domingo, 21 de novembro de 2010

RESENHA AMBIENTAL

Devastação no Cerrado. Os prejuízos ambientais das queimadas das florestas. A urgência de medidas para reduzir os gazes que produzem o efeito estufa. A barbárie contra os animais. O consumo de carne e a pauta da ONU. Vegetarianismo e preservação ambiental.

A manhã começara mal-humorada

Não bastara o café adocicado

Algo no jornal me deprimira

Uma notícia cruel e malvada.

Mas, ai um bem-te-vi

Na janela me avisou que me vira

Eu também te vi vigilante passarinho.

Encontro seus olhinhos entre as tiras da cortina.

Creio que há algum ninho nos vãos de ar condicionado, por ali.

A vida ainda se renova, bem vi.

Até quando, meu querido amarelinho estridente, até quando? (1)


Muito já escrevi sobre a preservação ambiental, neste e em outros espaços. Se clamo no deserto, não sei. Só sei que continuarei clamando seja aonde for.

Diante disso, faço uma resenha de aspectos importantes de tudo o que vem sendo noticiado e debatido nos últimos meses sobre o tema, de tal modo que seja pauta até para o novo governo que vem vindo de quem, passado o debate e a luta política, só me resta ter esperanças. Já se constata, todavia, manifestação partidária normalmente nefasta para os interesses do País. Mas, sobre isso, adiarei qualquer comentário. Estamos vivendo espécie de vacância onde um poder se estrutura e o outro pensa nas vantagens que poderá auferir nisso tudo.

Vamos, pois, à “resenha ambiental”, de modo ameno mas sem abdicar da seriedade que contém.

I

“O Cerrado, aqui do Brasil, já foi devastado em 50%. Até 2004, 60 fornos de carvão – no que se converteu a vegetação do Cerrado – abasteciam siderúrgicas de Lagoa Santa, em Minas Gerais.”

É possível imaginar uma coisa grotesca dessas, tal absurdo?
O Cerrado, “pode ser chamado de “caixa d’água do continente sul-americano”, por captar águas pluviais que abastecem nascentes e formam rios nas bacias do Amazonas, São Francisco, Paraná e Tocantins...” (2)

E embora os tais fornos fossem desativados, a agropecuária constitui-se numa ameaça ao desmatamento continuado do Cerrado e o risco à fauna rica que lá (sobre) vive.

Estamos criando, no Cerrado e na Caatinga, novos desertos, terra estéril e improdutiva que não absorve o calor como fazem as matas.

Essas barbaridades não são um despautério brasileiro, porque

“Olhando uma imagem de satélite da Rússia, pode-se ver uma vasta extensão de terra áridas onde há décadas havia uma vegetação luxuriante. Eu me refiro à República da Calmúquia, que abriga o primeiro deserto produzido pela ação humana da Europa e reconhecido como tal nos anos 90.” (3)

Isso para ficar apenas num caso no Exterior para ser “solidário” com nossa inconseqüência continuada, nossa política antiambiental.

II

“Estamos sentados num baú de ouro e não sabemos o que fazer com ele”, disse ontem o gerente de conservação da biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Braulio Dias. O baú de ouro, no caso, é a biodiversidade brasileira – que é a maior do mundo, mas fica um pouco menor a cada dia, com o avanço do desmatamento em todos os biomas. “Não sabemos aproveitar essa riqueza. E pior, estamos queimando-a”, completou Dias, em referência à onda de queimadas que sufoca o País há mais de um mês. (...) Segundo Dias, falta apoio financeiro e político para o desenvolvimento de atividades que permitam explorar economicamente os recursos biológicos do País – em vez de simplesmente substituir florestas e savanas por monoculturas de grãos e bois, como ocorre na maioria das vezes. (...) O orçamento do ministério, segundo ele, é insuficiente para garantir a conservação e promover o uso sustentável das espécies e dos biomas brasileiros. “Não temos dinheiro nem equipes técnicas suficiente para fazer frente a esse desafio.” (4)

Resolvi transcrever parte do desabafo do servidor do Ministério do Meio Ambiente porque me pareceu sincero naquele período de queimadas imensas e devastadoras.

Deixou escapar as dificuldades de seu Ministério e os recursos limitados para levar a frente essas pesquisas tão importantes.

Esta aí a esperança: quem sabe governo novo não olhe com mais atenção a preservação ambiental aí incluído esse “baú de ouro”.

III

Mas, a despeito disso e da minha voz tão sem eco, já fiz campanha e continuo fazendo, de enfeitar as estradas na sua área divisória de pistas, como é o caso da maioria das estradas do Estado de São Paulo, plantando em espaços regulares mudas de hibisco (mimo) nas suas várias cores como forma de, também, “humanizar” o trajeto.


Pequenas medidas que servem como exemplo ecológico.

IV

“Uma queimada para renovação de pasto no Pantanal de Mato Grosso do Sul carbonizou um número ainda não estimado de ninhos com filhotes de araras, papagaios, periquitos e maritacas que, nesta época do ano, estão nos primeiros dias de vida. Também morreram queimados mamíferos, cobras e lagartos, conforme constataram soldados da Polícia Militar Ambiental em uma área de 2240 hectares consumidas pelo fogo.”

Diz mais a notícia: a queimada de mato seco ficou sem controle, significando que “a maior destruição da fauna e da flora aconteceu em áreas de preservação permanente”
O proprietário, mais que irresponsável, foi multado em R$2 milhões, “a maior multa aplicada a uma única ocorrência do gênero pelo Estado até agora.” (5)

V

Tempo escasso para recuperação. Há os pessimistas conscientes. O diplomata Rubens Ricupero tem a seguinte opinião sobre a devastação ambiental: “Temos um horizonte curto, de oito ou dez anos, para conter a emissão de gazes que provocam o efeito estufa. Os mais otimistas falam em 15 anos. Se não fizermos o necessário nesse período, o processo torna-se irreversível. Desses 10 ou 15 anos para a frente, mesmo que se faça tudo direitinho, não adiantará mais. Haverá um encadeamento de efeitos, um engatando no outro”. (6).

Nada se fazendo, o aumento da temperatura da Terra será, então, irreversível é nesse caso, esperáramos as decorrências que poderão ser grandes catástrofes ambientais. A humanidade será vítima principal de sua irresponsabilidade. Das outras espécies, nem falar.

VI

Este comentário foi feito por professora americana que também questiona o que estamos fazendo com o planeta mas se referindo a práticas no seu país (EUA). A transcrição é um pouco longa, mas vale a pena conhecer, pelo menos o trecho que selecionei:

“Produção industrial de carne: os argumentos contra a crueldade na criação industrial de animais circulam há muito tempo: no século 18. Jeremy Bentham já observava que, no tocante ao tratamento de animais, a questão-chave não é se os animais podem raciocinar, mas se eles podem sofrer. As pessoas que comem bacon ou frango produzidos em esquemas industriais raramente oferecem uma justificativa moral para o que estão fazendo. Tentam não pensar muito nisso, furtando-se daquelas histórias de revirar o estômago sobre o que se passa em nossos abatedouros industriais.”

E mais:

“Dos mais de 90 milhões de cabeças de gado de nosso pais, pelo menos 10 milhões estão socadas em fazendas de confinamento poupadas de doenças decorrentes da aglomeração por doses regulares de antibióticos, rodeadas por pilhas dos excrementos, as narinas mergulhadas no cheiro da própria urina. Imaginem isso - e depois imaginem seus netos vendo esse quadro.” (7)

Circo dos horrores... Lá como cá. Mas, salvem os hambúrgueres! McDonalds e afins.

VII

Esta notícia, transcrevo na íntegra. Refere-se a um relatório da ONU e está interligada com o comentário anterior. Quanto precisamos mudar, quanto!

“A opção pelo vegetarianismo, uma mudança profunda na agricultura mundial e a redução do uso de combustíveis fósseis - como o petróleo e carvão - são as prioridades para proteger o ambiente, segundo estudo das Nações Unidas.

O relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) afirma que a produção de alimentos e os combustíveis fósseis causam poluição, emissão de gases-estufa, doenças e destruição de florestas. "A produção agrícola consome 70% da água potável, 38% do uso da terra e 14% das emissões de gases-estufa", afirma Achim Steiner, chefe do Pnuma.

Os consumidores podem ajudar, diz a ONU, cortando o consumo de carne e reduzindo o uso de combustíveis fósseis para viajar e aquecer a casa.

"Produtos de origem animal são impactantes porque mais da metade das plantações do mundo são usadas para alimentar animais, não pessoas", diz Steiner. Para ele, uma redução substancial dos impactos só seria possível com uma mudança radical da dieta humana no mundo todo.

Mas só na China, por exemplo, o consumo per capita de carne cresceu 42% em oito anos, entre 1995 e 2003. "O modo como o mundo é alimentado e abastecido de energia irá em grande parte definir o desenvolvimento no século 21", diz o documento.” (8)


Nessa resenha, há tanto mais a acrescentar! - indica o quanto temos que mudar no modo de cuidar do planeta de tal maneira que dele desfrutem de toda a exuberância que ainda resta, as futuras gerações.

Para mim surpreende nas linhas e entrelinhas a introdução do vegetarianismo como um hábito a prevalecer para melhorar a vida do planeta. Deixou de ser assunto desdenhoso reservado para aqueles idealistas, “esquisitos”, que se escandalizam com a brutalização cotidiana imposta aos animais e por isso adotaram essa dieta. Em pista própria, como se vê, começa a se constituir agenda ambiental proposta mesmo pela ONU. (9)

Sinal destes tempos urgentes.

Referências:

1. Escrevi uma crônica em 03.10.2010, “Para não dizer que não falei de bem-te-vis e mimos”, na qual inclui um mapa do Brasil, localizando os vários biomas do país (clicar) Acessar: http://martinsmilton.blogspot.com/

2. Jornal “O Estado de São Paulo” de 02.09.2010

3. Idem de 03.10.2010,

4. Idem de 02.09.2010

5. Idem de 29.09.2010

6. Idem de 25.11.2007, entrevista a Sonia Racy

7. Kwame Anthony Appiah, professora de filosofia na Universidade de Princeton – “Pecados de Longo Alcance” - Jornal “O Estado de São Paulo” de 03.10.2010

8. Jornal “O Estado de São Paulo” de 03 de junho de 2010

9. No mesmo blog referido acima, escrevi em 14.11.2010 a crônica “São Francisco, os homens e os animais” na qual me refiro entre outras proposições, à violência praticada contra eles.

Fotos:
(1) Bem-te-vi
(2) Hibisco (mimo)
(3) Pasto e floresta devastada
(4) Rio poluído
E a dizer que a água é essencial para a vida! Tudo o que é detrito e sujeira são jogados nele (s). Como é difícil a consciência ambiental, a educação ambiental! Mas, muito dessa degradação das águas diminuirá com o saneamento básico que neste País é carente em mais de 50% dos seus lares. E o que dizer dos demais só na América Latina → o Haiti em situação insuportável – a maior parte de seu povo vive no meio de detritos, insetos e ratos. Um país inviável, degradado que humilha o mundo. E o mundo não se dá conta disso!
Fonte: http://sosriosdobrasil.blogspot.com

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