segunda-feira, 28 de março de 2011

TIETÊ, ÁGUA QUE TE QUERO e as prioridades.

O rio Tiete e o seu curso cortando todo o Estado de São Paulo. A sua degradação e a degradação generalizada dos mananciais. A Copa do Mundo desviará as atenções para assuntos prioritários na área ambiental, especialmente a captação de água potável. VEJA ABAIXO VÍDEO QUE TRATA DAS ALTERAÇÕES NO CÓDIGO FLORESTAL

Residindo longe 175 quilômertos, com menos frequência tenho ido a São Paulo. Desaprendi a dirigir na minha cidade natal, tão atribulada, tão agressiva e tão abandonada pelos poderes públicos. Uma cidade suja. Procuro seus encantos pelas frestas.

Da última vez há 15 dias, lá estando, voltei minha atenção para o rio Tietê por ter assistido com preocupação documentário sobre sua poluição contumaz e a necessidade crescente de água potável na Grande São Paulo, sem contar a poluição da própria represa Billings que abastece parte dos municípios do ABC.

O rio Tietê tem um traçado surpreendente. Nasce nas vizinhanças do mar, mas desce atravessando todo o Estado de São Paulo. Mas, há uma explicação geológica: sua nascente se encontra na cidade de Salesópolis (110 km de São Paulo), a cerca de 1.100 ms. de altitude. No seu curso, ao atingir Barra Bonita (282 km de São Paulo) a altitude da cidade já se reduz para 450 m. E nessa “descida” sua foz se dá na barragem do lago Jupiá, Rio Paraná, depois de 1.150 quilômetros de percurso.

Se fosse me desviar para explicações não naturais, diria que houve aí um ato da Providência, como se adivinhasse que por ali surgiria uma imensa metrópole que precisaria de água, necessidade que se estenderia por todas as outras regiões e cidades banhadas pelo rio.

Mas, o Rio Tietê, como já tanto se disse, é um esgoto a céu aberto. Muito se promete, mas nada muda. Mesmo com esse potencial que tem o rio na sua essência, estudo da ANA – Agência Nacional de Águas aponta que 64% dos municípios de São Paulo têm ou terão problemas de abastecimento.

No que se refere aos municípios brasileiros, esse mesmo estudo revela que 55% deles deverão ser afetados pelo desabastecimento. Há ai, em curto prazo, um grave problema a ser enfrentado.

Claro que na produção de alimentos, o consumo de água é imenso. Mas, não posso defender, por absurdo, que haja diminuição nessa produção, mas não posso omitir o desperdício. Essa é uma questão central. Há pouco, a propósito, foi divulgado o consumo de água para a produção de carne bovina, dados assustadores: - para 200 kg de carne bovina, estima-se que o animal abatido após três anos de vida consumiu direta e indiretamente mais 1.300 quilos de grãos, 7.200 quilos de feno e outros, 24 mil litros de água para beber, 7 mil litros de água para manutenção geral. Para toda essa estrutura de alimentos e água, o boi abatido consumiu mais 3 milhões de litros de água, significando por quilo de carne, 15,5 mil litros de água consumida. (1)

Ora, direis, Mas o xixi do gado se dilui na natureza e acaba voltando para os mananciais como água ou escorre diretamente para os rios e reservatórios. E mais a bosta – que também afeta o aquecimento global -, misturada aos dejetos humanos temos uma bela sopa para dai extrair a água potável (?!) a cada dia com crescimento de consumo. Nada de pessimismo, mas temos uma perspectiva de caos em curto prazo.

O Brasil é realmente o país do carnaval e do futebol. Vem vindo aí a Copa do Mundo para 2014 que está exigindo investimentos imensos para estádios, infraestrutura grandiosa, aeroportos que, pelo nosso estágio de prioridade, tais investimentos não se enquadram (acedo para os aeroportos que muito se fala e nada se fez até agora).

Temos tudo por fazer em infraestrutura, cuidar da água potável, dos esgotos – pensar numa tecnologia agressiva para ele a para o lixo. No futebol, se tudo der certo, gritaremos os gols do Brasil e, no final, campeões ou não, passadas aquelas emoções, ainda sob o cheiro forte da pólvora queimada, tudo voltará ao dia-a-dia com tudo por fazer...e grandes estádios ociosos.

Não fora isso, já repetitivo em clamar contra o projeto de reforma do Código Florestal, parece que ele caminha prestigiando a maior parte do que propõe o deputado comunista que se dobra a interesses imediatos, sem visão de futuro.

Não será desse político que haverá esse raciocínio lógico, de olhar um pouco mais à frente. O seu interesse político o torna míope ou assim se faz nessa responsabilidade. Falo de água. Há forte crítica ao projeto do deputado em propor a redução das matas ciliares em torno dos rios que cruzam propriedades rurais para ganharem os produtores mais alguns metros de produção tornando-os vulneráveis o que agrava a captação desse recurso básico que já vai escasseando. (2)

Referências:

(1) Jornal O Estado de São Paulo de 21.03.2011. Acesse, artigo no mesmo sentido: http://www.syntonia.com/terra/artigo-impactos-ambientais-do-consumo-carnivoro/index.htm;

(2) Ver meus artigos sobre o mesmo tema:
13.03.11: Japão. Desastres Naturais & Reflexões;
01.03.11: Ambiente. Posição da SBPC e ABC;
07.02.11: Preservação ambiental: permanente vigilância.

Foto: Nascente do rio Tietê em Salesópolis (SP) entre pedras.


PARA CONHECER QUÃO IRRESPONSÁVEIS SÃO AS PROPOSTAS DE ALTERAÇÃO DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO NACIONAL, REJEITADO POR SOCIEDADES CIENTÍFICAS SÉRIAS, ASSISTAM O VIDEO ABAIXO:



São insanidades, num país que olha para o próprio umbigo e não ergue a cabeça para o horizonte incerto e se pergunta o que realmente tem que ser feito.


domingo, 20 de março de 2011

O BRASIL, O IRÃ, A LÍBIA E OS ESTADOS UNIDOS


O governo Dilma muda a atitude brasileira em relação aos ditadores. Barack Obama vem ao Brasil num momento importante para reatar relações mais firmes com o país. Nenhum pleito dos anseios brasileiros deixou de lhe ser transmitido.

Não há como negar, nas últimas eleições, minha inclinação pelo candidato de oposição. Dos mais de cem artigos aqui publicados, parte deles se referiu, na minha concepção, à necessidade imperiosa de mudar os rumos do palavrório quase diário do ex-presidente e sua desastrosa política externa, meio improvisada, diria mesmo um tanto inconsequente em alguns atos.

Análise sobre esse tema, também me posicionei em artigos outros. Não é novidade.

Para mim, rememorando, o apoio dado ao Irã, no caso da exploração da energia nuclear e outros, sem conhecer em profundidade suas idiossincrasias reais que não apareciam na fronte de Almadinejad foram inaceitáveis. Por conta da amizade, sua omissão, em Cuba, aos sacrifícios dos dissidentes cubanos como se ele, de certa forma, também não o fora nos tempos da ditadura. E o que dizer de sua candidata já com a campanha lançada que fora qualificada como “terrorista” e por seus atos, presa e torturada naqueles idos?

Foram gestos que permanecerão como linhas que denegrirão sua biografia.

Venceu Dilma e como já me manifestei, vi no seu discurso de posse não apenas a retórica para preencher a obrigação da solenidade. Havia pontos importantes explanados.

Haveria, porém, que aguardar porque a sombra do ex-presidente era espécie de comando de seus passos dali para frente.

Não me cabe adivinhar o que se passa na sua cabeça, mas tenho o direito, ou o dever de interpretar os humores, os sinais que provém do Palácio do Planalto.

E então eu pergunto: por onde anda Hugo Chaves, se considerarmos os afagos, sorrisos e tapinhas constantes do ex-presidente ao venezuelano a quem a tudo perdoava: sua tendência à ditadura que vai se consolidando, a violenta repressão à imprensa e os seus discursos bombásticos, mas vazios?

E os irmãos Castro, com vão? O que fazem atualmente? Só espero que fora de pauta por aqui, à socapa, não continuem tripudiando os seus dissidentes.

Parece que aqueles “assessores” internacionais também estão saindo de pauta! Amém.

Esteva com tais lucubrações quando adveio a notícia de que o Governo brasileiro, nos primeiros dias deste mês, ofereceu em Genebra um almoço à dissidente iraniana Shirin Ebadi, Nobel da Paz.

Esse gesto, muito significativo teria “irritado” Teerã que a persegue, tanto que está ela refugiada na Europa.

Ouve-se falar do Irã por aqui?

Aliás, a dissidente iraniana chegara a dizer que

“Se o Brasil e a comunidade internacional não querem mais uma Líbia, precisam começar a se mover imediatamente para promover um novo diálogo com Ahmadinejad, antes que ele siga o caminho de Muamar Kadafi.”

Quanto ao ditador sanguinário da Líbia, há 42 anos no poder, o ex-presidente, naquele seu deslumbramento em ser reconhecido como estadista, o chamou de “amigo e irmão”.

Não se condena a visita comercial à Líbia na busca de mercado, condenável o modo da aproximação, subserviente.

É possível esquecer esses deslizes, mais do que isso, desgastes políticos desse tamanho.

Confesso que na decisão da ONU nesta semana que decidiu atacar a Líbia para conter o ditador que prometia massacrar os seus opositores e civis, fiquei um pouco surpreso com a abstenção do Brasil, nem pelo sim nem pelo não. Mas, repensando, há um significado subjacente nem por isso menos importante: o de que a guerra não ajuda lado nenhum. Em quais cabeças, afinal, cairão as bombas dos países que se alinharam nessa missão contra a Líbia? Não atingirão também os civis?

Mas, tal a truculência do ditador líbio, o que fazer? Negociar com ele? Com quem, sendo ele quem é?

Por todos esses deslizes e “prioridades menores”, a diplomacia brasileira não só deixou os Estados Unidos em segundo plano como, algumas vezes, debochou o ex-presidente das dificuldades por que passavam e passam ainda os americanos.

Resultado: a balança comercial é favorável aos americanos! É para entender uma coisa dessas?

Na verdade, nem o ex-presidente, o que não é de estranhar, nem os próprios americanos reconhecem os valores que têm com o presidente Obama na presidência dos Estados Unidos.

Vindo para o Brasil antes de ir a presidente lá na sempre esperada hora do beija-mão, menos por cavalheirismo, mas para aparar essas arestas e claro, por interesses comerciais, veio ele aqui com sua família.

A presidente se houve bem e no seu discurso falou olho no olho sobre principais interesses brasileiros que estão sendo violados por barreiras comerciais ilegítimas dos americanos.

Em resumo, essas atitudes brasileiras, nestes primeiros meses, não parecem ser mera “mudança de rumos” em relação ao governo sucedido, mas mudança efetiva de atitudes o que se apresenta muito salutar para o Brasil democrático que não pode vacilar nesse seu rumo.

Será que estou me convertendo ao “dilmismo”?

domingo, 13 de março de 2011

JAPÃO, DESASTRES NATURAIS & REFLEXÕES

Análise não muito ortodoxa da tragédia no Japão nesta semana. A harmonia Universal e a desarmonia entre nós, os semelhantes A predominância do espírito belicoso e predador. A luta ecológica.

(Dedicado ao amigo Caio Martins que sugeriu o tema, esperando que satisfaça às suas exigências e apuro).


O telescópio Hubble vagando pelo espaço, permitiu que conhecêssemos fenômenos miraculosos fotografados em região a milhares de anos-luzes que artista nenhum conseguiria imaginar, no auge de sua inspiração, paisagens daquele teor.

Foi-nos permitido assistir à criação de estrelas, sua extinção, nebulosas com cores indescritíveis nesse processo natural de evolução e retração do espaço infinito que nossa vã inteligência não consegue atinar. Aí, surgem teorias como a do “big bang” que seria a explosão de uma massa informe surgida do nada e do nada a sua a eclosão nessa grandeza imensurável que nos humilha, dependendo dos olhos que a vêem.

Há, sobretudo, nesse espaço infinito, um sentido de harmonia. Nessa ordem há, realmente, os meteoritos, resíduos de corpos celestes, que tendem a se chocar com outros carpos celestes.

Mas, o planeta Terra, minúsculo e talvez por causa disso, tem sido poupado desses choques que podem ser devastadores, como se merecesse a proteção universal. Afinal de contas, trata-se de um planeta azul e verde que olhado de cima, das estações espaciais, ainda é um recanto que emociona. Um planeta minúsculo, embora lindo, com tudo para ser insignificante na ordem universal mas parece haver a intervenção daquelas forças que o defendem.

Disse que tudo no universo, no pouco que conhecemos, rege-se por um princípio de harmonia impecável que também emociona.

Na hora que se desce para o planeta Terra, porém, essa harmonia universal desaparece.

Afinal somos obrigados a conviver com almas destruidoras, assassinas, belicosas. Já disse alhures que a Terra é escola que vai desde o jardim da infância, no qual estão esses seres vandálicos até o pós-doutorado, neste nível os sábios que a equilibram.

Aqui embaixo, por conta dessas forças antagônicas os que estão acima daquele primarismo predador, que enxergam a Terra como um terreno contraditório, mas que faz parte da harmonia geral do Universo, lutam para preservá-la, melhorá-la, educar e alertar seus semelhantes, não tão semelhantes pelo que praticam. Mas, há que insistir.

Tenho para mim que os ecologistas que se voltam para o todo, preocupam-se com a quebra da harmonia no planeta porque, queiram ou não, os predadores estão em maior número.

O que seria a harmonia da Terra?

Respondo: usar sem abusar, ter o sentimento de que tudo o que nos é oferecido haverá que ser usufruído com parcimônia e aqui uma contradição ou impossibilidade, abolir a belicismo, a violência e a busca da paz.

Nesse passo, no que se refere à parcimônia, me parece que a devastação florestal já chegou ou passou dos limites, a poluição das águas constitui-se ato inacreditável porque se refere a um recurso fundamental da preservação da vida e também a poluição atmosférica em proporções gigantescas. Com as matas sendo extintas, o resultado é o aquecimento global e suas decorrências como as que temos visto, devastadoras.

E não se esqueça que na desarmonia está a brutalização contra os animais, vidas que estão entre nós e já não bastasse a incompreensão da nossa, nada indagamos sobre elas. Apenas os matamos e os devoramos como se fôssemos feras.

Matanças desnecessárias de baleias, uma especialidade japonesa. Querem saber a receita do “foie gras”? Ei-la: “Três vezes por dia, durante 20 dias, um tubo é enfiado no pescoço do ganso e por ali bombeia-se 1 quilo de milho e banha. Depois, um anel evita que ele regurgite. Seu fígado adoece. É com ele que se faz o patê de “foie gras”. (1)

O subsolo terrestre já foi sacudido por inumeráveis experiências atômicas, as últimas da França e mais recentemente da Coréia do Norte. Essas experiências também se deram no mar como se quiséssemos acordar gigantes que não conhecemos, do modo mais inconsequente.

Constroem-se usinas nucleares perigosas para a própria vida humana sem a certeza de que elas estão devidamente controladas e se há realmente necessidade delas.

Afundamos sondas no fundo do mar em busca do petróleo sem a segurança absoluta que elas não vazem de tal modo a poluir às águas e destruir a fauna marinha. Lembrem-se do Golfo do México há pouco.

Somos predadores e inconsequentes. Somos belicosos e praticamente suicidas. Imediatistas, egoístas.

Com maior frequência, repetem-se catástrofes ditas naturais como se não houvesse a reação do organismo Terra às agressões que vem sofrendo nos últimos tempos, pelo descontrole que se dá no seu equilíbrio, na desarmonia flagrante. Há muito passamos dos limites.

Dirão muitos que o desastre desta semana no Japão, proveniente de um terremoto de 8,9 na escala Richter não é novidade. Já houve alguns mais violentos. Recentemente, com quase o mesmo abalo, deu-se no Chile em fevereiro de 2010, 8,8 na escala. Em dezembro de 2004, na Ásia, o que gerou um maremoto violentíssimo e que ceifou a vida de cerca de 200 mil habitantes na Tailândia, Indonésia, Índia, foi de 9,3 na escala.

As experiências nucleares desses belicosos do mundo foram humilhadas pelo terremoto que resultou na devastação agora de regiões do Japão. Os cálculos são de que o fenômeno equivaleu a 27 mil bombas atômicas.

Os gigantes desconhecidos estão sendo despertados. E reagem cada vez com mais frequência e com maior poder de destruição.

Quem ouvira falar de “tsunamis” (palavra japonesa = ondas de porto), com essa magnitude e destruição como o de 2004 na Ásia e o de agora no Japão?

Na tragédia do Japão, um jornal num subtítulo, alardeia a “natureza em fúria”, chamando a atenção para o agravamento do desastre com a explosão das usinas nucleares situadas na região mais atingida do país não poupadas mesmo tratando-se da notória tecnologia japonesa. (2)

As trombas d´água não só no Brasil, mas em várias partes do mundo, também são cíclicas e mais intensas; e também as secas aqui e em outras regiões.

A tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro se deu por nível de chuvas nunca antes atingido.

Eu não consigo atinar, por estar assistindo eventos que jamais imaginei que pudesse assistir, aonde chegaremos, quais os limites de devastações naturais que teremos no futuro próximo.

Há um sentido de catastrofismo nessa afirmação?

Creio que todo o ecologista que se posiciona sobre o “Todo”, com a harmonia no alto e a desarmonia aqui embaixo, tem um pouco ou mais desse sentimento de perda que se avoluma cujas consequências, à frente, não pode divisar.

Então ele é vigilante porque os predadores estão em maioria como acentuei e como belicosos ou por colocarem a economia e o lucro acima de tudo sem arcarem com as consequências dos seus atos sobre o meio ambiente e sobre a própria vida. Como se fossem imortais.

Dai a luta, dai as campanhas antipredação que visam ensinar a preservação ambiental como recurso da própria vida, pelo que espero, se intensifiquem por todos os meios possíveis em permanente vigilância. (3)

Código Florestal em debate

Por isso, tenho rejeitado o projeto do deputado comunista Aldo Rebelo do “novo” Código Florestal, por tudo que tem ele de predador, de pequenez. Por seu timbre politiqueiro, chega às raias da irresponsabilidade. Esse projeto foi rejeitado nas suas principais proposições, pela SPBC e ABC. (4)


→ (Coloco-me sempre disponível para sugestões, críticas e principalmente correções às minhas opiniões e informações).


Referências no texto:

(1) Revista “Super Interessante” de setembro de 2003
Recorrências casuais (do jornal "O Estado de São Paulo" de 20.03.2011)

(2) Jornal “O Estado de São Paulo” de 12.03.2011

(3) Nesse propósito, a Campanha da Fraternidade deste ano, instaurada pelo colégio dos bispos do Brasil é bastante oportuna. Num cenário devastado, diz o cartaz que a ilustra, “a criação geme as dores do parto”. O cartaz da campanha foi publicado no meu artigo “Preservação Ambiental: permanente vigilância” de 07.02.2011 neste portal

(4) Meu artigo “Ambiente. Posição da SBPC e ABC” de 01.03.2011 neste portal. Outros artigos recentes sobre o tema: “Tragédia no Rio de Janeiro & anexos” de 23.01.2011; “Clima: Cancun, devagar mas caminhou” de 15.12.2010 e “Resenha ambiental” de 21.11.2010.

Foto Hubble (NASA):
A Nebulosa Carina, um dos maiores berçários de estrelas do Universo - Pilares da Criação (Harmonia)

domingo, 6 de março de 2011

A TERRA DA CERVEJA: beba, beba muito, mas "com" moderação


Volto a comentar o apelo cervejeiro nacional, com a presença de artistas e personalidade do futebol. Bebam, bebam, sem moderação!

Já escrevi sobre o forte apelo publicitário que invade as televisões brasileiras, incentivando que os consumidores, bebam muito, muito mesmo, a cerveja, mas com moderação. (1)

Há momentos em que três ou quatro marcas de cerveja ocupam espaços publicitários quase em sequência, sem trégua de tal ordem a torná-la uma “necessidade nacional”.

Numa delas, o técnico da seleção brasileira “escalou” a cerveja que lhe garantiu um belo cachê sem que esse futebolista se desse conta que sua mensagem está diretamente dirigida a um tipo de público mais humilde que se esborracha com o futebol.

E é entre as torcidas que a “amarelinha” aguça a violência dirigida pela falta de qualquer discernimento que se havia algum foi anulado pelo álcool de sabe lá quantas latas.

Em seguida, aquela que desce redonda, seguida pelo cantor pagodeiro que ergue o copo bramaneiro. E lá está a cantora baiana saltitante inserida como garota propaganda da "cervejaÃO".

Aí, a jovem cantora Sandy embarca na devassa e afirma olhando para todos os telespectadores que todo mundo tem um lado devasso. Ela substituiu a loira Paris Hilton que se prestava bem ao papel mesmo que inexpressiva.

Eis o que disse Sandy em dezembro: “Eu não gosto do gosto da cerveja mesmo sem álcool”. (2).

Bem, mesmo assim, tudo pela “devassa”, olho no olho da turma jovem que deverá além de beber a cerveja procurar o "lado devasso que todos têm.”

Nesse quadro implacável de “empurramento” da cerveja, bebam, bebam, materializam-se situações surreais.

Isso mesmo, os canais de TV reportam desastres e atropelamentos com veículos dirigidos por motoristas alcoolizados, vai o policial com o bafômetro no seu encalço porque no carro foram encontradas três ou mais latinhas de cerveja. Todos condenam o motorista infrator e, em seguida, no intervalo comercial, lá estão aquela que desce redondo, a escalada pelo técnico da seleção brasileira – isso explica os maus resultados do seu time? -, o bramaneiro, a devassa.

Quem aguenta isso? Não é uma piada trágica esse quadro?

E isso sem contar que o álcool é uma passagem para drogas mais pesadas.

Com tanto apelo, o que é beber com moderação? Para esses que dizem autossuficientes, valentões, moderação são tantas e tantas latas ou garrafas que esvaziam.

Haja bafômetro!

O que me causou abalo deu-se numa loja de rede nacional de supermercado numa cidade progressista do Estado de São Paulo. Estabelecimento lotado, mas havia um caixa exclusivo para os compradores de cerveja. Explicável porque eram muitos os clientes com carrinhos cheios das latinhas.

Qual a solução para esse apelo ao beba, beba, beba mais? Embebede-se

Para a moderação dos apelos, acho que nada será feito, porque a conta publicitária nacional contempla uma montanha de dinheiro distribuída pelas várias redes de televisão e até nas TVs a cabo.

Qual o veículo que renunciará ao seu quinhão nessa "devassidão"?

Ao cigarro, houve a “moderação” forçada, sendo proibida a publicidade e até restrição aos locais autorizados para fumar.

Rigorosamente, a cerveja e outras bebidas tem também um efeito nocivo. Nos casos mais graves de alcoolismo a doença tem nomeação psiquiátrica.

Então, quem se habilita a moderar os apelos ao álcool como se deu com o cigarro?

Os heroicos que levantem a mão.

Referências:

(1) Meu artigo “Bebida alcoólica: forte apelo publicitário” de 27.06.2010 neste portal;

(2) “O Estado de São Paulo” de 06.03.2011 (Suplemento “Alías”)

Gravura:

Do artista João Werner, "Descendo cerveja".

terça-feira, 1 de março de 2011

AMBIENTE. POSIÇÃO DA SBPC E ABC

De novo o tema da preservação ambiental, trazendo alguns elementos das conclusões (iniciais) da SBPC e ABC a propósito do projeto que pretende alterar o Código Florestal



Permitam-me alguma descontração, apenas para dizer que não receio ser chamado de colunista de um só assunto. É que, como escrevi em 07.02.2011 o artigo “Preservação ambiental: permanente vigilância” nestes tempos de predação que estão exigindo, mesmo, vigilância permanente.

Por tudo que tenho escrito e criticado sobre / o projeto de novo código florestal proposto pelo deputado comunista Aldo Rebelo convenço-me a cada dia, que seja desastroso, impensado, que derrapa na contramão de todo o pensamento avançado da preservação ambiental como benefício à própria humanidade nestes tempos em que eclodem catástrofes “naturais” cada vez mais frequentes e devastadoras.

Catastrofista? Prefiro esse qualificativo, do que, em defesa do citado projeto, publicarem-se artigos graciosos e, por tudo, vazios de ideias como já se deu há pouco.

No último dia 22, cientistas da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e da Academia Brasileira de Ciências se posicionaram sobre o projeto num seminário havido na Câmara dos Deputados.

Uma das críticas destacadas desde logo pelas entidades, se refere à tentativa de mudar a legislação ambiental atual sistematicamente desrespeitada pelos agricultores que devastaram áreas de preservação, como se fossem vítimas dela e não seus violadores. Já me referi sobre isso, no artigo mencionado.

Mas, para ressaltar a pobreza do projeto, valho-me de algumas conclusões iniciais da SBPC e da ABC, em resumo, porque o estudo é amplo com linguagem muito própria:

ÁREAS DEGRADADAS:

Passivo da ordem de 83 milhões de hectares de áreas de preservação ocupadas irregularmente, de acordo com a legislação ambiental em vigor.

Impacto da erosão ocasionado pelo uso agrícola das terras no Brasil é da ordem de R$ 9,3 bilhões anuais, que poderiam ser revertidos pelo uso de tecnologias conservacionistas e pelo planejamento de uso da paisagem, gerando benefícios ambientais.

Há necessidade de medidas urgentes dos tomadores de decisão para reverter o estágio atual de degradação ambiental.


Há que destacar:

Para estancar esse quadro, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reservas Legais (RLs) deveriam ser consideradas como parte fundamental do planejamento agrícola conservacionista das propriedades.


REDUÇÃO DAS MATAS CILIARES (margens de rios = áreas ripárias):


Uma possível alteração na definição da APP ripária (margens de rios), para a borda menor, como é proposto no substitutivo, representaria grande perda de proteção para áreas sensíveis. Essa alteração proposta significa perda de até 60% de proteção para essas áreas. Já a redução da faixa ciliar de 30 para 15 m nos rios com até 5 m de largura, que compõem mais de 50% da rede de drenagem em extensão, resultaria numa redução de 31% na área protegida pelas APPs às margens dos rios.

Há que destacar:

Estudo recente encontrou que as APPs ripárias representam somente 6,9% das áreas privadas, de acordo com o Código vigente.

E mais:

A presença de vegetação em topos de morro e encostas tem papel importante no condicionamento do solo para o amortecimento das chuvas e a regularização hidrológica, diminuindo erosão, enxurradas, deslizamento e escorregamento de massa em ambientes urbanos e rurais.

POLENIZADORES:
Que alguém desminta esta abordagem sempre ignorada ou menosprezada:

O entendimento da importância da manutenção de áreas naturais como APPs e RLs na propriedade rural é fundamental, já que existe a concepção errônea de que a vegetação nativa representa área não produtiva, com custo adicional e sem nenhum retorno econômico para o produtor. No entanto, essas áreas são fundamentais para manter a produtividade em sistemas agropecuários, tendo em vista sua influência direta na produção e conservação da água, da biodiversidade e do solo, na manutenção de abrigo para agentes polinizadores, dispersores de sementes e inimigos naturais de pragas das culturas, entre outros. Portanto, a manutenção de remanescentes de vegetação nativa nas propriedades e na paisagem transcende seus benefícios ecológicos e permite vislumbrar, além do seu potencial econômico, a sustentabilidade da atividade agropecuária e a sua função social.

E mais:

A pesquisa científica confirma os benefícios expressivos da polinização, como serviço ambiental, para a produtividade de culturas importantes. Os polinizadores podem ser responsáveis por um acréscimo de 50% na produção de soja; de 45 a 75% na produção de melão; 40% na produção de café; 35% na produção de laranja; 88% na produção de caju; 43% na produção de algodão; e 14% na produção de pêssego. Quanto ao maracujá, sua produção depende integralmente de agentes polinizadores. (1)


Talvez essas críticas fundamentadas partindo agora da comunidade científica tenham levado a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura a assumir posição ambígua, contraditória ao afirmar que sem o relatório do deputado Aldo “o Brasil deixará de ter a melhor e a mais barata comida do mundo e perderá seus superávits na balança comercial”.

Que conversa, que pânico, hem?

Mas, depois tergiversa, ao ressaltar que a agropecuária brasileira tem condições para “multiplicar a produção de alimentos sem derrubar mais nenhuma árvore. Não queremos desmatar. Só queremos regularizar a produção”

Não com o projeto de Rabelo, não com esse projeto! Bom que a senadora lesse as opiniões equilibradas da ABC e da SBPC.

Aliás, a senadora teria amenizado sua posição predatória anterior segundo a mesma notícia:

“Mas, no ano passado, ela disse que considerava a reserva legal (área que varia de 20% a 80% na propriedades rurais) inútil, com finalidade apenas paisagística.” (2)

Estejamos alertas: há predadores por toda parte que pensam no lucro e pouco ou nada nos prejuízos ambientais graves.

→ (Coloco-me sempre disponível para sugestões, críticas e principalmente correções às minhas opiniões e informações).

Referências:

(1) Portal da SBPC

(2) Jornal “O Estado de São Paulo” de 23.02.2011

Foto:

Fonte:

(1) http://oskaras.com/mais-desmatamento-na-amazonia/
(2) Google