sábado, 29 de abril de 2017

"GREVE GERAL": QUEIMADORES DE PNEUS E PIQUETES


Na década de 70 e 80 eu trabalhava no ABC, na indústria automobilística.

Greve geral na acepção do termo, naquela região, fora a de 1980.

E por quê? Porque houve uma “ordem” das lideranças sindicais e, no dia determinado, os trabalhadores em massa não compareceram ao trabalho, fábricas desertas, sem piquetes, sem violência e sem queima de pneus em ruas e estradas.

Sobre ela houve até o registro de uma passagem interessante que converti em crônica, “Sermão da Montanha”. A uma convocação escrita da empresa para que voltassem os grevistas ao trabalho dois operários leais à empresa, um dia chegaram à portaria, tensos, e me passaram um digno sermão explanando sobre os motivos de não voltarem aos seus postos, porque trairiam companheiros na mesma situação na favela em que viviam!(1)

Eu tive a oportunidade de conviver com essa greve que perdurou por 41 dias. E outras antes e depois.

Sim, em outras daqueles tempos houve o piquete mas não com as agressões que se veem hoje, nesses movimentos insanos ditos “gerais” que a todo custo e a qualquer preço impedem o direito de ir e vir de pessoas, bloqueando transportes e vias e a tensão se eleva porque não há liderança responsável por tais atos que, bom que se diga, se escondem por trás do vandalismo, dos quebra-quebras dos black bloc  para depois enaltecerem o resultado do movimento como se marcassem território com esses ataques incluindo a poluição grave, como se dá com a queima de pneus.

Esse movimento do dia 28 de abril, para emendar o feriadão do 1º de maio – claro que nesse dia tudo será festa – poderia até ter algum sentido como por exemplo a discussão da idade para a aposentadoria que é uma questão realmente controvertida.

Mas, partem para a agressão, a destruição de bens públicos e privados, sequer sabem ao certo porque assim agem, pelo que, por fim, sobram os detritos da poluição mental e a da fumaça negra.

O que isso mudará?

Penso que nada.

Aliás, na questão previdenciária, se há rombo ou não – não tenho elementos para entrar no mérito nestes dias – mas há uns 18, 20 anos passados, quando trabalhava diretamente com ela, enfrentando filas nas madrugadas do INSS, pela facilidade da classificação do trabalho insalubre, houve segurados que se aposentaram com 47, 49 anos.

Agora a conta está ai. Tudo eram concessões excessivas, paternalistas. Agora, há que pagar a conta.

[Lula num discurso com rara seriedade, há algum tempo se manifestou sobre a necessidade de revisão da previdência pelo aumento da expectativa de vida do brasileiro, fazendo inclusive menção á Lei Eloi Chaves de 1923.]

No tocante à terceirização, trata-se de mudança que muitos falam e poucos entendem. Hoje ela já existe para as atividades não produtivas, indiretas (vigilância, limpeza) da empresa. 

Com a nova lei, se aprovada, ela se estenderá também às áreas de produção mas com garantia do mesmo salário e todos os direitos ao trabalhador assim contratado.

Por sua vez a empresa contratante sempre conviverá com o risco de a empresa terceirizada não cumprir suas obrigações trabalhistas, sendo acionada na Justiça do Trabalho a assumir todos os encargos que aquela não cumpriu.

E tal quadro é muito mais frequente do que se pode pensar.

[Para registrar, a ex-presidente Dilma não faz muito também defendeu essa mudança na terceirização.]

No tocante à prevalência das Convenções e Contratos Coletivos, tal se dá em todo o mundo em que haja a liberdade sindical e não só no denominado 1º mundo, mas também na própria América Latina (México, Colômbia, Argentina).

Por fim, a questão do imposto sindical, uma garantia de sobrevivência da maior parte do pelequismo no Brasil. (2)

Quando me aprofundei um pouco na história do sindicalismo, de 1958 li uma notícia  na qual já era defendida a sua extinção.

Estamos já no AD de 2017...

Por fim, algo que me incomoda demais e que realmente é o “calcanhar de aquiles” do Brasil: excesso de senadores, excesso de deputados com imensas garantias salariais e pessoais um acinte ao povo brasileiro que trabalha além de delapidar demais o orçamento nacional. A par de, entre eles,  agentes desavergonhados em promover a corrupção

E esse tema tão grave – carente de revisão - não é sequer cogitado como um movimento a ser levado a sério.
Por fim, não classifico o movimento de 28 último como “greve geral”. Ora, como greve geral, com violência para que o movimentos tivesse alguma expressão, incluindo a repugnante  queima de pneus?

Andamos na ilusão. A mira é equivocada e possivelmente assim se dá porque esses líderes de centrais têm lá os seus interesses na garantia do “status quo”, das mordomias, das mamatas.


Referências:

(1)Acessar:
http://martinsmilton.blogspot.com.br/search?q=serm%C3%A3o+da+montanha


(2)Segundo do Dicionário Aurélio, o termo “pelego”, entre outros significados, possui os seguintes: “Bras. Essa pele(de carneiro), usada nos arreios à maneira de xairel” (xairel, “cobertura de besta feita de tecido ou de couro, sobre o qual se põe a sela”), ou ainda: “Bras. Deprec. Designação comum aos agentes mais ou menos disfarçados do Ministério do Trabalho nos sindicatos operários”, finalmente: “Bras. fig. Pessoa subserviente, capacho”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário