segunda-feira, 29 de agosto de 2011

MISCELÂNEOS (IV)

1. Ambiguidades: tratam das análises dúbias sobre o governo Lula; 2. Abertura da Copa: o “jogo pesado” da CBF para concentrar no Rio tanto a abertura como o encerramento da Copa/2014; 3. China x Estados Unidos: novas considerações.



1. Ambiguidades


Com a eclosão dos escândalos de corrupção, escancarados em Ministérios que representavam a continuidade do governo Lula há, em alguns setores da opinião pública algum retraimento aguardando novos desdobramentos sobre novas denúncias. Será que novas exonerações por corrupção ainda ocorrerão proximamente?

Nesse caso, como ficará a imagem de Lula que, em nome da governabilidade, teria deixado rolar as negociatas em escala elevada, já não bastasse o próprio escândalo do mensalão sempre negado mas com evidências indesmentíveis.

A partir desses últimos eventos, há ambiguidades nas análises de comentaristas políticos.

Se ambíguo ou não, porque faltou maior profundidade na opinião, valho-me de resposta do prestigioso jornalista Mino Carta em entrevista ao “Terra Magazine” de 26.08.2011. Disse ele:

- Lula não fez o que poderia ter feito. Poderia ter feito muito mais. Fez algumas coisas, indiscutivelmente, mas fez 20% do que poderia ter feito. Mas isso já é um assombro para o Brasil e para certa malta que "se acha", como dizem meus netos. Eles se acham...

Se “acham” exatamente o quê? Um “assombro” ter realizado 20% do que poderia ter realizado?

Lembro-me que no meu tempo de ginásio, nota “20” numa prova, significava reprovação.

Vamos aguardar um pouco mais a que ponto chegarão as considerações sobre o governo Lula.

2. Abertura da Copa

Aqui mesmo, por vezes me referi ao Rio de Janeiro, reconhecendo ser a cidade que de certo modo identifica o País.

- Brazil, oh yes, Rio de Janeiro.

Mas, sempre havia em seguida um comentário negativo: e os traficantes?, e os morros?, e as mortes pelo tráfico? e os assaltos?.

Infelizmente era e é assim.

Agora um bondinho amarrado com arame tomba, cinco pessoas morrem e dezenas de feridos. Isso não pode mais acontecer na cidade, pela sua importância em termos de Copa do Mundo e Olimpíadas.

Pois bem.

Claro que houve empenho de prefeito e governador para que a abertura da Copa de 2014 se desse em São Paulo.

Sem favor algum, a despeito das deficiências, os melhores aeroportos, forte rede hoteleira, expansão das linhas do metrô...

Há que lembrar que o estádio do São Paulo se apresentava como a melhor opção. O goleiro Rogério Ceni há pouco opinou que esse estádio fora desconsiderado pela CBF de modo um tanto, digamos, inexplicável.

Desde sempre interpretei que tirando esse estádio da concorrência, sobraria nada para a capital de São Paulo. A arena Palestra não atenderia às exigências da FIFA.

E São Paulo, por falta de estádio ficaria de fora tanto da abertura como do encerramento da Copa que seria dirigida ao Rio de Janeiro.

O jogo foi pesado. A ideia era mesmo deixar São Paulo de fora. Dinheiro público, então, para atender os prazos, acabou sendo esbanjado às pressas para construir o “itaquerão”.

A confirmação desse “jogo pesado”? Trechos da entrevista do cartola mor do futebol mundial, presidente da FIFA. Joseph Blatter ao jornal “O Estado de São Paulo” de 28.08.2011:

Em outubro, a FIFA vai anunciar o local de abertura da Copa de 2010. Mas onde é que o senhor gostaria de estar sentado para ver a abertura da Copa do Mundo no Brasil?

Há definitivamente uma competição entre Rio e São Paulo para obter a abertura. Mas já demos o centro de Mídia para o Rio e a sede da organização da FIFA será no Rio. Portanto, a cidade mais adequada para receber a abertura é mesmo o Rio de Janeiro. O futebol brasileiro é o Rio. E para o mundo, o Rio é a cidade mais atraente para abrir uma Copa, sem dúvida.

Claro que a ideia era essa de sediar os principais eventos da Copa no Rio de Janeiro. Ademais, não houve competição, mas reivindicação, considerando ser São Paulo, entre outros tantos, o centro financeiro do país.

E nesse jogo, estava Ricardo Teixeira, presidente da CBF que vem sendo repudiado em várias instâncias esportivas, entre os torcedores e na imprensa. A TV Record não poupa críticas ao cartola que já passou do tempo.

Na linha do estilo Lula de tudo resolver sem olhar com quem negociava ou prestigiava, eis o que disse o mesmo Joseph Blatter:

O ex-presidente Lula interferia com frequência no futebol brasileiro e fez lobby até por Itaquera. Isso ajudava ou criava mais obstáculo?

Vamos dizer desta forma: era mais fácil para CBF trabalhar com Lula que agora com Dilma. Só direi isso. Ela teria tomado um distanciamento por conta dos problemas de popularidade de Ricardo Teixeira? Ah sim, ele é impopular no Brasil (risos)?

Sim, Impopular e inconveniente, mas lá está ele dirigindo a CBF por 20 anos.

3. China x Estados Unidos

No artigo anterior, considerando as condições atuais e as necessidades da China com seu bilhão e tanto de habitantes a alimentar ponderava que num dado ponto sua economia superaria a dos Estados Unidos.

A China tem crescido e se revelado agressiva.

Enquanto isso, presentemente, os Estados Unidos, vêm sendo atrapalhados pelos radicais do “Tea Party” que não entendem que o mundo é outro e por isso não avaliam o que têm em mãos: um presidente ponderado, moderno e assessorado por Hilary Clinton, que tem se revelado muito competente nas suas atribuições.

Os analistas econômicos vacilam em quanto tempo a China superará os Estados Unidos mas. pelo “andar da carruagem” fica no ar a pergunta: quando?

A essa possibilidade real para mim. o articulista Daniel Piza do jornal “O Estado de São Paulo” de 28.08.2011 desenvolve o tema, rejeita essa possibilidade, com expressões fortes como “É desonesto ignorar a força dos EUA e confundir uma fase crítica com um fracasso estrutural.”

Para mim, os Estados Unidos sempre foram uma referência positiva. Não me vejo fora desse quadro e adotar a cultura chinesa, salvo no que ela tem de melhor, aquelas filosofias surgidas no passado distante.

A China teve e ainda tem intenções colonialistas ao invadir o Tibete e enxovalhar a sua cultura. Por ora, mantém-se distante de Taiwan, que entende ser sua colônia rebelde.

Mesmo que a avalanche chinesa se sobreponha aos Estados Unidos, estarei sempre olhando para os valores americanos que não são poucos e não só para o passado e seus filmes, alguns emblemáticos, mas com a reação americana a esse mundo que muda de modo vertiginoso.

É “pagar” para ver!

Foto:

Maquete do Itaquerão que será erguido também com dinheiro público.

domingo, 21 de agosto de 2011

APOCALÍPSE 'NOW'

Prognósticos do que se dará com o aumento da população do mundo, a predação ambiental, a fome, o aquecimento global, a poluição do ar e das águas. Dezembro de 2012 e a esperada catástrofe com timbres apocalípticos. A vida difícil que terão nossos netos.

Nem sempre o colunista consegue redescobrir suas fontes, aquelas informações que batem em sua memória, lidas nalgum lugar há décadas e que se perderam.
Mas, nesse passado há décadas, numa publicação esotérica li que a Terra poderia suportar até seis bilhões de habitantes.
Há dez anos, essa marca foi comemorada, hoje já seriam sete bilhões.
Não de hoje, pois, tenho aquela marca na memória imaginando então, quando, atingida, quais seriam as consequências.
Curiosamente, nestes tempos de agora, na medida em que se aguça a predação ambiental, há um sentimento de que algo catastrófico vai ocorrer, algo apocalíptico, tendo como principal fundamento o calendário Maia que se encerra abruptamente em 21 de dezembro de 2012. Nessa data, o planeta seria então afetado por algum fenômeno natural catastrófico que modificaria radicalmente a vida conhecida, Isto é, destruição de tal ordem que a vida não seria mais esta como conhecemos.
Sete bilhões de almas realmente afetam do modo mais predatório, inimaginável e insuportável as reservas ambientais.
Essa predação não se dá apenas pela sua necessidade em produzir alimentos, mas também pelo que traz de prejuízo ambiental a tecnologia, a indústria, o lixo às centenas de toneladas
Milhões e milhões de carros que exigem milhões e milhões de barris de combustível fóssil que por sua vez poluem a atmosfera em toneladas de resíduos. E pior, na medida em que as necessidades de combustíveis se avolumam, a busca nos oceanos, de tempos em tempos tem sido desastrosa a mais não poder, com o vazamento de milhões de litros nos mares, afetando toda a fauna marinha por décadas.
Para agravar, a pesca predatória que por sua vez afeta a recomposição dos cardumes.
A escassez de água potável se constitui grave ameaça e sem minimizá-la há a tecnologia que ativa a dessalinização das águas oceânicas que pode ser ampliada.

Mas, não há mais tempo para suportar a poluição dos rios com esgotos e outros resíduos que tornam a água não potável. É premente a ampliação e aplicação da tecnologia do tratamento dos esgotos.

Sem qualquer propensão a levar tudo para o lado esotérico, digamos, é notória a correlação que se dá entre os vários elementos naturais. Essas destruições provocam reações destrutivas num processo ‘incompreensível’ que o nosso modo de viver no dia-a-dia atribui de maneira simplista a fenômenos que sempre espocaram ao longo dos séculos e séculos
O que se assiste, porém, é a frequência maior de pequenos e grandes eventos ditos naturais devastadores, como tsunamis, erupções vulcânicas ameaçadoras, aquecimento global, secas, desertificações, devastações por chuvas intensas...
Há, efetivamente, a revelação de que há desorganização ambiental que todos ignoram porque há a predominância da visão econômica da vida, do negócio, do consumismo e do “supérfluo necessário”, sem se atentar para os prejuízos ambientais que tais produtos e ações provocam.
Os seis bilhões de almas, há dez anos alcançados, mantinham algum equilíbrio entre alimentos e meio ambiente. A fome em alguns países, na África, especialmente, não se dera e não se dá pela escassez dos alimentos, mais por disputas políticas sórdidas que priva seres humanos do mínimo para sobreviver.
Nessa linha do lucro e da linguagem do dinheiro, as florestas vão sendo devastadas, não só por conta dos pastos abertos em grandes extensões para criação de gado, mas também por exigência de amplos setores industriais. Entre nós, por absurdo que pareça, há ainda a transformação de matas em carvão para alimentar fornos de siderúrgicas no sudeste. Uma prática criminosa como tantas outras.
O que resta das matas precisa ser preservada, ajustando na contrapartida técnicas do aumento da produção de alimentos nas áreas já reservadas.
E nesse diapasão a devastação ambiental de avoluma também na Amazônia, um reduto ainda persistente de equilíbrio ambiental. Mas, na interligação dos elementos ambientais do planeta, essa predação criminosa tem provocado grandes distúrbios, como as já mencionadas secas e desertificações, aumento da temperatura e enchentes em amplas áreas do planeta nunca vistas.
De outra parte, a babel consumista é de tal ordem que nem mesmo no âmbito econômico, há segurança. Os Estados Unidos, às voltas com as guerrilhas no Iraque e no Afeganistão, gastando fortunas para suportar essa guerra perdida – porque as facções que se opõem à paz são criminosas sem aquela lógica ocidental em encarar certos valores – caminham para serem superados economicamente pela China com seus 1,3 bilhão ou mais de habitantes.
Qual a consequência dessa mudança? Difícil prever, mas não será a China que se envolverá nesses conflitos como fazem os Estados Unidos. A mudança do polo econômico para o lado chinês, salvo o aumento do desastre ambiental, não parece que mude muita coisa mas aumentando a sua influência política e econômica no mundo a par de provocar um novo olhar sobre sua cultura que de um modo ou outro sempre esteve presente. Os Estados Unidos, continuarão com sua influência política e econômica, mas com limitações. O que preocupa é a ascensão dos seus radicais, obtusos, que não têm consciência de que, pelos seus atos, podem fazer o país perder oportunidades precipitando o enfraquecimento de sua hegemonia. Pior para os americanos?
Com tantas incertezas, se nada ocorrer em dezembro de 2012, nessa expectativa apocalíptica que vem sendo alimentada pelas grandes redes de comunicação, com certeza teremos que nos preocupar com o futuro de nossos filhos e netos.
A vida vai ser difícil de ser vivida, cada vez mais.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

CORRUPÇÃO E O COMBATE: APENAS UM COMEÇO

(v. legenda)

As denúncias se sucedem e as exonerações têm sido impostas aos denunciados do governo Dilma. Um alento e a coragem esperada para revolver outros escalões.
“Ao lado do vício da corrupção caminha junto a “cultura” da impunidade, a certeza dela. A nossa vergonha!”


Não poucas vezes demonstrei minha indignação com o que se passa nos altos escalões do governo cujo tema, dia após dia, não há outra coisa que não sejam notícias de corrupção em larga escala.
Afinal de contas, o governo depois de oito meses, começou a governar?
Até agora, por conta desses escândalos, a presidência o que faz é exonerar membros dos cargos de confiança não só de primeiro escalão mas de escalões menores, envolvidos em falcatruas de toda ordem.
Há algumas semanas, a suspeita sobre o enriquecimento de Antônio Pallocci que não se explicou, depois - e que escândalo -, a corrupção no Ministério dos Transportes e o esquema que ali se estabelecera para os desvios de verbas públicas. Agora aparecem sob denúncias o Ministério da Agricultura e o Ministério do Turismo no qual se criou, em seu primeiro e segundo escalões, um engenhoso meio de desviar recursos públicos. É cedo para, com dedo em riste – embora sejam consistentes as acusações – acusar de modo peremptório a deputada Fátima Palaes do Amapá no escândalo do turismo. Mas, os indícios vão se revelando até que deixam de ser meros indícios e a empurrem para uma situação insustentável. Os fatos dirão.
Será bom lembrar aos mais conformados que quando se mencionam “recursos públicos” eles são nada menos que parte dos impostos que todos os brasileiros pagam, não só pela renda, mas até mesmo sobre gêneros alimentícios considerados de primeira necessidade. Os “recursos públicos”, pois, são os nossos recursos que esses bandidos, sem caráter, inescrupulosos desviam sem dó e sem peso na consciência.
Não me parece que em tempo algum neste país, as coisas estiveram assim tão sórdidas, tão descaradas.
Arraigou-se o vício da corrupção e de tal modo que, pelo quão fugaz é a imprensa, depois de um tempo, os protagonistas da roubalheira são esquecidos e o dinheiro roubado não volta aos cofres públicos.
Ao lado do vício da corrupção caminha junto a “cultura” da impunidade, a certeza dela. A nossa vergonha!
Todos repetem que políticos não vão presos e sequer os administradores desonestos que infestam a administração pública.
Quanto a esse conceito de que a cadeia não tem espaço para políticos, o ministro Joaquim Barbosa do STF, que não posso deixar de reconhecer posturas polêmicas, relator do mensalão, numa entrevista recente a certo ponto disse o seguinte:
“(...) O foro privilegiado foi uma esperteza que os políticos conceberam para se proteger. Um escudo para que as acusações formuladas contra eles jamais tenham consequências.
E, pelos exemplos recentes, parece que tem realmente funcionado. Político na cadeia? Vai demorar muito ainda para que se veja um caso. Um processo criminal, por colocar em jogo a liberdade de uma pessoa em única e última instância, tem de ser um processo feito com a máxima atenção. É difícil conciliar esse rol gigantesco de competências que o Supremo tem com a condução de um processo criminal. Coordenar a busca de provas, determinar medidas de restrição à liberdade, invasivas da intimidade. são coisas delicadíssimas.”

Enquanto as regras forem essas, estaremos “condenados” a assistir a roubalheira praticada por esses desonestos o que dá certo mérito à presidente Dilma Rousseff que vem exonerando membros dessa malta mesmo que seja herdada do governo Lula que preservou a “governabilidade”.
Um trabalho ainda incipiente mas se tiver coragem a presidente em continuar o expurgo à corrupção, muito ainda será revelado.
E, claro, terá dificuldades com sua bancada no Congresso. Os partidos mais atingidos tendem a se afastar da aliança. E também os contrariados que se acostumaram com o “tráfico” de verbas públicas.
E, vejam, há, por outra, até resistências do PMDB pela supressão de verbas para obras em redutos eleitorais dos deputados proponentes. Esperam a festa ávidos pela gastança; não aceitam a “frustração” dos interesses contrariados.
Embora desesperançoso, ainda espero que este país mude um dia.

Legenda da foto:
O jornal francês Le Figaro edição de 11.08.2011 publica uma reportagem sobre a onda de corrupção enfrentada pela presidente Dilma Rousseff. Manchete do jornal francês: "o governo brasileiro foi pego pela corrupção".

domingo, 7 de agosto de 2011

E LÁ SE FOI MAIS UM... JOBIM



Como qualificar as últimas expressões de Nelson Jobim antes de sair do Ministério da Defesa? Deselegante, irreverente? A ascensão de Celso Amorim, indicação lulista é claro. Que fique apenas nesse Ministério e nada além.



Não poucas vezes demonstrei restrições ao ex-ministro da Defesa Nelson Jobim.
Não faz muito, argumentara que sua permanência no Ministério poderia ser abreviada a partir da sua “revelação” de que os idiotas (no governo) se julgavam respeitáveis, isso nas comemorações dos 80 anos de FHC.
Como se não bastasse, disse há dias que votara em José Serra contra Dilma Rousseff, já um desgaste considerável e, por fim, em entrevista à revista Piauí, comentário desairoso a Ideli Salvatti, Ministra da Articulação Política que seria “fraquinha”.
Não há nada de novo nisso tudo, porque a imprensa explorou esses episódios à exaustão.
Há questões, porém, que precisam ser consideradas. Seguindo os analistas mais próximos, Jobim que já fora presidente do STF estaria afastado das decisões presidenciais por conta do estilo da presidente Dilma Rousseff que o excluíra, o que não acontecia com Lula que o envolvia nos assuntos de maior relevância. E também o adiamento da compra dos aviões “caças” que Jobim optara pelo modelo Rafale francês embora haja experts que entendam que o F-18 da Boeing americana seria o mais indicado.
E com tudo isso e mais algumas outras contrariedades o seu ego ferido inserido na sua estatura nas alturas de 1,90 começou a reagir.
Não concordo de regra, com nada do que Lula diz por todos os seus deslizes e contradições, mas ao qualificar os últimos gestos de Jobim de “deselegantes”, não há como discordar.
Se esse tipo de confronto vira moda, começa a haver irreverências à própria instituição da Presidência da República, num momento em que Dilma vem demonstrando que pretende se afastar do estilo Lula e encontrando resistências.
Já se diz que entre os ministros e seus aliados políticos, que ela vem se revelando centralizadora, a tudo lê e a tudo corrige. Engaveta projetos.
Ora, há que haver paciência, porque o seu padrinho, pouco lia e somente sorria. E eis aí, queiram ou não, os tentáculos da corrupção avançando como nunca antes nestes últimos tempos. Tudo à “luz do dia”, descarada, impune.
Se Dilma pretende mudar esse quadro, não há como fazer afagos o tempo todo.
Mas, a solução não foi das melhores, com a escolha de Celso Amorim para substituir Jobim. Nada me impede de admitir que fora mais uma indicação de Lula.
Li, ademais que, por sua orientação, Dilma convocou os ministros militares para acalmá-los e para reafirmar que a Lei da Anistia “é intocável” e que eles próprios permaneceriam nos respectivos cargos.
Se essa versão é correta, a frase de Lula dita depois, constitui-se notória contradição, a propósito da indicação de Amorim. Esta: “Não sei se cabe aos militares gostar”.
Se era para gostar ou não, para quê a convocação prévia dos militares que receberam garantias presidenciais, inclusive de manutenção nos respectivos cargos?
Já um tanto desautorizado o novo ministro da Defesa, Antônio Patriota, das Relações Exteriores sendo um ministro sério, não se espera que sua reação tivesse uma ponta de ironia. Disse ele:
“À frente (do Ministério da Defesa), Celso Amorim vai contribuir para esse perfil internacional do Brasil”.
Qual foi o saldo real de Celso Amorim nas Relações Exteriores: “tapinha nas costas” de Evo Morales quando se apropriou com o exército das instalações da Petrobras naquele país; condescendência com o “pobre” Paraguai que a tudo “exporta” ao Brasil, entre muambas chinesas e drogas; apoio, ainda que por omissão a Hugo Chaves na Venezuela – que de modo truculento abafava (e abafa) a imprensa e a oposição; tolerância em Cuba, num momento lamentável no qual Lula comparou dissidentes políticos cubanos a marginais; ambiguidades na Colômbia das FARC; a cena patética de braços alevantados entre Lula, o turco Tayuip Erdogan e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad comemorando o desejado, mas inconclusivo acordo nuclear no Irã e ainda o qualificativo de amigo e irmão dado a Muamar Kadafi da Líbia.
Com todas essas intervenções – o que mais lembrar? -, é melhor que fique somente no Ministério da Defesa, já que lá foi posto de modo apressado. Será que, um dia a mais de reflexão não resultaria em algum nome diferente, fora desse círculo lulista?
Todos esses últimos eventos, especialmente a faxina que ainda se dá no Ministério do Transporte – para a presidência do DNIT foi nomeado o general Jorge Ernest Pinto Fraxe, quem diria! – parece mesmo que Dilma Rousseff tenta se afastar de Lula, o que não é tarefa fácil. Insisto que seu governo terá um perfil próprio a partir do momento que se livrar dessa “herança”... e das camisetas.

Foto: Lucio Távora / Ag. A Tarde, extraída do jornal “O Estado de São Paulo” de 06.08.2011


SOMÁLIA

São impressionantes as cenas de habitantes esfomeados nesse país abandonado da África que os países ricos ignoram e, pior, exploram do modo mais predatório possível, a pesca do atum.
Há pouco em Mogadíscio foram mortos cerca de 10 somalis famintos que tentavam se apropriar de alimentos sendo distribuídos. Cerca de 15 civis foram feridos. Quanto à pirataria que se dá nas suas costas, há posicionamentos polêmicos. De qualquer modo trago longo documentário que revela o modo como os países ricos agem na costa da Somália. Se metade do revelado é verdadeiro, estamos diante de tragédia humana dolorosa e profundamente lamentável. Só a emoção não resolve! Que mundo sórdido é este?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A PERDA DA CAPACIDADE DE SE INDIGNAR

A corrupção se tornou parte da “cultura brasileira”, todo mundo se conforma como se fosse algo normal neste país de aproveitadores. Que de regra não são punidos pelo que subtraem dos cofres públicos. Somos mesmo ovelhas que não balem


A maioria dos artigos que aqui tenho publicado refere-se à minha indignação com a corrupção que grassa por este país – que não é uma nação, mas um “aglomerado” cujos desvios variam de região para região – e que nos afronta e nos humilha.

No meu inconformismo com as manobras que se avolumam para subtração de recursos públicos de modo desonesto – há aí um pleonasmo? -, dia desses, minha paciência chegou ao nível da explosão, da deselegância, da má educação.

Dois cidadãos idosos, numa agência do correio, falavam sobre a corrupção constatada no Ministério dos Transportes, ao que um deles, conformado:

- Mas, a corrupção veio desde Dom João VI. O senhor leu os livros do Laurentino Gomes? (1)

Foi aí que eu entrei, demonstrando toda a minha indignação por esse conformismo muito próprio do povo brasileiro que se acostuma com os acintes que lhe passam insistentemente os meios de comunicação – às vezes de modo meritório pelos detalhes que expõem.

Erguendo a voz, fiz ver que não podemos e aceitar passivamente essa nossa desgraça de hoje com exemplos sórdidos da política de abusos do passado, como registrado ao longo da história do Brasil. A corrupção não pode se constituir uma “instituição nacional”, parte de nossa cultura.

Será preciso dar um basta, resgatar a nossa capacidade de nos indignar e de protestar contra todos esses abusos, nos expurgando desses e punindo esses espertalhões que de modo descarado avançam sobre os recursos públicos, que saíram de nossos bolsos, do modo mais implacável e para quantos, com grande sacrifício.

O ato mais desmoralizante de corrupção nestes últimos anos, se deu com o mensalão e, como tudo neste país é enrolado nesse âmbito há latente a tendência “normal” ao esquecimento, à prescrição e ao arquivo. Tanto que até agora não houve punição de qualquer natureza contra os envolvidos no escândalo.

Muitos desses continuam atuando no PT e em outros partidos e, para minha surpresa, até mesmo o deputado Waldemar Costa Neto, beneficiário confesso do mensalão, membro do PR, influenciando no Ministério dos Transportes corrompido, do modo mais ostensivo.

Entre os vários artigos que escrevi sobre a corrupção e abusos políticos que se dão neste país, há um bem específico sobre essa incapacidade brasileira de se indignar, de 19.12.2010. Fora uma manifestação a propósito do reajustamento dos vencimentos dos deputados e senadores no porcentual de 62% abuso que não gerou qualquer reação significativa do povo brasileiro nas ruas.

Concluíamos:

“Sem protestos de rua, todos somos nada além do que ovelhas que não balem preparados para o sacrifício no altar da imoralidade.” (2)

Eis que, soprando desanimado nesse deserto, me deparo com artigo do desembargador aposentado do Tribunal de São Paulo, Aloísio de Toledo César que, em artigo no jornal ”O Estado de São Paulo” de 30.07.2011 acentua no final:

“O mais desanimador é que o sofrível nível cultural médio da população brasileira engole esses escândalos como se fossem coisas corriqueiras na vida de um país democrático, quando, em verdade, representam antes a negação da democracia. O resultado das urnas, infelizmente, mostra que o que influi da hora de votar, predominantemente, é o dinheiro fartamente distribuído pelos que estão à cata de votos. Bolsa-Escola, Bolsa-Família têm esse lado trágico.” (3)

O que desejo ressaltar é que esse estado letárgico não se dá somente entre as pessoas com “sofrível nível cultural médio”, mas também entre os “esclarecidos”, como pude constatar naquela minha explosão de indignação numa manhã, numa agência do correio longínqua no interior de São Paulo.

O que fazer neste aglomerado chamado Brasil?

Legendas:

(1) “1808” de Laurentino Gomes (também autor de “1822”, ambos da editora “Nova Fronteira”);

(2) “Ovelhas que não balem”, neste site, em 19.12.2010;

(3) “Dilma e as sofríveis escolhas” de 30.07.2011

NOTAS CURTAS:

I – Preço do etanol em Uberlândia, cidade importante do interior de Minas na semana passada: entre R$2,10 e R$2,13. Gasolina: R$2,80. Diferença entre um produto e outro: 32%. Este é o país que pretende (ia) exportar álcool para os Estado Unidos...

2 – Uma imensa aberração antiecológica, algo inimaginável nestes tempos de aquecimento global: a devastação da vegetação do Cerrado para produção de carvão vegetal matéria prima para acionar os altos-fornos das siderúrgicas mineiras...

Até quando, Brasil, até quando? Resposta: quando tudo se constituir vegetação rasteira ou a desertificação.

3 – Manifestações no Rio de Janeiro protestando contra presença de Ricardo Teixeira na CBF. “Alguém” cassou seu discurso no sorteio dos grupos dos países que se enfrentarão na Copa do Mundo. Ao lado de Pelé, parecia mais um colegial contrariado.

E, pior, continuará na CBF até não sei quando...O cúmulo seria dirigir a Fifa.

4 – Há cidades que querem patrocinar a abertura da Copa do Mundo, considerando a possibilidade de não vingar o Itaquerão em São Paulo. Onde essas cidades acomodarão tanta gente? Ah, sim, na rede hoteleira de São Paulo. Depois, viajam de avião até o destino. Epa, mas, haverá aeroporto suficiente?

5 – Conflito entre Barack Obama com os radicais republicanos dos Estados Unidos nessa crise orçamentária. Entre os radicais parece haver membros da ku, klux, kan sem o capuz. Mas, os Estados Unidos são assim: de um jeito ou outro, não saem da mídia mundial.