sábado, 12 de maio de 2018

40 ANOS DA GREVE NA SCANIA (SÃO BERNARDO DO CAMPO). DECORRÊNCIAS



















Texto:

Param os operários. Organizam-se os patrões

Ademir Medici 
12/05/2018 

No dia 12 de maio de 1978 os trabalhadores na Scania bateram o cartão, trocaram de roupa, foram até seus locais de trabalho, não ligaram as máquinas e cruzaram os braços.”
Fonte: da agenda CNM/CUT.
Nesta data, há 40 anos, eclodia em São Bernardo a greve dos metalúrgicos da Scania. Manchete nacional e internacional, pois foi uma paralisação pioneira desde que os militares assumiram o comando da Nação, em 1964. E a greve surpreendeu, até mesmo, a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, hoje chamado “do ABC”.
Muito se escreveu a respeito. Mas, e o patronato, como se comportou? Neste artigo, Milton Martins, advogado empresarial e gerente na área de RH, joga luzes sobre o tema. E abre uma boa discussão.

Os 40 anos da greve na Scania
Texto: Milton Martins
Na segunda metade da década de 1970 o governo Geisel dava sinais de que a abertura política tivera início. Aproveitando esse clima, em 13 de abril de 1977 um grupo de dirigentes de primeira linha de RH (Recursos Humanos) reuniu-se em Serra Negra para discutir questões trabalhistas e, de modo predominante, o que esperar do movimento sindical no futuro.
Havia já em São Bernardo resistências sindicais importantes. 
Todos os participantes naquele primeiro dia de troca de ideias revelaram otimismo e todos se convenciam de que a abertura política se daria e então a pergunta: como agiriam os sindicatos?
Esse otimismo recebeu um balde de água fria na hora do jantar daquele dia. Geisel assinara o denominado ‘pacote de abril’, um ato de força que instituía os senadores biônicos, a continuidade das eleições indiretas para governadores e o fechamento do Congresso por alguns dias etc.
Na manhã seguinte, houve uma revisão nos ânimos, otimismo contido sem que se chegasse, então, a um consenso, até porque os sindicatos eram levados em rédea curta pelo governo federal, tudo se resolvendo na Justiça do Trabalho.
Um ano depois, exatamente em 12 de maio de 1978, logo cedo, rumando para a fábrica da Chrysler de Santo André, ouço no rádio que eclodira na Scania uma greve sem lideranças conhecidas. Decisão dos operários. A reivindicação básica: aumento salarial. Ela fora deflagrada como resultado do cansaço dos trabalhadores com o arrocho salarial.
A greve não tivera de início a participação do sindicato, classificada como ‘movimento espontâneo’.
Eu dei pouca atenção a esse noticiário porque a greve do ponto de vista da lei vigente era ilegal.
Mas, não. A greve avançou por São Bernardo, principalmente nas automobilísticas e não havia meio de convencer os grevistas a voltar ao trabalho.
Ninguém sabia o que fazer ao certo. Empresários perplexos, todos tentando no chão da fábrica convencer seus empregados a retomarem às máquinas.
Quando chegou a Santo André, na minha fábrica, num clima de tensão, reuni os grevistas numa área da fábrica e repeti o pedido, já feito antes, de um voto de confiança. Usei palavras que não se dizem em ‘ambientes de fino trato’.
Fui questionado pelos mais ‘refinados’ com os ouvidos ofendidos. Os grevistas não voltaram. Classifiquei esse movimento mais tarde, como ‘os dias em que a boiada virou boiadeiro’.
Desgaste brabo demais porque naqueles dias tensos, com todos os envolvidos ‘batendo cabeça', não havia lugar para iniciativas frustradas.
A coisa ficou de tal modo sem controle que a direção da minha empresa deu ordens que eu conseguisse uma declaração do sindicato de Santo André, informando que as negociações se iniciariam e que a volta ao trabalho imediata era uma condição.
Procurei o advogado Maurício Soares de Almeida, também advogado do Sindicato de Santo André, então.
Não escondi minha angústia.
Um dia depois a declaração me foi remetida. Gestos que não se esquecem.
A greve continuou no ABC todo. Ela somente foi encerrada quando o sindicato de São Bernardo foi chamado para negociações sob o comando, no lado empresarial, do Sinfavea (Sindicato da Indústria Automobilística).
 
Esse acordo foi tão importante que os negociadores empresariais fixaram seu texto num quadro, expondo-o em local privilegiado no escritório. Afinal, fora o primeiro acordo com forte repercussão após 1964.
Depois da greve, ânimos serenados, os principais representantes de relações trabalhistas reuniram-se num almoço numa das empresas. 
Um funcionário da Ford, óculos com grossas lentes, fez um comentário, um alento para mim: “Aquela sua experiência do contato direto foi interessante porque revelou que as negociações devem envolver o sindicato”.
Então, as empresas organizaram-se para treinar seus funcionários de relações trabalhistas e RH em negociações sindicais no Exterior ou até mesmo convidando especialistas para virem ao Brasil coordenando seminários. Todos sabem o que se deu pós 1978.
Pela sua projeção no meio sindical, o advogado Maurício seria eleito prefeito de São Bernardo por duas vezes. Gilson Meneses, um dos líderes da greve na Scania, foi eleito prefeito de Diadema por duas vezes.
E, principalmente, de todo o envolvimento com os metalúrgicos grevistas, o acordo firmado com o Sinfavea, Lula assumiu projeção nacional porque era considerado, então, um dirigente sindical autêntico, querido por muitos empresários e, depois, a projeção política com a fundação do PT em 1982 até os eventos que eclodiram neste ano de 2018...

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