quinta-feira, 10 de maio de 2018

LARGO DO PAIÇANDU APÓS DESABAMENTO DO PRÉDIO. CAOS.


Dei uma chegada no Largo do Paiçandu após o incêndio do prédio que se desfez com o desabamento.

Um clima de caos, de preocupação com todas aquelas pessoas, “alojadas” em barracas precárias, ambiente sujo e, naquele instante, as máquinas paradas de busca de corpos de vítimas e carregamento de entulhos.

Os canteiros em volta destruídos, pisoteados em chão duro de terra.

Um burburinho sem razões, todos esperando não se sabe bem o quê, talvez um milagre de moradia imediata. 












A igreja antiquíssima de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, lá está, amarela, rodeada por aquelas pessoas, famílias inteiras, desalojadas, vítimas da tragédia.

 

Caminho contornando as defensas sob um sol escaldante imaginando o incômodo maior de todos aqueles que moravam no prédio e eram explorados, em silêncio, por “zeladores” marginais que cobravam aluguéis.

A pobreza sem perdão revelada em preto e branco. Outros prédios abandonados na maior cidade do país, nem sei se da própria América Latina, acolhe tantos mais sem abrigo vivendo do mesmo modo, precariamente.

Saio dali deprimido, pensando na minha cidade natal tão sacrificada, com tanta coisa por fazer, pensar seriamente nessas pessoas que para cá aportam esperando uma oportunidade mínima de sobrevivência. 

O odor é forte.

Não há bandeiras vermelhas normalmente oportunistas nessas ocasiões. Elas estão em Curitiba nas imediações da sede da Polícia Federal e o odor que produzem lá é o mesmo.

Saio pela rua Dom José Gaspar. Naquele trecho, prédios e estabelecimentos abandonados, sordidamente grafitados, multiplicando a imundice e o ambiente depressivo. Até o cruzamento da 24 de maio.

Uma senhora simples com semblante de pena por tudo o que vira percebe a minha angústia e comenta:

- Temos que parar de olhar para baixo, olhar para o alto e pedir a Deus proteção para nós e para todos.

Não respondo. Ela insiste:

- Temos que pedir a Deus.

Eu respondo:

- Tenho dito para meus filhos que não sei o que meus netos enfrentarão no futuro.

- Muito obrigado, que Deus o abençoe. Acena e muda de rumo.

Atravesso o Viaduto do Chá e embarco no metrô na estação São Bento nos rumos da Rodoviária do Tietê.

Há muito a poesia se foi, o prazer de andar descontraído por aquelas ruas do meu tempo.

E descansar um pouco na Catedral da Sé naqueles dias quentes. 
Passando antes por ali, no seu entorno o odor fétido era o mesmo. Havia "perdidos" estirados no chão.

Pedir a Deus...


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