terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"1984” E “ADMIRÁVEL MUNDO NOVO” REVISITADOS

A liberdade de informação na internet. A introdução de milhares de livros no Google e o que pode significar. “1984” de George Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley revisitados e confrontados nestes tempos contraditórios.

Nestes tempos de internet em que há abertura absoluta para a informação aqui entre nós há quem proponha, ainda que de modo inicialmente incipiente, medidas de controle dos meios de informação. Penso que o WikiLeaks embora tenha agido – e age - com exacerbação ao divulgar muita fofoca de chancelarias, o que não deixou de abastecer noticiário de órgãos sérios, teve o mérito de provar que a informação corre livre pelos canais múltiplos postos na rede. O que é reservado e o que não é reservado? Em princípio, preservados os interesses individuais – e nos abusos, sempre haverá o Judiciário para julgar e condenar os excessos - tudo poderá ser divulgado. É o que vem demonstrando a prática. Quais os prejuízos dessa realidade? Pois não foi por um meio eletrônico, o celular, que se soube das manifestações da oposição no Irã ao protestar contra alegadas fraudes nas eleições que reelegeram Ahmadinejad? Não é a China, aquele país continental que ainda faz restrições às ações políticas contra suas idiossincrasias, censurando o Google, mas as informações de lá são conhecidas por outros meios postos na internet? Para quem, como eu, que vem assistindo à franca evolução dos meios de informação, tenho alguma cisma pelo monopólio dela. Confesso que o Google tem sido um instrumento de trabalho para mim. Agora, o Google num projeto ambicioso anuncia que publicará todos os livros disponíveis no mundo, em várias línguas, não sujeitos mais aos direitos autorais significando espécie de monopólio particular gigantesco de busca e informação. Em princípio é a antítese do controle da informação porque ela estará disponibilizada até pelo acesso a grandes clássicos da literatura mundial. Talvez a forma de disponibilizar a essa massa imensa de informações se torne um êxito embora fosse útil que outras fontes surgissem, até públicas, de tal ordem a estabelecer espécie de concorrência, equilíbrio saudável na divulgação. A prevalecer a intenção do projeto como de interesse público sem desvios, a ameaça do “grande irmão” muito bem engendrado no livro “1984” de George Orwell seria apenas criação literária, “cinzenta”, que teve o seu tempo. Desse livro faço breve resenha a seguir. Mas, que há um dilemas nisso tudo, há. Pedem reflexão. Nessa mesma linha de ideias, há que considerar as experiências genéticas. Em princípio não atinava, agora já não sei, se a clonagem humana poderá significar daqui a alguns anos, neste “admirável e preocupante mundo”, manipular a personalidade de pessoas assim geradas. Ainda acredito que as Divindades na sua sabedoria, impedirão tais anomalias. Na novela da Globo “o Clone”, escrita por Glória Peres, o ser clonado no final, meio sem “alma” e objetivo passou a seguir o seu criador, no caso o cientista que obtivera resultado nas suas experiências genéticas. Essa consequência posta na novela fora bem formulada, sem dúvida. Sobre esse tema tão empolgante também trago resenha do livro de Aldous Huxley, consumidor de LSD, “Admirável Mundo Novo”. Estes tempos são empolgantes e não deixam de ser preocupantes. Submeto, então, a resenha dos dois livros para reflexão daqueles leitores que não os conhecem e mesmo àqueles que os conhecem. Haverá pontos que tocam nos dias atuais: o cerceamento da informação em muitas regiões, o controle sobre os atos dos cidadãos, o consumo e a proliferação das drogas como forma de controlar a mente, a “alma”... "1984" de George Orwell Escrito no fim da década de 40, ainda sob a influência dos horrores dos crimes nazistas e mesmo do stalinismo, engendrou Orwell um mundo no qual o ser humano estaria controlado, manipulado e submisso aos desígnios do "Grande Irmão". O sistema era constituído por um "tratamento psiquiátrico" aos que se rebelavam e aos que caiam "em desgraça", ameaça que expandia a autocensura, uma voz insuportável que reprimia a manifestação, já que eram nebulosos os limites permissíveis da expressão do pensamento. Pois, o herói de "1984" não tremeu diante de um simples volume de folhas em branco e, em pânico, começou a escrever? Ao homem tornara-se proibido indagar e mesmo amar. Apagara-se para sempre sua interioridade que, alimentada, poderia levá-lo a pensar "inadequadamente" numa existência transcendente. Esse espaço interior fora preenchido pela máxima presente sempre: "O Grande Irmão zela por ti". Orwell não dá esperança a Winston, o herói "dissidente". Submetido a todas as torturas e sofrimentos, "espontaneamente", com "convicção", se convence que "dois e dois são cinco" (o seu axioma antes fora: "A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Admitindo-se isto, tudo o mais decorre") e no auge de sua "recuperação" passa a amar o "Grande Irmão". Uma tênue esperança alimentada por Winston até ser "recuperado" era a revolta dos "proles", uma sociedade à margem do poder e desorganizada, mas também controlada por intensa espionagem e, quanto aos divertimentos, um dos mais comuns era a proliferação de filmes pornográficos. Os "proles", todavia, no percurso todo do livro, permaneceram alienados e impotentes. É inequívoco que o quadro negro pintado por Orwell se assentara num clima político de extrema violência, embora hoje ainda haja o autoritarismo desmedido como forma de busca ou da manutenção do poder, além de outras formas de deturpação (a subnutrição e a fome, especialmente) que ameaçam a vida humana e a desqualificam. Os abusos dos grandes irmãos políticos que fazem da política o meio da ambição e do acúmulo de riquezas sem a preocupação em melhorar a vida dos...”proles”. Assim, os eventos de "1984" podem até ser identificados em pontos demarcados do planeta, hoje e no passado próximo, nos quais a desobediência ou a contestação podem significar a privação da liberdade individual ou risco à própria vida. Hoje, a televisão tem muita força de comunicação e pode – já não ocorre? - desviar a atenção, a inteligência. Afinal, não é ela que projeta a violência, constrói e destrói ídolos, nos faz pensar ou nos condiciona de certa forma segundo os desígnios de poucos? De um modo geral, há sim manifestações de "não cultura". A propósito, emprestando o título “big brother”, um dos piores e mais alienantes programas atuais da televisão. Afinal, por outra, não há uma crise nas religiões? Algumas não se excedem, diminuindo a capacidade individual, a vontade dos seus seguidores? Estejamos atentos, pois. "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley E o que dizer do instigante "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley ? Trata-se de uma obra muito atual, mesmo escrita há quase 80 anos, precisamente em 1932. O denominado "mundo novo "situa-se no ano 600 da era de Ford (referindo-se a Henry Ford, pioneiro da indústria automobilística nos Estados Unidos). Feitas as contas, chega-se ao ano de 2.500 da nossa era. Mas, do que trata o livro de Huxley ? Um novo mundo onde os seres humanos eram produzidos em série em laboratórios e, pela manipulação nos embriões, pertenceriam à elite dominante ou simplesmente à massa que fazia trabalhos braçais ou desagradáveis, o controle da individualidade pelo condicionamento no que denominou Centro de Incubação. Nesses centros de condicionamento, certas "mensagens" eram repetidas milhares de vezes, para que se constituíssem verdadeiros valores da vida. Mesmo sendo "imoral" a procriação natural, havendo por isso cuidados especialíssimos para evitar a gravidez, havia no "novo mundo" total liberdade sexual. A monogamia era objeto de repúdio e deboche. O casamento e o sentimento pais/filhos, uma vergonha. O "soma" era a droga contra todos os males da "alma": da angústia, da depressão, da tristeza, da dúvida. Uma dose da droga anestesiava a mente do usuário, sobrevindo um estado de euforia sem os mal-estares de outras drogas, quando passasse seu efeito. Num diálogo entre um selvagem – assim considerado porque nascera naturalmente – e o dirigente máximo da história de Huxley, à indagação da existência de Deus, este dissera que talvez Ele existisse, mas manifestando-se como "ausência; como se não existisse absolutamente". Porque Deus "não é compatível com as máquinas, a medicina científica e a felicidade universal". →→ (Coloco-me disponível para sugestões e críticas às minhas opiniões e mesmo correções às informações que as fundamentam. Liberdade de opinião!) Imagem: Google

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