quarta-feira, 2 de novembro de 2022

A VOLTA DO LULA. O GOLPE FRUSTRADO


Quantas vezes já disse – e disse há mais de dois anos – que o modo de agir de Bolsonaro se apresentava como um antidiscurso que, vagarosamente, ia corrompendo suas chances de reeleição? Quantas vezes disse que com a volta de Lula após os julgamentos no STF ressurgia como um adversário com possibilidades reais de o derrotar? 









Mas, Bolsonaro com suas atitudes vulgares, desrespeitosas, debochadas se apresentava como vigoroso cabo eleitoral do seu adversário. Quantas vezes disse isso? (*)

Antes disso, com as suas derrotas no STF porque sobretudo fazia discursos golpistas, incentivava as fake news mais se acentuou exatamente essa sua disposição ao golpe.

Mas, quem era ele, com suas idiossincrasias deturpadas para ter apoio militar a um golpe?

Sim, com esse discurso golpista, tentou ele amadurecer a “ideia” perante não só entre seus pares militares como entre os milhões de bolsonaristas, um “clube” que acreditava como acredita no discurso de Deus, pátria e família, mesmo que quanto ao conceito de “família” tenha ele constituído três. E entre os pastores ditos “evangélicos” que o bajulavam como se fosse um “ungido”, uma farsa, mesmo que demonstrasse durante a pandemia, compaixão zero.

Pois não foi Friedrich Nietzsche – o filósofo ídolo de uma plêiade de filósofos por aqui – que perguntou na sua obra “O Anticristo”:

O que é mais nocivo que um vício qualquer? A compaixão em um ato para todos os fracassados e os fracos – o cristianismo”. (**)

E, nesse diapasão, foi corroendo sua imagem e até digo que em muitos momentos mostrou-se aético.

Por causa disso, para conter seus excessos se deparou com um inimigo corajoso, o ministro que o enfrentou de modo a não vacilar: Alexandre de Moraes do STF.

Na escalada vergonhosa das “fake news”, o ataque às urnas, o ministro fez um tipo de intervenção contra esses farsas e, por isso, impropriamente acusado de censor. Mas, não. O que fez Moraes foi eliminar o “lixo político” que exalava com reflexos golpistas garantindo por sua vez, à manutenção da estabilidade política, da isonomia. A ele, a democracia brasileira deve muito nesse estágio conturbado.










Com a volta de Lula ao quadro sucessório, a angústia de Bolsonaro se tornara evidente.

Nada me tira do senso aquela reunião recente com os militares convocada por Bolsonaro depois de “constatar” (mais uma “fake news”) que rádios do No e Ne haviam inserido menos mensagens do que deveriam à campanha presidencial como mandava a lei.

O que teria decorrido dessa reunião se os militares o incentivassem ao golpe? Não pretendera ele ouvir algo assim?

Afinal de contas, Lula vinha liderando as pesquisas.

Na semana das eleições, como atos incompreensíveis do ponto de vista político-eleitoral (dai porque disse que o resultado das eleições teve algo de “divino” pelos atos que vieram a calhar), o ex-deputado bolsonarista Roberto Jeferson agiu como um “sniper” ao receber policiais da Polícia Federal a tiros de fuzil e lançar granadas em direção aos agentes que cumpriam mandado de prisão. 

E na véspera das eleições, o ato tresloucado da deputada bolsonarista Carla Zambelli, mentindo quanto às causas, com revólver um punho, correndo atrás de um homem negro desarmado, pelas ruas de São Paulo a ponto de ameaçar frequentadores numa padaria lotada quando aquele ali se abrigara.

Querem cabos eleitorais melhores que esses em prol de Lula?

E deu no que deu. Lula venceu, mesmo que os mais de dois milhões de votos significassem pequena margem se considerado o conjunto dos eleitores brasileiros.

E, então, no dia seguinte, caminhoneiros desavisados, irresponsáveis, “a mando de quem”?, impediram o livre acesso dos próprios caminhões de abastecimento (daqueles motoristas a maioria que queria trabalhar) em dezenas de estradas pelo país.









Paralisação irresponsável sob comando bolsonarista - derrotados inconformados

Esses atos são de bolsonaristas, conspiradores de quarteirões que me lembram Ernesto Geisel ao responder esta pergunta referente eleição de 1994:

- Se Lula vier a ganhar eleição deste ano de 1994, por exemplo, o senhor acha que não haverá problema militar?

- Não, mas aí as vivandeiras que rondam os quartéis, como dizia o Castelo, virão insuflar a área militar. Os políticos, os industriais, o alto comércio etc. começarão a procurar os militares e a encher a cabeça deles para derrubar o governo. (***)

Quando inquirido sobre as greves lideradas por Lula no ABC a partir de 1978, disse Geisel que o país vivia tranquilo mas começava a ser perturbado por elas: “Eram fatos desagradáveis, mas que faziam parte da liberdade que a distensão procurava assegurar”.

No caso ora analisado, não se tratava antes em derrubar o governo, mas o golpe se daria para estabelecer a continuidade, a ditadura bolsonarista que tanto admitira Bolsonaro e seus adeptos, um suposto ditador incompetente já apenas por ser ditador nestes tempos cuja ideia por si só insuportável

E do ponto de vista militar, fora Geisel quem qualificara Bolsonaro como um “mau militar”.

Mas, não só os caminhoneiros como outros conspiradores que atilam a mediocridade. Pois assisti vídeos de “vivandeiras” falando abertamente em resistência ao resultado das eleições e um outro até mostrando o número do “pix” para obter recursos para o mesmo objetivo.

Essa gente não entende o que se passa, estão vivendo noutros tempos, nos tempos que já se foram.

Este país não pode voltar ao passado de regime de exceção, impensável, máxime com um ditador com a mentalidade de um Bolsonaro.

Os tempos são outros.

Não foi Lula quem venceu. Foi Bolsonaro, seus seguidores e conspiradores que perderam. A “culpa’ não é de Lula pela vitória.

Conspiradores, evoluam, enfrentem a democracia como gente grande e não como conspiradores acéfalos ou irresponsáveis!


Referências:

(*) DECISÃO DIVINA

(**) O ANTICRISTO

(***) Neste texto referências ao Livro de memórias de Geisel: A TRAGÉDIA BRASILEIRA

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