sábado, 3 de abril de 2010

O ENEM E OS SEUS QUESTIONAMENTOS

18/10/2009


O vazamento das provas do ENEM de 2009, trouxe à tona o gigantismo da logística que exige para sua consecução, os custos elevados e questionamentos de sua oportunidade do ponto de vista educacional.


O histórico do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio teve início em 1998 com certa de 150 mil inscritos. Originalmente, fora instituído como ferramenta para promover a reforma no ensino médio e não como prova unificada nacional.

Com a mudança nos seus objetivos, que vale até mesmo pontos para o ingresso no ensino superior, a cada ano a adesão foi aumentando, chegando em 2009 a mais de 4,5 milhões de inscritos.

Uma ou a razão principal, segundo peça de sua divulgação diz o seguinte:

“O principal incentivo para que os concluintes e egressos do ensino médio façam o Exame é a possibilidade concreta de carimbar o passaporte de ingresso no ensino superior. Afinal, a nota obtida no Enem pode significar tanto uma bolsa integral ou parcial do ProUni quanto a conquista de uma vaga em algumas das mais prestigiadas instituições de ensino superior do País, entre elas as universidades públicas mais concorridas.”

Com efeito, em São Paulo, as três maiores Universidades, a USP, UNICAMP e UNESP aproveitariam o resultado do ENEM para composição das notas dos vestibulares. A USP, diante do cancelamento do exame, concederá um bônus nas notas aos alunos de escolas públicas que optaram por participar do Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp).

O questionamento da logística do ENEM se deu efetivamente a partir do vazamento das provas ocorrido numa gráfica de São Paulo.

A partir daí, constatou-se a dimensão dos problemas que traz ou pode trazer as provas do ENEM: milhões de cadernos são impressos num sistema gráfico tradicional, embaladas e distribuídas para todo o Brasil.

O custo dessa operação, após a reimpressão das provas, passa de R$31 milhões. Ora, alguém poderá argumentar que, pelos seus objetivos o custo é até suportável. Mas, não parece suportável essa operação temerária a cada ano, com a adesão crescente de estudantes ao sistema.

Mesmo sendo os Correios – instituição confiável quanto aos serviços que presta – não estarão livres da violação os imensos pacotes que se obrigará a entregar por todo o Brasil.

Essa logística não se limita apenas a obter esse resultado, isto é, da inviolabilidade das provas, tarefa difícil, mas toda uma operação de transporte nas grandes cidades.

No caso de São Paulo, foi uma surpresa a observação do Secretário de Educação do Estado, Paulo Renato Souza numa entrevista à televisão, que se referira à falta de chamamento do Ministério da Educação no sentido de garantir o reforço do transporte público para os alunos que se submeteriam ao exame do ENEM na Capital. Um esquema vinha sendo providenciado às pressas desmontado, porém, porque o vazamento das provas resultou no seu cancelamento.

Em todo o Estado de São Paulo, mais de um milhão de estudantes se inscreveram no ENEM.

Por esses eventos constata-se que houve muito de amadorismo, de descuido, para uma prova dessas dimensões, mesmo reconhecendo-se o esforço do Ministro da Educação.

E para os próximos anos, qual o será o gigantismo para consecução do ENEM sem fraudes, sem transtornos?

Num artigo de interesse publicado no dia 17 de outubro último no jornal “O Estado de São Paulo”, o cientista político Alexandre Barros faz críticas ao ENEM menos por esse aspecto logístico, mas para aquilo que entende tratar-se, o exame, de tentativa do governo de “engessar o conhecimento, a diversidade e a criatividade humana”.

E proclama: “Com o ENEM nenhuma escola pode ser inovadora.”

E mais a frente afirma que o sistema ignora as peculiaridades, exemplificando que “nem todos querem ou precisam saber Matemática, Geografia ou História em proporções iguais.”

E também acentua:

“Não importa se você gosta dele ou o detesta, mas o que teria sido de Luiz Inácio Lula da Silva se ele não tivesse sido aprovado no ENEM? Ainda bem que não havia ENEM e ele pôde entrar para a Escola do SENAI, virar torneiro mecânico e depois presidente.”.

O jargão da vovó, de que “há males que vêm para o bem” se aplica integralmente nas trapalhadas do exame do ENEM anulado.

Chamou a atenção sua logística gigantesca, temerária, cara e, mais, do ponto de vista do interesse educacional, de diversidade, da criatividade, como se constata, há sérias dúvidas de sua eficiência, de sua oportunidade.

PS: Conforme notícia da imprensa, os gastos do ENEM já ultrapassam, na verdade, a R$130 milhões, R$31 milhóes com a impressão e cerca de R$100 milhões com a montagem e processo de correção. Com todos os percalços do ENEM, sem se afastar o risco real de novos vazamentos e o custo total vultoso, é hora de ser repensada TODA sua estrutura logística e educacional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário