terça-feira, 10 de janeiro de 2012

PERIGO DE GUERRA E AMEAÇA CLIMÁTICA SEGUNDO FIDEL CASTRO

Fidel Castro, quem diria. O juízo aos 85 anos (?!)


Estaria não sendo rigorosamente verdadeiro se me lembrasse, naqueles idos tão distantes, 1962, da iminente guerra nuclear que rondou o mundo na denominada crise dos mísseis.

A época fora de muita perplexidade e, por que não, de medo: os primeiros êxitos tecnológicos nos rumos do espaço, a ascensão de Fidel Castro em Cuba implantando um regime socialista, lançando lenha na fogueira da guerra fria, o poderio soviético, desafiando os Estados Unidos...

Tinha, então, em mente muito clara a figura de Kennedy. Irradiava carisma e competência. O presidente soviético, Nikita Kruchev, pelo contrário lembrava um vendedor de gravatas, com sua careca e com seus paletós largos, um manequim acima.

Para qualquer observador, se comparasse apenas a estampa dos dois líderes, claro que se inclinaria por Kennedy, sem contar a ajuda do êxito explosivo do cinema e do avanço da cultura americana em todo continente e no mundo.

A séria crise dos mísseis em 1962, no embate havido entre Kennedy e Kruchev e que beirou uma guerra nuclear entre as duas potências, o que se guardou fora a coragem de Kennedy que “vencera” os soviéticos porque ameaçara atacar os navios soviéticos que transportavam os mísseis para a Ilha e se instalados, a apenas 150 quilômetros da Flórida.

O que se deu nos bastidores diplomáticos dos dois países não teve a divulgação detalhada na imprensa brasileira, então ou, se teve, não chegara com a ênfase que pudesse materializar uma preocupação real, pelo menos que me lembrasse. Ah, a idade...

Kennedy, todavia, fizera concessões aos soviéticos. Fora sua prudência que evitaria qualquer retaliação, perigosa naquela fase, enquanto não se esgotasse a via diplomática. A ameaça nuclear foi afastada depois que Kruchev aceitou as condições americanas – alegara que não desejava a guerra nuclear – e os Estado Unidos se comprometeram, depois de seis meses a desinstalar os mísseis (obsoletos) que havia na Turquia.

Não há notícias de que Fidel Castro tivesse, de algum modo, interferido para reduzir a tensão na última escala entre as duas potências a ponto de ser deflagrada a guerra nuclear. Talvez, por conta de seu temperamento irascível.

Muitos são os filmes hollywoodianos mais recentes que relatam aqueles dias “que abalaram o mundo.”

Relato isso tudo para demonstrar as mudanças que o tempo faz. Ah, o tempo.

Com efeito.

Em recente artigo publicado em órgão de sua Ilha, o aposentado Fidel Castro, alertou que o mundo “caminhava para o abismo”, considerando dois aspectos: a ameaça da guerra nuclear e os perigos da mudança climática.

Quem diria que um dia ouvisse isso!

Bem, ainda que tardiamente, o regime socialista ou sei lá o quê, falido, está se abrindo. Devagar, para não dar muito na vista, vai fazendo concessões ao capitalismo, ao livre mercado.

No que se refere ao artigo de Fidel Castro ele coloca como "dever elementar de lutar para adiar e, talvez impedir, esse dramático e próximo acontecimento no mundo atual", porque "diversos perigos nos ameaçam, mas dois deles, a guerra nuclear e a mudança climática, são decisivos e ambos estão cada vez mais longe de aproximar-se de uma solução".

Sobre a eclosão de uma guerra “com uso de armas nucleares” os riscos “aumentam à medida que a tensão cresce no Oriente Médio, onde nas mãos do Governo de Israel se acumulam centenas de armas nucleares em plena disposição combativa".

E nessa linha critica "o palavreado demagógico, as declarações e os discursos da tirania imposta ao mundo" pelos Estados Unidos e seus aliados e a "débil posição" de Washington no "delicado assunto" do escudo nuclear europeu.” (1)

Vejam o que se dá com o Irã hoje. Diante da alegada ameaça de ataque “inimigo”, leia-se Israel – pela ameaça da construção da bomba nuclear iraniana - e do próprio Estados Unidos não só por isso, mas por ameaça do bloqueio do estreito de Ormuz (único acesso ao Golfo Pérsico), vêm os iranianos exibindo seu poderio bélico com lançamento experimental de mísseis de longo alcance.

Lembro-me de Fidel e Kruchev. Fidel em 1962 demonstrara que estava para o que desse e viesse, mas a decisão conciliadora fora de seu padrinho soviético em fazer concessões e encerrar a guerra iminente.

No Irã, não há quem faça o papel de Kruchev e pense em concessões, em negociação. O líder máximo do regime, o aiatolá Seyyed Ali Khamenei mantém sua “independência”, mesmo que ameace conflitos bélicos.

Em viagem agora, por alguns países da América Latina (Venezuela, Equador, Nicarágua e Cuba) o presidente Mahmoud Ahmadinejad – que não viera ao Brasil, FELIZMENTE, pela suposta “frieza” com que Brasília hoje se comporta em relação ao seu país, mudança saudável – há um mínimo de coerência, porque Dilma Rousseff não recebeu, infelizmente, a iraniana Shirin Ebadi Prêmio Nobel da Paz quando aqui esteve no ano passado (1) - afirmara Hugo Chávez ao recepcionar o iraniano que “não havia provas” de que o Irã buscava a bomba atômica.

(Sem o Brasil, a visita de Ahmadinejad tem objetivo apenas de promover fatos novos na mídia, sair bem na foto.)

Por outra , pelo que declarou Hugo Chaves, nem mesmo ele tem certeza da disposição iraniana em obter a bomba nuclear: “não há provas”.

Nesse passo, em lugar de fazer experiências com mísseis de longo alcance, haveria que PROVAR que não produz armas atômicas. Não basta apenas negar essa disposição enquanto faz experiência em usinas escondidas sob montanhas.

Se provasse, provavelmente se algum entendimento. Concessões mútuas poderiam se dar com os principais atores do conflito sendo materializado. Até porque até agora Israel não exibiu e nem se valeu do seu poderio bélico em níveis extremados.

Essa proposta pode ser considerada, pelo estágio “espiritual” das partes, como uma utopia.

Mas, o impensável aconteceu em 1962

Quem diria que um tipo Kruchev está fazendo falta naquelas bandas do Oriente Médio.

Legendas:

(1) Jornal “O Estado de São Paulo” de 06.01.2012. Sobre a ameaça climática completa a notícia: “O líder cubano censura ainda a postura dos EUA diante dos acordos estabelecidos sob o Protocolo de Kyoto, seu papel no "esbanjamento" dos recursos energéticos e como "promotor" de guerras, e adverte que o planeta "marcha hoje sem política" quanto aos problemas climáticos.”

(2) V. artigo “Pose de Republiqueta” de 12.06.2011

Foto: Hiroshima após a bomba atômica americana em agosto de 1945

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