domingo, 20 de março de 2011

O BRASIL, O IRÃ, A LÍBIA E OS ESTADOS UNIDOS


O governo Dilma muda a atitude brasileira em relação aos ditadores. Barack Obama vem ao Brasil num momento importante para reatar relações mais firmes com o país. Nenhum pleito dos anseios brasileiros deixou de lhe ser transmitido.

Não há como negar, nas últimas eleições, minha inclinação pelo candidato de oposição. Dos mais de cem artigos aqui publicados, parte deles se referiu, na minha concepção, à necessidade imperiosa de mudar os rumos do palavrório quase diário do ex-presidente e sua desastrosa política externa, meio improvisada, diria mesmo um tanto inconsequente em alguns atos.

Análise sobre esse tema, também me posicionei em artigos outros. Não é novidade.

Para mim, rememorando, o apoio dado ao Irã, no caso da exploração da energia nuclear e outros, sem conhecer em profundidade suas idiossincrasias reais que não apareciam na fronte de Almadinejad foram inaceitáveis. Por conta da amizade, sua omissão, em Cuba, aos sacrifícios dos dissidentes cubanos como se ele, de certa forma, também não o fora nos tempos da ditadura. E o que dizer de sua candidata já com a campanha lançada que fora qualificada como “terrorista” e por seus atos, presa e torturada naqueles idos?

Foram gestos que permanecerão como linhas que denegrirão sua biografia.

Venceu Dilma e como já me manifestei, vi no seu discurso de posse não apenas a retórica para preencher a obrigação da solenidade. Havia pontos importantes explanados.

Haveria, porém, que aguardar porque a sombra do ex-presidente era espécie de comando de seus passos dali para frente.

Não me cabe adivinhar o que se passa na sua cabeça, mas tenho o direito, ou o dever de interpretar os humores, os sinais que provém do Palácio do Planalto.

E então eu pergunto: por onde anda Hugo Chaves, se considerarmos os afagos, sorrisos e tapinhas constantes do ex-presidente ao venezuelano a quem a tudo perdoava: sua tendência à ditadura que vai se consolidando, a violenta repressão à imprensa e os seus discursos bombásticos, mas vazios?

E os irmãos Castro, com vão? O que fazem atualmente? Só espero que fora de pauta por aqui, à socapa, não continuem tripudiando os seus dissidentes.

Parece que aqueles “assessores” internacionais também estão saindo de pauta! Amém.

Esteva com tais lucubrações quando adveio a notícia de que o Governo brasileiro, nos primeiros dias deste mês, ofereceu em Genebra um almoço à dissidente iraniana Shirin Ebadi, Nobel da Paz.

Esse gesto, muito significativo teria “irritado” Teerã que a persegue, tanto que está ela refugiada na Europa.

Ouve-se falar do Irã por aqui?

Aliás, a dissidente iraniana chegara a dizer que

“Se o Brasil e a comunidade internacional não querem mais uma Líbia, precisam começar a se mover imediatamente para promover um novo diálogo com Ahmadinejad, antes que ele siga o caminho de Muamar Kadafi.”

Quanto ao ditador sanguinário da Líbia, há 42 anos no poder, o ex-presidente, naquele seu deslumbramento em ser reconhecido como estadista, o chamou de “amigo e irmão”.

Não se condena a visita comercial à Líbia na busca de mercado, condenável o modo da aproximação, subserviente.

É possível esquecer esses deslizes, mais do que isso, desgastes políticos desse tamanho.

Confesso que na decisão da ONU nesta semana que decidiu atacar a Líbia para conter o ditador que prometia massacrar os seus opositores e civis, fiquei um pouco surpreso com a abstenção do Brasil, nem pelo sim nem pelo não. Mas, repensando, há um significado subjacente nem por isso menos importante: o de que a guerra não ajuda lado nenhum. Em quais cabeças, afinal, cairão as bombas dos países que se alinharam nessa missão contra a Líbia? Não atingirão também os civis?

Mas, tal a truculência do ditador líbio, o que fazer? Negociar com ele? Com quem, sendo ele quem é?

Por todos esses deslizes e “prioridades menores”, a diplomacia brasileira não só deixou os Estados Unidos em segundo plano como, algumas vezes, debochou o ex-presidente das dificuldades por que passavam e passam ainda os americanos.

Resultado: a balança comercial é favorável aos americanos! É para entender uma coisa dessas?

Na verdade, nem o ex-presidente, o que não é de estranhar, nem os próprios americanos reconhecem os valores que têm com o presidente Obama na presidência dos Estados Unidos.

Vindo para o Brasil antes de ir a presidente lá na sempre esperada hora do beija-mão, menos por cavalheirismo, mas para aparar essas arestas e claro, por interesses comerciais, veio ele aqui com sua família.

A presidente se houve bem e no seu discurso falou olho no olho sobre principais interesses brasileiros que estão sendo violados por barreiras comerciais ilegítimas dos americanos.

Em resumo, essas atitudes brasileiras, nestes primeiros meses, não parecem ser mera “mudança de rumos” em relação ao governo sucedido, mas mudança efetiva de atitudes o que se apresenta muito salutar para o Brasil democrático que não pode vacilar nesse seu rumo.

Será que estou me convertendo ao “dilmismo”?

Um comentário:

  1. Dr. Milton: parabéns pelo texto. Ótimo, como sempre!.
    Quanto Aos ditadores... Já vão tarde! O mundo não sentirá falta deles.
    A Visita de Obama foi importante, mas o Brasil ainda tem muito a caminhar, a crescer...
    E Dilma, quem sabe, ainda nos surpreenderá nos programas sociais da saúde e da educação?
    Torço para que faça um bom governo.
    Abraços Da MARISA BUELONI

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