O que faz o futebol no psiquismo do
torcedor, seja fanático, seja moderado? A diferença de ser corintiano: os
deuses do futebol baixam no coletivo da fiel e favorecem a vitória.
Já não é de hoje que reflito muito
sobre esse fenômeno do futebol. Palmeirense desde sempre, nas quartas e
domingos, principalmente nessa fase última que resultou no rebaixamento do
grande Palmeiras para a segunda divisão do brasileirão, nesses dias,
aproximando-se a hora do jogo, minha serenidade ia, na melhor das expressões,
“para o espaço”.
Não tinha coragem de assistir ou
ouvir o jogo. Na certeza da ocorrência do seu término pelo horário, procurava
então saber do resultado para sofrer menos.
O que se passa comigo, com um simples
jogo de futebol no qual meu time tenta boa sorte?
Que deuses são esses que me (nos) “infernizam”,
me (nos) “angustiam”? Os deuses são fictícios, alimentados por nós todos e a religião
é vazia, não tem catecismos, não tem liturgia, não tem oração, santos.
Se torcedores fanáticos quiserem se
ajoelhar pedindo ajuda divina para o seu clube, haverão que buscar igrejas e
templos reais. Não apelam para os deuses do futebol, não apelam para a ‘religião’,
que não existe, é vazia. Imploram para o seu santo que assumiram como protetor.
Lá está a imagem no altar.
Então, eu me pergunto qual o efeito
de uma bola chutada para cá e para lá e a explosão interior quando ultrapassa
as linhas da trave? O que se dá nesse momento no psiquismo do torcedor? A decepção real quando o seu time perde um gol feito? Quando o seu melhor jogador
perde um pênalti?
A verdade é que eu também, por mais
que me esforce, não consigo me libertar desses deuses e me afastar da "religião
verde", que considero um “estado de espírito”.
Mas, acabado o jogo, resultado favorável ou não estou
liberto desses invasores “espirituais”, desses deuses que atormentam, às vezes violentos, demoníacos.
Sim, já superei a dor de cotovelos
pelos êxitos corintianos. Afinal, o Corinthians volta cheio de glórias e o
Palmeiras – mesmo com a sua torcida também leal e “furiosa” -, vacilante como
nunca, disputará a segunda divisão, sem uma perspectiva, em médio prazo, de dar
a volta por cima, como fez o seu maior rival.
Não há como pedir milagres aos deuses
do futebol. Eles não ouvem.
Esses deuses se materializam e se
fortalecem quando uma massa corintiana, a fiel, invade um país tão distante
como o Japão e, além de dominar a cidade e o estádio, não se envergonham em vibrar
a sem se constrangerem, ostentam uma faixa com estes dizeres: “The favela is
here”.
Como sobreviverão a partir da
quarta-feira, quando o grito “é campeão” deixar de revolver o espírito e os
deuses forem embora o que farão para superar seus compromissos assumidos com a
viagem, vivendo na mesma modesta moradia? Os deuses não ajudam, só baixam quando
chamados e a religião do futebol é vazia, já disse.
Há pouco, num artigo de natureza
política, criticando com veemência o Senado Federal que por decisão do seu
presidente de sempre, José Sarney, transferira aos contribuintes o imposto de
renda devido pelos senadores, inseria este trecho:
‘Eu não
suporto a frase “de que cada povo tem o governo que merece”. O que se verifica
é que o brasileiro é ainda muito alienado, baixa educação, faz do futebol
espécie de causa de vida.
Muitos
são os que alegam que é um modo de suportar a dureza de serem brasileiros...
Pode até
ser, mas seria melhor que esses brasileiros torcessem menos pelo Corinthians,
chorasse menos a torcida do Palmeiras e começassem a torcer pelo país, enchendo
estádios com protestos contra a corrupção, contra a imoralidade e contra atos
acintosos como esse de agora praticado pelo Senado Federal’. (1).
Estava com essas reflexões quando me ocorreu
que esses deuses do futebol influenciam o mundo todo, até mesmo naqueles países
de 1° mundo onde não há desdentados, analfabetos e favelados.
Os deuses estão soltos por aí e baixam quando a bola rola. A “religião” é uma questão de
fé, de fé na bola uns com mais outros com menos fé.
Referência:
(1) "Enquanto o povão "folgueia" o Senado dele subtrai" de 20.11.2012 neste portal.
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