domingo, 10 de outubro de 2010

FHC, O PSDB E O PT.

Os Governos FHC e Lula que o PT tenta comparar . Há que serem feitas comparações éticas também. O PSDB na defensiva. Não haveria nessas tentativas de Lula com essas comparações, um modo de superar seu baixo nível de escolaridade se comparado a FHC?


Espero não estar repetindo temas, mas se tem postura do PSDB que me intriga é essa de não ressaltar a imagem de Fernando Henrique Cardoso, mas de omitir todo seu desempenho nos oito anos da Presidência da República.

Essa estado defensivo foi assumido pelo PSDB e Geraldo Alckmin nas eleições 2006 por conta das comparações descabidas que fazia o PT, das críticas vazias que fazia o partido em relação ao tempo presidencial de FHC.

Para mim, esse estado defensivo, meio covarde, sempre fora motivo de perplexidade, porque de um modo ou outro os tucanos de certa maneira assumiram as críticas de Lula e do PT ao Governo FHC

Preferiram o silêncio em lugar de contestar com veemência os ataques adversários a maioria sem fundamento ou mesmo com pouca ou nenhuma verdade.

Pior, no 1° turno não só Serra mas outros candidatos pelo Brasil – que tinham o dever de apoiar o candidato do PSDB – se omitiram para aproveitar as migalhas que caíram por conta de algum contato que tiveram com Lula. Deplorável.

Agora, na iminente “ameaça” petista de criticar de novo o governo FHC, com as privatizações havidas, foi um alento ouvir Aécio Neves, logo após o encontro do seu partido no delineamento do segundo turno pró-Serra, que aquelas haveriam que ser defendidas.

Com a imparcialidade que me é possível, sempre defendi que a presença de Fernando Henrique na Presidência da República, menos pela sua capacidade de comunicação e mais pelo seu vigor intelectual, foi bom para o País, que passou a ser levado a sério. Começou com FHC o amadurecimento da vocação democrática, depois de vencidos percalços pós Sarney – acidente de percurso, Collor, substituído por Itamar Franco, este último um presidente de transição, por força do trauma do impeachment do então conhecido “caçador de marajás”.

O “Plano Real” no qual teve participação direta como coordenador foi o grande êxito do Brasil nas últimas décadas.

Lembro-me que, cinco anos antes do Plano Real, visitando sede de empresa multinacional nos Estados Unidos, diante do deboche meio velado que se dava com a inflação mensal escandalosa no Brasil, perdi a paciência com alguns americanos de riso amarelo.

Pude lembrar, pelo menos, do tamanho da indústria brasileira, a pujança de São Paulo entre outros aspectos importantes resultando dessa intervenção o silêncio dali para frente desse tipo de abordagem pelos americanos próximos. Como explicar a ‘monetary correction’? “Se a inflação for de 70%, a correção monetária de tudo o mais será no mesmo porcentual.” – Mas, se é assim, porque aumentar os preços e corrigir a moeda na mesma proporção? Por que não parar com esses aumentos, acabando com a ‘monetary correction’?”Eram as perguntas sem resposta, vexames nossos em cada entrevista naquela viagem de conhecimento da cultura da empresa.

O Plano Real foi, pois, um divisor de águas que deu dignidade à economia brasileira.

E nesse influxo, surgiu a figura de Fernando Henrique Cardoso que foi guindado à Presidência da República por dois mandatos que teve aquele mérito afirmado acima de mostrar que o Brasil passara a ingressar num regime de seriedade e de ética.

A propósito, comparem-se os políticos que o rodearam com os políticos que rodearam Lula. Aqueles que estiveram próximos de FHC estão até hoje disputando cargos eleitorais sem qualquer mácula que os alijasse da disputa do voto.

E os que rodearam Lula, quais sobraram? Tirando os ministros técnicos, poucos, a ponto de ter saído da cartola de Lula a sua candidata, relativamente desconhecida, salvo os antecedentes de sua militância “política”, nos tempos dos militares.

Assim, para comparar o PT e Lula tentam de todos os modos denegrir as conquistas efetivas e permanentes das gestões anteriores como se fossem os méritos, somente seus.

Claro que FHC não tem as virtudes do verbo fácil de Lula nos comícios, nos seus excessos que serão infalivelmente retratados ou amenizados no dia seguinte, mas o PSDB medroso não aproveitou a sua imagem e as conquistas de sua gestão.

Aloísio Nunes, o senador eleito mais votado em São Paulo, ao aproveitar “o fator FHC” decisivo em sua campanha, explica:

“Olha, o eleitor brasileiro não é bobo. Com já disse antes, ele não atribui a abertura dos portos ao presidente Lula. Há uma clara convicção de que as coisas começaram a melhorar a partir do Plano Real.” (1)

Na edição de hoje do jornal “O Estado de São Paulo”, em termos de comparação entre FHC e Lula que o PT insinua que fará, mas tem recuado, ex-ministro Pedro Malan em artigo bem esclarecedor, aponta vários itens obtidos no Governo de Fernando Henrique, muito bem aproveitados no Governo Lula. Diz o ex-ministro:

• O governo Lula não teve de resolver problemas graves de liquidez e solvência de parte do setor bancário brasileiro, público e privado. Resolvidos na segunda metade dos anos 90 pelo governo FHC. Ao contrário, o PT opôs-se, e veementemente, ao Proer e ao Proes e perseguiu seus responsáveis por anos no Congresso e na Justiça. Mas o governo Lula herdou um sistema financeiro sólido que não teve problemas na crise recente, como ajudou o País a rapidamente superá-la. Suprema ironia ver, na televisão, Lula oferecer a "nossa tecnologia do Proer" ao companheiro Bush em 2008.

• As pessoas que têm memória e honestidade intelectual também sabem que as transferências diretas de renda à população mais pobre não começaram com Lula - que se manifestou contra elas em discurso feito já como presidente em abril de 2003. O governo Lula abandonou sua ideia original de distribuir cupons de alimentação e adotou, consolidou e ampliou - mérito seu - os projetos já existentes. O que Lula reconheceu no parágrafo de abertura (caput) da medida provisória que editou em setembro de 2003, consolidando os programas herdados do governo anterior.

• O governo Lula não teve de reestruturar as dívidas de 25 de nossos 27 Estados e de cerca de 180 municípios que estavam, muitos, pré-insolventes, incapazes de arcar com seus compromissos com a União. Todos estão solventes há mais de 13 anos, uma herança que, juntamente com a Lei de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000 - antes, sim, do lulo-petismo, que a ela se opôs -, nada tem de maldita, muito pelo contrário, como sabem as pessoas de boa-fé.

Esse artigo de Pedro Malan traz outros aspectos e será bom lê-lo na íntegra e atentamente para os que desejarem ter uma resposta séria sobre os atos do PT e Lula no sentido de fazer seus, méritos de outrem, no caso de FHC. Os item transcritos acima são os que julguei mais significativos.

Dessa forma, acho mesmo que o PSDB, talvez por ter que explicar muita coisa, omitiu essas e outras realizações de seu Governo Presidencial, deixando que Lula a tudo festejasse como seu e vai levando vantagem com sua candidata.

Sinto que essa ansiedade de Lula em fazer comparações me parece se originar dos níveis de escolaridade: com pouco instrução conseguira mais que o acadêmico-intelectual. É a tentativa de uma realização espiritual. “Esse é o cara.”

Por isso, repito a pergunta: PSDB que partido é esse?

(1) Jornal “O Estado de São Paulo” de 10.10.2010 – entrevista.

(2) “Diálogo de surdos” – Pedro Malan, em jornal “O Estado de São Paulo” de 10.10.2010

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