segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

DEUSES DO FUTEBOL E A “RELIGIÃO”



O que faz o futebol no psiquismo do torcedor, seja fanático, seja moderado? A diferença de ser corintiano: os deuses do futebol baixam no coletivo da fiel e favorecem a vitória.



Já não é de hoje que reflito muito sobre esse fenômeno do futebol. Palmeirense desde sempre, nas quartas e domingos, principalmente nessa fase última que resultou no rebaixamento do grande Palmeiras para a segunda divisão do brasileirão, nesses dias, aproximando-se a hora do jogo, minha serenidade ia, na melhor das expressões, “para o espaço”.

Não tinha coragem de assistir ou ouvir o jogo. Na certeza da ocorrência do seu término pelo horário, procurava então saber do resultado para sofrer menos.

O que se passa comigo, com um simples jogo de futebol no qual meu time tenta boa sorte?

Que deuses são esses que me (nos) “infernizam”, me (nos) “angustiam”? Os deuses são fictícios, alimentados por nós todos e a religião é vazia, não tem catecismos, não tem liturgia, não tem oração, santos.

Se torcedores fanáticos quiserem se ajoelhar pedindo ajuda divina para o seu clube, haverão que buscar igrejas e templos reais. Não apelam para os deuses do futebol, não apelam para a ‘religião’, que não existe, é vazia. Imploram para o seu santo que assumiram como protetor. Lá está a imagem no altar.

Então, eu me pergunto qual o efeito de uma bola chutada para cá e para lá e a explosão interior quando ultrapassa as linhas da trave? O que se dá nesse momento no psiquismo do torcedor? A decepção real quando o seu time perde um gol feito? Quando o seu melhor jogador perde um pênalti?

A verdade é que eu também, por mais que me esforce, não consigo me libertar desses deuses e me afastar da "religião verde", que considero um “estado de espírito”.
Mas, acabado o jogo, resultado favorável ou não estou liberto desses invasores “espirituais”, desses deuses que atormentam, às vezes violentos, demoníacos.

Sim, já superei a dor de cotovelos pelos êxitos corintianos. Afinal, o Corinthians volta cheio de glórias e o Palmeiras – mesmo com a sua torcida também leal e “furiosa” -, vacilante como nunca, disputará a segunda divisão, sem uma perspectiva, em médio prazo, de dar a volta por cima, como fez o seu maior rival.

Não há como pedir milagres aos deuses do futebol. Eles não ouvem.

Esses deuses se materializam e se fortalecem quando uma massa corintiana, a fiel, invade um país tão distante como o Japão e, além de dominar a cidade e o estádio, não se envergonham em vibrar a sem se constrangerem, ostentam uma faixa com estes dizeres: “The favela is here”.

Como sobreviverão a partir da quarta-feira, quando o grito “é campeão” deixar de revolver o espírito e os deuses forem embora o que farão para superar seus compromissos assumidos com a viagem, vivendo na mesma modesta moradia? Os deuses não ajudam, só baixam quando chamados e a religião do futebol é vazia, já disse.

Há pouco, num artigo de natureza política, criticando com veemência o Senado Federal que por decisão do seu presidente de sempre, José Sarney, transferira aos contribuintes o imposto de renda devido pelos senadores, inseria este trecho:

‘Eu não suporto a frase “de que cada povo tem o governo que merece”. O que se verifica é que o brasileiro é ainda muito alienado, baixa educação, faz do futebol espécie de causa de vida.

Muitos são os que alegam que é um modo de suportar a dureza de serem brasileiros...

Pode até ser, mas seria melhor que esses brasileiros torcessem menos pelo Corinthians, chorasse menos a torcida do Palmeiras e começassem a torcer pelo país, enchendo estádios com protestos contra a corrupção, contra a imoralidade e contra atos acintosos como esse de agora praticado pelo Senado Federal’.  (1).

Estava com essas reflexões quando me ocorreu que esses deuses do futebol influenciam o mundo todo, até mesmo naqueles países de 1° mundo onde não há desdentados, analfabetos e favelados.

Os deuses estão soltos por aí e baixam quando a bola rola. A “religião” é uma questão de fé, de fé na bola uns com mais outros com menos fé.


Referência:
(1)  "Enquanto o povão "folgueia" o Senado dele subtrai" de 20.11.2012 neste portal.

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