O que já não se disse sobre os eventos que resultaram no 8 de
janeiro de 2023?
Mas, vou acrescentando, para manter meu registro pessoal que perdura já por 15 anos na abordagem de outros eventos.
Eu assisti ao documentário da Globo News que revelou os bastidores
do que antecedeu e do que se deu naquele dia.
O bolsonarismo é forte porque há na sua cúpula um dirigente não
muito afeito à responsabilidade patriótica — já que essa palavra
virou espécie de mantra — e é ele, embora tente se apresentar
inocente nestes tempos, o pivô das depredações das instalações
dos três poderes.
Fora ele, Bolsonaro, quem criticara à exaustão, as urnas eletrônicas
as mesmas que o elegera e em 2018 e em 2022 seus filhos.
Um dos seus filhos
o menos preparado, foi eleito deputado federal por São Paulo!
Pergunta: ele mora em São Paulo?
Em setembro de 2022 Bolsonaro fez a reunião que custa acreditar que
fizera, com embaixadores criticando as urnas, como que prevendo sua
derrota.
Depois, a constante afirmação de que atuaria nas quatro linhas da
Constituição mas sempre falando em golpe, criticando atos do STF
que, se bem considerados, foram resultados de algumas de suas ações
e até irresponsabilidades. Ou de seus apoiadores.
As “fake news”, não se esqueça, alimentavam os incautos e as
mentiras eram, e ainda são, repetidas como verdades.
Debochado a mais não poder — e não custa relembrar — o ridículo
da cloroquina e, para ênfase, exibiu a droga às emas e, o pior, a
imitação de paciente em estado greve por falta de oxigênio...
Todos esses eventos resultaram nos acampamentos na frente dos
quartéis, marchadores saudosos de 1964, implorando o golpe, não
faltando sequer a “adoração” ao um pneu sob a cantoria do Hino
Nacional!
E não se omitam as manifestações dos “evangélicos”, alguns
radicais e enfadonhos, muito distantes em praticar os textos dos
Evangelhos.
Esse é o mentor da extrema direita que por tais inconsequências não
se reelegeu — com tudo a mão para se reeleger — e mesmo com seus
apoiadores repetindo os episódios da lava jato à exaustão.
Não se pode omitir, até mesmo jurista bolsonarista que mal
interpretou o artigo 142 da Constituição elevando as Forças
Armadas a um não escrito “poder moderador”. Fora um modo de
chamar as Forças Armadas para sustentar um golpe porque como “poder
moderador” sairiam às ruas…
No tocante aos acampamentos, sempre incentivados por políticos da
base de apoio da extrema direita constata-se que as Forças Armadas
toleraram aquela favelização “patriótica” nas suas bases, como
se estivessem apoiando o golpe mas num compasso de espera.
Bolsonaro, omisso aparentemente a esses acampamentos silenciou, viajando para Miami, de modo muito conveniente.
Com todas essas tolerâncias e equívocos, quem poderia segurar
aqueles golpistas ingênuos ou não, que sem mantinham na frente dos
quartéis? E as dezenas de ônibus — financiados por quem? — que
iam chegando a Brasília?
Toda aquela estada precária nos acampamentos, mais a adesão dos que
chegaram, estabeleceu-se o furor, o ódio que por quatro anos fora
alimentado tendo como transmissor, o candidato derrotado.
Volto ao documentário: o golpe esteve por perto, mas as Forças
Armadas certamente que ponderaram, entre outros inconvenientes, a
repercussão internacional de um ato de violência contra a
democracia brasileira, que seria vergonhoso, máxime com a possível
condução no regime de exceção de alguém como Bolsonaro, um
transmissor do ódio e da mediocridade institucional.
Não há como usar palavras amenas no caso dele.
Foi providencial, nesse quadro de embates havidos no dia 8, o não
chamamento da GLO – Garantia da Lei e da Ordem que, nos termos do
referido art. 142 da Constituição — mas sob ordem do Presidente
da República — no caso, poria o Exército nas ruas. E o que daí
poderia advir com aquela turba raivosa esperando o golpe?
As punições aos golpistas — qual outro termo a se usar aos
predadores — têm que se dar, especialmente para os financiadores e
incentivadores da barbárie do dia 8 de janeiro de 2023 que não será
esquecido.
Essa turba mesmo que desordenada apostou no golpe, assumiu o risco de
uma aventura inconsequente e perdeu. Agora tem que arcar com as
consequências.
Quanto aos remanescentes muito ativos, especialmente no X
(ex-Twitter),
tais as distorções que propagam, os deboches, eu os tenho
classificado com algum rigor, como “doentes” do bolsonarismo que
ainda acreditam na introdução do comunismo sem saber exatamente o
que seja, e nas fake news. Esses argumentos alimentam a ignorância.
No tocante às penas que estão sendo aplicadas aos predadores no STF
me parece que a melhor dosagem seria a do voto do Min. Luiz Roberto
Barroso, que ponderou: “Na minha visão, o crime de tentativa de
golpe de Estado absorve o crime de abolição violenta do Estado
Democrático de Direito”.
Esse entendimento reduziria a pena imposta aos golpistas.
Esse tema nas suas causas e consequências ainda não se encerrou.