quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ENEM E OS “ERRINHOS QUE HUMILHAM”


As novas trapalhadas no ENEM que se resumem a "errinhos" que humilham e desgastam. Esse ENEM se sobreviver precisa ter revisão da revisão. E mais revisão e também severa coordenação.


Há um ano, precisamente no dia 18.10.2009 escrevi um artigo, tão logo comprovado o vazamento das provas do ENEM ainda na gráfica, sob o título “ENEM e os seus questionamentos”.

Acentuava então, entre outros, a gigantesca logística que tal prova, milhões de exemplares, exigiria e os perigos da fraude e da sua desmoralização.

E também o custo de sua elaboração e distribuição neste país com tantas diferenças e recursos que naquele ano fora dobrado porque as provas precisaram ser refeitas.

Este ano estima-se que o custo das impressões, distribuição e outros, andou em torno de R$200 milhões no mínimo.

Àquela ocorrência de 2009, até dissera, “há males que vem para o bem”, partindo do pressuposto de que todos os cuidados seriam redobrados a partir deste ano.

O que se deu agora?

Embora num porcentual pequeno, segundo o Ministro da Educação, alguns cadernos de prova foram impressos sem perguntas, ou repetidas, folha de respostas trocadas, questões imprecisas ou equivocadas, desinformação dos fiscais e, mais, hoje já se desconfia que nos rincões do Piauí, em São Raimundo Nonato houve vazamento (aproximado) do tema da redação (“O trabalho na construção da dignidade humana”), a ponto de alunos procuraram professores de cursinhos em Petrolina, Pernambuco a 300 quilômetros de São Raimundo Nonato, para os orientar sobre a melhor forma de o expor.

A Justiça Federal do Ceará suspendeu a validade do ENEM, diante de todos aqueles percalços nas provas e impediu até mesmo a divulgação do gabarito.

A Advocacia Geral da União pedirá a reconsideração da decisão da Justiça Federal e, não obtendo êxito, recorrerá.

As primeiras explicações atribuem essas falhas ao INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, órgão do Ministério da Educação, responsável pelo exame que deveria ter feito revisão prévia “in loco” das provas embora a gráfica também assumisse parte da culpa.

E no meio desse imbróglio estão os estudantes prejudicados para os quais se acena uma nova prova e até mesmo a possibilidade da anulação total do exame prejudicando todos os demais estudantes.

Esse o “relatório” resumido da trapalhada. Não transpira alguma incompetência nisso tudo, descuido, improvisação?

Vejo no Ministro da Educação, Fernando Haddad, como alguém esforçado que procura acertar.

Mas, só “procurar acertar” não resolve se o acerto não vem ou se ”errinhos” desmoralizam o esforço despendido e colocando em risco todo um sistema.

Não tem essa da boa intenção ou do campeão moral!

Vem-me à mente uma crônica que escrevei há pouco que trata dos errinhos que humilham àqueles que se propõem a escrever. Transcrevo trechos para tornar menos áspero este artigo a exemplo do que normalmente ocorre com o que tenho escrito:

Errinhos que humilham:

“Esse título não é meu. É do saudoso escritor mineiro Otto Lara Rezende que, numa crônica no jornal “Folha de São Paulo” de 18.01.1992 o utilizou no singular.

Mas, eu já vou logo grafando no plural, “errinhos que humilham”.

Inicia o cronista se queixando de erros de revisão que se davam, eventualmente, nos seus escritos, lembrando que “quando surgiu o computador na imprensa, pensei que vinha para acabar com essa gralha. Qual o quê. Sofisticou-a”.

Com o computador, dizia o escritor, não seria mais possível atribuir a revisor os erros do autor.

E nestes dias, então, com o notório avanço tecnológico e da comunicação? Não sei, não. Há “mistérios insondáveis” nos errinhos que humilham.

Outro ponto lembrado por Otto são os erros do próprio cronista que insere um dado equivocado, uma desinformação, na crônica. Sem volta porque a eventual correção posteriormente é inócua ou com efeito limitado. E dizia: “Qual! Fica o travo da pequenina humilhação que me convida à humildade.”

Saibam todos, pois, que o cronista se depara com erros ortográficos dele próprio e, pior – afaste de mim esse cálice – erros de concordância. E isso mesmo tendo lido o que escrevera várias vezes." (*)


E se os erros não podem ser corrigidos, o desgosto e o desgaste. E como queimam.

É o que passa nestes dias o Ministro da Educação.

Esse ENEM se sobreviver precisa ter revisão da revisão. E mais revisão e também severa coordenação. Uma terceira trapalhada desse porte ele não aguenta.

(*) Blog: http://martinsmilton.blogspot.com/ (Crônica de 31.10.2010)

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