domingo, 2 de outubro de 2011

ESSA COPA EM 2014! ESSA “SAÚDE”! ESSE “SANEAMENTO”!





A “indesejável” Copa do Mundo. A interferência da FIFA nas decisões brasileiras. Para o evento esportivo tudo; para a saúde e saneamento novo imposto sendo “plantado” ou quando a população “pedir”... Também "Notas curtas".




De repente meu carro que chegara até àquele lugar normalmente, não dá qualquer sinal elétrico na partida. Num sábado. Fui socorrido pelo seguro em tempo relativamente curto. Funcionou.

Enquanto trocava a bateria o eletricista de autos proclama e reclama:

- Eu odeio essa de futebol, de Copa do Mundo cara e desnecessária para o Brasil que oferece pro povão péssima assistência médica. Onde já se viu, construir estádios, abandonando os hospitais.

Eu o provoco:

- Mas, você votou no Lula, no PT...

E ele reage, afundando-se no motor aberto, balbuciando algo contra o PSDB de Fernando Henrique que não consegui entender. Não insisti.

A questão toda não são só os estádios que depois de construídos – se todos construídos a tempo – ficarão semiutilizados porque o seu tamanho é desproporcional ao contingente de torcedores que os frequentarão depois em jogos locais e regionais.

Tudo bem, o abacaxi cascudo aí está para ser descascado mas há nesse capítulo da Copa do Mundo, muito de importuno, feira de vaidades que, rigorosamente, provieram de lides cariocas.

A FIFA, não menos vaidosa, afinal de contas o seu “santo nome” não pode ser omitido mesmo quando se noticia algo sobre a competição mundial. - “A copa FIFA 2014 – tem azucrinado o Governo Brasileiro pelo atraso nas obras, não só quanto aos estádios, mas também quanto aos aeroportos, estes essenciais não só pelo evento em si, mas pelo crescimento vertiginoso da aviação aqui e no mundo.

E além desses temas fundamentais, há sinais notórios de atritos com a FIFA em relação ao projeto da “Lei Geral da Copa” que o Governo Brasileiro enviou ao Congresso Nacional que garantiu, sim, à entidade máxima do futebol, direitos à FIFA antes, durante e depois da competição, mas que se fundamentou – e não seria diferente - na Constituição e legislações aplicáveis ao evento. Por exemplo, há restrição à venda de bebida alcoólicas nos estádios, contrariando interesses indiretos da patrocinadora cerveja Budweiser. Também, por conta do Estatuto do Idoso, para eles, idosos, ingressos para os jogos com 50% de desconto bem como tipificação penal para a pirataria diferente do que propõe a FIFA.

Dilma vai se reunir com a cúpula da FIFA para aparar essas arestas e, espero, afirme de modo cabal, a autoridade brasileira perante essa entidade sempre alvo de denúncias e expressão de vaidades imaginando que “mandando” no futebol do mundo, possa impor regras aos países sedes.

Nesse passo, enquanto tudo para a Copa vai sendo resolvido (?) e orçamentos liberados aos picos, na vergonhosa assistência médica – a saúde precária do brasileiro esquecido, pobre se agrava também com a falta de saneamento básico naquelas regiões remotas e outras nem tanto – já há de modo tão descarado quanto cauteloso, o aceno de novo imposto para a saúde. (1)

Todos ouviram numa entrevista recente, que Dilma Rousseff rejeitara tal tributo porque a CPMF extinta em 2007 fora “um engodo”, segundo sua expressão. A ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, dias depois lançaria o balão pelo que a presidente ao reconhecer problemas de “gestão” na área diria em entrevista à TV Record diria que “não estou pedindo hoje um aumento de impostos. Nós vamos melhorar a gestão da saúde neste país. E quando ficar claro para a população que ela precisa de mais coisa, ela mesma vai se encarregar de pedir.”

Pedir “mais coisas”, sim. Impostos, pela carga que suporta, não fará parte do pleito da população escorchada.

Isso tudo é ora colocado para demonstrar a contradição deste País: ao futebol tudo, à assistência médica e ao saneamento nada efetivamente decidido, apenas a vontade de “melhorar a gestão” e lançar mais um imposto.

A alma ainda é pequena, por isso nada está valendo a pena.

Menor ficaremos se essa Copa – essa inconveniência, esse transtorno que assumimos – não der certo ou for deficiente, desorganizada, precária.

E pagar (epa!) para ver.

NOTAS CURTAS

1. Lula foi agraciado com o título de “doutor honoris causa” pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris. Diz a notícia que ao entrar no auditório vestindo a toga, foi recebido pelos estudantes com apreço, sendo aplaudido de pé aos gritos de “Olé, Lula”.

Ligo esta notícia à crônica de João Ubaldo Ribeiro de 25.09.2011. Relatou o escritor que taxista em Berlim, que acompanhava as coisas do Brasil se revelara preocupado com ataques de moscas num hospital. Eis como relatou o escritor o diálogo com o motorista:

“Estava mesmo ocorrendo no Brasil uma terrível praga de moscas, como ele tinha ouvido no rádio? Os hospitais brasileiros estavam tomados por temíveis moscas tropicais assassinas?

Era o caso das varejeiras que infestaram o hospital Pedro Ernesto, no Rio. Eu, que já havia dado uma olhada nos jornais brasileiros pela internet, tranquilizei-o e passei-lhe as dimensões verdadeiras do caso. Ele me respondeu que já tinha suspeitado disso, principalmente depois do governo do presidente Lula, que havia mudado radicalmente o Brasil, livrando-o do atraso e das condições terríveis em que o nosso povo antes vivia, a começar pela saúde pública. Quase não tive coragem de contradizê-lo um pouco, explicando que, se ele visitasse hospitais públicos brasileiros, talvez não se recuperasse do choque, pois não era bem assim. Mas ele nem ouviu minha resposta. Descobri que estava num táxi do PT, ou pelo menos de um lulista fanático. Ou então os comerciais do governo estavam passando na televisão daqui. Pelo visto, a popularidade do homem havia chegado com força a Berlim. Despedimo-nos com ele exclamando "Lula!" e apontando o polegar para cima com um sorriso.”

E segue o prestigioso autor com outras considerações, concluindo:

“Se a Alemanha tivesse um primeiro-ministro como Lula, seria uma felicidade. Não disse, mas pensei comigo mesmo que tinha um ideia melhor. Por que não importavam Lula para governá-los? Certamente seria conhecido como Lula der Grosse, que não é o que você está pensando, mas "Lula, o Grande". Essa exportação de nosso Grosse seria muito benéfica. Para o Brasil, não para a Alemanha, pensei, mas de novo não disse.” (2)

Diria mais, poderia ser presidente da França. Como acho que isso não será possível, que tal sugerir que seja ele nomeado correspondente do PT em Berlim, autorizado a, em bom português sempre, informar aos seus pares como andam a assistência médica, o saneamento básico e outros temas na Europa?

2. Meio sem alarde, a imprensa noticiou que deu-se no dia 25.09.2011 a última tourada em Barcelona, na Espanha, porque legisladores da Catalunha aprovaram em 2010 a sua proibição.

Devagar vai a Espanha extinguindo esse “esporte” tão vergonhoso quanto covarde.

Não poderemos festejar muito porque por aqui, há os rodeios, não menos vergonhosos e covardes.

3. Transmissão esportiva. É de doer. A bajulação e o endeusamento de jogadores, o empurramento de esportes que nos dizem pouco ou nada como o “stock car” e o besteirol do Galvão que não muda o tom jurássico: “como é bom ganhar da Argentina”. Até quando? Até quando? Enquanto isso os brasileiros gastam uma “preta” na calle Florida de Buenos Aires e se arrebatam com o tango nas casas noturnas da capital argentina. - Como é bom ganhar dos brasileiros, em dólar e até em reales! dizem os argentinos vitoriosos.

Referências no texto:

1. Meus artigos:

“O PT e a sua mora” de 05.09.2011

“SUS - Assistência médica caótica, humilhante” de 04.04.2011

“A farsa da volta da CPMF” de 05.11.2010

2. José Ubaldo Ribeiro, “Lula der Grosse”, jornal “O Estado de São Paulo” de 25.09.2011

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