segunda-feira, 30 de agosto de 2010

QUEIMADAS e DEVASTAÇÕES

As queimadas, provocadas deliberadamente ou não são a nossa tragédia diária que se propaga pela incompetência oficial em coibi-las e combatê-las. O agravamento da situação ambiental e a ampliação da desertificação em imensas áreas.
O meio ambiente pede ajuda.


"Esquecemo-nos, todavia, de um agente geológico notável – o homem. Este, de fato, não raro reage brutalmente sobre a terra e entre nós, nomeadamente assumiu, em todo o decorrer da história, o papel de um terrível fazedor de desertos. Começou isto por um desastroso legado indígena. Na agricultura primitiva dos silvícolas era instrumento fundamental – o fogo."

A citação acima, refere-se aos desertos provocados na região do nordeste com as queimadas praticadas de modo desastroso que, ao longo do tempo, foram devastando imensas áreas de "flora estupenda".

Não foi ela extraída de algum manual recente de entidade ecológica, entre tantas nacionais e internacionais que criticam a omissão brasileira na questão das queimadas havidas na floresta amazônica. Ela é de autoria de ninguém menos que Euclides da Cunha, ao estudar "a terra" em seu livro "Os Sertões", cuja primeira edição apareceu em 1902.

Esse consagrado autor, já então no início do século passado, demonstrando certa perplexidade e amargura, apontava o absurdo das queimadas para abrir espaços para a atividade pastoril ou, "ao mesmo tempo o sertanista ganancioso e bravo, em busca do silvícola e do ouro".

Décadas e décadas se passaram e a prática do fogo continua destruindo desordenadamente as florestas brasileiras, quase que extinguindo a mata atlântica e agora, em proporções assustadoras, vai predando própria selva amazônica e cerrado.

É brutal a omissão oficial a essa calamidade, cuja fumaça das queimadas – provocadas ou não - cega transeuntes, fecha aeroportos e dificulta a respiração de crianças, exatamente na região antes conhecida como o "pulmão do mundo", qualificativo que fora um orgulho para nós brasileiros, pelo menos para os que pensam um pouco mais à frente.

À omissão, aliam-se o absoluto desrespeito à vida, pela natureza e pelo mistério das matas virgens, com as milhares de vidas que sustentam, levadas de roldão, inapelavelmente, pelo fogo.

Esses indivíduos gananciosos e irresponsáveis que exploram madeira na Amazônia e outros biomas, não respeitam árvores centenárias, salvo pelo seu valor econômico, põem fogo na mata para abrir espaços para pastagens do modo mais desordenado e criminoso possível, de ordem a manter o maior rebanho bovino do mundo.

Nos dias de hoje, ensinam-se os princípios da ecologia e da preservação da natureza nas escolas, praticam-se solenidades simbólicas de plantio de árvores perante alunos que aplaudem e se comprometem com a idéia. Para o futuro. Mas, o futuro já corre sérios riscos. O grave problema se verifica no presente. Ações devem ser tomadas agora, energicamente, de tal maneira que sobre algo para ser cuidado no futuro.

“Diminuiu a devastação na Amazônia: em vez de sabe lá quantos campos de futebol por dia, a predação agora é apenas a metade.”

E há quem comemore esse engodo. É degradante.

Essa realidade é assustadora.

As autoridades que poderiam reverter esse processo criminoso omitem-se, fecham os olhos ao se depararem com a fumaça das queimadas e se voltam para ao dar de ombros, as desculpas de sempre: falta de estrutura de fiscalização e de combate às queimadas e, torcem para que de seus gabinetes não sejam afetados pelos seus resíduos.

O desrespeito chegou ao insuportável. O despreparo das entidades oficiais em enfrentar tais crimes é desanimador. Chega a ser patético.

Há algumas décadas, a publicação "O Correio da Unesco", reportava-se ao "Avanço do Deserto" na Terra, esclarecendo uma das reportagens:

"Muitos acreditam que os desertos do Oriente Médio e da região mediterrânea foram criados pelo homem. Há dois ou três mil anos, as vertentes e as planícies do Líbano, da Síria, o litoral do Egito e da Tunísia eram cobertos por rica vegetação (lembremos os famosos cedros do Líbano) e forneciam a Roma grandes quantidades de madeira, cereais, azeitonas, vinho e outros produtos.

O abate de árvores, a destruição das florestas e da vegetação herbácea e o pisoteio das pastagens, juntamente com a erosão pelo vento e pela água, transformaram esses territórios em semi-desertos".

Incluindo as queimadas que em muito aumenta a gravidade da tragédia, estamos seguindo há muito exatamente essa receita. A de construirmos desertos na região mais exuberante do planeta: a Amazônia.

É chegada a hora da urgência, sim, de encararmos a que ponto estamos e parar para pensar sobre o futuro e para nossas crianças, de tal ordem que vivam num mundo melhor e mais respeitoso com a natureza. Que se inspirem na simpatia que deve existir entre a árvore e o homem. Entre os animais e os homens e entre estes e a água, um elemento vital, preocupante, também descurado.

Há tanto por fazer e a cada ano, quando as coisas se acomodam após as crises constantes como esta que agora se assiste – esse circo de horrores – os projetos vão sendo postergados.

E o jogo da política menor, sórdida, volta a prevalecer com o mesmo ímpeto das queimadas.

Foto: Google Imagens

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http://martinsmilton.blogspot.com/ - Temas Livres

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