domingo, 6 de março de 2011

A TERRA DA CERVEJA: beba, beba muito, mas "com" moderação


Volto a comentar o apelo cervejeiro nacional, com a presença de artistas e personalidade do futebol. Bebam, bebam, sem moderação!

Já escrevi sobre o forte apelo publicitário que invade as televisões brasileiras, incentivando que os consumidores, bebam muito, muito mesmo, a cerveja, mas com moderação. (1)

Há momentos em que três ou quatro marcas de cerveja ocupam espaços publicitários quase em sequência, sem trégua de tal ordem a torná-la uma “necessidade nacional”.

Numa delas, o técnico da seleção brasileira “escalou” a cerveja que lhe garantiu um belo cachê sem que esse futebolista se desse conta que sua mensagem está diretamente dirigida a um tipo de público mais humilde que se esborracha com o futebol.

E é entre as torcidas que a “amarelinha” aguça a violência dirigida pela falta de qualquer discernimento que se havia algum foi anulado pelo álcool de sabe lá quantas latas.

Em seguida, aquela que desce redonda, seguida pelo cantor pagodeiro que ergue o copo bramaneiro. E lá está a cantora baiana saltitante inserida como garota propaganda da "cervejaÃO".

Aí, a jovem cantora Sandy embarca na devassa e afirma olhando para todos os telespectadores que todo mundo tem um lado devasso. Ela substituiu a loira Paris Hilton que se prestava bem ao papel mesmo que inexpressiva.

Eis o que disse Sandy em dezembro: “Eu não gosto do gosto da cerveja mesmo sem álcool”. (2).

Bem, mesmo assim, tudo pela “devassa”, olho no olho da turma jovem que deverá além de beber a cerveja procurar o "lado devasso que todos têm.”

Nesse quadro implacável de “empurramento” da cerveja, bebam, bebam, materializam-se situações surreais.

Isso mesmo, os canais de TV reportam desastres e atropelamentos com veículos dirigidos por motoristas alcoolizados, vai o policial com o bafômetro no seu encalço porque no carro foram encontradas três ou mais latinhas de cerveja. Todos condenam o motorista infrator e, em seguida, no intervalo comercial, lá estão aquela que desce redondo, a escalada pelo técnico da seleção brasileira – isso explica os maus resultados do seu time? -, o bramaneiro, a devassa.

Quem aguenta isso? Não é uma piada trágica esse quadro?

E isso sem contar que o álcool é uma passagem para drogas mais pesadas.

Com tanto apelo, o que é beber com moderação? Para esses que dizem autossuficientes, valentões, moderação são tantas e tantas latas ou garrafas que esvaziam.

Haja bafômetro!

O que me causou abalo deu-se numa loja de rede nacional de supermercado numa cidade progressista do Estado de São Paulo. Estabelecimento lotado, mas havia um caixa exclusivo para os compradores de cerveja. Explicável porque eram muitos os clientes com carrinhos cheios das latinhas.

Qual a solução para esse apelo ao beba, beba, beba mais? Embebede-se

Para a moderação dos apelos, acho que nada será feito, porque a conta publicitária nacional contempla uma montanha de dinheiro distribuída pelas várias redes de televisão e até nas TVs a cabo.

Qual o veículo que renunciará ao seu quinhão nessa "devassidão"?

Ao cigarro, houve a “moderação” forçada, sendo proibida a publicidade e até restrição aos locais autorizados para fumar.

Rigorosamente, a cerveja e outras bebidas tem também um efeito nocivo. Nos casos mais graves de alcoolismo a doença tem nomeação psiquiátrica.

Então, quem se habilita a moderar os apelos ao álcool como se deu com o cigarro?

Os heroicos que levantem a mão.

Referências:

(1) Meu artigo “Bebida alcoólica: forte apelo publicitário” de 27.06.2010 neste portal;

(2) “O Estado de São Paulo” de 06.03.2011 (Suplemento “Alías”)

Gravura:

Do artista João Werner, "Descendo cerveja".

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