segunda-feira, 10 de abril de 2023

CEM DIAS E NÃO MIL DIAS DE LULA

Há críticos com timbre bolsonarista, desde a posse de Lula que, nestes 100 dias de governo, exigem medidas como se fossem depois de 1000 dias. Mas, há um zero a menos nesse tempo de governo: são apenas 100 dias.

Não foi fácil. Tenho falado muito sobre isso. Lula conseguiu derrotar um inconsequente e, com ele, todo o poderio de seu governo e verbas à sua "disposição" para se reeleger, os golpistas exacerbados incentivados diretamente pelo candidato derrotado, os comentaristas da Jovem Pan detratores e ávidos em convalidar "fake news", a farsa do voto de papel e outras falácias sobre as urnas eletrônicas, a adesão dos "evangélicos", até "proféticos" e, quando não, julgando seu líder político como ungido. E setores das Forças Armadas que deram suporte àqueles acampados que ofereceram cenas cômicas de marcha na frente dos quarteis. Porque nelas, nas Forças Armadas, havia os golpistas que foram vencidos em suas pretensões nefastas por quem optou naquele momento grave, pela legalidade. Como ignorar isso?

O que esperar dessa gente, dessa mentalidade presente nos dias atuais? Que ignoram, a bem de seu líder o escândalo das joias que confirma a sua mente aética? 

Todo esse aparato levado de roldão por Lula, chegando mesmo ao ponto de desmoralizar o próprio ex-juiz Sergio Moro e seu cavalheiro de aventuras o hoje deputado Denton Dallagnol.

[Quero lembrar que num dado momento tinha Moro como um bom nome para a 3ª via. Hoje a distância para mim é o que há de melhor — não posso esquecer o que disse ele quando se exonerou do Ministério da Justiça e a adesão posterior a Bolsonaro do modo mais deslavado].

Pois bem, o governo Lula chega a 100 dias.

Nesse lapso, antes de se falar em governança, Lula nem bem empossado, se deparou com a greve crise da depredação dos prédios em Brasília que tumultuou por dias qualquer ato da atividade governamental e, pior, se deparou em seguida com a tragédia yanomami que exigiu ação imediata para impedir as mortes dos indígenas na sua reserva, naquele processo genocida dos garimpeiros incentivado pelo governo omisso derrotado.

Notem quão severo têm sido os críticos o que seria compreensível nas hostes bolsonaristas, mas não entre aqueles de quem se esperava bom senso.

Vou explicando, tomando por base o jornal "O Estado de São Paulo".

Na edição de 8 de abril em nota de primeira página desinforma o seguinte:

"Sob Lula, desmate na Amazônia tem o 2ª pior trimestre da série histórica".

O jornal de modo a pretender independência de posicionamento, "esqueceu" de lembrar a história verdadeira do que se passou na Amazônia nos 4 anos do governo Bolsonaro entregue como fora aquele bioma aos ilegais, madeireiros, grileiros e vândalos. 

Essas quadrilhas não serão expulsas no curto prazo e facilmente, porque sabem que atos do governo podem ser superados por ações clandestinas que podem perdurar até que localizadas pelo aparato capaz de lhes dar combate com efetividade. A liberdade que dispunham nestes anos todos esses bandidos, deu-lhes know how. Vejam o que ocorre na reserva yanomami entre a tragédia humana e ambiental. As sequelas ainda lá estão.

Esse mesmo jornal critica a falta de atitude do governo que "pouco aprovou" e conta com comentaristas que às vezes me lembram os bolsonaristas nas redes sociais  que criticam as abóboras volumosas que estariam substituindo a picanha, indivíduos desqualificados que sabem que a carne não dá em horta e mais, pelo que se constata, o "consumo" dos ossos deixou de ocorrer.

Um deles, bem a propósito, o exacerbado J. R. Guzzo um comentarista raivoso do jornal que desde os primeiros dias da posse procura argumentos descabidos porque a veia dele é bolsonarista. E, como tal...

E assim outros. Querem o milagre mas não se lembram da predação ética, a desumanização prevalente e a devastação ambiental herdada tudo com severas consequências. 

O governo derrotado foi uma tragédia e afirmo, haverá muito tempo para ser corrigida. E não em cem dias

Na área econômica Fernando Haddad, um nome que não me agradara como ministro da Fazenda porque parecia "prêmio de consolação" porque derrotado nas eleições em São Paulo, apresentou o seu ministério um projeto, o denominado "arcabouço fiscal" de controle das contas públicas que foi desde logo criticado sem ser devidamente estudado.

Mas, há quem bem o tenha aceitado.

Haddad tem sido coerente com suas intervenções.







O ministro promete para breve projeto de reforma tributária e há que lembrar que o Congresso está praticamente parado com disputas internas entre os presidentes do Senado e Câmara ainda nestes dias.

No Congresso, por enquanto não se aprova nada e o jornal se faz de desentendido tentando demonstrar imparcialidade que é falsa.

Já disse isso antes: imaginem 513 deputados e 81 senadores sentados na sua inoperância e contando com as mordomias. Tanta gente! Os Estados Unidos com cem milhões de habitantes a mais têm, proporcionalmente, menos senadores e deputados ("representantes") do que o Brasil. E com menos mordomias.

Sim, há muito que realizar e corrigir no decorrer do mandato, dar novos rumos que este país sofrido espera.

Antes de encerrar estas longas linhas vou comentar três pontos que me incomodam:

1.) A pose de Lula se apresentando como paladino da paz e, após qualificar há dias a invasão russa na Ucrânia como um erro  grave, agora como proposta para o encerramento da guerra, propõe manter a Península da Crimeia como território da Rússia. Deve ficar claro que essa "conquista" dos russos desencadeou a intenção ucraniana de se filiar à OTAN. Por causa dessa guerra nestes dias a Finlândia — o país mais feliz do planeta — se filiou à Otan...

Melhor que falasse na paz mas sem esse tipo de concessão. Porque em pleno século XXI ainda se depara com invasão territorial de um país que na sua fraqueza ética eleva a soberba e a violência genocida;

2.) A volta tolerada das invasões do MST que significam negação da política agrária do governo recém empossado. Flagrante contradição.  Os bolsonaristas não fariam melhor oposição;

3.) Comentários de palanque proferidos por Lula, importunos, desnecessários que fazem seus detratores, até com razão, ao o criticar duramente, mudar o foco das prioridades nacionais e até trazendo para o seu lado, ambiente de ódio o mesmo sentimento negativo que condena do lado adversário.

Vou parar por aqui esta análise que já se estendeu demais.

E, então, não vou esperar 1000 dias para rever posições do governo atual como pode ser interpretado o título destas considerações, mas 180 dias. Convido os precipitados e críticos sem convicção a fazerem o mesmo.






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