De como um
país próspero, orgulhoso e até um tanto arrogante
despencou
para o “inferno astral”
Quando
visitei a Espanha há alguns anos, claro que não convivi com as pessoas comuns,
que vão ao supermercado, às igrejas. Convivi naqueles dias no meio, digamos,
“oficial”, no hotel, nos restaurantes, com guias turísticos, sempre soprado por
um ar arrogante.
Essa
deseducação se revela do modo mais traumático na maneira como as autoridades
espanholas “recepcionam”, nestes últimos tempos, os brasileiros nos seus
aeroportos. Reduzem os barrados, a maioria sem motivo, a semimarginais, a ponto
de ferir a sua dignidade pessoal. Deixam-nos passando fome, limitando a
comunicação e por fim a deportação.
Uma turma
truculenta.
O que dizer
de um país que adora touradas, um “esporte” covarde nas quais o animal acuado é
feito refém de um desmiolado na arena, que o fere, é aplaudido por multidões.
Do lado de
cá, por isso, quantos não torcem pelo touro...
Mas, a
Espanha vem passando por maus bocados, verdadeiro inferno astral.
Do ponto de
vista econômico, os jornais na Europa explanam sobre a crise que não parece
provocará o caos, mas que produzem milhares de desempregados. Diz a notícia:
"A
Espanha vive um momento muito duro", afirma o diário conservador Le Figaro, com um quarto de sua população desempregada
e o peso de uma nova recessão. Essa crise grave, muito grave, escreve Le Figaro, fragiliza ainda mais a Europa, suas
perspectivas de crescimento e o sistema financeiro europeu. No entanto,
contrariamente à Grécia, a Espanha não ameaça o euro de implosão, já que
ninguém imagina a zona do euro sem a Espanha, quarta economia do continente.”(1)
Embora em princípio não pareça um
assunto político grave, foi a Espanha afrontada pelo desmando do rei Juan
Carlos que numa crise dessas gastou cerca de € 35 mil caçando elefantes em
Botsuana.
Por isso,
“A
organização espanhola Pacma considerou "inaceitável que Juan Carlos vá à
África caçar elefantes enquanto o governo impõe duras medidas de austeridade e
faz cortes no orçamento que tornam a vida dos cidadãos cada vez mais
difícil".
A aventura
representa uma despesa "de sete a 20.000 euros para cada animal
abatido", acrescentando que "o custo médio de um safári é de 35.000
euros".
O fórum social
europeu Actuable divulgou na internet um abaixo-assinado, de mais de 40.000
pessoas, pedindo que o rei deixe imediatamente o posto de presidente de honra
da filial espanhola da ONG World Wildlife Fund (WWF)”.
O reizinho foi
castigado: como resultado de uma queda no safári, fraturou aa clavícula, lesão
que exigiu se submetesse a uma cirurgia.
O rei se
desculpou pela tolice perante seus súditos mas os protestos se avolumaram. Rei com mentalidade de toureiro.
Nesses mesmos
dias, a Argentina, para dar aquele sentido de “argentinidade” meio baixo no
país, expropriou de modo até abrupto os ativos da espanhola Repsol, 51% do
capital da petroleira da YPF, “sob o argumento de que a estatização aliviará o
crescente déficit energético.”
Protestos veementes da Espanha e da
comunidade europeia, mas a expropriação já foi aprovada pelo Congresso
argentino.
Nesse vácuo de confronto, a Bolívia
anunciaria logo depois a expropriação de 100% da também espanhola
Transportadora de Electricidad pertencente Red Eléctrica de España. O ato
boliviano se dera, segundo declarações oficiais, porque a TDF investira pouco
na companhia.
A Espanha exige compensações elevadas dos
dois países pelas expropriações.
Por enquanto só dá touro nessa arena
espanhola. No inferno astral da Espanha, nunca visto.
Legenda:
Foto: Andrea Comas (Reuters): protestos dos cidadãos espanhóis contra o rei Juan Carlos
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