domingo, 15 de abril de 2012

CARROS E MAIS CARROS = CAOS URBANO

As ciclovias como forma de amenizar o trânsito. O crescimento dos passageiros em número desproporcional à expansão do transporte público. O aumento da frota de veículos. Os incentivos fiscais às automobilísticas. NOTA CURTA: ainda os direitos humanos.

Sem muito alarde, notícia da conta de que ciclovia unirá sete cidades da Grande São Paulo: Guarulhos, Santa Isabel, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Ferraz de Vasconcelos e Suzano. Constituem uma região com forte densidade. O primeiro trecho em Mogi das Cruzes, de 13 quilômetros, ficará pronto, segundo o projeto, até 2014 ao custo de 2,6 milhões. (1)

Tal a urgência em resolver o caos urbano provocado pelos carros é que as bicicletas e as ciclovias começam a ser olhadas com interesse e até urgência, uma forma de favorecer os ciclistas e, como vantagem não só no trânsito, também a diminuição da poluição pelo monóxido de carbono emitido pelos escapamentos. Os meios de comunicação começam a mostrar as vantagens do deslocamento via pedais.

Essa iniciativa que parece ainda tão remota haveria que ser estendida de modo global, especialmente na cidade de São Paulo. Com urgência. Tudo está indicando que o custo da ciclovia é mais barato do que a expansão urbana que exige desapropriações normalmente caras.

E isso porque, na cidade de São Paulo e região metropolitana, cresce de modo vertiginoso o número de usuários do metrô e dos trens da CPTM que ligam 22 municípios em 89 estações. Em 12 meses 1,2 milhões de passageiros a mais passaram a utilizar esses meios de transporte. A notícia compara esse contingente adicional à população o da cidade de Campinas: em um ano esses novos passageiros superaram a sua população em 200 mil pessoas. (2)

No que diz respeito aos carros o quadro é de extrema gravidade. Passou a ser lugar comum, diariamente, os meios de comunicação mostrarem os congestionamentos que se dão na cidade de São Paulo, massacrada pelos veículos, pelas milhares de motos, pela poluição que irradiam e pelo nervosismo da imobilidade forçada.

Só a cidade de São Paulo concentra 22% dos cerca de 7,6 milhões de veículos, número que significa algo em torno de 1,47 pessoa por veículo, índice próximo dos Estados Unidos, de 1,27.

Está claro que o gigantismo de São Paulo não pode suportar a elevação crescente dessa frota pelo que exige investimentos em transporte público de qualidade e cada vez em maior número especialmente em novas linhas do metrô já planejadas.

A obra gigantesca do Rodoanel de São Paulo é exemplo típico de investimentos imensos para dará vazão ao trânsito rodoviário na região metropolitana da cidade. Além dos custos de tal obra, há o prejuízo ambiental.

Há, na outra ponta, a indústria automobilística: as respectivas matrizes visualizam o grande território brasileiro e enxergam o lucro e, para incrementá-lo em maiores proporções projetam o aumento da produção na ordem de cinco milhões de veículos até 2015. Para isso, deverá investir, até lá, algo em torno de US$23 bilhões.

A capacidade de produção dessa indústria atualmente é de quatro milhões de veículos ano. Nessa conformidade, progressivamente entre 2012 e 2015 teremos no mercado entre 18 a 20 milhões de veículos postos no mercado dos quais a maior parte – considerando os número de hoje - são automóveis, transporte individual.

Essa imensa frota circulará em nossas ruas cada vez mais nervosas e insuficientes especialmente em São Paulo.

Em Piracicaba, cidade que nos últimos anos muito tem progredido, com seus quase 400 mil habitantes, em 2010 classificada em 16° lugar no Estado de São Paulo na proporção de 100 habitantes por veículo, registrava o porcentual de 58% (a primeira no Brasil se apresentava São Caetano do Sul, com 75,4%) para suportar já o seu trânsito pesado, vem fazendo grandes investimento na sua malha viária, com viadutos e aberturas de avenidas onde antes sequer se cogitava. (3)

Claro que há nesse posicionamento inversão de prioridades – e não há aqui um sentido crítico – mas, o enfrentamento de uma realidade que tende a se agravar. (*)

Nesse clima de aceleração do caos e as contradições que se apresentam, a indústria automobilística por conta dos empregos diretos e indiretos que oferece, por incrível que pareça, com alguma frequência, recebe incentivos fiscais e, mais, como há pouco se deu, reclama no governo, que os bancos estão minguando os financiamentos pela inadimplência verificada em financiamentos anteriores.

Nesse quadro complexo cuja perspectiva é de piora o que parece mais consentâneo é não abandonar obras viárias que devem prosseguir, mas priorizar os transportes públicos em larga escala. E as ciclovias. E, com base nesses elementos se constata que esses investimentos estão atrasados, muito atrasados.

É por isso que vejo as obras da Copa do Mundo como um “atraso de vida”.

(*) Há pouco o Governador Geraldo Alckmin assinou protocolo de intenção que objetiva revitalizar a Hidrovia Tietê-Paraná com a integração no sistema do Rio Piracicaba, com a construção de barragem em Santa Maria da Serra. Esse projeto já antigo significará se levado avante, importante via para escoamento da produção e transporte na região de Piracicaba.

NOTA CURTA

DIREITOS HUMANOS

No meu artigo “As coisas não vão bem” de 24.03.2012 a propósito do “projeto” da Secretaria dos Direitos Humanos que propõe vistoria nas prisões militares para apuração de excessos, escrevi o seguinte:

“Ora, a linha vestal do governo esquece dos presídios chiqueiros que exalam pelo Brasil inteiro nos quais os direitos humanos passam longe, muito longe.

Pura provocação como se gritasse por um amplificador de som: “somos o poder civil, militares só mandam nos quartéis...e olhem lá!”. Provocação tola, parece que para desviar a atenção dos problemas que enfrenta o governo no momento. Falta do que fazer!”


Pois bem.

Na sua recente viagem aos Estados Unidos, em palestra na Universidade de Harvard ao responder sobre tortura de uma venezuelana da qual desconhecia “as circunstâncias” completou:

“O Brasil tem um grande desrespeito aos direitos humanos. Eu não tenho como impedir em todas as delegacias do Brasil de haver tortura. Sei do que acontece em Guantánamo”.
(4)

Para amenizar a grave afirmação, entra Guantánamo em pauta que fica em Cuba...

Por isso, a Comissão da Verdade, será verdadeira se também investigar os crimes sórdidos aos direitos humanos nos dias de hoje seguindo a pista dada pela presidente Dilma.

LEGENDAS:

(1) “O Estado de São Paulo” de 12.04.2012

(2) Idem de 15.04.2012

(3) “Folha de São Paulo” de 18.07.2010

(4) “O Estado de São Paulo” de 12.04.2012

Um comentário:

  1. Nem me fala, 23 de maio em São Paulo, ninguém merece, radial então, esquece.

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