Barroso foi explícito demais.
Este é o meu canto de explanações. Rejeitei e rejeito Bolsonaro mas não sou lulista. Se o fosse, penso, me equivaleria à insanidade incorrigível do bolsonarismo incapaz de raciocinar, não se resigna à "auto crítica" de tudo que de ruim o governo recém derrotado deixou.
Já tanto foi dito sobre isso, que sintetizo: "onde ele mexeu ou piorou ou deteriorou".
Dou uma referência: ouvi com atenção o discurso eleitoral dele na comemorações do bicentenário da independência no dia 7 de setembro passado.
O que disse ele? Além daquelas frases bem a gosto dos evangélicos — nem todo com um mínimo de compreensão superior ao significado dos Evangelhos e de pastores e impostores — tais como o de acreditar em Deus, defender a família, "o povo está do lado do bem" fez das suas ao se proclamar "imbrochável" depois de beijar a esposa.
Até a festa que seria uma comemoração virou um lamentável apelo eleitoral.
Perdeu as eleições — o que parecia impossível — pelo tanto que investira, então não só ele como a esposa se afastaram daqueles arroubos de "fé" conduzidos pelos "evangélicos" áulicos à sua volta que o haviam eleito "o ungido".
De tudo o que deixara, seus abusos, seus baixo calão, tudo o que vai se revelando ainda, eis que em fevereiro último, o ministro Gilmar Mendes, de quem pouco aprecio nas suas atitudes no tribunal disse algo sintomático, isso em fevereiro último, antes de participar em Lisboa da Lide Brazil Conference:
"... o Brasil está voltando à normalidade depois de ter sido “governado por gente de porão.”
Esse ministro como a maioria do STF, tudo indica no silêncio dos julgamentos reconhece o descalabro bolsonarista, a ponto de, num dos seus abusos mis veementes, ser julgado inelegível até 2030 pelo STE.
Então, o ministro Luiz Roberto Barroso, expondo esse sentimento do alivio sem Bolsonaro no dia a dia político, ao ser vaiado por uma minoria em congresso da velha UNE no dia 12 último não se conteve:
"Eu saio daqui com a energia renovada. Pela concordância e pela discordância. Porque essa é a democracia que nós conquistamos. Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo, para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas".
Ministro do STF falando que "nós derrotamos o bolsonarismo"? Explícito demais.
Claro que esse é um sentimento de quem tem um mínimo de discernimento e reconhece os quatro anos de desgoverno bolsonarista.
Mas, como membro julgador do STF, o estrago estava feito. Então a frágil explicação:
"Na data de ontem, em Congresso da União Nacional dos Estudantes, utilizei a expressão “Derrotamos o Bolsonarismo”, quando na verdade me referia ao extremismo golpista e violento que se manifestou no 8 de janeiro e que corresponde a uma minoria. Jamais pretendi ofender os 58 milhões de eleitores do ex-Presidente nem criticar uma visão de mundo conservadora e democrática, que é perfeitamente legítima. Tenho o maior respeito por todos os eleitores e por todos os políticos democratas, sejam eles conservadores, liberais ou progressistas."
Os eventos estavam assim aparados quando veio a notícia de que bolsonaristas extremados e normalmente acéfalos, agrediram no dia 14, no aeroporto de Roma, o ministro Alexandre de Moraes ("bandido, comunista, comprado") e com ato de violência o filho dele.
Claro que as hostilidades são compreensíveis porque partiram de bolsonaristas normalmente desqualificados que responderão pelos seus excessos.
Mas, quero registrar meu ponto de vista: foi o ministro Alexandre de Moraes quem segurou a sanha golpista do bolsonarista radical e acéfalo. Acho que o país democrático deve a ele muito da volta da normalidade e da rejeição aos agentes do porão.
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