segunda-feira, 17 de outubro de 2011

EFEITOS DAS “PRIMAVERAS” ÁRABES

A “primavera” árabe, inspiração aos “indignados” da Europa e dos Estados Unidos. Que esse movimento se fortaleça no Brasil para tentar mudar alguma coisa. Notas Curtas: 1. O livro de José Nêumanne Pinto; 2. Atriz iraniana condenada a 90 chibatadas.


Deu na imprensa que a “primavera árabe” custou aos países afetados por movimentos populares e políticos – e que derrubaram ditaduras antigas -, algo em torno de US$56 bilhões. Mais afetados os países em que houve conflitos armados, como é o caso da Líbia, onde o ditador Muamar Kadafi resiste até agora de modo insano e na Síria onde a resistência do ditador sírio Bashar Assad ao movimento popular que clama por sua saída do poder, já resultou em cerca de três mil mortes. E prejuízos em torno de US$6 bilhões. (1)

Esses movimentos por mudanças havidos nos países árabes do norte da África foram e são uma surpresa pelos costumes retraídos da população, a maioria muçulmana e, por conta disso, até agora, alimentando ditaduras violentas, fechadas e sanguinárias

Paralelamente a esses movimentos políticos da reação árabe à falta de liberdade, do lado de cá, no nosso denominado mundo ocidental, começando pela Grécia, há uma crise de natureza econômica que está difícil de controlar, de resolver.

A soma desses eventos, revelam os analistas, motivou na Espanha a ação daqueles que se denominaram “os indignados” que na praça Puerta Del Sol, demonstraram sua revolta contra o desemprego e a prevalência dos interesses financeiros sobre os interesses políticos e sociais que poderiam minimizar a crise.

A partir daí, em meio a outras manifestações na Europa, grupos de “indignados” americanos, concentram-se em praças de Nova York e proclamam o movimento “Ocupe Wall Street” tendo como mote, o porcentual 99%, no sentido de que o 1% que falta é o que controla as finanças mundiais, a par de lançar mão da corrupção e agindo com cobiça desenfreada. Manifestantes, neste fim-de-semana gritavam: “Nós fomos vendidos, bancos foram resgatados.”

Há os que consideram os “ocupantes de Wall Street” uma leva de jovens oportunistas que não tem uma bandeira muito clara do que reivindicam. Por ora, porém, estão conseguindo inspirar idênticas manifestações em outros países da Europa, também em crise ou a beira de um colapso. Em Roma, os distúrbios foram violentos resultando em duas dezenas de feridos.

Particularmente, no presente, os Estados Unidos enfrentam forte crise política e econômica, já que o presidente Barack Obama vem sendo tolhido de modo acintoso e irracional por membros do partido Republicano (a facção denominada “Tea Party”). E com essa atitude dos congressistas americanos, o país praticamente estancou.

Enquanto este nosso mundo ocidental não se entende e as ruas se enchem de protestos, eis notícia que vem da China muito curiosa por reconhecer esse imenso país, o seu regime “diferente” e, de certo modo explicando aos chineses para não se preocuparem porque no ocidente esses conflitos são contornáveis. A notícia:

“O Global Times, um tablóide chinês com grande número de leitores, publicado pelo jornal principal do Partido, o Diário do Povo, destacou em editorial que "os países ocidentais podem suportar melhor as manifestações de rua, já que seus governos são eleitos".

“Os conflitos podem ser pequenos ou graves, mas não trarão mudanças significativas", acrescentou. "A China precisa manter a calma e observar como os movimentos de rua no mundo ocidental se desenvolvem e fazer as escolhas certas para seu próprio bem." (2)

Imaginai 500 mil chineses saindo às ruas nas principais cidades e praças da China para protestar contra a miséria e a falta de liberdade!

Aqui no Brasil, os movimentos de protestos havidos em São Paulo são ainda incipientes. Espero que continuem não com ações vandálicas, mas de zanga por tudo o que este país vem assistindo de politicagem, abusos, corrupção, desmandos praticamente sem controle, verdadeira terra de ninguém ou, talvez, como proclama o movimento “Ocupe Wall Street”, pertence àquele 1% que “gere” o país. Que protestem de modo firme contra a corrupção, contra o número excessivo de deputados federais, estaduais e vereadores. Que protestem contra o número excessivo de senadores. Contra esse Congresso “saco sem fundo” predador de recursos públicos. As mudanças neste país – cuja população é escorchada pelos impostos crescentes pouco ou nada recebendo em troca – só virão com o povo em massa exigindo uma nova ordem política e constitucional no Brasil. (3)

NOTAS CURTAS:

1. Livro de José Nêumanne Pinto – “O que sei de Lula” (Topbooks)

Quem assistiu a algumas entrevistas do jornalista e não leu o livro, pode pensar que fora ele condescendente com lulismo-petismo em sua obra

Mas, não, o livro valendo-se de documentos, material jornalístico e pela própria vivência do autor faz no geral duras críticas, não só a Lula e ao seu governo como ao seu partido e o modo temerário como sempre agiram.

Nêumanne faz justiça à atuação de Paulo Vidal Neto, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo que antecedeu Lula e fora o iniciador do “sindicalismo autêntico”. E do próprio Lula que com ele tudo aprendeu.

Nos meus tempos de São Bernardo do Campo (Chrysler) conheci Paulo Vidal e seu modo de atuar, inteligente, exigente e até irônico. Nem por isso recebeu apoio de seu discípulo quando se candidatou a deputado federal, não se elegendo.

Estarrecedor o capítulo (“O filhos de Saturno”) que trata dos assassinatos de Toninho do PT, prefeito de Campinas e Celso Daniel, prefeito de Santo André.

Faz Nêumanne duras críticas ao PSDB (Serra e Alckmin) por ter ignorado o que “havia de melhor” no partido por ocasião das campanhas para a presidência da República: FHC e seu governo que teria mudado o país com a introdução do “plano real” e iniciado programas sociais.

Neste espaço modesto que opino, quanto me referi a isso! À exautão. Na realidade o PSDB assumiria o bordão hipócrita de Lula, a tal da “herança maldita” que dela se aproveitou em tudo em seu governo sem dar o “braço a torcer”. Depois dos elogios de Dilma a FHC por ocasião do seu 80° aniversário, silenciou. (4)

O autor também esgota o tema referente à desastrosa diplomacia brasileira.

O livro foi um alento para mim porque abona as críticas que fiz e faço ao PT e ao Lula. Pena que o livro não chega naqueles “grotões” do país que votam em Lula e no seu partido.

2. A atriz iraniana Marzieh Vafamehr foi condenada pela “Justiça iraniana” a um ano de detenção e a 90 chibatadas por ter atuado no filme “Minha Teerã à venda”. O enredo do filme, como pode se deduzir, faz críticas ao regime de governo de seu país.

Não há ainda informação de quando essa pena execrável será aplicada, mas sempre que saem notícias dessa natureza provinda do Irã, volta-me aquela cena patética de Lula erguendo a mão, juntamente com o primeiro ministro turco, do ditador Ahmadinejad por ocasião do “acordo” sobre a política nuclear naquele país, notório fiasco.

A mim parece que por injunção desse episódio que não gratifica nenhuma biografia, a presidente Dilma Rousseff não recebeu a iraniana Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz. (5)

Se tivesse recebido, seria um modo de, indiretamente, condenar as chibatadas e morte por apedrejamento que o Irã jurássico pratica até hoje contra as mulheres.

Referências:


(1) Jornal “O Estado de São Paulo” de 15.10.2011

(2) Portal do Jornal “O Estado de São Paulo" de 17.10.2011

(3) Meus artigos: “Ovelhas que não balem” de 19.12.2011 e “A perda da capacidade de se indignar” de 01.08.2011

(4) Meu artigo “FHC 80 anos: agora é o pai da Pátria” de 20.06.2011

(5) Meu artigo “Pose de Republiqueta” de 12.06.2011

Foto:

1. Os ”99%” movimento dos “indignados” em Nova York (Google)
2. Atriz iraniana Marzieh Vafamehr (Google)

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