sábado, 3 de abril de 2010

AS OLIMPÍADAS NO RIO DE JANEIRO EM 2016

04/10/2009


As Olimpíadas exigirão não somente a construção da estrutura que a atenderá. Paralelamente, o Poder Público deverá olhar para os enormes bolsões de pobreza, para a devastação ambiental e equacionar esses e outros desafios que afetam a sociedade brasileira


Não farei média com a cidade do Rio de Janeiro mesmo depois da euforia da sua conquista em trazer em 2016, as Olimpíadas. E não me sinto suspeito, nem mesmo sendo paulistano do próspero bairro da Lapa, da paulicéia.

Claro que, passada a euforia, tem início o desafio do trabalho de “instalação” das Olimpíadas de tal ordem que ela ocorra sem deslizes na linha de um país civilizado, mesmo com os problemas brasileiros e os problemas do Rio de Janeiro que adiante explanaremos.

Pode ser que por conta da disputa que se desenhava na escolha da cidade sede para as Olimpíadas de 2016, dias antes da escolha na Dinamarca, a revista “New Yorker” publicara longa reportagem afirmando que o Rio de Janeiro é comandado por gangues do narcotráfico com atuação ineficaz da policia, pelo menos no sentido de dar uma resposta convincente ao crescente desafio desses delinquentes que dominam as favelas.

Eu mesmo há alguns poucos anos, em Portugal, me deparara com elogios portugueses à cidade do Rio de Janeiro, mas sempre com a ressalva da criminalidade que grassaria pelas ruas. Muito de verdade: diversos foram os assaltos recentes a grupos de turistas estrangeiros em visita à cidade. Esses eventos repercutem internacionalmente denegrindo a imagem da “Cidade Maravilhosa”.

Não tenho esse dado com números mas por tudo isso e porque São Paulo se identifica como o polo econômico do Brasil, as grandes exposições e congressos internacionais se realizam – a maioria - na capital paulista e, nessas promoções, cresceu muito o turismo de negócios. O Rio de Janeiro perdeu competitividade e espaço nessas atividades.

O Rio de Janeiro continuou a ser a “Cidade Maravilhosa”, a cidade dos espetáculos carnavalescos. Mas, a mais conhecida no exterior ao se referir ao Brasil.

Nesse contexto, as Olimpíadas na cidade, serão um “lavar de almas”.

Mas, no meio da euforia pela conquista não basta informar que serão gastos cerca de R$30 bilhões para estruturar a cidade de tal modo a fazer a melhor olimpíada.

Já se pensou daqui a sete anos como estará a infra-estrutura da cidade que crescerá?. Qual a extensão das favelas e suas necessidades? Como combater com eficácia a criminalidade?

Diante de tais indagações, desses R$30 bilhões, uma parte haverá que ser destinada ao equacionamento de pelo menos parte desses problemas de tal ordem a que, no ano das Olimpíadas esteja a cidade suficientemente depurada. Esse o grande desafio.

Disse Lula em seu discurso que o fato de existirem favelas e pobreza não poderia ser obstáculo para tirar do Brasil as Olimpíadas de 2016 a par de que seria a primeira da América do Sul.

Quanto a esse enfoque – o da pobreza -, não há como fazer concessões. A permanecer a vergonhosa saúde pública, a indigência pela falta de condições mínimas de vida, as palafitas na Amazônia, os sérios problemas de saneamento básico, a devastação da Amazônia, do Cerrado e o que resta da mata Atlântica tais itens serão danosos para mostrar o contraste entre as Olimpíadas e o Brasil real.

Um “prato cheio” que com certeza rodará o mundo pela mídia.

Apenas a preocupação com o equacionamento das Olimpíadas, deixando de lado essas deficiências, continuará a ser o Brasil, o país de segunda classe a despeito do discurso emocionado de Lula que o quer no primeiro time.

Há que se fazer um alerta: o dinheiro a ser disponibilizado é vultoso e precisará ser controlado na ponta do lápis para evitar desvios e corrupção, algo que faz parte da cultura de setores brasileiros que se envolvem na “administração” de tais recursos.

Quanto ao Lula, mesmo com as sérias restrições que tenho feito ao seu governo, aos seus assessores, devo reconhecer que no exterior tem sido ele a “cerejinha do bolo”. Influente e levado a sério, o metalúrgico que comanda o maior país da América do Sul, uma democracia consolidada que contrasta com alguns vizinhos que andam na contramão da história voltando-se para o autoritarismo e pela permanência no poder.

Que imagem melhor do que essa perante o denominado 1° Mundo?

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