quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A CONDENAÇÃO DO TRIO PETISTA PELO STF: DESFECHO DO MENSALÃO



A condenação de José Dirceu. Por tudo o que relatado no processo, não fora surpresa. Ministros tentaram absolvê-lo ofertando-lhe o perdão. O STF pode ter iniciado um processo de moralização da política brasileira tão cheia de abusos e escândalos.



Aceitem ou não, a trajetória de José Dirceu durante os anos cinzentos da ditadura foi corajosa e envolvente.

Cruzei com ele, ocasionalmente, nos corredores da PUC. Não me engajara no apoio às ações militares, mas não gostava dos seus discursos.

É sabido que os militares avançavam na repressão, num período confuso do ponto de vista político com forte influência do que se passava no exterior, sobras da guerra fria, os horrores da Guerra do Vietnã. Na América Latina, a repressão muito mais dura dos militares que tomaram o poder na Argentina e no Chile. Reação antissocialista exacerbada.

Afinal, qual era o modelo predominante de governo pretendido pelos dissidentes, então, se tomado o discurso de José Dirceu e seus “companheiros” estudantes?
Cuba, que ostentava um regime socialista, duro, também repressivo e sem liberdade que até agora persiste.

Pois não foi presa nestes dias a blogueira Yoani Sánchez que faz oposição aos Castros?

O que queriam, então, esses estudantes à esquerda, guerrilheiros, além de derrubar os militares do poder?

Até hoje não sei bem. Talvez nem eles próprios soubessem, embora Cuba se apresentasse a eles como espécie de referência, independentemente da ditadura que por lá fora implantada.

José Dirceu foi perseguido pela ditadura por aqui, pela sua “ferocidade”. Preso em 1968 deixou o Brasil em 1969 no mesmo grupo de militantes também presos em troca da libertação do embaixador americano Charles Burke Elbrick que fora sequestrado por “revolucionários” da ALN e do MR-8.

Depois de viver e trabalhar em Cuba, voltou ao Brasil em 1975, clandestinamente e, algo impensável: fez cirurgia plástica para não ser reconhecido. Viveu alguns anos pacificamente na cidade de Cruzeiro d’Oeste, norte do Paraná.

Esses fatos passaram, os militares, sob pressão popular mui forte, deixaram o poder, veio a lei da anistia, a democracia foi se instalando, o PT foi conquistando espaços e com ele, não só Lula, mas José Dirceu nos mesmos ventos.

Como pensar a personalidade de José Dirceu, o estudante revolucionário e corajoso, aparentemente desprovido de convicção política? Porque não se pode falar em democracia tolerando e defendendo a ditadura cubana.

[Esse não é somente um qualificativo dele. Lula, com suas desqualificações também apoia o regime cubano.]

Alguém que se revelou radical mas que se submeteu a uma cirurgia plástica...

Ora, com todo o poder na mão “concedido” por Lula quando eleito em 2002, José 
Dirceu passou a chefiar a Casa Civil, cargo estratégico, porque passa por ali os projetos do interesse ou não do governo e, também, e principalmente, a articulação política.

Manteve-se no cargo de 2003 a 2005, deixando o Ministério após as primeiras denúncias de Roberto Jefferson sobre a existência do mensalão.

E foi pelo mensalão que foi cassado em 1° de dezembro de 2005, “por falta de decoro” perdendo o mandato de deputado federal, juntamente com o denunciante Roberto Jefferson.

Quanto ao seu envolvimento no mensalão não posso duvidar.

Pela sua personalidade forte, mandão, não poderia estar ausente desse processo, principalmente quando se olha para a complexão de Delúbio Soares – o tesoureiro do PT -, a submissão que publicamente ostenta. Ele e Marcos Valério, foram os marionetes do processo.  Quanto a este último, vejam as consequências dá ambição desmedida e aquela crença da (suposta) influência obtida na República: ele não foi apenas um inocente útil mas um tolo “útil” que em todos confiou mas acabou “fulminado” e tende a pagar caro por sua “influência” na gestão do mensalão.  

Quem os manipulou? Genoino é que não foi. Tudo se volta para...José Dirceu pela sua autoridade e hierarquia natural.

Não há como escapar-se desse círculo.

E José Genuíno? Seria inocente sendo presidente do PT? Também nada sabia? Tal qual Lula? Assinava papéis sem saber o que assinava, “em confiança”?

Complicado, hem?!

Confiar em quem “caras pálidas”?

Por tudo isso, um processo tão pensado no Supremo Tribunal Federal só poderia resultar em condenação, não só pelo clamor da sociedade, cansada da roubalheira e da impunidade, do deboche e do descaso da classe políticas mas principalmente pelos fortes elementos constantes do processo e que foram gradativamente revelados.

O voto de Lewandowski foi dirigido no sentido de “perdoar” José Dirceu, mesmo condenando José Genuíno e Delúbio Soares.  Dias Toffoli pela sua subordinação a José Dirceu havida no passado, ao absolvê-lo deu um voto “café com leite”.

Quanto ao “perdão”, tento entender, há que lembrar que José Dirceu pelo mesmo mensalão, perdera o mandato de deputado federal (seria espécie de atenuante de natureza política?), um duro golpe para sua biografia e autoridade.

Que agora se agrava com a condenação criminal por corrupção ativa.

[Roberto Jefferson seria beneficiado na dosagem da pena por ter delatado o mensalão?]

Aguardemos o desfecho de todo o processo, a dosagem das penas e... o seu cumprimento. Um outro capítulo.

[O STF pode ter iniciado um processo de moralização da política brasileira tão cheia de abusos e escândalos.]

Há aquela frase muito sintomática de Roberto Jefferson, referindo-se a José Dirceu no auge do escândalo: “você desperta em mim os instintos mais primitivos”.

Dirceu em 2006, foi agredido por bengaladas por escritor paranaense idoso na saída do plenário da Câmara quando ainda deputado.

Pela torcida popular que se deu pela condenação do “trio” petista, a quem mais José Dirceu desperta tais “instintos primitivos”?

Não sei. Talvez seja tema para alguma tese psiquiátrica.


FRASES IDIOTAS

De Marta Suplicy: “Lula é Deus”. Eu diria santo, sabe, do “pau oco”;

Do “ministro” Gilberto Carvalho sobre os primeiros votos pela condenação de José Dirceu no STF: “A dor me impede de falar”. Que dor, ô meu? Dor que o “impede de falar” deveria se referir ao esquema de arrecadação do PT em Santo André, que resultou, por decorrências outras, no assassinato do prefeito Celso Daniel;

De Fernando Haddad: “Esperamos que imediatamente o Supremo inicie o julgamento do mensalão do PSDB”. Tudo bem, mas o mensalão do PT não acabou, e o Lula nada sabia... ou sabia? Dá para apurar se sabia agora que é “cidadão comum”, e não mais acima do bem e do mal como qualificou numa das suas frases “célebres”, José Sarney. Nesse caso, não mais acima do bem e do mal,  Lula não mais poderia falar em golpe das “elites” se "ingressar" no processo do mensalão ainda inacabado


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