Qual a ilação que se pode fazer entre o papa Leão XIII (1810-1903) e o recém escolhido papa Leão XIV?
Já se destacaram demais as qualidades de Robert Prevost que tem um perfil humanitário, discreto mas que se situa na linha adotada pelo papa Francisco mas deve-se esperar como agirá em algumas questões atuais, o casamento de pessoas do mesmo sexo, por exemplo, que Francisco não recusou a bênção a esses indivíduos. Mas, o papa Leão XIV já não deu um sinal ao dizer que a família é composta por homem e mulher?
Em 2013, voltando do Brasil, quando perguntado sobre os homossexuais respondeu: "Se uma pessoa é gay e procura Jesus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?"
Essa é uma questão presente e pendente.
Mas, refaço a indagação se há alguma razão para Prevost escolher ser chamado de Leão XIV.
Demos uma examinada em ações de Leão XIII que atravessou os séculos.
Ele viveu nos tempos da ascensão marxista a partir do “Manifesto comunista” de 1847 elaborado por Marx e Engel no qual eram expostas a condições desumanas do trabalho operário, a introdução das máquinas que obrigavam os trabalhadores a tarefas monótonas com salário que não dava para uma vida digna e, principalmente, a condenação da propriedade privada:
E, então, os dizeres finais do “Manifesto”:
“Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos”.
Com a explosão dessas ideias na Europa, reafirmadas em inúmeros congressos operários, quase meio século depois, como uma resposta ao “Manifesto Comunista”, em 15 de maio de 1891, o papa Leão XIII, difundia a Carta Encíclica “Rerum Novarum”(Das Coisas novas - Condição dos Operários).
Nesse documento, o papa refutava com veemência as teses comunistas, além de explanar com clareza todas as questões que então preocupavam: a propriedade privada, a questão social, as condições subumanas de trabalho, a longa jornada diária, a greve, os salários, o conflito entre o capital e o trabalho, etc.
Como se constata nestes trechos:
“A teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles mesmos a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública. Fique, pois, bem assente que o primeiro fundamento a estabelecer para todos aqueles que querem sinceramente o bem do povo é a inviolabilidade da propriedade particular”.
Leão XIII preconizava por uma jornada de trabalho compatível com a dignidade do homem, pois “não é justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo”. Recomendava ainda jornada mais curta para os que trabalhavam na extração de pedra, ferro, chumbo e “outros materiais escondidos debaixo da terra”.
O salário deveria ser suficiente “para acorrer com o desafogo às suas necessidades e às necessidades da sua família” e, “se for avisado, seguirá o conselho que parece dar-lhe a própria natureza: aplicar-se-á a ser parcimonioso e obrará de forma que com prudentes economias, vá juntando um pequeno pecúlio, que lhe permita chegar um dia a adquirir modesto patrimônio”. Pois, “a terra produzirá tudo em maior abundância pois o homem é assim feito: o pensamento de que trabalha em terreno que é seu redobra o seu ardor e sua aplicação”.
Incentivo ao entendimento entre operários e patrões: “Façam, pois, o patrão e o operário todas as convenções que lhes aprouver, cheguem inclusivamente a acordar na cifra do salário: acima da sua livre vontade está uma lei de justiça natural, mais elevada e mais antiga, a saber, que o salário não deve ser insuficiente para assegurar a subsistência do operário sóbrio e honrado”.
As associações operárias deveriam ser livre e prudentemente organizadas ponderando: “se, pois, como é certo, os cidadãos são livres para se associarem, devem sê-lo igualmente para se dotarem com os estatutos e regulamentos que lhes pareçam mais apropriados ao fim que visam”. E mais adiante: “É necessário ainda prover de modo especial a que em nenhum tempo falte trabalho ao operário; e que haja um fundo de reserva destinado a fazer face, não somente aos acidentes súbitos e fortuitos inseparáveis do trabalho industrial mas ainda à doença, à velhice e aos reveses da fortuna”.
A greve, Leão XIII a entendia danosa aos interesses comuns, propondo ao Estado, como remédio mais eficaz “para prevenir o mal” (...) “a autoridade das leis (...) removendo a tempo as causas de que se prevê que hão de nascer os conflitos entre os operários e patrões”. Propunha àqueles “embebidos de máximas falsas e desejosos de novidades”, que “procuram a todo custo excitar e impelir os outros à violência”, devem ser refreados pelo Estado que, “reprimindo os agitadores, preserve os bons operários do perigo da sedução e os legítimos patrões de serem despojados do que é seu.”
Ambos os documentos, o “Manifesto Comunista” e a Encíclica “Rerum Novarum” tornaram-se referenciais, marcas do seu tempo, porque foram diretos nas questões que abordaram, influenciando, depois, decisivamente, a legislação protetora do trabalho.
Antagônicos, mas nos breves trechos transcritos, percebe-se quantas vezes são eles convergentes. Porque era flagrante o abuso à classe trabalhadora.
Para o seu tempo, a Encíclica "Rerum Novarum" constitui-se documento admirável.
Concluindo:
Me parece que nessa discussão perduram itens que repercutem até hoje aos quais se somam os imensos desafios destes tempos tão conturbados de guerras e morticínios, de intolerâncias e preconceitos. São desafios que justificam um trabalho árduo, de conscientização, que parece justificar o nome de Prevost como Leão XIV.
A esperança com fé nestes tempos "evangélicos" sem Evangelhos.
NOTA DE DIVULGAÇÃO
PAPA LEÃO XIII – “RERUM NOVARUM – PAPA LEÃO XIV
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