segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A PERDA DA CAPACIDADE DE SE INDIGNAR

A corrupção se tornou parte da “cultura brasileira”, todo mundo se conforma como se fosse algo normal neste país de aproveitadores. Que de regra não são punidos pelo que subtraem dos cofres públicos. Somos mesmo ovelhas que não balem


A maioria dos artigos que aqui tenho publicado refere-se à minha indignação com a corrupção que grassa por este país – que não é uma nação, mas um “aglomerado” cujos desvios variam de região para região – e que nos afronta e nos humilha.

No meu inconformismo com as manobras que se avolumam para subtração de recursos públicos de modo desonesto – há aí um pleonasmo? -, dia desses, minha paciência chegou ao nível da explosão, da deselegância, da má educação.

Dois cidadãos idosos, numa agência do correio, falavam sobre a corrupção constatada no Ministério dos Transportes, ao que um deles, conformado:

- Mas, a corrupção veio desde Dom João VI. O senhor leu os livros do Laurentino Gomes? (1)

Foi aí que eu entrei, demonstrando toda a minha indignação por esse conformismo muito próprio do povo brasileiro que se acostuma com os acintes que lhe passam insistentemente os meios de comunicação – às vezes de modo meritório pelos detalhes que expõem.

Erguendo a voz, fiz ver que não podemos e aceitar passivamente essa nossa desgraça de hoje com exemplos sórdidos da política de abusos do passado, como registrado ao longo da história do Brasil. A corrupção não pode se constituir uma “instituição nacional”, parte de nossa cultura.

Será preciso dar um basta, resgatar a nossa capacidade de nos indignar e de protestar contra todos esses abusos, nos expurgando desses e punindo esses espertalhões que de modo descarado avançam sobre os recursos públicos, que saíram de nossos bolsos, do modo mais implacável e para quantos, com grande sacrifício.

O ato mais desmoralizante de corrupção nestes últimos anos, se deu com o mensalão e, como tudo neste país é enrolado nesse âmbito há latente a tendência “normal” ao esquecimento, à prescrição e ao arquivo. Tanto que até agora não houve punição de qualquer natureza contra os envolvidos no escândalo.

Muitos desses continuam atuando no PT e em outros partidos e, para minha surpresa, até mesmo o deputado Waldemar Costa Neto, beneficiário confesso do mensalão, membro do PR, influenciando no Ministério dos Transportes corrompido, do modo mais ostensivo.

Entre os vários artigos que escrevi sobre a corrupção e abusos políticos que se dão neste país, há um bem específico sobre essa incapacidade brasileira de se indignar, de 19.12.2010. Fora uma manifestação a propósito do reajustamento dos vencimentos dos deputados e senadores no porcentual de 62% abuso que não gerou qualquer reação significativa do povo brasileiro nas ruas.

Concluíamos:

“Sem protestos de rua, todos somos nada além do que ovelhas que não balem preparados para o sacrifício no altar da imoralidade.” (2)

Eis que, soprando desanimado nesse deserto, me deparo com artigo do desembargador aposentado do Tribunal de São Paulo, Aloísio de Toledo César que, em artigo no jornal ”O Estado de São Paulo” de 30.07.2011 acentua no final:

“O mais desanimador é que o sofrível nível cultural médio da população brasileira engole esses escândalos como se fossem coisas corriqueiras na vida de um país democrático, quando, em verdade, representam antes a negação da democracia. O resultado das urnas, infelizmente, mostra que o que influi da hora de votar, predominantemente, é o dinheiro fartamente distribuído pelos que estão à cata de votos. Bolsa-Escola, Bolsa-Família têm esse lado trágico.” (3)

O que desejo ressaltar é que esse estado letárgico não se dá somente entre as pessoas com “sofrível nível cultural médio”, mas também entre os “esclarecidos”, como pude constatar naquela minha explosão de indignação numa manhã, numa agência do correio longínqua no interior de São Paulo.

O que fazer neste aglomerado chamado Brasil?

Legendas:

(1) “1808” de Laurentino Gomes (também autor de “1822”, ambos da editora “Nova Fronteira”);

(2) “Ovelhas que não balem”, neste site, em 19.12.2010;

(3) “Dilma e as sofríveis escolhas” de 30.07.2011

NOTAS CURTAS:

I – Preço do etanol em Uberlândia, cidade importante do interior de Minas na semana passada: entre R$2,10 e R$2,13. Gasolina: R$2,80. Diferença entre um produto e outro: 32%. Este é o país que pretende (ia) exportar álcool para os Estado Unidos...

2 – Uma imensa aberração antiecológica, algo inimaginável nestes tempos de aquecimento global: a devastação da vegetação do Cerrado para produção de carvão vegetal matéria prima para acionar os altos-fornos das siderúrgicas mineiras...

Até quando, Brasil, até quando? Resposta: quando tudo se constituir vegetação rasteira ou a desertificação.

3 – Manifestações no Rio de Janeiro protestando contra presença de Ricardo Teixeira na CBF. “Alguém” cassou seu discurso no sorteio dos grupos dos países que se enfrentarão na Copa do Mundo. Ao lado de Pelé, parecia mais um colegial contrariado.

E, pior, continuará na CBF até não sei quando...O cúmulo seria dirigir a Fifa.

4 – Há cidades que querem patrocinar a abertura da Copa do Mundo, considerando a possibilidade de não vingar o Itaquerão em São Paulo. Onde essas cidades acomodarão tanta gente? Ah, sim, na rede hoteleira de São Paulo. Depois, viajam de avião até o destino. Epa, mas, haverá aeroporto suficiente?

5 – Conflito entre Barack Obama com os radicais republicanos dos Estados Unidos nessa crise orçamentária. Entre os radicais parece haver membros da ku, klux, kan sem o capuz. Mas, os Estados Unidos são assim: de um jeito ou outro, não saem da mídia mundial.

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