sábado, 29 de março de 2025

A INFLAÇÃO, OS JUROS E AS CONTRADIÇÕES (II)



"Para conter a inflação consuma o mínimo. Nada de excessos. Basta a cesta básica básica."





Prossigo na minha análise sobre a inflação e os juros aumentados de modo inconsequente pelo Banco Central. (*)

Assim qualifico esses atos do BC porque tenho já convicção de que o porcentual de juros quando elevado tem efeitos maiores ou menores sobre a inflação. Um efeito reverso.

É ingenuidade pensar que quem paga o nível de juros atual não repassa aos preços — empresários e serviços — e, como decorrência, elevando a inflação cujo efeito, nesse caso, se dilui nos vários itens pesquisados.

Já disse e repito: a meta da inflação fixado pelo BC se dá no começo do ano como um índice  incerto na base do "quem sabe" um tipo de jogo de azar. Porque muitos são os fatores que podem alterar esse índice pretendido, ao longo do ano. 

Outro dia, no "Jornal da Cultura", quando se discutia a inflação dos alimentos, preço dos tomates, coisas assim, um dos analistas do programa, sem entrar nessas questões muito próprias das causas, se saiu com aquele argumento desprovido de seriedade:

— Tem inflação porque o governo gasta muito!

A todo momento exsurge esse "argumento" no debate sem que se exemplifique um item sequer dos gastos descontrolados sobre a inflação.

Há dias, num supermercado que não prima pelo melhor preço, ao criticar eu o preço de um produto, a moça do caixa afirmou que era culpa do Lula. 

A moça humilde refletiu o conceito falho de que "o governo gasta muito".

Essa ignorância explica a queda de popularidade de Lula.

Eu noto um fenômeno: qualquer tentativa do Governo Federal em melhorar o poder aquisitivo do povo mais simples ou carente e, então, um outro "argumento" perverso: a oferta de recursos extras movimenta inadequadamente a economia e, como decorrência, aumenta a inflação.

Pelo que se conclui para melhorar a economia brasileira: o brasileiro deve ficar em casa confinado tal qual nos tempos da covid, se alimentar mal ou menos, e seria bom que o desemprego aumentasse porque o emprego também movimenta a economia

isso é uma aberração.

E não faço aqui uma proposição cerebrina. 

O jornal "O Estado de São Paulo" que se notabiliza nestes tempos ao completar 150 anos em publicar editoriais e artigos medíocres confirma essa aberração. Trecho do editorial de 28 de março:

"O fato de que o governo avalia antecipar o 13.º dos aposentados é mais uma prova de que Lula da Silva continua empenhado em injetar recursos na economia, apesar da necessidade de conter o consumo, conforme manifestou o Comitê de Política Monetária do BC. As iniciativas do governo vão em sentido contrário, como o programa de incentivo ao empréstimo consignado privado que, ao menos nesta primeira etapa, é voltado ao aumento da demanda. Se isso vai alimentar a inflação, é problema do próximo presidente."

E nesse quadro de contradições e de real incompetência tudo se "resolve" com a elevação irresponsável dos juros pelo BC que também é um fator inflacionário.

Este país tem analistas tendenciosos, ideológicos, desinformados e tudo vai sendo decidido de modo improvisado com sérios problemas à economia "sustentável".

Um detalhe a mais: e o Congresso Nacional dispondo de mais de R$50 bilhões para gastar de preferência no reduto eleitoral de cada senador e deputado é também, ao seu tempo, um forte apelo inflacionário.

E os 58 novos novos pedágios no Estado de São Paulo que o governador alienígena imporá aos paulistas.

Claro que o BC vai ignorar esses abusos e tenderá a aumentar os juros

País sem juízo, sem seriedade, gerido por amadores e aproveitadores.


 (*) No mesmo sentido, acessar: A INFLAÇÃO, OS JUROS E AS CONTRADIÇÕES (i))




segunda-feira, 10 de março de 2025

A INFLAÇÃO, OS JUROS E AS CONTRADIÇÕES






Eu venho acompanhando, como leigo, o conflito que se dá entre o consumo e a meta de inflação que o Banco Central fixa, sem atinar com eventuais percalços que podem se dar no período.

É um índice ideal, quem sabe dê certo!

Tenho notado que para conter a inflação assim fixada pelo BC, rígida, o brasileiro não pode gastar ou se gastar, que o faça moderadamente. Que coma pouco. Que fique em casa, tal qual nos tempos da covid.

Mas, aos primeiros sinais de inflação, o BC se reúne e, então, os juros são elevados em porcentagem das maiores do planeta.

E, claro, contenção do consumo e juros elevados, aumentam as dificuldades de quem produz.

Não me canso de dizer do alto da minha ignorância — e não vai adiantar nada quem tripudie essa "confissão" — que esse jogo simplista e nem sei se irresponsável, não traga um efeito reverso sobre a... inflação! 

E também sobre a geração de empregos.

Como admitir que os afetados pelos juros altos não transfiram aos preços o que mais têm a pagar!

Repito: é um jogo simplista e todos os analistas da área econômica ficam ansiosos esperando o que  diz a ata do BC que de regra traz a previsão de novos "ajustes" dos juros no período vindouro.

Já se disse que o BC deveria pensar em novos métodos para controlar a inflação porque os juros são prejudiciais para a economia como um todo e, repito, com efeito reverso sobre a própria inflação que pretende controlar. 

Custo de vida mais caro sem explicação racional.

Num jornal do Interior de São Paulo leio longa afirmação do empresário Rubens Ometto, fundador da Cosan que participou da CEO Conference realizada pelo BTG Pactual em São Paulo (26 de fevereiro). Disse ele:

"Se você tem a condição de aplicar o seu dinheiro a 15%, 16% e em alguns casos a 20%, 25% ao ano, você vai ficar vagabundo.  Por que você vai correr risco? Com esse nível de juros reais de 9%, 10% ao ano é impossível você administrar qualquer investimento."

O empresário revelou que o prejuízo da empresa em 2024 foi de R$9.424 bilhões contra o lucro em 2023 de R$1.094 bilhões.

Assim, pois, há algo de falso nesse equação que precisa ser revista, a "solução" simplista da elevação dos juros pelo Banco Central que não se preocupa com as consequências desses atos que vêm se repetindo, prejudicando a atividade econômica e os empregos.

Será possível que esses luminares do BC não pensam em soluções mais realistas, mais responsáveis do que simplesmente subir os juros?

Não se trata aqui, de posição ideológica, defesa ou crítica a quem quer que seja. O quadro é grave para a continuidade dessas decisões ortodoxas demais, contraproducentes.


(*) "Jornal de Piracicaba" de 1º.03.2025


sábado, 1 de março de 2025

A "ÉTICA" DE TRUMP












A eleição de Trump representou a alegria da denominada direita radical que não leva a ética a sério e na busca de espaços aplica a máxima de que "os fins justificam o meio". Tudo pela ideologia, mesmo sem entender bem, no final das contas, o que exatamente quer alcançar.

Nessa linha, a mentalidade é tão retrógrada que ainda há quem tema o comunismo no país, com todas as evidências em contrário. São aqueles que classifico de acéfalos que deliram no mundo paralelo da ignorância.

Mas, Trump na sua truculência, aético, patrocinou uma cena que identifica seu modo autoritário de pensar (?) ao tentar no dia 28 último, impor a Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, depois de fazer comentários desairosos sobre o ucraniano, uma paz que agrade apenas a Putin, essa uma farsa nunca vista.

Trump quer que a Ucrânia reconheça sua culpa pela invasão russa covarde, porque assassina patrícios que, em tempos não tão distante, tinham vínculos nacionais. E se apropria de territórios que há muito não lhe pertence — massacrando um povo que progride sem precisar da Rússia.

Sim,  Zelensky está numa situação difícil em defender seu país diante do poderio do agressor e agora, mais ainda, com o anunciado abandono americano à sua defesa, numa demonstração clara que se submete a Putin.

E mais, Trump,  se aproveita dessa fragilidade política e impõe a  Zelensky assinar um acordo de exploração de riquezas minerais da Ucrânia em troca dos gastos que dispenderam os Estados Unidos na ajuda à guerra contra Putin nos dias de Biden.

Descarada chantagem moral, porque a ajuda americana não foi precedida de aviso de que se tratava de empréstimo, por si só um absurdo.

Essa é a ética de Trump. No incidente do "bate-boca" que se deu entre  Zelensky, Trump e Vance, o ucraniano foi "expulso" da reunião, mantendo sua dignidade, sua ética e, não assinou o acordo de exploração das suas riquezas minerais e, rigorosamente, deixou Trump falando sozinho.

De se insistir: Trump se submeteu a Putin. Ele fala grosso com os países não belicosos como princípio mas se submete ao russo. Vergonhoso.

É a direita raiz, raiz de uma erva daninha.






 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

IDEIAS DE TRUMP QUE SE APROXIMAM DE HITLER

Há cerca de 25 anos, foi publicado o livro polêmico "O Papa de Hitler" de John Cornuell que teve repercussão ao registrar tolerâncias do papa Pio XII com o nazismo.

Há uns 15 anos eu li e resenhei esse livro e dessa resenha extraio este tópico:

"Durante a Segunda Guerra, Eugênio Pacelli eleito papa em 1939, preocupado em preservar Roma e até mesmo o Vaticano de represálias de Mussolini, aliado dos nazistas, apelando aos ingleses para que não bombardeassem Roma, uma ameaça real como reação aos ataques nazistas na Inglaterra do então incontrolável Hitler e seus asseclas, pouco ou nada fizera para condenar o holocausto, porém. Nas ruas, sob as janelas do Vaticano, enquanto isso, muitos foram os judeus e outros rejeitados pelo nazismo conduzidos para o sacrifício e para os campos de concentração. As manifestações de Pio XII contra os excessos nazistas e fascistas constituíram-se apenas em reprimendas contidas que na realidade pouca repercussão tiveram, enquanto o extermínio abominável, segundo o autor, vitimava milhões de criaturas em pleno século 20".

Pio XII receava a reação nazista atacando Roma e o Vaticano?

Nessa resenha, pela repercussão ao artigo que escrevi sobre o livro, fui muito cauteloso porque poderiam existir documentos não tão desfavoráveis ao papa, naqueles dias tenebrosos, como foi a pesquisa contida no citado livro.

Pois isso há pouco aconteceu.

Com efeito o "History Channel" divulgou um bom documentário baseado em documentos divulgados pelo Vaticano, exatamente abrangendo as ações diplomáticas de Pacelli sediado na Alemanha antes do papado e como o papa Pio XII.

Todos os estudiosos entrevistados no documentário, lamentaram o silêncio de Pio XII às notórias crueldades nazistas mas não deixaram de assinalar que países envolvidos ou não na guerra, incluindo os Estados Unidos rejeitaram a "oferta" alemã em receberem judeus em seus países que resultaria na preservação da vida de milhares deles.

E em assim sendo, a Alemanha resolveu pela "solução final" dos judeus, resultando em milhões de vítimas nos campos de extermínio.

Com isso é legítimo perguntar se só o silêncio de Pio XII foi a causa da tragédia? Quantos judeus seriam salvos se houvesse essa compreensão humana dos países em recepcionarem os judeus acuados? 

Dirão muitos que o quadro da guerra não propiciava esses gestos, o conflito se revelava sangrento! Mais sangrento, porém, foi o extermínio nos campos de concentração.

O documentário menciona o Brasil que se prontificara a receber 3 mil judeus "cristãos".

Trump

E onde "entra" Trump nessa história?

Explico: ele está oferecendo ou impondo aos países vizinhos receberem palestinos de Gaza, de tal modo que "desocupem" aquela faixa, ficando a critério dos Estados Unidos, principalmente, e Israel o aproveitamento dela da melhor maneira, até a convertendo num polo turístico! Então, os palestinos pelo que até agora se ouve, são indesejáveis em Gaza e precisam de uma "solução final".









E não fica nisso o trumpismo: nessa distorção de princípios, nesse pragmatismo aético, nas negociações do encerramento da guerra Rússia-Ucrânia, Trump está se aliando à Putin, assumindo que a culpa da invasão e destruição que se dá na Ucrânia, a culpa e de Volodymyr Zelensky, seu presidente. A culpa é do agredido!

Então, não se trata de uma aliança, como se deu na Segunda Guerra, entre os Estados Unidos, União Soviética e Reino Unido para combater um inimigo comum truculento, o nazismo.

A aliança de agora de Estados Unidos e Rússia é para derrotar o mais fraco!

E ao ser contestado por ele, Trump passou a subestimar Zelensky de modo torpe para o enfraquecer e ao que parece, promover a paz entre Estados Unidos e Rússia, deixando de fora a Europa e a... Ucrânia!

Que tempos estes!


(*) Acessar: 

O PAPA DE HITLER.

CANONIZAÇÃO DE PIO XII