terça-feira, 7 de dezembro de 2010

DO FIM DE MANDATO À SOBERBA

O lapso curto até a posse de Dilma Roussef. A renovação que não houve no quadro ministerial. A esperança que ela conduza seu governo sem receio de contrariar seu padrinho.

Não escondi minha preferência pelo candidato da oposição que disputou a eleição presidencial.

E assim me posicionei porque entendia, como entendo, que chegara o momento, como nunca, da alternância do poder, de tal modo que alguns ranços fossem expungidos da prática nacional e até mesmo a soberba manifestada pelo atual presidente da República. E também uma revisão da política externa, tão capenga com destaque nas relações com alguns países africanos, com o Irã e mais próximos, países vizinhos, destacando-se os equívocos de Hugo Chaves de certo modo apoiado em todos os desmandos que pratica contra o sistema democrático, enquadrar Evo Morales e repensar as relações com Cuba atrasada, que se faz de vítima do embargo americano para justificar todos os desastres do regime dito “comunista” que tardiamente começa a se autocriticar anunciando medidas impopulares.

Venceu Dilma e, efetivamente, no decorrer da campanha , seu discurso foi se refinando. Não reagia mais às críticas, muitas justas, com dedo em riste, um modo de demonstrar que amealhara ou a tanto buscava, o equilíbrio suficiente para assumir o mais alto cargo público do País. A propósito, ao contrário de Lula, a eleita rejeita qualquer tolhimento à imprensa de onde parte a maioria das denúncias aos desmandos oficiais.

A vitória de Dilma teve como conseqüência, a permanência de Lula em plena atividade e, pelo que transparece influenciou sua candidata vitoriosa em acolher sua cota de ministros de sua “confiança”, entre eles Nelson Jobim e Gilberto Carvalho, este dos mais íntimos de Lula.

Além da “quota” de Lula, há a “quota” do PMDB de sempre, esse partido que, pode até garantir a governabilidade, mas é acintoso na busca de cargos. Há décadas que é assim.

Livre Lula para discursar já que vitorioso, em algumas de suas manifestações se denotam doses de soberba. Uma delas se dera nos tempos do escândalo do “mensalão”. Segundo revelara, dissera a Sarney, então, que “se eles (oposição) tentarem dar um passo além da institucionalidade, eles não sabem o que vai acontecer nestes pais”. E nesse sentido, segundo Lula, não fora tentado pela oposição seu impedimento por “medo do povo”, porque ele seria a própria “encarnação” dele, povo.

Uma bravata.

As coisas não foram assim. O país vinha ferido pela morte de Tancredo Neves, envergonhado com a inflação no governo Sarney, um acidente de percurso, pelo impedimento de Fernando Collor num processo traumático e, nesse clima, mais um escândalo desse nível só prejudicaria o País. E para amenizar sua posição delicada, então, todos “acreditaram” que “ele (Lula) nada sabia” do “mensalão” como, constrangido, afirmara.

Em escala menor, em 1980, na greve dos mais de 40 dias no ABC, Lula foi destituído do Sindicato de São Bernardo do qual era presidente, e logo depois preso no DEOPS, sem que houvesse grandes protestos dos seus “companheiros”. Nem o apoio político mudou muita coisa naqueles dias de conflito.

Um processo corretamente conduzido, como se dera com o de Collor, o povo ficaria perplexo e boquiaberto, só isso, concluindo que este País não tinha jeito mesmo.

Mas, nem tudo está perdido na sua fala e muita coisa poderia ser diferente na campanha se reconhecesse Lula o que reconheceu num outro discurso recente. Nestes termos:

"Eu tenho consciência que outros presidentes da República não tiveram as mesmas condições que eu. O presidente Sarney pegou o Brasil em época de crise. O Fernando Henrique Cardoso, mesmo se quisesse fazer, não poderia, pois o Brasil estava atolado numa dívida com o FMI. Quando você deve, tem até medo de abrir a porta e o cobrador te pegar.”

Estamos hoje a 26 dias da posse de Dilma Rousseff. O lapso é curto. Espero que com sua posse, o discurso mude, seja mais coerente, sem bravatas e gafes tão comuns nos discursos de seu padrinho. E que imponha seu governo com efetividade sem receio de contrariar posições daquele que finalmente deixa o poder.

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