Foi uma surpresa a renúncia do papa Bento XVI?
Talvez nem seja tanto.
Há no seio da Igreja questões profundas, principalmente a eclosão, como se
uma bomba fosse com estilhaços violentos espalhados pelo mundo, dos escândalos
de pedofilia acobertados por muito tempo pelas altas hierarquias da religião.
Um dia teria que eclodir e eclodiu sob o papado de Bento XVI.
Seria pecado perguntar se teria o papa João Paulo II, sido poupado de responder a tais
escândalos ou por omissão?
A Igreja católica é cheia de reservas e mistérios.
Mas, pelas frestas das janelas do Vaticano, o papa Bento XVI deixa
escapar suas mágoas. Não só a renúncia pela idade e pela sua fragilidade
física.
Referiu-se à “hipocrisia religiosa” e que a “divisão do clero” e a
“falta de unidade”, “desfiguram a igreja.” E mais, haveria uma
“instrumentalização de Deus para obter “prestígio pessoal e poder.”
É pouco? Não, não é, logo para uma igreja que se proclama a maior
representante do cristianismo, desde sua origem, aliás, “bem-aventurados os
pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Sermão
- Mateus, 05-09)
O papa revelara no âmago da imensa instituição religiosa a presença da vaidade
sob a batina cardinalícia? Não se duvide.
Mas, a par desse tremor, mais um, na estrutura do catolicismo, lá fora,
no mundo, que não anda bem, um sobressalto à pacificação almejada: a Coréia do
Norte informa que faria mais um teste nuclear.
Um país atrasado se apresenta ao mundo com o que há de pior para
justificar um regime político de opressão e ignorância, que faz “chorar” e obter “aplausos”
do seu povo às suas mazelas, mostra seus dentes de aço daqueles que andam pelas
sombras empunhando suas espadas sem razões. As "razões" seriam a retaliação do
lado ocidental que a pune por esses excessos bélicos. Reação quixotesca, demonstração
de força por falta do que mostrar.
Sim, as grandes potências fizeram dezenas de experiências nucleares, mas
a atitude da Coréia do Norte é, efetivamente, menos que uma provocação, uma postura
extemporânea num mundo já tenso demais.
Assim, a repensar a coincidência da renúncia do papa e a insistência
bélica no mundo com conflitos e agressões gratuitas de radicais.
A voz do papa se tornara inaudível nas janelas do Vaticano diante desse
mundo tão contraditório, tão complexo e tão perigoso: aumento da população,
fome, indiferença, violência crescente, armas cada vez mais mortíferas,
terrorismo, guerras, intolerância religiosa, conflitos de toda ordem.
A isso, para a religião católica, afrontada pela expansão do casamento
homossexual, liberação, aos poucos, do aborto, e questionamentos ao celibato -
não seria este uma das causas da pedofilia vergonhosa no seu âmago?
O mundo em que vivemos é um grande matadouro.
A vida na Terra, quantas vezes disse, não se caracteriza pelo
equilíbrio, pela convivência entre indivíduos com certo padrão de conduta e consciência.
Não. Aqui sobrevivem todas as escalas humanas, do sábio ao pior pervertido.
Parece que este nosso pequeno mundo precisa mesmo de uma reforma geral –
não só o catolicismo como proclamou o papa renunciante, embora nada fizesse
para isso - começar de novo.
Charge extraída do diário piracicabano “Gazeta de
Piracicaba” de 14.02.2013 talvez um pouco rigorosa mas que reflete, por tudo o
que se divulgou até agora, um sentimento de muitos.
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