segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

ESSA QUESTÃO AMBIENTAL QUE PREOCUPA MUITO


Na questão ambiental, Bolsonaro revelou indisposição e críticas às atuais práticas de preservação.
De modo até temerário, certamente que por pressão de produtores rurais, aí fortemente incluídos os criadores de gado, ameaçou deixar o Acordo de Paris cuja proposta é a redução de emissões de dióxido de carbono (gases do efeito estufa) a partir de 2020, objetivando não elevar a temperatura global acima de 1,5% em relação à que prevalecia nos tempos pré-industriais.
Nessa linha de mudança radical no possível descaso ambiental artigo que aqui publiquei, fiz referência ao idoso general Oswaldo Ferreira que dissera que no tempo dele no tocante à devastação florestal, “não tinha MP e Ibama para encher o saco”.
Chamei-o de retrógrado, até porque a devastação se dera para “construir” a rodovia BR-163 que como tenente então, era muito feliz porque derrubava árvores à sua frente sem qualquer impugnação daqueles órgãos. (1)
E o pior é que a BR-163 tem trechos intransitáveis nas chuvas, um desastre.
Com pressões e estranhezas internacionais pela promessa de abandonar o acordo de Paris o governo voltou atrás, afirmando o novo ministro do Meio Ambiente que o país continuaria no referido acordo.
Então, estranhamente, o jornal “O Estado de São Paulo” (2) ao enaltecer o recuo do governo no tocante ao acordo, concluiu editorial assim,
O Brasil, nesse campo, é modelo de sustentabilidade ambiental. Tendo alcançado esse feito com muito esforço e investimentos seria um claro contrassenso que o Brasil denunciasse o acordo de Paris e se apresentasse à comunidade como inimigo do meio ambiente.”
 Surpreende que o jornal assim concluísse porque é em suas páginas que são divulgadas com regularidade graves violações ao meio ambiente principalmente desmatamentos implacáveis na Amazônia.
O que está escrito no plano até pode ser um modelo, mas não a prática cotidiana pelos flagrantes de degradação ambiental, entre madeireiros, pecuaristas e até carvoarias.
Um caso recente revelado pela Revista Consultor Jurídico (3) mas com “final feliz”:
A 1ª Vara da Subseção Judiciária de Tucuruí (PA) condenou pai e filho considerados desmatadores a pagarem R$ 12 milhões de indenização por danos ambientais e a recuperarem cerca de 760 hectares de área desmatada no Pará. Além da dupla, duas empresas das quais os réus eram sócios-ocultos também foram condenadas no processo a recompor o dano ambiental.
O fazendeiro foi, inclusive, flagrado explorando madeira ilegalmente no interior do projeto, sob proteção de homens armados. “
Espera-se que essas penalidades sejam mantidas e outras aplicadas nessas situações.
Essas penalidades não foram aplicadas pelo Ibama, mas pelo Judiciário, até porque o IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, segundo Bolsonaro, se excede na aplicação de multas, seria xiita”, pelo que “ele acabaria com essa festa”.
A despeito dos recuos, o que salta às vistas é o perigo agravado com o governo Bolsonaro.
A nova ministra da Agricultura, Tereza Cristina, defensora do agrotóxico e dos interesses dos pecuaristas e grandes produtores  - e que assumiu atribuição da FUNAI na administração de terras indígenas e quilombolas -, com o intuito de criar um “fato ambiental”, criticou a modelo Gisele Bündechen porque faria ela críticas à degradação sempre noticiadas.Disse a ministra que deveria ser ela, Gisele, embaixadora do país, para dizer “que seu País preserva, está na vanguarda do mundo na preservação, e não meter o pau no Brasil sem conhecimento de causa". (4)A modelo em sua resposta demonstrou não entender bem a referência ao seu nome e, claro, se estiver acompanhando o que se passa no seu país – e agora as ameaças de liberações de desmatamentos -, não poderia ser a embaixadora do Brasil nessa área.

Ora, até há pouco o Brasil ameaçara denunciar o acordo de Paris!
E há situações muito preocupantes: a presença de ex-deputado Valdir Colatto, nomeado diretor do Serviço Florestal Brasileiro, indivíduo defensor da caça de animais e crítico da reserva ambiental que deve ser mantida na propriedade rural. Do Cerrado, como se não houvesse degradação permanente nessa reserva, critica a preservação de sua extensa área:
Será que podemos nos dar ao luxo, por exemplo, de preservar 90 milhões de hectares do Cerrado, que hoje são terras férteis que podem produzir 
alimentos para o Brasil e para o mundo? Até quando? O que nós vamos fazer?” 
Em discurso já se valeu do velho argumento de que os outros países desmataram e agora querem preservar as matas brasileiras. Velho argumento para o aproveitamento dos maus exemplos do mundo.
Nessa linha de raciocínio acusa a Europa de ter cerca de 0,50% de matas preservadas, um vergonhoso equívoco do ex-deputado, porque dados idôneos revelam que a preservação florestal naquele continente alcança 42% (5)
Por outra, notícias recentes informam que Noruega proibiu em seu território a devastação de suas florestas – o Parlamento assumiu a missão de buscar fornecimento de produtos essenciais, incluindo a “carne” - porque proibiu a importação de produtos cuja produção resulte de devastação florestal nos países de origem. (6)
A Finlândia tem mais de 70% do seu território com cobertura vegetal preservada.
Então, o novo diretor do Serviço Florestal Brasileiro pode ser qualificado com a figura da raposa cuidando do galinheiro.
No governo Bolsonaro, pelas primeiras amostras, revelam contradições de quem cuida do quê e uma parte que deveria cuidar é hostil ao meio ambiente.
E esperar para ver as consequências dessas contradições.
Periodicamente, a imprensa trata como positivas notícias de que houve diminuição da derrubada florestal na Amazônia, mesmo sabendo que o que foi degradado, significa a soma de imensas áreas. O quadro anterior agora“diminuído”  fora muito maior, digamos, de 100%. Aí houve diminuição de 20%...
A pecuária, enquanto isso, abre grandes áreas de pastagens, deita a mata, degrada o solo, abusa de recursos naturais, incluindo a água para manter um rebanho imenso e, para o seu sustento, 1/3 da soja produzida que também avança sobre áreas florestais derrubadas.
Até aonde iremos com essas práticas tão devastadoras. Não há ameaças as gerações futuras sujeitas a um clima agravado pelo calor, a escassez de água, ampliação de áreas desertificadas?

Por isso, há um desafio permanente: recuperar as áreas degradadas pelo corte absurdo das árvores, pelas queimadas, pelo pasto imprestável e, obtido o reflorestamento, tornarem-se de preservação permanente.Claro que esse diretor do Serviço Florestal Brasileiro, pelos discursos que fez e posições que assumiu nesse tema tão árduo, não é a “autoridade” mais indicada para isso.
E isso veremos com o passar dos dias.
REFLORESTAMENTO NO CAMBOJA. VOLTA DAS CHUVAS
O noticioso de ONUBR traz informação importante dos efeitos ao clima após o reflorestamento de áreas devastadas pelas madeireiras e outras agentes predadores no Camboja. Com o reflorestamento as chuvas voltaram beneficiando a população ao redor do monte Kulen (7)
O destaque dessa notícia:
Na montanha de Kulen, no Camboja, um projeto apoiado pela ONU Meio Ambiente promove a restauração de ecossistemas devastados e auxilia aldeões a encontrar meios de subsistência sustentáveis, evitando a atividade madeireira. A recuperação da mata aumentou o volume de chuvas, antes abundante, mas reduzido em anos recentes por causa da perda de cobertura vegetal.”
Disse uma das moradoras:
As árvores grandes que estavam aqui atraíam a chuva. Quando elas foram embora, descobrimos que não tínhamos (mais) água e que nossa área estava secando”, conta a moradora Yuth Thy, de 46 anos.”
Deu-se mudança na própria educação nas escolas que passaram a ensinar as crianças a preservarem as florestas e um modo é o incentivo ao cultivo de mudas que se ampliou muito. Um modo a preservar as matas que trazem chuva!
Linhas finais
Este “relatório”, creio, condensa o momento atual da política duvidosa de preservação ambiental que considero em risco pelas últimas ações do governo Bolsonaro.
Mas, estarei sempre neste “espaço”, apontando os abusos e as contradições que se apresentem no tema “ambiente”.
Temos que sair lutando pela preservação da grande Amazônia e no particular plantando mudas onde der, em cada espaço.
Porque os recursos finitos que os meios naturais colocam à disposição, são tratados pela linguagem do dinheiro, mesmo que seja uma linguagem irresponsável.
Irresponsável porque esses recursos, se escassos, afetarão as futuras (próximas) gerações. Se já não afetam imensas áreas.
DISCURSO DE JAIR M. BOLSONARO NO FÓRUM EM DAVOS
No seu discurso de 22.01.2019 no Fórum Econômico Mundial em Davos, disse o presidente Bolsonaro sobre a preservação ambiental:

Brasil é quem mais preserva o meio ambiente”

"Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós. A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e à competência do produtor rural", destacando que menos de 20% do solo é dedicado à pecuária: "Essas commodities, em grande parte, garantem superávit em nossa balança comercial e alimentam boa parte do mundo."
"Nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis".
Essa foi parte do discurso. Por causa do tamanho das florestas é que há em seu governo defensores de sua drástica diminuição.
O discurso, de certo modo, foi dirigido ao que queria ouvir a comunidade internacional na questão ambiental, até pela sua ameaça inicial de renunciar ao acordo de Paris, posicionamento que pegou mal.
Fotos:
1ª foto: Cerrado calcinado
2ª foto: Amazônia em chamas
Referências:
(1) Neste blog, inserção do dia 12.10.2018 (“O General retrógrado. O derrubador de árvores”)
(2) Edição de 16.01.2019
(3) Edição de 13.01.2019
(4) Jornal o Estado de 14.01.2019
(5) G1 – Globo de 17.01.2019
(6) Veja de 09.06.2016
(7) Edição de 10.01.2019