O banimento da propaganda do cigarro dos meios de comunicação, porque vício e prejudicial à saúde. O aumento do consumo do álcool entre os adolescentes. Prejuízos à saúde. Incentivo ao consumo de outras drogas. A semelhança da propaganda dos cigarros e da bebida
O cigarro tornou-se vício anti-social, porque vício. As recentes leis estaduais proíbem o fumo em ambientes fechados e restaurantes, determinação que coloca os fumantes em situação difícil, porque para obter a “satisfação” do cigarro devem se afastar do ambiente onde se encontram.
Todos se lembram a maneira insistente que, por meio da publicidade, impôs a indústria do cigarro o vício a praticamente todas as faixas sociais: “venham para as terras de Marlboro”, “Mistura fina, um cigarro que não irrita”...
A propaganda foi banida dos meios de comunicação porque, sabidamente, o tabaco é uma questão de saúde pública.
Infelizmente, a despeito dessa realidade, o Superior Tribunal de Justiça, nas ações indenizatórias propostas por fumantes prejudicados pelo vício e pela propaganda enganosa do passado, tem entendido, para sintetizar, que fumar é ato do “livre-arbítrio”. E com esse entendimento não tem acolhido tais ações.
Há uma decisão da 4ª Turma desse Tribunal que explana do seguinte modo esse “livre-arbítrio”:
“...o cigarro é um produto de “periculosidade inerente, cujo consumo se dá por decisão exclusiva do consumidor e que no âmbito da responsabilidade civil não se pode estabelecer o nexo causal com base em presunção, ou seja, com fundamento em dados estatísticos”. Em relação à propaganda considerada enganosa pelos consumidores, os ministros consideraram que a sua veiculação não interfere no livre arbítrio dos consumidores, que podem optar ou não por fumar.” (1)
Faço essa explanação, apresentando uma tendência para o denominado “livre-arbítrio” do vício do cigarro, para adentrar na milionária mercado da bebida alcoólica, a cerveja, em especial. Autêntica guerra da cerveja se dá na publicidade, na qual uma quer se sobrepor à outra em bobagens e apelações: é jogador da seleção brasileira, é mulher bonita com trajes sumários...
O álcool inegavelmente traz dependência e afeta a saúde do alcoólatra e, mais, pela propaganda aberta motiva os jovens ao consumo da cerveja da maneira desregrada.
Para dar um disfarce que nada prejudica o incentivo à bebida, ao final da propaganda exacerbada vem aquela frase rápida: “se for dirigir não beba”, “beba com moderação”.
Como beber com moderação com tal propaganda que lembra muito “o mundo de Marlboro”? Por isso, o consumo de bebida vem crescendo.
Ademais, pesquisa da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) com 18 mil universitários do País revelou que “eles usam mais drogas lícitas e ilícitas, como o álcool e a maconha, do que a população em geral”.
Nesse passo:
“Mais de 60% dos entrevistados tinham consumido álcool nos últimos 30 dias (entre a população em geral o índice é de 38,3%) e 25,59%, drogas ilícitas (na população o índice é de 4,5%” (2).
Numa reportagem recente da TV Record apresentando os excessos numa festa “rave” - do inglês: “delírio”, “acesso de cólera”, “festa louca e animada” - (3) jovens entrevistados vangloriavam-se de, em dois dias, não terem nada consumido de alimentos, se sustentando apenas com cerveja. Nesses “embalos” rolavam também outras drogas e, pior, não havia restrição à idade o que pode significar que naquele “delírio musical”, havia menores de 18 anos, de 16 anos. Diversos deles, ainda sob os efeitos do álcool, admitiam que iriam dirigir “normalmente”.
Do ponto de vista psiquiátrico, o álcool tende a levar o paciente ao consumo de outras drogas, como explica estudo a respeito, do qual transcrevemos o longo trecho abaixo necessário para a perfeita compreensão do tema e que explana sobre os efeitos do consumo na adolescência:
“O consumo de álcool na adolescência também está associado a uma série de prejuízos acadêmicos. Esses podem decorrer do déficit de memória: adolescentes com dependência de álcool apresentam mais dificuldade em recordar palavras e desenhos geométricos simples após um intervalo de 10 minutos, em comparação a adolescentes sem dependência alcoólica. Sabendo-se que a memória é função fundamental no processo de aprendizagem e que esta se altera com o consumo de álcool, é natural que este também comprometa o processo de aprendizagem. A queda no rendimento escolar, por sua vez, pode diminuir a auto-estima do jovem, o que representa um conhecido fator de risco para maior envolvimento com experimentação, consumo e abuso de substâncias psicoativas. Assim, a conseqüência do uso abusivo de álcool para o adolescente poderia levá-lo a aumentar o consumo em uma cadeia de retroalimentação, ao invés de motivá-lo a diminuir ou interromper o uso.” (4).
Há que considerar que o alcoólatra é desagregador no seio da família, não talvez no nível do consumidor de drogas pesadas (cocaína, craque), mas muitas vezes aguça a violência doméstica e pode se dar a omissão no acompanhamento educacional dos filhos, quando não se torna um empecilho traumático para sua formação.
Embora se saiba que a indústria da cerveja movimente milhões de dólares, havendo então interesses econômicos fortes na sua produção, podendo ser alegado até os milhares de empregos que garante - a realidade é que é chegada a hora de limitar a divulgação do produto que tem se dado, a par de ostensivo em demasia, até de modo enganoso, incutindo a idéia de valentia com protagoniza jogador da seleção brasileira nestes dias de Copa do Mundo.
Isso é necessário como ponto de partida para desincentivar o consumo do álcool de tal ordem a evitar que outras drogas passem a ser consumidas a partir dele.
Referências:
(1) “Consultor Jurídico” de 25.05.2010
(2) Jornal “O Estado de São Paulo” de 23.06.2010
(3) Dicionário Michaelis (Melhoramentos)
(4) “Uso de álcool entre adolescentes: conceitos, características epidemiológicas e fatores etiopatogênicos”. Autores: Flavio Pechansky, Claudia Maciel Szobot e Sandra Scivoletto (Rev. Bras. Psiquiatria - vol.26 suppl.1 - São Paulo, May 2004)
Imagem: Diversas fontes via Google Imagem
"Isso é necessário como ponto de partida para desincentivar o consumo do álcool de tal ordem a evitar que outras drogas passem a ser consumidas a partir dele."
ResponderExcluirDiria, Milton, ... que outras pessoas possam ser consumidas...
Abração.