domingo, 17 de agosto de 2014

SÃO PAULO E A ESCASSEZ DA ÁGUA


Tenho por hábito, aos domingos caminhar pelo Parque da Rua do Porto – Piracicaba. Do outro lado da avenida, a Rua do Porto, ponto turístico - gastronômico e à direita o rio Piracicaba.




O Rio mostra suas entranhas, as pedras fazem seu fundo à mostra, o que eu jamais vira em 30 anos morando em Piracicaba.
Chego numa espécie de ancoradouro que, no passado recente no final do cimentado a água do rio por ali se limitava. Houve, bom que se lembre, há alguns anos enchentes de grande monta avançando sobre a rua do Porto metros acima causando grandes prejuízos aos comerciantes e sobre o Parque com aquela lama malcheirosa desanimando ou impedindo os caminhantes de fim de semana.




Mas, desta vez a água fétida está a cerca de 30 metros daquele ancoradouro. Vou a pé até as águas que restam. Um senhor idoso com 75 anos de idade, piracicabano, estacionou seu carro ali. Foi categórico: nunca em sua vida vira crise igual a esta no Rio, orgulho da cidade.  Aqui à direita uma poça de água parada "podre", certamente que um criadouro privilegiado de mosquitos da dengue. E os agentes de saúde esta semana estiveram no meu bairro a procura de latinhas e vasos com água armazenada, possíveis criadores do mosquito...


Do ponto de vista político, houve é há críticas ao Governador Geraldo Alckmin porque não teria investido o suficiente em novos reservatórios ou alternativas criativas para geração de água para o grande Estado de São Paulo e sua capital, a cidade mais importante do país.
Nesta época de campanha, ele deve ser reeleito. E espero que seja.
Essa crise da água haverá que ser, em seu novo mandato, um alerta, um desafio.
Ora, a chuva é a dádiva dos céus que enchem os reservatórios, avolumam os rios e tudo o mais.
E a chuva não veio e há meses se ora por ela.
Até que ponto, com tanta devastação e desvios ambientais que se assistem, as chuvas futuras encherão os reservatórios e em que limite suportarão o volume de água para abastecer a região metropolitana de São Paulo com destaque para a capital?
São Paulo é uma cidade que não para realmente de crescer. E isso não se constitui numa frase de orgulho para este 'antigo' paulistano.
É que, com tantos edifícios sendo construídos, exigindo água potável em grandes volumes e tratamento de esgoto correspondente, qual e quando será o próximo colapso?



Há, então, posta, uma advertência no ar.

Quais medidas serão necessárias daqui para o futuro?

Quaisquer que sejam os investimentos serão imensos.

Incluo a potabilidade do Rio Tietê em toda sua extensão.

Por outra, tomo como exemplo – porque há outros - a imensa usina de dessalinização de Israel. A tecnologia avançada lá está. Mas, o que realmente me desanima um pouco é que ela é movida por combustíveis fósseis, no caso o gás natural.
De natural, então, não há nada. Mas, a água potável que produz é elemento essencial para a vida.
Por aqui, exatamente pelos reservatórios vazios, as usinas termoelétricas são movidas a diesel. Quer coisa pior?

O discurso da oposição contra a falta d´água em São Paulo pode até ter alguma relevância porque até hoje só se acreditava na constância da chuva abundante que a tudo movia.
Mas, como disse, há posta uma advertência nessa crise grave.
E ela é assim tão expressiva que a hidrovia Tietê – Paraná está praticamente paralisada desde fevereiro, impedindo o transporte de grãos, causando grandes prejuízos aos produtores e à população porque o transporte por caminhões afeta o preço.
Fala-se em 2,5 milhões de toneladas de grãos que deixaram de ser transportadas por esse meio, pelo que exigem o concurso de 45 mil carretas nesse período já longo de estiagem que circulam pelas estradas de São Paulo e no caso das exportações da soja, até o porto de Santos, principal escoadouro desse grão.

Os jornais relatam crise dentro de agências do Governo Federal. A ANTAQ - Agência Nacional de Transportes Aquaviários acusou a ANA – Agência Nacional de Águas de ter sido omissa em garantir o uso da água para diferentes propósitos como abastecimento (primeiramente para consumo humano e animal), geração de energia e transporte de carga. Haveria, então, até agora, o prevalência da produção de energia sobre todo o resto.
Um desvio de prioridades.

As coisas estão mal aparadas como se vê. “Casa onde não tem água, todo mundo reclama e ninguém tem razão.”

Se as chuvas em profusão não vierem logo as coisas ficarão mais complicadas, algo como menos energia e mais bebedouros.
E mais conflitos oficiais. 
                        

Fotos

(1) Rua do Porto numa segunda-feira. Nos fins de semana ela se torna movimentada com turistas e locais apreciando os pratos oferecidos pelos vários restaurantes.
(2) Rua do Porto alegada.
(3) Imagem do Rio Piracicaba neste mês de agosto de 2014.