domingo, 31 de março de 2013

31 DE MARÇO - 1° DE ABRIL: Dias do golpe contra João Goulart



Resolvi explanar de modo resumido sobre o golpe contra João Goulart em 1964 porque me parece que esse tema, que tem lá sua empolgação ainda não está de todo “resolvido”. Num recente documentário transmitido pelo Canal Discovery houve “apelos” para que o Brasil também libere arquivos sobre sua participação na “Operação Condor”, trágica, que foi aplicada contra os dissidentes que se opuseram aos regimes ditatoriais, na Argentina (daí “as mães da praça de Maio”), Bolívia, Paraguai e Chile.

A data precisa da deposição de João Goulart deu-se em 1° de abril de 1964 e não em 31 de março. Nesse dia precipitando o golpe, o Gal. Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, sediada em Juiz de Fora parte com suas tropas com destino ao Rio de Janeiro onde se encontrava João Goulart. 
Sem meios de reação, Jango parte para Brasília e no dia 1° de abril, deixa o governo, rumando para Porto Alegre.

Em 2 de abril, o presidente do Congresso Nacional, Auro de Moura Andrade declarou vaga a presidência da República, tomando posse o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli.

Bem, João Goulart desistiu da presidência e da resistência em 1° de abril e somente em 2 de abril foi formalizada a sua vacância.

E não se estranhe tal confusão de datas. O jornal “O Estado de São Paulo” de 02 de abril de 1964 num dos seus editoriais começa deste modo a sua análise:

“A grande vitória de ontem, conduzida pela mão segura do general Amauri Kruel a frente do II Exército, vem, como era inevitável, sendo interpretada das mais diversas maneiras. Para os que tendem a encarar os acontecimentos pelo seu lado superficial, ela surge como epílogo dos fatos que tiveram início na Semana Santa. Na realidade, porém, o significado do 1° de abril é muito mais profundo e complexo. Antes do mais, o triunfo alcançado está a dizer-nos que, finalmente, a democracia brasileira venceu a ditadura em cujas estruturas a nação vegetava.”

Em 1° de abril, a democracia brasileira venceu a ditadura... (!). Era uma vez o 1° de abril.
Mais tarde, o jornal, na "nova" democracia militar seria rigorosamente censurado.

Para trazer mais elementos “ao significado do 1° de abril, profundo e complexo”, mas sob a perspectiva da participação dos Estados Unidos no golpe, está em vias de estreia o documentário “Dia que durou 21 anos” de Camilo Tavares.
Na divulgação desse documentário são revelados novos documentos e informações obtidos nos arquivos americanos que ampliam a participação dos Estados Unidos no golpe.
Mas, se formos considerar indícios, eles são evidentes desde sempre. Na mesma edição do jornal “O Estado de São Paulo” de 02 de abril de 1964 num segundo editorial lá está assentado:

“Num recente documento, um relatório preparado para a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes o próprio Departamento de Estado norte-americano reconheceu que o Brasil se transformou no cenário principal da guerra fria na América Latina. (...) Aconteceu isso graças à irresponsabilidade e a cumplicidade criminosa do Sr. João Goulart...”

E mais a frente:

“A penetração comunista assumiu tais proporções, que os caudatários de Moscou nem se deram mais ao luxo de tentar esconder ou refrear seu júbilo diante da certeza da vitória final chegando o sr. Luiz Carlos Prestes, o “gaulettier” (espécie de líder local) de Kruchev no Brasil a reconhecer publicamente que seu melhor aliado era justamente o sr. João Goulart e que os comunistas já estavam no governo, mas não ainda no poder.”

Sobre essa declaração de Prestes, a saudosa deputada Ivete Vargas quando inquerida sobre quem dominava o movimento sindical à época de Jango, se ele próprio, a sua oposição dentro do PTB ou do PC, sustentou:

“Olhem, era tudo tão confuso e contraditório a briga dentro do movimento sindical era tão grande, que é muito difícil saber. Dou-lhes um exemplo. Um dia chego em casa, ligo a televisão e vejo que Luiz Carlos Prestes estava dando uma entrevista. Como não estava com vontade de ouvi-lo, mudei de canal. Também ele transmitia a entrevista. Mudei para outro canal e a mesma coisa. Aí minha curiosidade cresceu, pois Luiz Carlos Prestes numa cadeia de televisão era um fato digno de registro. Foi quando ele disse que os comunistas ainda não estavam no poder, mas já estavam no governo. No intervalo, a minha surpresa cresceu, porque o programa era patrocinado pela Willys Overland. Como veem, o governo Jango é cheio de mistérios e contradições.” (1)

Para quem não se lembra, fora a Willys Overland uma automobilística americana, adquirida pela Ford mais tarde que não se esgueirara em pagar espaço para o comunista Luiz Carlos Prestes.

Era clara a conspiração em andamento.

Qual o receio, inclusive dos americanos com interesses contrariados por políticas de Jango? Que o Brasil se transformasse numa grande Cuba na América Latina? Um satélite da União Soviética? Um regime comunista tipo chinês de Mao Tsé-Tung que arrasava, então, a China?

Quais forças dariam apoio a tal empreitada se o exercito se mobilizava na conspiração contra João Goulart e seus aliados?

Por via de dúvidas, os Estados Unidos, ressabiados com a crise dos mísseis (com ogivas nucleares) em Cuba instalados pela União Soviética apontados para a Flórida, em 1962 já se movimentavam em encaminhar forças para o país objetivando garantir o ‘status quo’ de sua área de influência na América do Sul, máxime pelo tamanho do Brasil.

E Goulart, mesmo com a gravidade real da crise dos mísseis não apoiou a ameaça americana de invadir Cuba para desmontar esse aparato soviético, na iminência de um conflito nuclear.

Penso de modo severo que se um dia algum biógrafo com tempo fizesse uma biografia do velho comunista Prestes constataria que se trata de uma figura desastrosa na “história” do Brasil, uma vida atrasada, infeliz que será uma ofensa até compará-lo a Dom Quixote, o herói de Miguel de Cervantes y Saavedra. Aliás, dado a incentivar condenações em tribunais de exceção, o “cavaleiro da desesperança”.

Claro que as impressões do jornal refletem o momento em que se deu o golpe – e não há outra palavra para qualificar a “renúncia” de Jango – a conspiração corria solta e a esquerda com cegueira crônica não percebia o que se dava, não nos bastidores, mas às claras.


No que se refere ao movimento sindical e o grevismo havia perante as forças armadas um forte grau de intolerância tanto que, em comunicado, o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general Castello Branco declararia ser uma ameaça “o desencadeamento em maior escala de agitações do ilegal poder do CGT.” [Comando Geral dos Trabalhadores].


Todas as agitações são conhecidas em especial a “Marcha da Família, com Deus pela Liberdade", havida em são Paulo no dia 19 de março protestando contras os rumos do governo, saindo da praça da República encerrando na praça da Sé. No trajeto a marcha foi sendo engrossada calculando que dela tenham participado 500 mil pessoas.



Meio fora da realidade, dissera Goulart sobre essa marcha: 

“Nas grandes passeatas os cartazes não eram dirigidos contra a pessoa do Presidente ou contra as reformas de base por ele preconizadas. Todos visavam a atingir o sentimento profundamente religioso do povo e mostrar o perigo iminente da tomada do poder pelos comunistas”. (2).

O jornal “O Estado” fez menção à mão segura do general Amauri Kruel na deflagração do golpe. Todavia, na véspera do seu início, à noite, o mesmo Amauri Kruel, ligou para Goulart comunicando que a sua permanência no governo ficava condicionada a ações suas no sentido de dissolver o CGT, prender seus principais líderes e ações no mesmo sentido contra a UNE. (3).

Goulart, lembrando suas origens, sempre ligado aos trabalhadores, recusou-se a executar quaisquer dessas medidas. Mas, Goulart, a esses dirigentes, pedia moderação, não sendo ouvido: “discutir métodos sim, recuar jamais.”

Manteve os anéis mas não os dedos...

O que sobra desse período empolgante, ocorrido há 49 anos, são estudos e interpretações de toda ordem, mas o que parece claro é que, salvo a propaganda que dava a falsa impressão da iminência da ascensão comunista ao poder, havia um presidente democrata indeciso, mal interpretado e mal tolerado, prejudicado por parte dos seus aliados intransigentes e míopes quanto ao momento político que se vivia então.

Mas, os arquivos, livros e filmes estão por aí, disponíveis, para prosseguir na interpretação daqueles dias.

Referências:

(1) Perdi a referência onde publicada a entrevista de Ivete Vargas, salvo engano no jornal “O Estado de São Paulo”. Esse trecho, porém, está transcrito no meu livro “Sindicalismo e Relações Trabalhistas”;
(2) Moniz Bandeira, obra citada na referência seguinte;
(3) Esse diálogo é citado nos livros de Moniz Bandeira (“O Governo João Goulart, As Lutas Sociais no Brasil (1961/1964”) e de Hércules Corrêa (“A Classe Operária e seu partido”). Quanto a este último, afirmou tê-lo ouvido, autorizado por Jango, numa extensão telefônica porque, naquele instante, se encontrava no Palácio das Laranjeiras.

Foto:

“Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, em São Paulo, repudiando o discurso de João Goulart de 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro quando anunciou as reformas de base, incluindo a reforma agrária.




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AOS INTERESSADOS NO TEMA VER / LER TAMBÉM ARTIGO CORRELATO: "JANGO: Vacilações e a deposição" DE 14.11.2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

LIÇÃO DE AMOR


Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu 
As pessoas que frequentam a igreja de Santa Maria Assunta em San Donaci, Itália, receberam uma lição de amor e lealdade de um cão nos últimos dois meses. Ciccio, um pastor alemão de 12 anos, cuja dona faleceu há dois meses, visita diariamente a igreja que ela frequentava e onde seu funeral foi celebrado, esperando pacientemente que ela volte.
Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu
Maria Margherita Lochi, 57 anos, adotou Ciccio um ano atrás depois que ele foi encontrado abandonado em um terreno baldio perto de sua casa. Ela era  amante dos animais e já havia adotado vários gatos e cães, mas sua ligação com Ciccio era especial. Aparentemente, ele sentia o mesmo, já que apesar da morte da dona há mais de dois meses, o cão continua a voltar para o lugar que a viu pela última vez.
Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu
Dona Maria ia todos os dias à missa na igreja local e o padre permitia a entrada de Ciccio que esperava pacientemente a seus pés. Ele também esteve lá com os entes queridos da Dona Maria em seu funeral. Mas agora Ciccio parece ter dificuldade para entender que ela não vai mais voltar e continua indo à missa todos os dias no mesmo horário, assim que ouve os sinos chamando os fiéis. Ciccio simplesmente se senta ao lado do altar, em silêncio, na esperança de ver Dona Maria chegar...
Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu
- "Ele está lá toda vez que eu celebro a missa e é muito bem comportado, não faz nenhum som, nenhum latido", diz o padre Donato Panna. "Ele vai a missa todos os dias, mesmo após o funeral da Dona Maria, ele espera pacientemente ao lado do altar e fica lá tranquilamente. Eu não tenho coragem de expulsá-lo."
Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu
Todos em San Donaci ficaram tão impressionados com a fidelidade de Ciccio, que em conjunto decidiram adotá-lo e cuidar dele.
Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu
Este tipo de fidelidade canina que faz o coração da gente doer, nunca deixam de me impressionar. como Capitán, que viveu no túmulo de seu dono por 6 anos, Leão, o cão que perdeu sua dona nos deslizamentos de terra no Rio, ou o cão russo que guardou o corpo de sua companheira por uma semana, depois que ela foi atingida por um carro. Histórias trágicas que fazem qualquer um amar ainda mais estas bolas de pelo que tanto amor nos dedicam..
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sábado, 9 de março de 2013

FRASES E IMPLICÂNCIAS


Desta vez, com frases e comentários curtos e também críticas - modo que não me valera antes -, explano sobre atualidades que vão desde frase de Dilma sobre as eleições, a morte de Hugo Chaves ao Calvin e ao pensamento do cachorro Otto do Recruta Zero.

• Frase solta de Dilma quando do lançamento de sua pré-candidatura: “Nós podemos brigar na eleição, nós podemos fazer o diabo quando é hora da eleição. Agora, quando a gente está no exercício do mandato, temos que respeitar o povo.”

Ah, sim, bem entendido, na hora da eleição o povo pode ser desrespeitado porque “podemos fazer o diabo”.

• O Ibope registrou numa pesquisa que 74% dos brasileiros querem que Renan Calheiros seja afastado ou se afaste da presidência do Senado.
O sujeito é quase uma unanimidade nacional. Trata-se daquela linha das mediocridades, muito comum no PMDB parasita que continuará escandalizando o país. Fosse um povo engajado e Renan sequer seria reeleito.

• Dilma e Lula opinam que Hugo Chaves deveria ter se tratado no Hospital Sírio Libanês em São Paulo e não em Cuba porque, segundo a notícia, os equipamentos hospitalares na Ilha dos Irmãos Castro estão sucateados...

• Hugo Chaves que amava a vida como demonstrava, recusou a oferta de se tratar no Sírio Libanês por vaidade e segundo os petistas, tomou uma decisão ideológica extemporânea ao não ser atendido numa série de exigências que fez para se internar naquele hospital  (controle de portaria e sigilo absoluto).

Tem cabimento um negócio desses? Nunca se saberá qual teria sido o resultado do tratamento em São Paulo mas o cara preferiu a vaidade e continuar empunhando mesmo doente, com metástase insidiosa, empunhando a bandeira bolivariana. Deveria ter agido como  José Alencar que “compartilhou” sua doença com o país  e ainda pedida orações.
Vaidade também mata.


• Mas, o maior castigo é o embalsamamento do seu corpo e nesse estado ficará exposto à visitação pública. O corpo deve voltar ao pó...que fique a memória, já o suficiente! Eu disse memória e não algo parecido com canonização.
O pior nessa história foi atribuir a doença aos americanos

• Maracanã está num estágio critico no cronograma da construção e pode ser utilizado (se utilizado!) na Copa das Confederações de modo precário. Nem com os milhões, bilhões dos cofres públicos...essa Copa, esses gastos, essa improvisação.
Essas assistência médica deficiente e humilhante oferecida aos torcedores. 
O secretário geral da FIFA, Jerome Valcke desistiu de ameaçar o país com um pontapé no traseiro pelos atrasos nas obras.  Pelo menos nos livra dessa. Agora, da humilhação ninguém nos livra... E estamos chegando lá.

• Saiu de graça a sentença aplicada ao goleiro Bruno, apenas 22 anos e 3 meses. Deverá ficar preso em regime fechado menos de quatro anos. Vejam que crime deplorável: a moça foi morta e seus restos arremessados aos cachorros.
O que mais terei que ver nestes tempos de violência sem limites entre o homo sapiens? O pior é que essas aberrações e desvios estão sendo recebidas como fatos rotineiros.  O mundo é um matadouro.

• Inclui-se nessa violência, mas poucos se dão conta, a devastação ambiental – digam que o clima não esquentou! - e a extrema violência contra os animais exigindo deles sacrifícios inimagináveis.

Calvin em Marte


Acho que tudo está interligado: tudo faz parte do todo. Em assim sendo tudo repercute no todo gerando essas aberrações.


• Implico com o Jornal da Band. Parece faltar alguma coisa. Crítica construtiva: a bonita apresentadora não tem uma voz lá muito afinada mas a coisa fica muito difícil de suportar quando ela faz aquelas entonações vocais ao encerrar um bloco: “Vamos ver, no próximo bloco do Jornal da Band!” E por aí vai. Tenta ser espontânea, mas não rola.
Como não suporto mais essas entonações o jeito é sintonizar o jornal do SBT. Ou até ir para a novela da Globo (confissão desavergonhada). O sair para um ar fresco. 
Duro fazer uma tal crítica
A Bandeirantes é assim. Ameaça mudar, mas não muda nada. Há “séculos”, nos tempos de eleição ela repete a mesma irritante vinheta musical até já regida pelo maestro João Carlos Martins... 

• Algo insano nos movimentos de protesto: a queima de pneus, gerando alta poluição num clima já carregado e quente.  Manifestantes que queimam pneus nos seus protestos deveriam ser presos ou pagar multas, pelo menos.
Na mesma proporção, invadir a avenida Paulista, atrapalhando a vida de milhares de pessoas que trabalham.

• Um diretor de agência sanitária russa afirmou que o leite produzido nos Estados Unidos faz crescer bigode em mulheres. Segundo o sanitarista que fez essa revelação, o fenômeno tem como causa a aplicação, nas vacas, do hormônio somatotropina, que produziria, nas mulheres “características sexuais masculinas, como bigode.”
Essa é uma notícia perdida no rodapé de um grande jornal. A propósito, as mulheres americanas exibem mesmo bigode?

• Guerras
A guerra civil na Síria prossegue e os mortos deixaram de ser contados nos meios de comunicação. As mortes se tornaram rotina: já se estimam em 70 mil. Agora a Coréia do Norte ameaça os Estados Unidos com uma bomba nuclear. Pode ser bravata do jovem ditador Kim Jong-un querendo impressionar seu povo sofrido e semiescravizado que inclui a Coréia do Sul em suas ameaças.
E se não for somente bravata e o sujeito der uma de valente, para valer, praticando traquinagens bélicas? Qual será o nível do revide?

• O pensamento do cachorro Otto











A charge de Hugo Chaves embalsamado foi extraída do jornal “Gazeta de Piracicaba” de 09.03.2013 

sexta-feira, 1 de março de 2013

CAMPANHAS PRESIDENCIAIS LANÇADAS: DILMA (PT) E AÉCIO NEVES (PSDB)



De como o PSDB nas campanhas presidenciais ignorou suas próprias conquistas havidas no governo FHC, aliando-se ao PT para apagar da memória do eleitor tudo o que herdara. Agora o PSDB “nada fez”... tudo é obra do PT. Aguentem os tucanos equivocados, sem bico e ‘vacilões’.

Não poucas vezes fiz críticas ao PSDB por ignorar nas várias campanhas, tudo que o partido havia conseguido no Governo FHC, principalmente José Serra que nas várias campanhas nas quais fora candidato realmente desprezou os êxitos do seu partido naquele período.

Foi um dos erros mais flagrantes do candidato derrotado e seus aliados porque fizeram o jogo do PT, qual seja o de apagar da memória dos brasileiros tudo o que fora conquistado nas duas gestões de FHC.


E agora, já avançando na próxima campanha presidencial, o PT insiste nessa tecla, a de que o PSDB nada fez, tudo é devido ao Lula – o “Lincoln do Brasil” - e a Dilma, chegando a presidente a dizer que quem cadastrou as famílias para receber o "bolsa família" foi o seu partido.

No projeto desenhado e herdado, lá foram as “forças do PT”, fazer a “construção”. 

E pior, no passado, duramente criticado por Lula num vídeo que circulou à exaustão nos meios de comunicação social.

Mas, passados os embates das eleições – com mais uma derrota normal de Serra e do PSDB – lembre-se que Dilma, no 80° aniversário de Fernando Henrique fez uma homenagem mui significativa ao ex-presidente tucano, na qual reconhecia os benefícios que recebera.

Transcrevo parte do artigo que escrevi em 20.06.2011:


Eis que, com efetiva surpresa a presidente Dilma – que já tratara FHC de modo diferenciado por ocasião da recepção a Barack Obama – remete a ele, por ocasião de seu aniversário, uma carta qualificada pelo próprio aniversariante como carinhosa.
“Em seus 80 anos há muitas características do senhor Fernando Henrique Cardoso a homenagear.
O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.
(...)
Esse espírito, no homem público, traduziu-se na crença do diálogo como força motriz da política e foi essencial para a consolidação da democracia brasileira em seus oito anos de mandato.
Fernando Henrique foi o primeiro presidente eleito desde Juscelino Kubitschek a dar posse a um sucessor oposicionista igualmente eleito.
Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas, justamente por isso, maior é minha admiração por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias.”

E esse relacionamento amistoso, de amabilidades vinha se mantendo até que em 02.09.2012, ao jornal “O Estado”, FHC fez duras críticas ao seu sucessor metalúrgico, começando assim seu artigo que teve forte repercussão. Trecho de abertura:

“A presidenta Dilma Rousseff recebeu uma herança pesada de seu antecessor. Obviamente, ninguém é responsável pela maré negativa da economia internacional, nem ela nem o antecessor. Mas há muito mais do que só o infortúnio dos ciclos do capitalismo.
Comecemos pelo mais óbvio: a crise moral. Nem bem completado um ano de governo e lá se foram oito ministros, sete dos quais por suspeitas de corrupção. Pode-se alegar que quem nomeia ministros deve saber o que faz. Sem dúvidas, mas há circunstâncias. No entanto, como o antecessor desempenhou papel eleitoral decisivo, seria difícil recusar de plano seus afilhados. Suspeitas, antes de se materializarem em indícios, são frágeis diante da obsessão por formar maiorias hegemônicas, enfermidade petista incurável.” 

A reação de Dilma foi imediata e tão contundente quanto. Saiu em defesa de seu chefe e padrinho agora tentando denegrir a gestão de FHC que antes havia elogiado.
É o jogo político.
Desconfio mesmo que FHC não esperava a reação tão dura de Dilma em defesa do ex-metalúrgico.

Recentemente, ao ser confirmada candidata à reeleição pelo seu padrinho, campanha antecipada à Presidência, mais uma vez Dilma afirmou para os petistas que nada recebera do governo tucano: “Nós construímos”.

Para rebater esse argumento, FHC de modo peremptório afirmou que Dilma fora “ingrata” e que “cospe no prato em que comeu”.

Ora, a campanha presidencial já foi lançada com Dilma e Aécio Neves, tudo indica, será o candidato do PSDB com o apoio de Fernando Henrique.

Se Fernando Henrique esperava aquele tratamento “carinhoso” de antes, logo após as eleições, “pode esquecer”.

Agora é o PT “autêntico”, o PT do mensalão, das manobras, dos dossiês, dos conchavos, que prestigia a ditadura cubana hostilizando de modo estúpido a blogueira, Yoani Sanches - que se opõe ao regime ditatorial de seu país. O partido que se “vende” ao PMDB, o mais parasita dos partidos dos últimos tempos.

Não espere, pois, o PSDB, atos de condescendência, de elegância na campanha que virá.

Aliás, a “guerra” já está lançada.

Se vacilar, perderá de novo as eleições presidenciais até porque quem se lembra do que fez o PSDB nas gestões FHC? Como disse linhas acima, José Serra e também Alckmin (“vacilões”) nas suas respectivas campanhas, fizeram questão de ignorar todas as conquistas daquele período fazendo favores ao PT que também se esforçava para tanto.

Agora é o momento da reconstrução, explicar ao povão tudo o que foi feito, tudo que conquistado pelo PSDB e como o PT disso se aproveitou e se aproveita.

Para encerrar, tenho dúvidas se Aécio é o melhor candidato embora pareça o único pelo prestígio que tem em Minas. Mas, seu estado não é o Brasil e precisa convencer em São Paulo.

Por outra, nunca vi a explosão de tanto desdém nos meios sociais de comunicação à figura e ao nome de Lula, agora se comparando a Lincoln  que não se inibe em externar timbres de megalomania.

Mas, não são os informados, os que pensam, que tem opinião que votam no PT, mas um outro Brasil.

Essa é a questão.

NOTAS:

1. Quando o desdém se torna escárnio. Lido na coluna de Sonia Racy no jornal “O Estado” de 1°.03.2013:
[“Penúria: Banheiros do Senado abertos a freqüentadores passam por problema sério: refil de sabonete líquido e papel higiênico têm sido sistematicamente roubados. Não deve ser por falta de bons exemplos na Casa...”]
Que cada um entenda como quiser. Eu sei como entendi...

2. Para não continuarem enrubescidos - a minoria, é claro -, os senadores e deputados “renunciaram” ao 14° e 15° salários. Que ninguém se convença da iniciativa. Há muito que fazer, aquelas Casas são o que há de mais abusado em termos de recursos públicos desperdiçados. E são muitos, parlamentares demais se feita comparação proporcional com o número de parlamentares no Congresso americano.


APÊNDICE


Creio que muitos dos meus amigos torcem o nariz quando entro com artigos políticos (refiro-me ao facebook). É que eu não consigo resistir, não consigo silenciar e sabem por quê? Porque será nesses “caras” que estão se apresentando que deveremos votar (ou não) e eles nos dirão quando eleitos para fazer isso ou aquilo. Mesmo os execrados pela opinião pública, tendem a ser reeleitos nas próximas eleições, caso de Sarney, Renan, Maluf, etc. Rejeito o modo de Lula agir politicamente. Aliás, eu o acompanho desde quando se iniciou na vida sindical (nas greves de 1978, eu estava na fábrica da Chrysler em Santo André). Por outra, vem causando interesse de pessoas não engajadas nos embates políticos, com a rejeição sistemática do PT e de Lula ao governo PSDB de FHC que o antecedeu.
Hoje (03.03), no jornal “O Estado”, FHC escreveu um artigo no qual afirma, entre outros, “doentia” essa comparação sistemática que faz o PT entre o governo petista e o governo tucano.
Esse desvio patológico do PT de Lula tem para mim uma explicação até simples: o PT com essa estratégia tenta negar, fazer esquecer que segue o modelo econômico de FHC, uma forma de autoconvencimento, que apenas aperfeiçoou os programas sociais iniciados pelo PSDB – que Lula tanto criticara antes – e, mais, já começa a fazer concessões à iniciativa privada como se dá na atividade aeroportuária.


Imagem from www.alexmedeiros.com.br