteção das margens com mata ciliar.

Texto aprovado
Propriedades de 4 a 15 módulos fiscais: 15 metros de proteção nas margens;
Propriedades maiores: mínimo de 20 metros e máximo de 100 metros de proteção das margens.
(* Módulo fiscal é medida em hectares que varia de município para município – um hectare = 10 mil m2).

Essas perdas que vão sendo impostas às florestas e mesmo desrespeitando cursos de rios são perniciosas se pensarmos num futuro próximo, no que concerne aos ambiente, ao clima e à água.

Por concordar com a afirmação e porque em muitos dos meus textos deixei entrever essa realidade – escrevi vários artigos sobre o tema -, transcrevo afirmação de Kenzo Jucá, analista de políticas do WWF – World Wildlife Fund:

“Acompanho as negociações do Código (Florestal) desde 2009. Foi a primeira vez que vi uma votação ter unanimidade. O consenso foi que florestas são entrave ao desenvolvimento . É uma unanimidade contra o ambiente.” (3).

Apela-se aos ruralistas conscientes para que “descumpram” a lei e preservem o meio ambiente e as matas em níveis superiores nela estabelecidos.

Referências:
(1) Meu artigo neste portal, “Aquecimento do clima, sim e não” de 02.07.2009
(2) Artigo neste portal de 12.08.2012
(3) Jornal “O Estado de São Paulo” de 30.08.2012

Charge : Ivan Cabral