domingo, 6 de maio de 2012

ESPANHA: UM PAÍS NO INFERNO ASTRAL?


De como um país próspero, orgulhoso e até um tanto arrogante
despencou para o “inferno astral”

Quando visitei a Espanha há alguns anos, claro que não convivi com as pessoas comuns, que vão ao supermercado, às igrejas. Convivi naqueles dias no meio, digamos, “oficial”, no hotel, nos restaurantes, com guias turísticos, sempre soprado por um ar arrogante.
Essa deseducação se revela do modo mais traumático na maneira como as autoridades espanholas “recepcionam”, nestes últimos tempos, os brasileiros nos seus aeroportos. Reduzem os barrados, a maioria sem motivo, a semimarginais, a ponto de ferir a sua dignidade pessoal. Deixam-nos passando fome, limitando a comunicação e por fim a deportação.
Uma turma truculenta.
O que dizer de um país que adora touradas, um “esporte” covarde nas quais o animal acuado é feito refém de um desmiolado na arena, que o fere, é aplaudido por multidões.
Do lado de cá, por isso, quantos não torcem pelo touro...
Mas, a Espanha vem passando por maus bocados, verdadeiro  inferno astral.
Do ponto de vista econômico, os jornais na Europa explanam sobre a crise que não parece provocará o caos, mas que produzem milhares de desempregados. Diz a notícia:
"A Espanha vive um momento muito duro", afirma o diário conservador Le Figaro, com um quarto de sua população desempregada e o peso de uma nova recessão. Essa crise grave, muito grave, escreve Le Figaro, fragiliza ainda mais a Europa, suas perspectivas de crescimento e o sistema financeiro europeu. No entanto, contrariamente à Grécia, a Espanha não ameaça o euro de implosão, já que ninguém imagina a zona do euro sem a Espanha, quarta economia do continente.”(1)
Embora em princípio não pareça um assunto político grave, foi a Espanha afrontada pelo desmando do rei Juan Carlos que numa crise dessas gastou cerca de € 35 mil caçando elefantes em Botsuana.

Por isso,
“A organização espanhola Pacma considerou "inaceitável que Juan Carlos vá à África caçar elefantes enquanto o governo impõe duras medidas de austeridade e faz cortes no orçamento que tornam a vida dos cidadãos cada vez mais difícil".
A aventura representa uma despesa "de sete a 20.000 euros para cada animal abatido", acrescentando que "o custo médio de um safári é de 35.000 euros".
O fórum social europeu Actuable divulgou na internet um abaixo-assinado, de mais de 40.000 pessoas, pedindo que o rei deixe imediatamente o posto de presidente de honra da filial espanhola da ONG World Wildlife Fund (WWF)”.
O reizinho foi castigado: como resultado de uma queda no safári, fraturou aa clavícula, lesão que exigiu se submetesse a uma cirurgia.
O rei se desculpou pela tolice perante seus súditos mas os protestos se avolumaram. Rei com mentalidade de toureiro.
Nesses mesmos dias, a Argentina, para dar aquele sentido de “argentinidade” meio baixo no país, expropriou de modo até abrupto os ativos da espanhola Repsol, 51% do capital da petroleira da YPF, sob o argumento de que a estatização aliviará o crescente déficit energético.
Protestos veementes da Espanha e da comunidade europeia, mas a expropriação já foi aprovada pelo Congresso argentino.
Nesse vácuo de confronto, a Bolívia anunciaria logo depois a expropriação de 100% da também espanhola Transportadora de Electricidad pertencente Red Eléctrica de España. O ato boliviano se dera, segundo declarações oficiais, porque a TDF investira pouco na companhia.
A Espanha exige compensações elevadas dos dois países pelas expropriações.
Por enquanto só dá touro nessa arena espanhola. No inferno astral da Espanha, nunca visto.

Legenda:

Foto: Andrea Comas (Reuters): protestos dos cidadãos espanhóis contra o rei Juan Carlos








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