domingo, 16 de setembro de 2012

AFINAL, É PARA TEMER OS MUÇULMANOS?



O ódio contra os americanos, por suas intervenções logísticas e armadas no mundo muçulmano. O Alcorão prega a violência? Os islâmicos que interpretam versículos do seu livro sagrado “para objetivos particulares”

Estabelece-se um consenso a propósito da fúria muçulmana contra instituições americanas em países do Oriente Médio e norte da África.

Havia a chama acesa e o pavio do explosivo pronto a incendiar a qualquer momento contra diversas intervenções, interferências americanas ou sua influência em vários desses países.  O pavio foi aceso com a divulgação na internet de um filminho de quinta categoria, amador ("Inocência dos Muçulmanos"), produzido nos Estados Unidos, no qual é ridicularizado o profeta Maomé, o guia espiritual supremo dos muçulmanos.

Há, ainda, feridas não cicatrizadas, apenas para lembrar, dos resultados danosos na intervenção americana no Iraque e no Afeganistão e, claro, influência logística e política nos vários países que vivem a “primavera árabe”, particularmente na Líbia onde seu ditador Muammar Kadafi foi morto sofrendo sevícias e torturas. (1)

E eis que como um troco aos ataques de 11 de setembro em Nova York pela rede Al Qaeda, a operação militar no Paquistão, que resultou na morte de Osama Bin Laden comemorada com estardalhaço pelos Estados Unidos.

Repercute, também, a pressão americana sobre o Irã e o seu ainda não provado projeto de obtenção de arma nuclear.

Há, pois, esse clima de ódio contra os americanos em toda aquela região, países que a par de repudiar as intervenções, rejeitam a cultura ocidental ou o seu (o nosso) modo de vida, dos quais os Estados Unidos são os principais atores e exportadores.

Bastou, então, a divulgação daquele vídeo medíocre para que a revolta e a agressão se voltassem contra embaixadas e próprios americanos em alguns desses países. Na Líbia, foi morto o embaixador americano e outros funcionários da embaixada. (2)

Pouca adianta a secretária Hilary Clayton sair a público para afirmar que o seu país preserva a liberdade de expressão. Pouco resolve. Há uma massa muçulmana que rejeita qualquer expressão que não seja a sua, ainda que, para isso, precise distorcer ou mal interpretar mandamentos do Alcorão.

Esses os fatos.

E todos nós, ao ver essas manifestações graves por tão descabida causa nos preocupamos. Afinal, a que ponto podem chegar esses radicais no dia-a-dia, nos aeroportos, nas viagens, nos locais públicos com a prática de atos terroristas violentos, “sem olhar cara ou coração”?

Diante disso tudo achei necessário dar uma lida em itens do Alcorão e assim fiz. 

Mas, a melhor discussão se dá a partir duma pergunta à Sociedade Beneficente Muçulmana. A pergunta resumida:

Espero que os estudiosos me tirem da confusão em que me encontro desde os acontecimentos de 11 de setembro, principalmente no que diz respeito a alguns versículos alcorânicos. Esses versículos contradizem inteiramente o que os muçulmanos dizem a respeito de sua religião, que é uma religião de paz que condena a violência. Como os senhores interpretariam um versículo que diz "Matai-os onde quer que os encontreis"? (al-Bacara 191) e ..."Mas, se se rebelarem, capturai-os então, matai-os, onde quer que os acheis, e não tomeis a nenhum deles por amigo ou socorredor."? (an-Nisá 89).  Muito apreciaria uma resposta rápida.

A resposta foi dada pelo Dr. Muzammil H. Siddiqi, diretor da Sociedade Islâmica do Condado de Orange, e presidente da Sociedade da América do Norte:

"Agradeço as palavras gentis de que você não odeia os muçulmanos. O ódio não é bom para ninguém. Quero assegurar que nós muçulmanos também não odiamos os não muçulmanos, sejam cristãos, judeus, hindus, budistas ou seguidores de qualquer outra religião, ou que não tenham religião. Nossa religião não permite a morte de qualquer pessoa inocente, qualquer que seja sua religião. A vida de todos os seres humanos é santificada, de acordo com os ensinamentos do Alcorão e a orientação de nosso abençoado Profeta Mohammad, que a paz esteja com ele e com todos os profetas e mensageiros de Allah.”

No que concerne aos trechos contidos na pergunta acima, diz o consultado, o seguinte, em resumo:

“De acordo com Alcorão, matar uma pessoa sem  justa causa é um grande pecado, como se matasse toda a humanidade, assim como salvar a vida de uma pessoa é uma boa ação que corresponde a salvar toda a humanidade (ver al-Máida 32).”

E depois transcrevendo todos os textos na íntegra dos versículos mencionados na pergunta, ele pondera:

“Agora, diga-me honestamente, estes versículos dão permissão para se matar livremente qualquer um em qualquer lugar? Esses versículos foram revelados por Allah ao Profeta Mohammad, que a paz esteja com ele, na época em que os muçulmanos vinham sendo atacados constantemente pelos não muçulmanos de Meca. Eles estavam aterrorizando a comunidade muçulmana de Medina. Pode-se dizer, usando o jargão contemporâneo,  que havia constantes ataques terroristas a Medina e, nesta situação, os muçulmanos tinham a permissão de combater os "terroristas". Esses versículos não significam uma permissão para a prática do "terrorismo", mas são uma advertência aos "terroristas”. Porém, mesmo nessas advertências,você pode perceber como a moderação e o cuidado são bastante ressaltados."

E assevera:

"É importante que estudemos os textos religiosos dentro de seu contexto.  Quando estes textos não são lidos dentro dos contextos histórico e textual, eles são manipulados e distorcidos. É verdade que alguns muçulmanos manipulam esses versículos para alcançar objetivos particulares.  Mas isto acontece não só com os textos islâmicos, mas, também com textos de outras religiões. Posso citar dezenas de versículos da Bíblia que parecem violentos  se tomados isolados  de seu contexto histórico.  Esses textos bíblicos foram usados por muitos grupos judaicos e cristãos. Os cruzados os usaram contra muçulmanos e judeus. Os nazistas os usaram contra os judeus. Recentemente, os cristãos sérvios os usaram contra os muçulmanos bósnios. Os sionistas os estão usando regularmente contra os palestinos."

(Textos bíblicos mencionados pelo islamita em sua resposta que se referem à aceitação da violência contra opositores e inimigos: Velho Testamento: “Deuteronômio 20:10.17” e “Números 31:17.18”; Novo Testamento: “Lucas 19:26-27”).  

Concluindo...


No texto grifado é reconhecido que “alguns muçulmanos manipulam esses versículos para alcançar objetivos particulares.” (3)

E é inequívoco que, a despeito de todas as intervenções americanas no mundo, seus desastres, seu “carma” decorrente dos atos praticados no século XX e XXI no mundo – foi o único país que experimentou a bomba atômica, no caso, contra o Japão no final da 2ª Guerra contra civis, ceifando milhares de vidas – eu tenho um conceito negativo em relação àqueles e outros atos de muçulmanos que interpretam a seu modo o Alcorão.

Mas, o que fazer, se os conceitos deles são outros, se a liberdade que eles desejam, não é a nossa liberdade – que eu prefiro de modo incondicional?

Reconheço que tanto do lado islâmico como ocidental há santos, sim, mas há muitos radicais, fanáticos, assassinos que não valorizam a vida humana e, no todo, a do próprio planeta.

É claro, porém, que esse ódio cuja causa, neste momento, seja tão desprezível, torna os muçulmanos temidos pela imprevisibilidade dos seus atos, pela violência que praticam e intolerância sem limite que demonstram. 

Quem são eles quando se aproximam?

É como sinto e vejo à distância.

(“Todos os louvores e agradecimentos são devidos a Allah e que a paz e a bênção estejam com seu Mensageiro”).

Melhor se, em vez da intolerância e agressões esclarecessem ao Ocidente o sentido do islamismo e do Alcorão.

Referências:

(1) Recomendo a leitura do artigo do jornalista Caio Martins de 11.09.2012, “11 de setembro: qual?” muito esclarecedor sobre as intervenções americanas recentes, no portal www.votebrasil.com;
(2) Recomendo a leitura do artigo do jornalista Caio Martins, de 16.09.2012, “Primavera árabe e o outono da democracia”, no portal www.votebrasil.com;
(3) Mais informações consultar: Sociedade Beneficente Muçulmana, “O Alcorão ensina a violência?” (http://www.sbmrj.org.br/Alcorao-violencia.htm)

Imagens: A Bíblia e o Alcorão

APÊNDICE 

Paz ‘made in’ São Paulo

O jornal “O Estado de São Paulo” de 16.09.2012 trouxe notícia sob o título “A paz ‘made in SP’ de cristãos, judeus e muçulmanos”, iniciativa de empresários dessas religiões que se uniram para organizar exposição, destacando-se totens pela cidade com as palavras Solidariedade, Amor, Paz, Diversidade, Liberdade, Amizade e Respeito com até 19 metros de cumprimento. Haverá, também, uma corrida, a simbólica, a Caminhada de Abrão, profeta que depois de receber o chamado de Deus, “caminhou por 1,2 mil quilômetros na região Oriente Médio – cruzou o Rio Eufrates, a região montanhosa do Norte da Jordânia, Belém e Jerusalém.”

O patriarca Abrão que viveu há quatro mil anos, é considerado o fundador do monoteísmo e figura importante para as três religiões.

Os organizadores consideram São Paulo “o melhor lugar do mundo” para tal evento, por ser “o único onde há convivência, interação entre árabes, judeus e cristãos”.


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