sábado, 3 de abril de 2010

'ONDE ESTAVA DEUS'?

12/10/2009

A ocorrência de certos eventos graves para a Humanidade, sem sua participação nos momentos decisivos. Transcendências nas guerras e conflitos, a partir do livro “Guerra e Paz” de Tolstoi. Perguntas sem respostas: onde estamos nós hoje?


EXPLICAÇÃO

Caio Venâncio Martins é meu amigo desde os tempos do colégio em São Caetano do Sul. Foi ele quem me apresentou para assumir uma coluna neste portal. Das mais de duas dezenas de artigos que escrevi desde março – inaugurei com críticas ao MST (1) – não me afastei muito do perfil do “VoteBrasil” cuja denominação desde logo sugere que a motivação é a análise política, as questões sociais, jurídicas, econômicas e afins.

Este artigo foi publicado em menor extensão no blog literário-democrático “Prosa e Verso de Boteco” que edita Caio com muita inteligência. (2)

Ele me incentivou a publicá-lo neste portal.

Alguém já me perguntou: para que desenvolver um assunto desses se ele não sugere respostas? Repleto de perguntas?

Vacilei muito, mas como sempre continuo me perguntando sobre as misérias humanas, o “viver perigoso” que Guimarães Rosa acentuara no seu Grande Sertão me encorajei a tanto. (3)

Menciono desde logo algumas tragédias humanas mais recentes não referidas no artigo:

. O imenso e sangrento extermínio que se deu no Camboja na década de 70, algo em torno de 1,5 a 2 milhões de vitimas quando predominou a facção de esquerda Khmer Vermelho, liderada por Pol Pot.

. Em Ruanda, na África, foram assassinados em 1994 cerca de 800 mil civis tutsis e hutus moderados em em apenas 100 dias. O carrasco Idelphonse Nizeyimana foi preso pela Interpol em Uganda recentemente depois de 15 anos foragido.

. Qual a motivação “espiritual” de um terrorista ligado a Al-Qaeda que se suicida com uma bomba no reto - para escapar dos detectores de metais - tentando assassinar um príncipe árabe em Jeddah?

. E o 11 de setembro em Nova York?

Este é o planeta das contradições: ao lado de monstruosidades humanas, vivem sumidades e homens inspirados. Cientistas abnegados. Por analogia, poderemos considerar tratar-se duma grande escola na qual o aprendizado vai do jardim da infância, tudo meio caótico e primitivo, ao mais elevado curso de doutoramento espiritual.

No texto falo de tragédias do homem como lobo do homem no processo histórico como essas acima lembradas, mas com desígnios transcendentes.

Mas, há os que não transigem sobre elas, as tragédias, ainda que diferentes dessas, fatalidades, na verdade. Em setembro de 2007, em artigo publicado alhures, tendo como ponto de referência a tragédia do avião da TAM em Congonhas transcrevera entrevista do escritor britânico Richard Dawkins, autor do livro “Deus, um delírio”, obra que não li, que vendera naquele ano cerca de 1 milhão de exemplares na língua inglesa:

“Se eu tivesse religião, me preocuparia com o Deus que deixou uma coisa dessas acontecer. Você não? Deus sempre leva o crédito pelas coisas boas, mas nunca pelas coisas ruins. Ele deixou que a tragédia acontecesse? É incrível. Não sei se alguém sobreviveu a esse acidente, mas se for o caso, seria capaz de apostar que alguém disse: “Vejam que maravilhoso, Deus salvou meu filho, minha filha, ou seja lá quem for”. Ninguém parece se dar conta de que esse mesmo Deus deixou todas as outras pessoas morreram.”

E por fim, a indagação se a ciência tem respostas para tudo: “Ainda não, e talvez nunca tenha. Mas, se há algo que a ciência não pode responder não há nenhuma razão para supor que a religião possa”.

Dúvidas

Por essas e outras é que o artigo a seguir não tem respostas. Só perguntas.

“ONDE ESTAVA DEUS?”

No imenso “Guerra e Paz”, Leon Tolstoi, ao descrever a barbárie das batalhas de conquista de Napoleão – o romance é todo centrado na invasão à Rússia – defende que também a História não se rege apenas pela só ação do livre-arbítrio do homem, mas por certas leis imperceptíveis. Daí para a História, diz ele, “também é necessário renunciar à liberdade da qual temos consciência e reconhecer uma dependência que não sentimos” e que a História não investiga os “elementos homogêneos, infinitesimais que conduzem as massas”.

Essa crença do autor russo é preocupante ao indicar que os horrores da guerra teriam uma causa transcendente, além das meras “causas imediatas e próximas” como adota a História nos livros para explicar as conflagrações.

Há tempos, vinha meditando sobre tais idéias e me perguntava o que diria Tolstoi sobre a ascensão de Hitler e do nazismo na Alemanha que além das conquistas territoriais, patrocinaram a matança de milhões de judeus – um povo que provém dos remotos tempos bíblicos - algumas minorias e milhões de soldados e civis também vítimas do conflito sem contar a gigantesca destruição de cidades inteiras.

Há uns três anos, indagações surpreendentes fez o Papa Bento XVI ao visitar o campo de concentração em Auschwitz, Polônia, local de extermínio e tortura nazista onde exalam os horrores do sofrimento a maioria judia:

- “Onde estava Deus naqueles dias? Por que ele se manteve em silêncio? Como ele permitiu essa opressão sem fim, esse triunfo do mal?” perguntara o papa. E acrescentaria ser “impossível adivinhar o plano de Deus.”

Esse desabafo papal, digamos assim, incomodou-me porque me levara de novo às idéias de Tolstoi. O horror nazista não fora, então, a mera expressão do livre-arbítrio de um louco que convenceu quase um país inteiro do acerto de suas ações criminosas e, pior, amealhou adeptos até mesmo fora dele? Quais leis conduziram, então, a mão assassina do nazismo?

E as bombas atômicas americanas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945 que decretaram a rendição do Japão sob os efeitos de escombros inimagináveis e milhares de mortos? “Impossível adivinhar o plano de Deus”, disse o Papa.

Há um livro que me influenciou, “Mistério e Magias do Tibete”, de Chiang Sing que me levou mesmo a escrever, com base em revelações trazidas na obra, artigo místico-político explanando sobre a invasão chinesa naquele país. (4).

Essa autora, se aproxima de Tolstoi ao revelar que as Divindades “quando a Humanidade estaciona e é incapaz de evoluir de acordo com as leis do Amor” abre a jaula onde mantidos espíritos maléficos, “potências das Trevas”, que encarnam entre os homens: “São elas que fazem as guerras, que desencadeiam os crimes e as baixas paixões, os déspotas e perseguidores”. Nessa jaula estão os Herodes, os Atilas, os Neros, os papa perversos, “todos os que oprimiram e ensangüentaram a terra.”

E eu incluo Hitler nessa súcia.

E nesse passo, “quando a Humanidade para no meio do caminho evolutivo, é preciso sacudi-la, agitá-la, como se faz com um rebanho indolente.” E como decorrência, instala-se o pânico universal por conta “dessas almas más” e “então, a evolução se precipita, os fracos morrem, os fortes lutam e alcançam a evolução”.

Há aqui que se fazer concessões à doutrina reencarnacionista.

Mesmo com meu agnosticismo (moderado), me permito perguntar, nessas histórias todas, “onde não estava Deus (?)”.

Por doloroso que seja, por mais trágico que sejam esses eventos. (5)

Olho para as estrelas à noite e constato a minha pequenez, a pequenez do planeta e me recolho sem pensar nesse imensidão celeste, algo como um primata do início da evolução que não entendia sequer o fogo e a água. Entendo hoje?

O que sabemos hoje do universo em expansão? Que a Lua se constitui num planeta-satélite inóspito e que sequer se sabe se há água por lá e que Marte poderia ter água? As fotos do supertelescópio Hubble dão a dimensão artística do universo. O que mais nos resta dessa imensidão insondável?

Acho que nessa nossa pequenez mental, olhando para o chão ciscando, desrespeitando o equilíbrio do planeta com a devastação ambiental impiedosa que se processa, pode significar gradual depuração e catástrofes por conta dos denominados “fenômenos naturais” cada vez mais destruidores.

E então, não há como invocar Deus pelo que advier daí: “Onde estava Ele?”.

Melhor: “Onde estamos nós hoje?

Referências:

1. “VoteBrasil” de 16.03.2009

2. Prosa e Verso de Boteco ( http://prosaeversodeboteco.zip.net/)

3. “Grande Ser-tão” (v. http://martinsmilton.blogspot.com/ de 23.02.09)

4 . “VoteBrasil” de 16.04.2009

5. “Agnosticismo moderado”: com uma ponta de ironia, assumi a seguinte definição partindo de uma frase do professor Paulo Edgar A. Resende em artigo numa antiga revista da PUCSP (1968 – “Deus hoje, Sim e Não”): “Os cristãos que passam ao ateísmo, não o fazem a partir de um raciocínio da existência de Deus ou da não-existência de Deus. Eles partem da convicção de que a crença em Deus não tem significação para o relacionamento com os homens, é algo separado da terra, e que poderia ficar para depois, para os períodos de intervalo, para as situações limites, para a velhice, para a época da doença..”

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