domingo, 4 de abril de 2010

EH SÃO PAULO DAS ENCHENTES!

26/01/2010


Crônica de São Paulo. Seus problemas e seus encantos. Saudades da garoa. Aqui tudo começa e se renova. Amores.


Sou mesmo paulistano dos tempos da garoa. Descendo muitas vezes a rua Monte Alegre, saindo da PUC, nas Perdizes às carreiras, depois de um exame oral, preocupado em não perder o último trem a Santo André quantas vezes não fui lavado por ela. A garoa que molhava a cabeça mas que iluminava o cérebro e o esfriava, se possível essa contradição. Como poesia, vale:

- É São Paulo da garoa. Não reclame, aproveite, meu amigo!

São Paulo fez no último dia 25 de janeiro, mais um aniversário, o 456º.

O que dizer dessa cidade hoje tão mais sacrificada?

Não há como ignorar, em qualquer análise que se faça, o aumento populacional, dos carros, os caminhões exigindo obras urgentes de estrutura e infraestrutura. Sim, vai saindo mais um trecho do Rodoanel – que, prometem, desviará milhares de caminhões para essas vias - mais uma inauguração de linhas do metrô.

O aumento populacional, nessa miscigenação espantosa, os migrantes que para cá aportam e moram onde der e como der, até os imigrantes, fazem a cidade de São Paulo, menos crescer e mais inchar.

Há sempre imagens na televisão mostrando a riqueza de São Paulo, um chamariz para que para cá aportem patrícios de todas as regiões do país em busca de oportunidade de trabalho. E grande número de sulamericanos, bolivianos na maioria.

São bem recebidos apenas na chegada. Com suas malas e sacos ao saírem da “maior rodoviária da América Latina”, caem no mundão paulistano e se perdem na beira de um morro ou numa favela esgotada.

Nos meus tempos de “cidade da garoa”, enchia garrafões de água potável numa área de mato rasteiro, no Bairro do Ipiranga / Sacomã, quase divisa com São Caetano, que em pouco tempo se transformaria numa das maiores favelas da capital, embora esteja ela relativamente urbanizada, a do Heliópolis.

Ademais, há um sentido de deseducação na São Paulo das enchentes. O lixo em quantidade jogado pelos cantos e esquinas, nas valas, riachos, sinto dizer, especialmente nos locais mais pobres, recebem em troca todas as decorrências das intempéries e das chuvas que nestes quase dois meses não param. Enchentes arrasadoras.

Mas, o que dizer delas? Sucedem-se as administrações, as enchentes são anuais mas se aproveita, digamos, da memória curta. Passadas estas, só no ano que vem e quem sabe as chuvas não sejam intensas, então. Os afetados pelas enchentes de agora se arrumam e rezam para que elas não se repitam nos próximos anos. E assim vai...

Esse circulo vicioso, precisa acabar em São Paulo com a adoção de medidas definitivas.

Reconheço que as chuvas passaram dos limites ponderáveis e reconheço que muitas cidades em países do denominado primeiro mundo, também enfrentam ou enfrentaram recentemente enchentes pesadas.

Aqui em Piracicaba nunca vi por tantos dias o rio tão cheio, transbordando para a rua do Porto – tradicional ponto turístico e gastronômico da cidade.

Quando da tragédia em Angra dos Reis e na Ilha Grande, indignado proclamava que nos baixos dos morros, fossem compulsoriamente desapossados seus moradores e nesses locais, instituídas áreas verdes, recompondo como possível, o que fora devastado e indevidamente ocupado.

Em São Paulo nesses bairros afastados os mais prejudicados, há muito que fazer nesse sentido. São Paulo precisa perseguir sua aptidão de “cidade verde”, onde der, onde houver um local para uma praça. Fazer campanhas nesses bairros afastados pró-limpeza dando condições para isso.

Falei hoje muitas obviedades (epa!), mas não posso deixar de mencionar, o que já escrevi em muitas crônicas: o meu sereno anonimato nas andanças pela Barão de Itapetininga, o encanto da Rua de São Bento, o Largo de São Francisco local da faculdade de Direito de São Paulo que para mim é espécie de esfinge que não consegui decifrar. A Xavier de Toledo, na leiteria ao lado do extinto Mappin, pertinho do Teatro Municipal, na qual parava vindo da PUC para um lanche. A Paulista, o MASP e o Trianon. E muito mais, muito.

Ah, meus amigos, a vida aqui é intensa, com enchentes e tudo.

Não moro mais lá, mas queiram ou não, ela me chama e me traz saudades da garoa, saudades daqueles tempos que profissionalmente me obrigavam a estar com ela frequentemente. Porque as coisas começam aqui. E se renovam. Amores.

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