sábado, 24 de março de 2012

AS “COISAS” NÃO VÃO BEM


Não só pela rebelião dos aliados que postulam afagos e cargos, mas a desarticulação do Governo vai se aprofundando e produzindo seus resultados negativos. Risco do seu enfraquecimento. Dilma e os 40 Ministérios = cabide de emprego.


Assistindo de longe a crise nacional entre aliados do Congresso e a presidente Dilma Rousseff, constato que as coisas não vão bem. Evito dizer, por ora, que as coisas vão mal.

Afastando um pouco a crise com os aliados, percebo que há vacilações que atestam certo grau de incompetência. Menciono duas:

1. A autorização, na Copa do Mundo em 2014, da liberação de bebida alcoólica (cerveja) nos estádios porque há compromisso nesse sentido com a FIFA.

Mas, a Lei n° 10671/2003 (Estatuto do Torcedor) estabelece no artigo 13 – A o seguinte:

Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei:

(...)

II - não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência.

A Lei, pois, proíbe o acesso ao estádio do torcedor que porte bebidas ou drogas.

Aí, entre outros, o ministro dos Esportes Aldo Rebelo que não se qualifica pela coerência fez um discurso para “revogar” a Lei brasileira para atender aos compromissos com a FIFA. Ora, o que é a FIFA?

Bem , já que há uma lei federal que deve ser obedecida, “perdoem o vexame”, então, quem sabe os Estados sedes a burlem e autorizem bebidas nos respectivos estádios.

Que país é este?

É tanta a vacilação as idas e vindas nesse assunto, ministro sugerindo o descumprimento da Lei – nesse tema sensível que propõe alguma garantia mínima de paz nos estádios - que merecemos mesmo o “chute no traseiro”.

2. Militares da reserva saíram a público contestando a “comissão da verdade” que visa apurar os abusos nos tempos da ditadura, a tortura e tudo o mais. Com tendência à apuração unilateral.

Dilma explodiu com as críticas militares e determinou ao ministro da defesa, lá posto porque imposto sem méritos, que todos fossem punidos. Mas, há Lei que permite que militares da reserva se manifestem como cidadãos comuns. E, por isso, claro não houve punição. Vexames. (1).

E por extensão, há o pleito dos militares, por “dever de ofício” apurar também os atos do lado dos “grupos revolucionários” inspirados pelo modelo cubano, truculento, então, que, diga-se com todas as letras, deram pasto para a linha dura “endurecer” naqueles idos.

Houve tortura brava nos porões da repressão? Houve, SIM!

Sem querer justificá-la – nem pensar! - a tortura é praticada no mundo. Ernesto Geisel no livro que transmitiu suas memórias a admite:

Entre os que aprenderam – técnicas do serviço de informação na Inglaterra – havia vários procedimentos sobre a tortura. O inglês, no seu serviço secreto, realiza com discrição. E o nosso pessoal, inexperiente e extrovertido, faz abertamente. Não justifico a tortura, mas reconheço que há circunstâncias em que o indivíduo é impelido a praticar a tortura, para obter determinadas confissões e, assim, evitar um mal maior.” (2).

Essa a “filosofia” neste mundinho com resíduos garantidos de sordidez.

Posto esses elementos, nada me convence que não seja retaliação pela manifestação dos militares da reserva protestando pela “comissão da verdade”, o anúncio da Secretaria dos Direitos Humanos em patrocinar projeto que propõe inspeção aleatória nos presídios militares para apurar a situação dos seus presos.

Ora, a linha vestal do governo esquece dos presídios chiqueiros que exalam pelo Brasil inteiro nos quais os direitos humanos passam longe, muito longe.

Pura provocação como se gritasse por um amplificador de som: “somos o poder civil, militares só mandam nos quartéis...e olhem lá!”. Provocação tola, parece que para desviar a atenção dos problemas que enfrenta o governo no momento. Falta do que fazer!

Esses os dois pontos que julgo destacados.

No que concerne à rebelião dos aliados, esses oportunistas, maus brasileiros, como expos na televisão um deputado do PR, afirmando que participar do governo é obter cargos. Como dói a mediocridade instalada neste País!

E não fora isso ou além disso, a melhor revelação do que falta a esses “politicoides” que atrasam o País para justificar a rebelião foi dada pelo ex-ministro Alfredo Nascimento também do PR. À pergunta:

Quer dizer que enquanto não reaver o ministério...

Não, não é isto. Política não é só dar cargos. É o tratamento, o jeito de tratar, o cafezinho, a gente perceber que está sendo bem cuidado, é dizer: ‘Olha, não tem o ministério, mas tem isso, tem aquilo’, e (no nosso caso) não tem nada, nem conversa”.
(3)

Claro que “o tem isso, tem aquilo”, além do cafezinho, são os cargos em escalões inferiores.

No atual momento, há tempo para cafezinhos?

Enquanto isso, não se votam a Lei da Copa e o Código Florestal, neste caso, conveniente para muitos predadores, porque a motosserra continua solta e cega.

Vejam, um país deste tamanho, com tantos problemas a resolver precisar, pelo seu governo, oferecer cafezinho a essa “turma do afago”, pessimamente acostumada pelo Lula. É “cultura” arraigada nos oito anos do seu governo, fechando os olhos para seus aliados corruptos.

No todo a coisa não vai bem na presidência da República. A desarticulação se manifesta, interna e externamente. É um governo (des) constituído por 40 ministérios. É demais. Quantos desses ministros têm acesso à Presidência? Ótimo como cabide de emprego.


NOTAS CURTAS:


1. “JEITINHO”: Começo a achar que estaremos propensos a vexames por ocasião da Copa do Mundo, ideia trazida para o Brasil com tantos problemas prioritários que gasta fortunas nos estádios em construção ou reforma. Até agora a infraestrutura não foi começada para valer, aeroportos, transporte terrestres e tudo o mais.

Volto a citar mais uma daquelas frases do ministro dos Esportes sobre os atrasos nas obras da Copa “coisa da nossa cultura”, porque “o brasileiro tem um jeito próprio de organizar e sempre entrega o que precisa”.

Há uma angústia de que até esse “jeitinho” fracasse. A coisa caminha mal. Para assunto dessa envergadura não há “jeitinho”.

2. ANOMALIAS DO TJ DE SÃO PAULO: Embora afirme o Tribunal de S. Paulo que os pagamentos têm base legal, um advogado como eu que milita há quase 40 anos se sente um pouco decepcionado com a revelação de pagamento antecipado dessas “verbas legais” a alguns desembargadores que vão de R$100 mil a 1,44 milhão.

Com tantos problemas estruturais que afetam a Justiça de São Paulo, causam essas revelações efetivo espanto.

3. ACINTE: O senador Ivo Cassol sobre a proposição de extinguir o 14° e 15° salários dos deputados federais e senadores, ao pedir vistas “para melhor analisá-la” afirmou: “O político no Brasil é muito mal remunerado”. Acinte por acinte, sugiro: que o senador renuncie ao mandato e vá trabalhar...

Legendas:


(1) Lei n° 7524/86. Art. 1° - Respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público.

(2) “Ernesto Geisel” volume organizado por Maria Celina D’ Araujo e Celso Castro (Fundação Getúlio Vargas Editora – 2ª edição);

(3) Entrevista, jornal “ O Estado de São Paulo” de 23.03.2012 (a Rosa Costa).

Foto:


“Justo Veríssimo”, personagem do já saudoso Chico Anysio, “Justo Veríssimo, deputado federal” que odiava pobres (“os pobres que se explodam porque pobres costumam ser honestos”!). “Justo Veríssimo” propôs a constituição da “corruptocracia”. Algumas coincidências com realidades do Brasill?

sábado, 10 de março de 2012

UM TEMPO PARA REFLETIR




Foto:
"O Pensador" (francês: Le Penseur) é uma das mais famosas esculturas de bronze do escultor francês Auguste Rodin de 1902 (Paris). "Retrata um homem em meditação soberba, lutando com uma poderosa força interna." (Fonte: Wikipédia)