domingo, 28 de outubro de 2012

SERRA E O PSDB DERROTADOS EM SÃO PAULO. PT PERDE EM CAMPINAS



A derrota de Serra e do seu discurso redundante. Bem ou mal, Fernando Haddad, a despeito do PT e de Lula por perto, significa renovação que pode dar certo na maior cidade do país. Em texto anexo, desenvolvo com mais detalhes a mordida de Dilma na própria língua sobre os apagões.

A vitória de Fernando Haddad em São Paulo, menos que a vitória do PT - que nessa campanha teve a participação de sua “tropa de choque”, constituída por Lula e Dilma entre outros – foi a derrota do PSDB, de José Serra.

O PSDB sempre forte em São Paulo, não se renovou, não tem quadros novos, os discursos são os mesmos.

Enquanto o PT sai para a luta com empenho total, o PSDB vacila e insiste, não sei se por culpa de Serra, em esconder Fernando Henrique Cardoso -que não faria na campanha o que fez Lula em prol de Haddad-, que é o seu principal quadro que tinha muito a dizer, a explicar sobre suas realizações nos dois mandatos presidenciais.

E ampliar o discurso de Serra.

Este então, por sua vez, detém o mesmo discurso, não transpira a confiança principalmente nestas eleições diante de um quadro jovem do PT que fora apresentado, uma mudança significativa de perspectivas.  Haddad significa, queiram ou não, renovação, a despeito do PT e de Lula e do mensalão por perto.

Quando do resultado do primeiro turno, surpreso com a votação de Serra, escrevera sobre esse êxito, mas, fizera a seguinte ressalva:

“Claro que no segundo turno, Serra terá que se esforçar muito para manter a vantagem que obteve e até ampliá-la porque com Lula por perto, retornará àqueles eleitores menos “nutridos” que ainda acreditam no seu discurso repetitivo, nas suas promessas e na sua demagogia... que desconhecem a gravidade do mensalão no qual estão envolvidos e sendo condenados pelo STF alguns dos seus antigos auxiliares diretos.”(1).

A derrota é de Serra e não do prefeito Gilberto Kassab mal avaliado que o apoiou. A derrota é do seu discurso, das suas renúncias e das suas múltiplas candidaturas.

O tempo o esgotou

Espera-se, agora, se continuar na política que não atrase mais o PSDB e se candidate ao Legislativo, mesmo que municipal.

O PSDB precisa de novos quadros e não só isso, o empenho da partido em cultivar esses novos nomes.

No que concerne ao plano federal, não vejo nem mesmo o tucano Aécio Neves como candidato viável, que não parece ter assumido até agora postura suficiente para derrotar a máquina petista no poder.

Nessa conformidade, o PSDB para se constituir ou continuar a principal voz da oposição, reafirmo que precisa de discursos novos proferidos por quadros novos.

Campinas e Piracicaba (SP)

Para comprovar que novos quadros abalam o PT, a melhor prova é o que se deu em Campinas na disputa entre Jonas Donizette do PSB e Marcio Pochmann do PT.

O primeiro é político da cidade; o segundo foi considerado, digamos, oportunista, porque sua única credencial, em Campinas, era ter estudado na UNICAMP e pertencer ao PT. É natural de Venâncio Aires, Rio Grande do Sul. Fora secretário de Marta Suplicy quando prefeita de São Paulo.

Dessa maneira, a “tropa de choque” do PT (Dilma e Lula, em comícios e na televisão), tentou fazer em Campinas o que fizera em São Paulo: viabilizar a candidatura de Pochmann, esse desconhecido.

Mas, o candidato do PSB tinha um discurso diferentes, menos sofisticado, mais realista em relação à cidade.

Mas, nem mesmo a “tropa de choque” do PT conseguiu reverter o favoritismo de Donizette embora tenha possibilitado que o candidato gaucho chegasse ao segundo turno.

O mesmo se deu na cidade de Piracicaba, de menor porte em relação a Campinas da qual dista 75 quilômetros, governada pelo prefeito Barjas Negri do PSDB que fez muito boa gestão.

O candidato do PT, desconhecido na cidade, abandonado pelos escalões do partido, não teve como se aproximar do candidato do PSDB, Gabriel Ferrato, renovação, apoiado pelo prefeito, eleito com 74,5% dos votos,

Referência no texto:
(1) “As eleições em São Paulo: Serra sai na frente” de 07.10.2012

A ARTE DE MORDER A LÍNGUA PERDENDO A CLASSE

Já emiti nota curta sobre os apagões que se repetem nestes últimos 30 dias no Norte e Nordeste do país.

Pretendo com este texto, mais compilando notas do que emitindo opinião, deixar bem claro as idas e vinda da presidente Dilma sobre a energia e o “terrível” castigo por ter falado demais sobre o assunto não faz mui.

Em 20.06.2011, escrevi um artigo a propósito dos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, destacando uma mensagem de Dilma, calorosa ao ex-presidente. (1)

Recordando a homenagem de Dilma:

“Em seus 80 anos há muitas características do senhor Fernando Henrique Cardoso a homenagear.
O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.”

Depois dessa homenagem, as relações entre o ex-presidente e a presidente foram muito cordiais, até que em 02 de setembro último, FHC escreveu no Estadão um artigo duro contra o lulopetismo e o respectivo governo.

Alguns trechos do artigo de FHC:

"Mas não foi só isso: o mensalão é outra dor de cabeça. De tal desvio de conduta a presidenta passou longe e continua se distanciando. Mas seu partido não tem jeito. Invoca a prática de um delito para encobertar outro: o dinheiro desviado seria "apenas" para o caixa 2 eleitoral, como disse Lula em tenebrosa entrevista dada em Paris, versão recém-reiterada ao jornal The New York Times. Pouco a pouco, vai-se formando o consenso jurídico, de resto já formado na sociedade, de que desviar dinheiro é crime, tanto para caixa 2 como para comprar apoio político no Congresso Nacional. Houve mesmo busca de hegemonia a peso de ouro alheio.

Com isso tudo, e apesar de estarmos gastando mais divisas do que antes com a importação de óleo, o presidente Lula não se pejou em ser fotografado com as mãos lambuzadas de petróleo para proclamar a autossuficiência de produção, no exato momento em que a produtividade da extração se reduzia. (2).
[Um pequeno desvio ao ponto ao qual pretendo chegar diante das reiteradas notícias de que a Petrobrás vem enfrentando séria crise de caixa:
Quem é responsável por tal desmazelo e inversão de dólares num poço sem fundo?
Trecho de notícia de 27.10.2012:
“No caso da refinaria de Pasadena (Texas), pesa contra a venda o fato de a Petrobrás poder amargar prejuízo bilionário com o negócio. Em junho, a estatal comprou o resto das ações que faltava para obter o capital total da refinaria e encerrou as disputas judiciais com a antiga sócia Transcor/Astra.
O acerto permite que a Petrobrás revenda a refinaria. O problema é o valor a ser negociado. A estatal pagou US$ 1,18 bilhão pela refinaria, mas ela é avaliada em cerca de um décimo deste valor. Apenas no acerto de junho, a Petrobrás desembolsou US$ 820,5 milhões.”]
Mas, voltando ao artigo de FHC: em nota de defesa do padrinho que nada mais me convence que não seja hoje uma figura inconveniente para Dilma  - principalmente pelo mensalão que se desenvolveu nas suas barbas (defesa dele: “o povão não está nem aí” – mas o mensalão está) disse a Presidente, respondendo às críticas de FHC:

“Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão.
Recebi uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infraestrutura e reservas cambiais recordes”.
Da homenagem de Dilma a FHC por ocasião de seu aniversário, dissera ela que fora ele “o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.”
Esse reconhecimento de Dilma fizera com que Lula parece de se referir à “herança maldita” porque ele herdara o país em condições muito favoráveis para avançar, com baixa inflação e estabilidade econômica.
Claro que esse entrevero gelou as relações entre Dilma e FHC

EM QUE MOMENTO DILMA MORDEU A LÍNGUA:



Na “herança bendita”, disse ela que recebera o país não mais sob ameaça de apagão.
Pois bem, atualmente não se trata mais de ameaça, mas nos últimos 30 dias os apagões se sucedem no Norte / Nordeste. E aí sem saber explicar o governo o que se passa nesses apagões, perdidos no escuro diz a notícia do “Estado” de 27.10.21012:

“Tão logo soube que o problema, na verdade, foi gerado na subestação de Colinas (TO) da empresa Taesa, ligada à Cemig, a presidente determinou que um avião da Força Aérea Brasileira fosse mobilizado para levar 12 técnicos de alto nível de todas as áreas para o local, a fim de verificar "in loco" o que motivou a queda de energia em cadeia e a demora no restabelecimento da luz.
Pouco oportuno. O Planalto não gostou da abordagem de Zimmermann, sugerindo que poderia ter ocorrido uma sabotagem no sistema, comentário considerado "pouco oportuno" em véspera de eleição, quando o governo quer evitar, a todo custo, politização do tema. O Palácio realmente considera que "coisas esquisitas" andaram acontecendo, mas a avaliação é que, se existe alguma coisa, isso pode estar ligado a problemas com empregados por causa dos anúncios de demissões em todas as empresas do setor por causa da renovação das concessões.” (4)
É isso aí. No governo FHC houve ameaça de apagão. No governo Lula-Dilma, a despeito da “herança bendita” as ameaças deixaram de ser ameaças e se converteram em apagões.

Referências no texto:

(1) “FHC 80 anos: Agora é o “pai da Pátria” de 20.06.2011 neste portal;
(2) “Herança pesada” de 02.09.2012 no jornal “O Estado”;
(3) “Com pressa para fazer caixa, Petrobras tenta vender ativos no exterior, mas não consegue” de 28.10.2012 no jornal “O Estado”;
(4) “Dilma fica irritada com apagão e fala de ministro”, de 27.10.2012 no jornal “O Estado”

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A DEVASTAÇÃO AMBIENTAL E A RESERVA ALIMENTAR (RELATÓRIO DO PNUMA)


Um traçado da degradação ambiental no Brasil e a preocupação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que relaciona a “reserva alimentar” à preservação dos ecossistemas, de ordem a produzir alimentos para atender a mais de nove bilhões de habitantes até 2050.

Há pouco foi divulgado pela mídia imensas áreas nativas no Pará devastadas para o plantio de soja.

O Ministério Público Federal e o Judiciário intervieram mas o mal já estava feito naquele estado que com alguma frequência surge nos noticiários de regra com notícias negativas.

O que resolvem multas vultosas se há dúvidas que serão pagas e se terão, por isso, resultado prático, no geral, para impedir a continuidade desses atos criminosos.

A realidade é que, enquanto se discute ainda o novo Código Florestal no Congresso, as idas e vindas entre o que quer o Governo Federal e a bancada ruralista que manipula a casa, a devastação desenfreada na Amazônia não cessa.

Chega-se ao ponto de comemorar, vez por outra, a diminuição do desflorestamento, um absurdo, considerando que, a despeito do retraimento, centenas de hectares são devastados a cada dia.

Tenho com frequência até “febril” combatido a impossibilidade demonstrada pelo Governo Federal em impedir com ações imediatas a devastação como tenho combatido a intransigência ruralista no Congresso Nacional que tem demonstrado enxergar muito pouco que não seja um palmo além do nariz e tumultuam a aprovação do Código Florestal.

Essa resistência insana é uma das causas da devastação que se processa no meio ambiente.

Pretendem estabelecer uma proteção infantil aos agricultores como se fossem crianças irresponsáveis precisando de tutela.

É que muitos são os agricultores que devastaram além da conta, sem se preocupar que a produção agrícola está intimamente ligada, no todo, ao meio ambiente que precisa ser respeitado.

Não se pensa sequer a médio prazo, mas somente nos lucros do hoje.
Porque não é mais possível tolerar grandes devastações em nome da produção agrícola sem atentar para os graves prejuízos ecológicos, às fontes de água e ao enfraquecimento do solo pelo desmatamento violento e com o uso constante do fogo.

Essas práticas absurdas ocorrem para justificar abertura de pastos, para plantação de soja, predominantemente, cuja produção, em parte é empregada na alimentação do gado e também a extração ilegal e criminosa da madeira, sem controle, sem manejo.

A preocupação ambiental é rara e não poucas vezes tratada com desdém.

No Pará – um estado que se não devidamente abordado tem-se a impressão que é “terra de ninguém” – o desflorestamento vem atingindo proporções catastróficas, um reduto de ilegalidades, atos de ignorantes e criminosos que se aproveitam da fiscalização deficiente para estabelecer com a devastação exacerbada, a “lei dos fatos consumados”.

E aí, discutem-se as multas que tem procedimentos de recurso e a coisa se estende sem solução e, pior, sem a recomposição da mata ilegalmente degradada.



Essas “tolerâncias” têm que ser erradicadas no país.

A propósito, no último dia 16 – dia mundial da alimentação - o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) relacionou, num estudo, de modo expresso que a preservação ecológica está relacionada com a preservação alimentar. Não parece, mas a ponderação é óbvia.

Nas suas linhas básicas, embora não seja muito enfático nas políticas atuais de preservação, extrai-se do documento, pontos importantes:

Deve-se, salvaguardar os fundamentos ecológicos de apoio à produção, incluindo a biodiversidade que serão fundamentais para que o mundo alimente sete bilhões de habitantes hoje subindo para mais de nove bilhões até 2050. Esse argumento é defendido no estudo de modo a “evitar a fome no futuro”, que será possível com o fortalecimento da base ecológica da segurança alimentar.

Vai além o documento sustentando que de toda a produção alimentar 1/3 1,3 bilhão de toneladas é desperdiçada pelo que se apresenta como um item essencial do que se denominou “segurança alimentar” a ser enfrentado e solucionado Até hoje, sempre houve preocupação, na produção alimentar, em quatro itens a saber: disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade.

Mas, não houve preocupação com os ecossistemas que sustentam a produção agrícola.

Do documento, extraem-se essas afirmações:

Do cientista-chefe do PNUMA Joseph Alcamo:

“Esta é primeira vez que a comunidade científica nos dá um quadro completo de como a base ecológica do sistema alimentar não é apenas instável, mas que vem sendo realmente prejudicada.”

Do Diretor-Executivo do PNUMA Achim Steiner:

“A era da produção aparentemente cada vez mais duradoura baseada na maximização dos insumos, como fertilizantes e pesticidas, produção mineral suportada por água potável, terra fértil arável e avanços ligados à mecanização estão atingindo os seus limites se é que já não atingiram”.

E acentua:

“O mundo precisa de uma revolução verde, com V maiúsculo que melhor compreenda como os alimentos são cultivados e produzidos e suas relações com a natureza, com as florestas, a água potável e biodiversidade.”

Além da melhoria do armazenamento para diminuir o desperdício dos alimentos, há que promover sistemas que evitem a poluição das águas, inclusive do mar, pesca não predatória que garanta a reprodução porque os peixes contribuem com 10% da produção alimentar, em determinado trecho do documento há recomendações sobre a mudanças de hábitos alimentares, ainda suaves, mas já refletindo uma tendência que certamente se acentuará:

“Promover dietas sustentáveis, de modo a evitar hábitos alimentares pouco saudáveis (quais serão?) e os efeitos associados à saúde e reduzir os impactos sobre os recursos naturais. Em particular, o menor consumo de carne e produtos lácteos nos países desenvolvidos deve ser promovido.”

A redução do consumo de carne foi expressamente observada para os “países desenvolvidos”, por enquanto,e isso porque o gado bovino exige grandes extensões de pasto, degradando o solo onde é confinado, polui á água e, pior, parte da soja produzida é transformada em ração para sua engorda.

[As figuras que ilustram o estudo não trazem entre os alimentos um bife, mas uma bandeja com vegetais e outra com peixes. (*)]

Esse relatório foi produzido por doze cientistas que atuam em diversas áreas do conhecimento, incluindo padrões de consumo alimentar, produção agrícola, da pesca marinha e de água doce.

Entre nós, nesta terra insensata, esses parlamentares menores do bloco rural no Congresso Nacional, como afirmei, forçam para reduzir a responsabilidade dos agricultores que agiram contra a lei e devastaram áreas de preservação permanente.

E nesse objetivo menor, desonesto, tumultuam a aprovação do Código Florestal, a menos que seja segundo os seus “interesses”.

Esses desavisados não sabem que o Código Florestal não é para hoje, mas as ações que ele preconiza de preservação das matas ciliares e sua recomposição em medidas razoáveis quando devastadas e a recomposição de florestas ilegalmente derrubadas são a segurança alimentar se não para os seus filhos, para os seus netos.

Saibam que tem que acabar a farra da motosserra, dos tratores e dos correntões, do fogo nas matas para plantar soja e gado.

O dinheiro não é tudo.

Há até sérias questões morais na temática ecológica hoje.

Mas, a cegueira e ignorância não permitem que enxerguem um palmo adiante do nariz.   


Nelson Feitosa - Divulgação (IBAMA)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A CONDENAÇÃO DO TRIO PETISTA PELO STF: DESFECHO DO MENSALÃO



A condenação de José Dirceu. Por tudo o que relatado no processo, não fora surpresa. Ministros tentaram absolvê-lo ofertando-lhe o perdão. O STF pode ter iniciado um processo de moralização da política brasileira tão cheia de abusos e escândalos.



Aceitem ou não, a trajetória de José Dirceu durante os anos cinzentos da ditadura foi corajosa e envolvente.

Cruzei com ele, ocasionalmente, nos corredores da PUC. Não me engajara no apoio às ações militares, mas não gostava dos seus discursos.

É sabido que os militares avançavam na repressão, num período confuso do ponto de vista político com forte influência do que se passava no exterior, sobras da guerra fria, os horrores da Guerra do Vietnã. Na América Latina, a repressão muito mais dura dos militares que tomaram o poder na Argentina e no Chile. Reação antissocialista exacerbada.

Afinal, qual era o modelo predominante de governo pretendido pelos dissidentes, então, se tomado o discurso de José Dirceu e seus “companheiros” estudantes?
Cuba, que ostentava um regime socialista, duro, também repressivo e sem liberdade que até agora persiste.

Pois não foi presa nestes dias a blogueira Yoani Sánchez que faz oposição aos Castros?

O que queriam, então, esses estudantes à esquerda, guerrilheiros, além de derrubar os militares do poder?

Até hoje não sei bem. Talvez nem eles próprios soubessem, embora Cuba se apresentasse a eles como espécie de referência, independentemente da ditadura que por lá fora implantada.

José Dirceu foi perseguido pela ditadura por aqui, pela sua “ferocidade”. Preso em 1968 deixou o Brasil em 1969 no mesmo grupo de militantes também presos em troca da libertação do embaixador americano Charles Burke Elbrick que fora sequestrado por “revolucionários” da ALN e do MR-8.

Depois de viver e trabalhar em Cuba, voltou ao Brasil em 1975, clandestinamente e, algo impensável: fez cirurgia plástica para não ser reconhecido. Viveu alguns anos pacificamente na cidade de Cruzeiro d’Oeste, norte do Paraná.

Esses fatos passaram, os militares, sob pressão popular mui forte, deixaram o poder, veio a lei da anistia, a democracia foi se instalando, o PT foi conquistando espaços e com ele, não só Lula, mas José Dirceu nos mesmos ventos.

Como pensar a personalidade de José Dirceu, o estudante revolucionário e corajoso, aparentemente desprovido de convicção política? Porque não se pode falar em democracia tolerando e defendendo a ditadura cubana.

[Esse não é somente um qualificativo dele. Lula, com suas desqualificações também apoia o regime cubano.]

Alguém que se revelou radical mas que se submeteu a uma cirurgia plástica...

Ora, com todo o poder na mão “concedido” por Lula quando eleito em 2002, José 
Dirceu passou a chefiar a Casa Civil, cargo estratégico, porque passa por ali os projetos do interesse ou não do governo e, também, e principalmente, a articulação política.

Manteve-se no cargo de 2003 a 2005, deixando o Ministério após as primeiras denúncias de Roberto Jefferson sobre a existência do mensalão.

E foi pelo mensalão que foi cassado em 1° de dezembro de 2005, “por falta de decoro” perdendo o mandato de deputado federal, juntamente com o denunciante Roberto Jefferson.

Quanto ao seu envolvimento no mensalão não posso duvidar.

Pela sua personalidade forte, mandão, não poderia estar ausente desse processo, principalmente quando se olha para a complexão de Delúbio Soares – o tesoureiro do PT -, a submissão que publicamente ostenta. Ele e Marcos Valério, foram os marionetes do processo.  Quanto a este último, vejam as consequências dá ambição desmedida e aquela crença da (suposta) influência obtida na República: ele não foi apenas um inocente útil mas um tolo “útil” que em todos confiou mas acabou “fulminado” e tende a pagar caro por sua “influência” na gestão do mensalão.  

Quem os manipulou? Genoino é que não foi. Tudo se volta para...José Dirceu pela sua autoridade e hierarquia natural.

Não há como escapar-se desse círculo.

E José Genuíno? Seria inocente sendo presidente do PT? Também nada sabia? Tal qual Lula? Assinava papéis sem saber o que assinava, “em confiança”?

Complicado, hem?!

Confiar em quem “caras pálidas”?

Por tudo isso, um processo tão pensado no Supremo Tribunal Federal só poderia resultar em condenação, não só pelo clamor da sociedade, cansada da roubalheira e da impunidade, do deboche e do descaso da classe políticas mas principalmente pelos fortes elementos constantes do processo e que foram gradativamente revelados.

O voto de Lewandowski foi dirigido no sentido de “perdoar” José Dirceu, mesmo condenando José Genuíno e Delúbio Soares.  Dias Toffoli pela sua subordinação a José Dirceu havida no passado, ao absolvê-lo deu um voto “café com leite”.

Quanto ao “perdão”, tento entender, há que lembrar que José Dirceu pelo mesmo mensalão, perdera o mandato de deputado federal (seria espécie de atenuante de natureza política?), um duro golpe para sua biografia e autoridade.

Que agora se agrava com a condenação criminal por corrupção ativa.

[Roberto Jefferson seria beneficiado na dosagem da pena por ter delatado o mensalão?]

Aguardemos o desfecho de todo o processo, a dosagem das penas e... o seu cumprimento. Um outro capítulo.

[O STF pode ter iniciado um processo de moralização da política brasileira tão cheia de abusos e escândalos.]

Há aquela frase muito sintomática de Roberto Jefferson, referindo-se a José Dirceu no auge do escândalo: “você desperta em mim os instintos mais primitivos”.

Dirceu em 2006, foi agredido por bengaladas por escritor paranaense idoso na saída do plenário da Câmara quando ainda deputado.

Pela torcida popular que se deu pela condenação do “trio” petista, a quem mais José Dirceu desperta tais “instintos primitivos”?

Não sei. Talvez seja tema para alguma tese psiquiátrica.


FRASES IDIOTAS

De Marta Suplicy: “Lula é Deus”. Eu diria santo, sabe, do “pau oco”;

Do “ministro” Gilberto Carvalho sobre os primeiros votos pela condenação de José Dirceu no STF: “A dor me impede de falar”. Que dor, ô meu? Dor que o “impede de falar” deveria se referir ao esquema de arrecadação do PT em Santo André, que resultou, por decorrências outras, no assassinato do prefeito Celso Daniel;

De Fernando Haddad: “Esperamos que imediatamente o Supremo inicie o julgamento do mensalão do PSDB”. Tudo bem, mas o mensalão do PT não acabou, e o Lula nada sabia... ou sabia? Dá para apurar se sabia agora que é “cidadão comum”, e não mais acima do bem e do mal como qualificou numa das suas frases “célebres”, José Sarney. Nesse caso, não mais acima do bem e do mal,  Lula não mais poderia falar em golpe das “elites” se "ingressar" no processo do mensalão ainda inacabado


domingo, 7 de outubro de 2012

AS ELEIÇÕES EM SÃO PAULO: SERRA SAI NA FRENTE





O “fenômeno” Celso Russomano às avessas que liderou por semanas as pesquisas de intenção de votos em São Paulo, mas foi alijado do 2° turno. A influência da IURD. Rejeições.





Analistas políticos profissionais tentam explicar a derrocada de Celso Russomano em São Paulo por suposta reação da Igreja Católica que teria desconstruído a sua candidatura, porque o candidato era apoiado de modo aberto pela Igreja Universal.

Algo impensável, um candidato sem muitas convicções, sem experiência de administração, governar sob a inevitável influência de “bispos” da poderosa e soberba IURD.

Russomano tentou esconder sua ligação com a Igreja Universal, mas num dado momento da campanha, esse apoio se tornou notório.

Não sei se houve tanta influência católica para que fosse Russomano alijado do segundo turno em São Paulo.

Essa “guerra religiosa” me parece de pouco alcance para explicar o resultado do primeiro turno. Minhas conclusões são estas:

1.  Há rejeição de parcela da população de São Paulo aos métodos da Igreja Universal e o seu modo de enriquecimento, tantas e tantas vezes denunciado pela mídia; é, ainda, pelo menos, uma instituição estranha e mal compreendida por aqueles que pensam um pouco e não se influenciam pelos apoteóticos encontros nos seus templos – alguns luxuosos;

2. Os paulistanos, mirando Russomano, seu jeito de “repórter do consumidor”, perceberam que a cidade de São Paulo – com projeção em toda a América Latina para ficar no menos – era grande demais para ele, considerando os seus discursinhos e promessas sem consistência;

3. Havia, então, José Serra – o último quadro viável do PSDB nesta quadra política em São Paulo. Qual o desejo demonstrado neste primeiro turno, com Lula e tudo apoiando Fernando Haddad? O fator experiência de Serra e talvez imaginando, se eleito prefeito de São Paulo, haverá que cumprir o mandato inteiro porque pela sua idade, tende a ser o seu último mandato. Ele prometeu cumprir todo o período na prefeitura.

Claro que no segundo turno, Serra terá que se esforçar muito para manter a vantagem que obteve e até ampliá-la porque com Lula por perto, retornará àqueles eleitores menos “nutridos” que ainda acreditam no seu discurso repetitivo, nas suas promessas e na sua demagogia... que desconhecem a gravidade do mensalão no qual estão envolvidos e sendo condenados pelo STF alguns dos seus antigos auxiliares diretos.

Quanto ao mensalão, no dia da eleição afirmou Lula, até com certa propriedade que o povão – a massa de eleitores de seu candidato - estava mais preocupado com o Palmeiras em vias de rebaixamento no Brasileirão, do que com o escândalo da compra de votos para sustentação do seu governo no Congresso Nacional.

Claro que o mensalão o constrange e o constrangerá mais se confirmada a condenação por corrupção ativa de José Dirceu e José Genoino.

(Comentarei o mensalão, com novas impressões, após o julgamento de  José Dirceu e José Genoino).

E, no esquentar da campanha para o segundo turno, esse tema, creio, será utilizado com a ênfase que merece.

Disse “creio” – um sentido de dúvida mesmo - porque o PSDB é um partido estranho: relembre-se que nunca defendeu seu quadro principal, que é Fernando Henrique Cardoso com o merecimento que seria cabível e sequer explicou o alcance de suas principais obras quando ocupou a Presidência da República. Participou FHC da campanha de Serra num momento de baixa, mas seu nome sequer foi lembrado nos agradecimentos por ter chegado ao segundo turno.

O contraponto disso tudo é que Paulo Maluf espera o convite para se integrar na campanha de Fernando Haddad.

Maluf e mensalão se dão bem...




segunda-feira, 1 de outubro de 2012

JULGAMENTO DO MENSALÃO: SEGUNDAS IMPRESSÕES (*)



O STF julgara agora o núcleo do poder lulopetista, inclusive a influência de José Dirceu no esquema do mensalão. Também os atos do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do ex-presidente do partido, José Genuino.




Encerrou-se no dia 1° último, fase importante do julgamento do mensalão: o Supremo Tribunal Federal, rejeitou a tese da defesa, que defendera ser o dinheiro distribuído pelo PT – o partido do mensalão, apenas caixa 2, isto é, para cobrir gastos adicionais de campanha.

Estava claro que a distribuição de dinheiro, poderia até ter algum saldo aplicado em caixa 2, mas o grosso dos recursos fora para alimentar a cobiça de alguns políticos, julgados corruptos pelo STF, que venderam seu voto para sustentar o governo Lula.

E, por conta da certeza da impunidade pelos desvios do “valerioduto”, havia uma festa permanente sustentada pela cúpula do PT – o partido do mensalão, na qual “dinheiro não era problema”. Ora, o chefão tinha 70%, 80% de aprovação popular, quem poderia com ele?

E por causa do nível dos comandantes da operação, entendo a submissão desse infeliz chamado Marcos Valério que se sentira seguro e importante como gestor dessa fraude continuada.

Mal contava ele que um dia mais a frente, esses gestores estariam sendo julgados por esses abusos exacerbados – como estarão a partir do dia 3 de outubro. Pelo que até aqui se verifica, esses petistas oportunistas, sem censura de caráter, serão também condenados.

Roberto Jefferson que revelou o esquema do mensalão e também foi condenado por ele, por corrupção passiva, cometeu um erro ao denunciar o esquema de corrupção: excluiu Lula do processo que, para ele, nada sabia. Estaria, também, influenciado pela aprovação popular do ex-metalúrgico? Com tais revelações de Jefferson, o chefe do PT – partido do mensalão, aproveitou-se desse ato falho do ex-deputado oferecendo várias versões sobre o “não sabia” como aquela de que o esquema nunca existiu; mas houve, também, a afirmação de que o partido deveria se desculpar perante a nação...

E aí está ele tentando vencer em São Paulo – valendo-se de sua demagogia de sempre -com seu candidato imposto, com credenciais modestas quando ministro da Educação a ponto de “convidar” a presidente Dilma para um comício na capital paulista que se dobra ainda às vontades do seu padrinho em processo irreversível de desmoralização pública.

Será lamentável se o seu candidato vencer em São Paulo. É sinal de que os eleitores humildes não estão entendendo o que se passa neste país, neste momento. Mas, o seu partido, não há como evitar, será o PT- Partido do mensalão.

O que faz Dilma num palanque, se envolvendo com esses interesses menores? Não tem assuntos de relevância que resolver na presidência em vez de participar de comício para plateia limitada, recheada por claques do seu partido?

O escândalo do mensalão ofusca o escândalo que derrubou Fernando Collor de Mello. Aliás, Collor tem dito que foi afastado da presidência porque não se preocupara em formar uma base parlamentar de apoio ao seu governo. Talvez, essa afirmação de Collor fosse a origem do mensalão.

E quanta ironia nesse jogo político! Relembre-se que em 1992, José Dirceu como deputado federal e o senador Eduardo Suplicy assinaram a constituição de Comissão Parlamentar de Inquérito que desaguou no julgamento de Collor e no seu impeachment.

Quanto a José Dirceu, autor de tantas “bruxarias” antes e durante sua estada como ministro da Casa Civil, protegendo Lula, agora se vê às voltas, abandonado pelo chefe que controlava, enlaçado por seus feitiços.

Quais serão as consequências para ele? O STF logo dará a resposta.

Nos mesmos votos, também os atos do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do ex-presidente do partido José Genuino.

 NOTAS CURTAS

1.  Discurso demagógico de Lula fora da realidade como tantos outros: “Não foi fácil (fazer um bom governo). Não foi fácil porque a elite política brasileira não brinca em serviço. Eles não gostam quando eu falo mas em 2005, eles tentaram dar um golpe no meu governo. Como tentaram dar e deram no João Goulart, como tentaram dar no Juscelino (Kubitschek) e como levaram o Getúlio Vargas à morte”. (1)
Essa pose de futura ex-vítima não se sustenta, porque ele foi, sim, poupado pelas "elites" e pela imprensa, tanto que não é réu no mensalão. Poucas vozes em 2005 insinuaram que ele sabia do esquema. E quanto aos ex-presidentes citados, será preciso analisar cuidadosamente a história dentro do contexto da época.
O melhor “golpe” é que ele se aposentasse e deixasse o país em paz, livre dos seus discursos repetitivos e chatos.

2. O ministro Joaquim Barbosa é daqueles que não leva “desaforo para casa”. E esse estado de irascibilidade deixa transparecer que para ele a verdade lhe pertence.  
Esses papo cansa.
De certo modo, os ministros têm se mostrado respeitosos com seus arroubos, mesmo sua “vitima” preferida, o ministro revisor Renato Lewandowski: “Não me dê conselhos”
O STF é um órgão colegiado, ora.

Referências:
(*) O artigo “Julgamento do mensalão: primeiras impressões” foi publicado em 02.09.2012
(1) Jornal “O Estado de São Paulo” de 30.09.2012