segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

VARIAÇÕES SOBRE “A VERDADE”

A “comissão da verdade” parece ser colocada em segundo plano, prevalecendo, na Secr. dos Direitos Humanos com a Min. Maria do Rosário atenção, entre outros, ao direito das crianças e adolescentes. Tanto melhor que assim seja!


Por ocasião da última versão do Plano Nacional de Direitos Humanos - 3 fiz duras críticas à tentativa de “rever”, intenção contida nas suas linhas gerais, a Lei da Anistia com o objetivo de apontar os torturadores naqueles tempos em que atuaram grupos de ativistas, eufemismo adotado hoje para “grupos terroristas”. Tão ativos que alimentaram a “linha dura” do poder militar e, nesse diapasão, postergando ações inteligentes que poderiam antecipar a abertura política. Como dizia o Brizola, embora a derramasse naqueles idos, tomando a sopa pelas bordas.

Num daqueles besteiróis que assola o país – que no conjunto do tal Plano nem Lula e nem sua Ministra-candidata, então, leram, embora assinassem – falou-se numa “comissão da verdade” cujo objetivo seria trazer ao conhecimento público todas as violências praticadas nos porões do poder militar, da ditadura.

Claro que esses abusos são conhecidos. Qualquer principiante, se se dispuser à pesquisa, encontrará material suficiente para apontar o dedo em riste para os culpados, hoje velhos militares de segundo escalão, deslumbrados e sem controle, então, que praticaram tais atos. Devem estar hoje fazendo revisão de consciência porque com a idade os dias para o passamento se abreviam.

Infelizes, pensaram que eram imortais.

Claro que esta “comissão da verdade” causou espanto porque a Lei da Anistia beneficiara não só os...”ativistas” como os torturadores. Depois dela, salvo esses “doutrinadores” liberados pelo governo Lula – cujo “governo” demorou para se encerrar e felizmente já se encerrou embora seus áulicos ainda lhe façam mesuras – de um modo geral, salvo em foros específicos, ninguém mais estava interessado naquilo, naquela “verdade”. Até mesmo muitos dos torturados. Ademais, membros da guerrilha elegeram-se políticos, destacados, até mesmo a presidente Dilma.

A roda do tempo girou.

O tal plano foi amenizado até porque a “verdade”, na espécie, tem duas faces: a dos torturados e a das suas vítimas por conta dos seus atos. Então com a saída de Lula e prestando atenção no discurso de posse da presidente (a) Dilma esperava-se que essa tolice fosse de vez arquivada.

Com surpresa, certamente que para fazer média com o secretário de direitos humanos que saía, Paulo Vannucci, para não constrangê-lo, a nova Secretária Maria do Rosário que assumia, em seu discurso anunciara que se empenharia em revelar “a verdade” pelas “graves violações dos direitos humanos com vista a não repetição do ocorrido”.

Horas antes, sintomaticamente, o terrorista italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália sob acusação de assassinatos, recebera de Lula refúgio no Brasil, numa decisão de última hora, oportunista, mediocre – causando perplexidade não só naquele país como por aqui. Esses “doutrinadores” que sopravam nos ouvidos de Lula e que estão por aí no Governo, subestimaram o processo legal da Itália e fizeram de vítima o terrorista. É mais ou menos a mentalidade em relação ao que se prega com essa “comissão da verdade” na sua versão original.

Mas, agora, recente a Secretária dos Direitos Humanos, afinou o seu discurso e se volta para questões mais nobres, desesperadoras no território brasileiro, que é o direito das crianças e adolescentes, esquecidos em abrigos, semi-abandonados ou totalmente abandonados:

“Os abrigos não são, com toda certeza, os melhores para eles. Não há uma criança, uma sequer, que, nos dias de visita, não se pergunte se um dia terá também a sua família. É um direito delas.” (1)

Que bom que uma Secretaria com nível de Ministério se aplique a tanto, uma forma de minimizar a vergonha que a todos nós atinge!

No que se refere à comissão da verdade ela prosseguirá, atribuindo-se a tarefa ao deputado derrotado em São Paulo José Genoino que foi membro da luta armada na guerrilha do Araguaia. O ex-deputado passará a trabalhar no Ministério da Defesa e negociará com o Congresso essa comissão.

Mas, a Secretária Maria do Rosário ameniza o objetivo da tal comissão:

“Vamos procurar respostas para as famílias, que desejem saber o que aconteceu com seus parentes e onde estão seus restos mortais. A ênfase é na revelação da verdade, não a punição”. (1)

Quanto a José Genoino, haveria também que buscar a verdade em eventos graves mais recentes. O mensalão, dinheiro na cueca e quejandos...

(1) Jornal “O Estado de São Paulo” de 16.01.2011

Foto: Agência Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário