segunda-feira, 20 de junho de 2011

FHC 80 ANOS: AGORA É O “PAI DA PÁTRIA”


A ironia do título é justificável, tal a quantidade de homenagens que vem recebendo o ex-presidente. O Plano Real que coordenou deu dignidade ao povo brasileiro com a estabilidade econômica. Os elogios surpreendentes de Dilma


Durante a campanha eleitoral que precedeu à eleição de Dilma Rousseff não poucas vezes, assumindo posição pró-Serra, destaquei a forma equivocada como o candidato e o próprio PSDB agiam em relação às conquistas obtidas pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso. (1)

FHC no Ministério da Fazenda de Itamar Franco, que assumiu um mandato tampão depois de “impedimento” de Collor, com o mérito de se preocupar em estabilizar a economia, teve naquele que seria o seu sucessor o coordenador efetivo do Plano Real, um projeto o que de engenhoso como de vitorioso. (1)

A partir dele, do Real, o brasileiro pode erguer a cabeça e sentir que o mundo deixaria, finalmente, de ridicularizar sua economia cuja inflação provocava um jogo de gols contra, isto é, ela crescia 80% ao mês, com a correção monetária correspondente, no mesmo porcentual. O que fora pior nesse quadro vicioso e humilhante? (1)

Já como presidente, a despeito das dificuldades que enfrentou, fora uma marca a estabilidade econômica que imprimiu. Somente em momentos localizados, de crise, houve algum risco de desvios.

Suas realizações no campo social, inclusive com a participação da saudosa Ruth Cardoso, também deixaram marcas, a ponto de seu sucessor delas se aproveitar, aparar arestas e transformar em realizações expressivas do seu governo.

Explanei demais esses pontos. (2)

Mas, o PSDB não se preocupou, didaticamente e nem de qualquer outro modo, em explicar e enaltecer essas realizações. FHC na campanha eleitoral se constituíra, para o seu próprio partido, alguém indesejado, autor da “herança maldita”, epíteto petista da pior qualidade.

Ora, mas a repetição tornou-se “verdade”, até para o PSDB mesmo com o posicionamento do então ministro da Fazenda, Antônio Palocci que não escondia a admiração pela política econômica de FHC, conduzida por um ministro equilibrado como fora Pedro Malan. Mas, Lula e o seu partido passaram a desmerecer tudo o que fora feito pelo seu antecessor. A denominada “herança maldita” referida, naqueles seus discursos entre demagógicos e ridículos.

E com isso, mesmo com a assistência médica em frangalhos, educação claudicante, pouco combate ao contrabando de armas e drogas, a subserviência aos ditadores internacionais, teve seu governo uma suposta aprovação de 80% do povo brasileiro, porcentual duvidoso a que já me referi anteriormente. (3)

Esses são elementos básicos de um tempo perdido mas ainda mantenho alguma esperança na presidente Dilma. (4)

Eis que no dia 19 último Fernando Henrique comemorou seu 80° aniversário.

Claro que a data seria comemorada com alguma reserva pelos seus partidários e amigos, sem qualquer manifestação por parte do lulopetismo, rancoroso e desajeitado.

Eis que, com efetiva surpresa a presidente Dilma – que já tratara FHC de modo diferenciado por ocasião da recepção a Barack Obama – remete a ele, por ocasião de seu aniversário, uma carta qualificada pelo aniversariante com timbres carinhosos, ternos.

Rasgou a cartilha do despeito lulopetista. A carta já foi transcrita muitas vezes, mas vá lá mais uma:

“Em seus 80 anos há muitas características do senhor Fernando Henrique Cardoso a homenagear.

O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.

Mas quero aqui destacar também o democrata. O espírito do jovem que lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje.

Esse espírito, no homem público, traduziu-se na crença do diálogo como força motriz da política e foi essencial para a consolidação da democracia brasileira em seus oito anos de mandato.

Fernando Henrique foi o primeiro presidente eleito desde Juscelino Kubitschek a dar posse a um sucessor oposicionista igualmente eleito.

Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas, justamente por isso, maior é minha admiração por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias.

Querido presidente, meus parabéns e um afetuoso abraço!”

Muitos desses elogios, creio, estavam e estão arranhando a garganta de muitos oposicionistas que não se encorajaram a se manifestar por conta do modo como agiu Lula em oito anos de mandato. E como age ainda.

Já disse e tenho convicção de que a era Lula ainda será revista e colocada num lugar a lamentar na história. Será salvo, porque de origem humilde, metalúrgico, líder sindical, o que lhe dará uma folha interessante a ser conservada. Com ela, porém, à margem, os escândalos de seu partido. (5)

O título que encima este artigo, lá com sua ironia e provocação por conta de todas as homenagens que recebe em bora hora o aniversariante: o “pai da Pátria” que, aliás, já teve outro segundo a Wikipédia:

“No Brasil José Bonifácio ainda em vida assistiu se consolidarem epítetos como Pai da Pátria (junto ao Imperador D. Pedro I ou Patriarca da Independência, como numa carta que lhe fora dirigida pelo General Labatut, em 1822.”

Para FHC há a destacar a estabilização da economia e o Real. Para seu sucessor, “como nunca antes nesse país”, navegou em mares calmos, aproveitando ventos favoráveis. Por quais atos será lembrado?

Referências nos textos (meus artigos):

(1) 22.08.2010: “”PSDB: que partido é esse?”;

10.10.2010: “FHC, o PSDB e o PT”;

(2) 03.11.2009: “FHC e Lula”;

(3) 03.11.2010: “A imprensa e os + de 80% de aprovação de Lula”;

04.04.2011: “SUS. Assistência médica, caótica, humilhante”;

(4) 20.03.2011: “O Brasil, o Irã, a Líbia e os Estados Unidos”;

(5) 06.09.2010: “PT: que Brasil é este?”

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