domingo, 27 de junho de 2010

BEBIDA ALCOÓLICA: FORTE APELO PUBLICITÁRIO

O banimento da propaganda do cigarro dos meios de comunicação, porque vício e prejudicial à saúde. O aumento do consumo do álcool entre os adolescentes. Prejuízos à saúde. Incentivo ao consumo de outras drogas. A semelhança da propaganda dos cigarros e da bebida

O cigarro tornou-se vício anti-social, porque vício. As recentes leis estaduais proíbem o fumo em ambientes fechados e restaurantes, determinação que coloca os fumantes em situação difícil, porque para obter a “satisfação” do cigarro devem se afastar do ambiente onde se encontram.

Todos se lembram a maneira insistente que, por meio da publicidade, impôs a indústria do cigarro o vício a praticamente todas as faixas sociais: “venham para as terras de Marlboro”, “Mistura fina, um cigarro que não irrita”...

A propaganda foi banida dos meios de comunicação porque, sabidamente, o tabaco é uma questão de saúde pública.

Infelizmente, a despeito dessa realidade, o Superior Tribunal de Justiça, nas ações indenizatórias propostas por fumantes prejudicados pelo vício e pela propaganda enganosa do passado, tem entendido, para sintetizar, que fumar é ato do “livre-arbítrio”. E com esse entendimento não tem acolhido tais ações.

Há uma decisão da 4ª Turma desse Tribunal que explana do seguinte modo esse “livre-arbítrio”:

“...o cigarro é um produto de “periculosidade inerente, cujo consumo se dá por decisão exclusiva do consumidor e que no âmbito da responsabilidade civil não se pode estabelecer o nexo causal com base em presunção, ou seja, com fundamento em dados estatísticos”. Em relação à propaganda considerada enganosa pelos consumidores, os ministros consideraram que a sua veiculação não interfere no livre arbítrio dos consumidores, que podem optar ou não por fumar.” (1)

Faço essa explanação, apresentando uma tendência para o denominado “livre-arbítrio” do vício do cigarro, para adentrar na milionária mercado da bebida alcoólica, a cerveja, em especial. Autêntica guerra da cerveja se dá na publicidade, na qual uma quer se sobrepor à outra em bobagens e apelações: é jogador da seleção brasileira, é mulher bonita com trajes sumários...

O álcool inegavelmente traz dependência e afeta a saúde do alcoólatra e, mais, pela propaganda aberta motiva os jovens ao consumo da cerveja da maneira desregrada.

Para dar um disfarce que nada prejudica o incentivo à bebida, ao final da propaganda exacerbada vem aquela frase rápida: “se for dirigir não beba”, “beba com moderação”.

Como beber com moderação com tal propaganda que lembra muito “o mundo de Marlboro”? Por isso, o consumo de bebida vem crescendo.

Ademais, pesquisa da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) com 18 mil universitários do País revelou que “eles usam mais drogas lícitas e ilícitas, como o álcool e a maconha, do que a população em geral”.

Nesse passo:

“Mais de 60% dos entrevistados tinham consumido álcool nos últimos 30 dias (entre a população em geral o índice é de 38,3%) e 25,59%, drogas ilícitas (na população o índice é de 4,5%” (2).

Numa reportagem recente da TV Record apresentando os excessos numa festa “rave” - do inglês: “delírio”, “acesso de cólera”, “festa louca e animada” - (3) jovens entrevistados vangloriavam-se de, em dois dias, não terem nada consumido de alimentos, se sustentando apenas com cerveja. Nesses “embalos” rolavam também outras drogas e, pior, não havia restrição à idade o que pode significar que naquele “delírio musical”, havia menores de 18 anos, de 16 anos. Diversos deles, ainda sob os efeitos do álcool, admitiam que iriam dirigir “normalmente”.

Do ponto de vista psiquiátrico, o álcool tende a levar o paciente ao consumo de outras drogas, como explica estudo a respeito, do qual transcrevemos o longo trecho abaixo necessário para a perfeita compreensão do tema e que explana sobre os efeitos do consumo na adolescência:

“O consumo de álcool na adolescência também está associado a uma série de prejuízos acadêmicos. Esses podem decorrer do déficit de memória: adolescentes com dependência de álcool apresentam mais dificuldade em recordar palavras e desenhos geométricos simples após um intervalo de 10 minutos, em comparação a adolescentes sem dependência alcoólica. Sabendo-se que a memória é função fundamental no processo de aprendizagem e que esta se altera com o consumo de álcool, é natural que este também comprometa o processo de aprendizagem. A queda no rendimento escolar, por sua vez, pode diminuir a auto-estima do jovem, o que representa um conhecido fator de risco para maior envolvimento com experimentação, consumo e abuso de substâncias psicoativas. Assim, a conseqüência do uso abusivo de álcool para o adolescente poderia levá-lo a aumentar o consumo em uma cadeia de retroalimentação, ao invés de motivá-lo a diminuir ou interromper o uso.” (4).

Há que considerar que o alcoólatra é desagregador no seio da família, não talvez no nível do consumidor de drogas pesadas (cocaína, craque), mas muitas vezes aguça a violência doméstica e pode se dar a omissão no acompanhamento educacional dos filhos, quando não se torna um empecilho traumático para sua formação.

Embora se saiba que a indústria da cerveja movimente milhões de dólares, havendo então interesses econômicos fortes na sua produção, podendo ser alegado até os milhares de empregos que garante - a realidade é que é chegada a hora de limitar a divulgação do produto que tem se dado, a par de ostensivo em demasia, até de modo enganoso, incutindo a idéia de valentia com protagoniza jogador da seleção brasileira nestes dias de Copa do Mundo.

Isso é necessário como ponto de partida para desincentivar o consumo do álcool de tal ordem a evitar que outras drogas passem a ser consumidas a partir dele.

Referências:

(1) “Consultor Jurídico” de 25.05.2010

(2) Jornal “O Estado de São Paulo” de 23.06.2010

(3) Dicionário Michaelis (Melhoramentos)

(4) “Uso de álcool entre adolescentes: conceitos, características epidemiológicas e fatores etiopatogênicos”. Autores: Flavio Pechansky, Claudia Maciel Szobot e Sandra Scivoletto (Rev. Bras. Psiquiatria - vol.26 suppl.1 - São Paulo, May 2004)

Imagem: Diversas fontes via Google Imagem

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A CRIAÇÃO BOVINA E O CUSTO AMBIENTAL



O ensaio de uma campanha do MPF contra o consumo da carne ilegalmente obtida. Os efeitos ambientais da criação bovina, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Outros relatórios alertando sobre os prejuízos ambientais


Volto a este assunto árduo.

Há umas duas semanas fui surpreendido, assistindo o jornal da TV Bandeirantes, por um editorial lido pelo jornalista Joelmir Betting de baixa qualidade, primário mesmo. Fora procedido de um breve filme de alerta, produzido sob responsabilidade do Ministério Público Federal que incentivava o consumidor brasileiro a questionar a origem da carne que consumia porque se fosse de origem clandestina, poderia estar contribuindo para a devastação em maior escala de áreas de florestas, inclusive na Amazônia.

Esse filminho mostrava a preparação de um churrasco assado sobre fogo de lenha.

O que dissera o “editorial” da TV Bandeirantes? Que tal campanha, em outra palavras, poderia prejudicar a produção de carne que sustenta boa parte da população brasileira e do exterior considerando os inumeráveis países importadores desse produto.

A questão posta nesse comentário fora se limitara a mera análise econômica, zero nos cuidados ambientais que o gado bovino provoca, até como princípio de discussão e para demonstrar o outro lado do tema. Logo depois, com a notícia da propagação da mancha de petróleo no Golfo do México - catástrofe insolúvel até aqui – sairia o popular jornalista com aquele seu chavão de décadas: “a natureza de vinga” dos nossos abusos contra ela.

O “editorial”, pois, foi ruim porque se limitou àquela opinião vazia sem antes ouvir quem de direito do MPF, o que pretendia a instituição alcançar, seus motivos, etc.

E o MPF se defenderia em nota oficial inserida na internet.

Após acentuar que cumpria sua função constitucional, acentuaria:

“Assim, a campanha, antes de mais nada, pretende formar um consumidor que, atento ao mercado, busca separar os agentes econômicos, privilegiando aqueles que efetivamente se preocupam com uma produção correta, afastando assim a origem ilegal, quer pelo abate clandestino, quer por não ter dos fornecedores um compromisso pela não utilização de mão-de-obra escrava, lavagem de dinheiro e novas áreas desmatadas.”

Essa campanha, pelo que se constata até agora, não foi em frente, não houve a inserção daqueles vídeos de alerta contra a carne clandestina.

Coincidentemente houvera nos dias desses embates uma notícia que engrossaria a preocupação ambiental com a pecuária que repercutiria alertas do relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) que entre outras relevâncias apontaria:

“A produção agrícola consome 70% da água potável, 38% do uso da terra e 14% das emissões de gases-estufa”, segundo Achim Steiner, chefe do Pnuma.

E outro dado do relatório:

“Produtos de origem animal são impactantes porque mais da metade das plantações do mundo são usadas para alimentar animais, não pessoa”, informa o mesmo Steiner. (1)

Segundo o World Resource Institute, mais de um terço (37%) da produção mundial de cereais é desviado para a alimentação bovina.

E no consumo da carne há um dado que pode ser considerado novo: a China que consumia 13,7 kg de carne em 1980, hoje consome em média 59,5 kg por ano.

O gado bovino com a aumento da produção do produto carne, segundo esses relatórios é responsável por

(i) 18% das emissões de gases causadores do efeito estufa, segundo a FAO (mais que os transportes) ou 51%, segundo o World Watch Institute (mais que a geração de energia);

(ii) 8% do consumo de água e emanação de 37% do metano, que colabora para o aquecimento global 21% a mais que o CO2 emitido pelas atividades humanas;

(iii) Pela contaminação dos cursos d’água, devido principalmente à grande quantidade de dejetos produzidos pelos animais e descartados in natura em rios, aos antibióticos e hormônios usados na criação e substâncias químicas usadas nas monoculturas para a produção de ração. Como conseqüência, 64 % de toda amônia lançada na atmosfera e nos cursos de rios são de responsabilidade desta atividade o que contribui para o aumento de chuvas ácidas;

(iv) Pelo alto consumo de água para o processamento das carcaças. Segundo levantamento da CETESB/SP (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), os abatedouros paulistas utilizam, em média, 12 litros de água para processar a carcaça de um frango e 2.500 litros para a de um bovino (Para atender todas as necessidades humanas o consumo está estimado em 120 litros por dias). (2)

E por aí vai. Outros dados também preocupantes podem ser encontrados em breve pesquisa no Google. Claro que não é possível se imaginar a abstenção total da carne como alimento, mas esses elementos postos indicam que algo deve começar a ser mudado nesse mercado.

Dirão alguns: ora, se diminuído drasticamente o abate, não serão os 37% da produção agrícola empregados para a alimentação animal que suportarão a substituição da carne. Esse argumento pode até ter algum significado real mas na contrapartida há a devastação ambiental cruel e irresponsável que vem sendo perdoada ou tolerada porque no pasto recém formado se produz “alimento”. Autêntico vale-tudo. E se preciso, mudam-se as leis de proteção ambiental para alargar os pastos, diminuir a reserva legal...

Esse é um quadro que precisa mudar. É chegada a hora de ser estabelecido um ponto de equilíbrio, de planejamento rigoroso de tal ordem a impedir que o ambiente pague como vem pagando com graves consequências num futuro próximo e mais a frente para as futuras gerações, esse descalabro inconsequente e incentivado, vinculado ao dinheiro, ao lucro sem medir o custo que a devastação provoca à própria qualidade de vida.

Ah, sim, aos seus ofensores – e somos todos nós – a natureza se vinga, não é mesmo?

Ironias a parte, é esperar para ver as decorrências dessa política (anti) ambiental desastrosa, se já não estamos vendo.

Referências:

(1) Jornal “O Estado de São Paulo” de 03.06.2010

(2) Dados extraídos de artigo de Irineu R. G. de Andrade - engenheiro e ambientalista – publicado na internet. Título: “Relatório da ONU confirma que a pecuária é uma das grandes causas da poluição ambiental e do efeito estufa. Ou diminuímos o consumo de carne ou enfrentaremos um grave problema sócio-ecológico em breve”

domingo, 6 de junho de 2010

DILMA “LULA DA SILVA” x SERRA: Empate técnico

O que indicam as pesquisas Datafolha e Ibope fora dos porcentuais obtidos por cada candidato. A ascensão de Dilma – consequência da exposição de Lula na mídia nacional e internacional. Revelações de caderno especial do jornal “O Estado de São Paulo”. As chances de Serra.

A pesquisa Ibope ("Estado" e Globo) divulgado neste fim de semana, confirmando os números do Datafolha de há uma semana, foi um alívio para os partidários de Serra e para o PSDB.
Com efeito, a pesquisa Datafolha já anunciava crescimento além do esperado da candidata Dilma esperando-se que na próxima, que foi essa agora do Ibope ela já ultrapassasse Serra.
Dilma com esse crescimento de intenção de votos já desponta com alguma vantagem até pela exposição de seu padrinho na mídia e especialmente com o acordo do Irã e a imensa repercussão nacional e internacional que produziu, mesmo que tendendo ao fracasso Mas as imagens ficaram.
Não se pode, ademais, ignorar que Lula tem 75% de aprovação de seu governo.
Ora, por tudo isso, para um eleitorado humilde, o metalúrgico, “igual a ele”, só pode deslumbrar e, como decorrência, fortalecer a candidatura de Dilma “Lula da Silva”.
Nestes últimos dias, o presidente até se afastou dela, pela sequência de multas que vem recebendo pela campanha antecipada que vem ou vinha promovendo em prol de sua preferida.
Acresce a isso, mesmo que beirando a mediocridade, lideranças sindicais cerram fileiras contra Serra – “sujeito” que tiraria direitos dos trabalhadores - de modo a preservar sem riscos essa estrutura pelega que há décadas e décadas predomina no sindicalismo brasileiro que vive não só do imposto sindical sem esforço, correspondendo a um dia de salário de todos os trabalhadores que propicia amealhar valores vultosos de receita. Com Dilma, o “poder de reivindicação” desses pelegos pode até aumentar.
São, efetivamente, peças importantes apoiando Dilma.
Curiosamente, até mesmo Paulo Skaf, ex-presidente da FIESP, candidato nanico ao governo de São Paulo pelo PSB, critica direta ou indiretamente o ex-governador Serra, fazendo referência aos êxitos do SENAI – SESI no âmbito da educação – o que não acontecera no ensino estadual oficial, segundo ele – sem explicar que o sistema “S” amealha fortunas mensais recolhidas pelas empresas, limpas, baseadas num porcentual de contribuição aplicado sobre a folha de pagamento. Assim, essas entidades não fazem nada mais, mas nada mais mesmo do que sua obrigação elementar, esperada.
Com todos esses desafetos políticos, por isso, o PSDB e Serra terão muito que lutar para mudar essa tendência de crescimento da candidata do PT e evitarem mais uma derrota do partido que parecia remota há meses mas que agora se apresenta plenamente possível.
O jornal “O Estado de São Paulo” num caderno especial de 30.05.2010, informa que percorrera sua reportagem quase 13 mil quilômetros pelos mais variados pontos do País, e ouviu os mais variados segmentos sociais sobre a situação atual do Brasil e do seu governo. (1)
Nesse caderno, há queixas dos produtores rurais culpando o Governo pelas invasões de terras pelo MST, sobre a falta de preço mínimo para os produtos agrícolas. Há divergências sobre o melhor candidato presidencial: entre uma voz e outra, Dilma é rejeitada, havendo uma tendência pró Serra – “Conhecemos a peça muito bem. Foi guerrilheira. o passado dela não merece a confiança do setor, disse um produtor rural.
Em Marabá, no sul do Pará, há queixas com os impostos altos – “o governo tem de aprender a conviver com porcentagem menor de imposto e a devolver em serviços para o contribuinte, o que não tem acontecido” - e há quem afirme que o “Governo é falho na saúde, na educação e na corrupção”.
Mas, nessa “angústia eleitoral”, há aqueles que dizem que a vida melhorou com Lula como se dá com os lavradores do sertão da Paraíba. E por quê? Porque é um “Governo bom para os pobres”, pelo seguro safra que funcionou quando destruída pelas chuvas em hora errada, pequenos financiamentos na produção via PRONAF (2) – o crédito surge como importante elemento de apoio a Lula -, aumentos do salário mínimo que melhoraram as aposentadorias...”para os pobres ele (Lula) é muito bom”.
Na “caatinga”, Lula chega a ser definido como “o pai da Nação”.
Na opinião de um pintor na periferia de Curitiba: “Lula se imortalizou, caiu nas graças do povo com o Bolsa-Família. Ele fez pobre comer picanha. Depois de Getúlio, ele foi o cara”. Mas, também, possível eleitor de Serra, lembrando-se dele como ex-ministro da Saúde: “Só na área da saúde estão tapando o sol com a peneira. Na área da saúde ele (Serra) até que foi bom, introduziu os genéricos. E Lula deixou muito a desejar”.
Como esse último comentário, a bela reportagem deixa entrever que a despeito dos elogios a Lula, há ainda indecisão entre os entrevistados se votarão em sua candidata, num segmento que não se pensaria que tal se desse.
Com toda a imparcialidade que possa invocar neste comentário, depois da pesquisa Ibope deste domingo e dessa reportagem do jornal “O Estado”, tenho que Serra ainda tem um ambiente favorável para vencer as eleições.
Mas, ao contrário do que parecia há alguns meses, para que esse objetivo seja alcançado, há muito trabalho pela frente, a cada dia, a cada hora da campanha deflagrada. Até mesmo explicar insistentemente a origem do “bolsa-família” nesses rincões “perdidos” do País...
Porque do outro lado está ninguém menos que Dilma Lula da Silva.

Citações no texto:
(1) “A construção do voto” – Reportagem de Lourival Sant’Ana
(2) Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura.