sábado, 3 de abril de 2010

FHC x LULA

03/11/2009


Fernando Henrique foi o presidente da transição apresentando o Brasil democrático ao mundo. Lula eleito foi bem recebido na comunidade internacional pelo inusitado: depois de um intelectual por que não um operário? Mas, cresce o perfil autoritário de Lula.

O Brasil, no âmbito presidencial, foi vítima de desastres, mesmo recentemente: faleceu Tancredo e assumiu ninguém menos que José Sarney, político profissional sem credenciais para tanto, havia pouco rompido com o partido da situação militar, cujo mandato, uma acidente de percurso, não pode ser considerado de transição entre o autoritarismo e a democracia.

Veio Fernando Collor, eleito, vencendo Lula, e deu no que deu, impedido pelos desmandos havidos no seu governo.

O mandato tampão de Itamar Franco foi marcado pela introdução do “plano real”. Um dos seus idealizadores, como ministro da Fazenda, foi Fernando Henrique Cardoso.

Por uma série de razões, inclusive essa do “plano real” que teve êxito depois de inúmeros outros planos econômicos fracassados o credenciavam para a Presidência da República.

Intelectual reconhecido no exterior, não me parece que naqueles idos houvesse alguém mais indicado para a Presidência, que se materializou sendo ele o verdadeiro formulador da transição.

Era o Brasil poliglota que se apresentava ao mundo, dando ao país uma credibilidade inédita nas relações internacionais, a par dos sinais notórios de que a democracia brasileira se firmava irreversível.

Abriu caminho mesmo para Lula. Depois de um intelectual, o Brasil comportaria até mesmo um operário metalúrgico. Suas instituições o suportariam, como, aliás, o suporta.

Mas, o PSDB – e isso escrevi alhures – nas eleições que resultaram na reeleição de Lula, sendo derrotado Geraldo Alckmin, não sei bem o que se deu nos bastidores, ignorou os êxitos dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso como se fossem obstáculos ao êxito do seu candidato. Oito anos de mandato do PSDB com Fernando Henrique foram omitidos na campanha de Alckmin e sequer (ou pouco) defendidos.

Quando eleito Lula da primeira vez, seus discursos até simplórios eram coerentes com sua condição de dirigente sindical. E com eles as gafes. Cheguei a elogiá-los e perdoar as gafes porque eram decorrências do seu noviciado e de sua baixa formação.

Mas, devagar Lula e o PT com José Dirceu, começaram a mostrar uma postura autoritária, a ferro e fogo valendo a máxima de “que os fins justificam os meios”.

E aí eclodiu o escândalo do mensalão que Lula afirmara, sem enrubescer, que nada sabia. Seu mandato balançou, mas não seria possível naquela altura, novo trauma como se dera com a deposição de Collor.

Ao lado de Lula estava o seu PT, esse partido que não medira, como não mede, consequências de seus atos.

A partir daí, o desencanto total. O antigo líder sindical se tornara um político como outro qualquer. A ele se aliou o PMDB. Com tal adesão desmoraliza o Congresso Nacional com suas imposições.

Creio que o PMDB, pior do que o PT que fecha com o governo porque se julga governo, é o partido mais submisso que já apareceu na história republicana. É uma caricatura do que fora no seu passado de lutas contra o autoritarismo.

Um parêntesis: na PUC de São Paulo fora o Michel Temer professor de Direito Constitucional, sem o brilho do saudoso Celso Bastos. Ingressando na política tornou-se um peemedebista sendo hoje submisso aos mandos do Planalto. Ignora os desmandos presidenciais e se sai com discursos vagos para justificar seu posicionamento evasivo ou o posicionamento de seu partido. Por isso, reprovo a PUCSP, a minha Universidade, tomá-lo como referência, como fez, numa de suas propagandas recentes.

Pelo seu perfil do “amém”, vem sendo cotado para a vice-presidência na chapa de Dilma Rousseff.

Hoje, Lula cansa com suas incoerências e até com o ridículo de alugmas posições..

Há pouco, o apoio incondicional a Sarney, sem entrar no mérito de seus desmandos como político profissional há décadas, porque era, segundo ele, Lula, uma figura “incomum”.

Entre os vários atos escandalosos de vandalismo do MST o último nos laranjais visto há pouco, disse que o projeto de seu governo de reforma agrária, não poderia ser melhor mas ao mesmo tempo, um ministro dá o recado de que o governo continuará financiando o citado MST.

Qual o sentido dessa ambiguidade? Afinal, se se consolida a reforma agrária, qual o sentido de sustentar com verbas sacadas dos brasileiros o MST que age ilegalmente, sob o argumento de “agilizar a mesma reforma agrária”?

Rodeado de vizinhos autoritários, nesses países com pouco expressão na comunidade internacional, Chávez & companhia, talvez invejando o modo de governar desses “companheiros”, passou a criticar o Tribunal de Contas que embarga obras – atrasando-as no seu cronograma segundo alega – mesmo sabendo que aquele órgão encontrara indícios fortes de desvios na sua contratação e custos. Critíca o Judiciário e o Ministério Público, qualificando-os de irresponsáveis pelo mesmo motivo: suposto atraso de obras. Na verdade, com tais paralisações, diminui seu poder de propaganda para 2010.

Desafia a legislação própria, já deflagrando o processo eleitoral com sua candidata sem qualquer reprimenda oficial.

(Enquanto isso, José Serra, do PSDB e do DEM, mantém - se ausente do processo, não confirmando sua candidatura – é o que mais tem chances de mudar tudo isso que aí está – além de ser pressionado pelo governador de Minas Aécio Neves com pretensões a tal candidatura, uma incógnita ou talvez uma aventura pior do que fora a de Alckmin pelo momento ora vivido, porque no seu estado, nas últimas eleições presidenciais, o PT venceu com larga margem o PSDB).

Daí porque, nessa conjuntura, não poderia deixar de me referir a artigo de Fernando Henrique Cardoso, publicado no jornal “O Estado de São Paulo” do último dia 1°, “Para onde vamos?” no qual aponta outros posicionamentos de Lula, revelando, sim, seu perfil autoritário. Escreveu FHC:

“Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do “autoritarismo popular” vai minando o espírito da democracia constitucional”.

E prossegue:

“Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas, da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo “Brasil potência”.

E conclui (e eu também):

“Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo, antes que seja tarde.”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário