O ódio contra os
americanos, por suas intervenções logísticas e armadas no mundo muçulmano. O
Alcorão prega a violência? Os islâmicos que interpretam versículos do seu livro
sagrado “para objetivos particulares”
Estabelece-se um consenso a propósito da
fúria muçulmana contra instituições americanas em países do Oriente Médio e
norte da África.
Havia a chama acesa e o pavio do
explosivo pronto a incendiar a qualquer momento contra diversas intervenções,
interferências americanas ou sua influência em vários desses países. O pavio foi aceso com a divulgação na internet
de um filminho de quinta categoria, amador ("Inocência dos Muçulmanos"), produzido nos Estados Unidos, no
qual é ridicularizado o profeta Maomé, o guia espiritual supremo dos
muçulmanos.
Há, ainda, feridas não cicatrizadas, apenas
para lembrar, dos resultados danosos na intervenção americana no Iraque e no
Afeganistão e, claro, influência logística e política nos vários países que
vivem a “primavera árabe”, particularmente na Líbia onde seu ditador Muammar
Kadafi foi morto sofrendo sevícias e torturas. (1)
E eis que como um troco aos ataques de
11 de setembro em Nova York pela rede Al Qaeda, a operação militar no
Paquistão, que resultou na morte de Osama Bin Laden comemorada com estardalhaço
pelos Estados Unidos.
Repercute, também, a pressão americana sobre
o Irã e o seu ainda não provado projeto de obtenção de arma nuclear.
Há, pois, esse clima de ódio contra os
americanos em toda aquela região, países que a par de repudiar as
intervenções, rejeitam a cultura ocidental ou o seu (o nosso) modo de vida, dos
quais os Estados Unidos são os principais atores e exportadores.
Bastou, então, a divulgação daquele vídeo medíocre
para que a revolta e a agressão se voltassem contra embaixadas e próprios
americanos em alguns desses países. Na Líbia, foi morto o embaixador americano
e outros funcionários da embaixada. (2)
Pouca adianta a secretária Hilary
Clayton sair a público para afirmar que o seu país preserva a liberdade de
expressão. Pouco resolve. Há uma massa muçulmana que rejeita qualquer expressão
que não seja a sua, ainda que, para isso, precise distorcer ou mal interpretar mandamentos
do Alcorão.
Esses os fatos.
E todos nós, ao ver essas manifestações
graves por tão descabida causa nos preocupamos. Afinal, a que ponto podem
chegar esses radicais no dia-a-dia, nos aeroportos, nas viagens, nos locais
públicos com a prática de atos terroristas violentos, “sem olhar cara ou
coração”?
Diante disso tudo achei necessário dar
uma lida em itens do Alcorão e assim fiz.
Mas, a melhor discussão se dá a partir
duma pergunta à Sociedade Beneficente Muçulmana. A pergunta resumida:
Espero que os estudiosos me tirem da confusão em
que me encontro desde os acontecimentos de 11 de setembro, principalmente no
que diz respeito a alguns versículos alcorânicos. Esses versículos contradizem
inteiramente o que os muçulmanos dizem a respeito de sua religião, que é uma
religião de paz que condena a violência. Como os senhores interpretariam um
versículo que diz "Matai-os onde quer que os encontreis"? (al-Bacara
191) e ..."Mas, se se rebelarem, capturai-os então, matai-os, onde quer
que os acheis, e não tomeis a nenhum deles por amigo ou socorredor."?
(an-Nisá 89). Muito apreciaria uma
resposta rápida.
A resposta
foi dada pelo Dr. Muzammil H. Siddiqi, diretor da
Sociedade Islâmica do Condado de Orange, e presidente da Sociedade da América
do Norte:
"Agradeço as palavras gentis de que você não
odeia os muçulmanos. O ódio não é bom para ninguém. Quero assegurar que nós
muçulmanos também não odiamos os não muçulmanos, sejam cristãos, judeus,
hindus, budistas ou seguidores de qualquer outra religião, ou que não tenham
religião. Nossa religião não permite a morte de qualquer pessoa inocente,
qualquer que seja sua religião. A vida de todos os seres humanos é santificada,
de acordo com os ensinamentos do Alcorão e a orientação de nosso abençoado
Profeta Mohammad, que a paz esteja com ele e com todos os profetas e
mensageiros de Allah.”
No
que concerne aos trechos contidos na pergunta acima, diz o consultado, o
seguinte, em resumo:
“De acordo com Alcorão, matar uma pessoa sem
justa causa é um grande pecado, como se matasse toda a humanidade, assim como
salvar a vida de uma pessoa é uma boa ação que corresponde a salvar toda a
humanidade (ver al-Máida 32).”
E depois
transcrevendo todos os textos na íntegra dos versículos mencionados na
pergunta, ele pondera:
“Agora, diga-me honestamente, estes versículos dão
permissão para se matar livremente qualquer um em qualquer lugar? Esses
versículos foram revelados por Allah ao Profeta Mohammad, que a paz esteja com
ele, na época em que os muçulmanos vinham sendo atacados constantemente pelos
não muçulmanos de Meca. Eles estavam aterrorizando a comunidade muçulmana de
Medina. Pode-se dizer, usando o jargão contemporâneo, que havia
constantes ataques terroristas a Medina e, nesta situação, os muçulmanos tinham
a permissão de combater os "terroristas". Esses versículos não
significam uma permissão para a prática do "terrorismo", mas são uma
advertência aos "terroristas”. Porém, mesmo nessas advertências,você pode
perceber como a moderação e o cuidado são bastante ressaltados."
E assevera:
"É importante que estudemos os textos religiosos
dentro de seu contexto. Quando estes textos não são lidos dentro dos
contextos histórico e textual, eles são manipulados e distorcidos. É verdade
que alguns muçulmanos manipulam esses versículos para alcançar objetivos particulares.
Mas isto acontece não só com os textos islâmicos, mas, também com textos de
outras religiões. Posso citar dezenas de versículos da Bíblia que parecem
violentos se tomados isolados de seu contexto histórico.
Esses textos bíblicos foram usados por muitos grupos judaicos e cristãos. Os
cruzados os usaram contra muçulmanos e judeus. Os nazistas os usaram contra os
judeus. Recentemente, os cristãos sérvios os usaram contra os muçulmanos
bósnios. Os sionistas os estão usando regularmente contra os palestinos."
(Textos
bíblicos mencionados pelo islamita em sua resposta que se referem à aceitação
da violência contra opositores e inimigos: Velho
Testamento: “Deuteronômio 20:10.17” e “Números 31:17.18”; Novo Testamento: “Lucas
19:26-27”).
Concluindo...
No
texto grifado é reconhecido que “alguns muçulmanos manipulam esses versículos
para alcançar objetivos particulares.” (3)
E
é inequívoco que, a despeito de todas as intervenções americanas no mundo, seus
desastres, seu “carma” decorrente dos atos praticados no século XX e XXI no mundo –
foi o único país que experimentou a bomba atômica, no caso, contra o Japão no
final da 2ª Guerra contra civis, ceifando milhares de vidas – eu tenho um
conceito negativo em relação àqueles e outros atos de muçulmanos que interpretam
a seu modo o Alcorão.
Mas,
o que fazer, se os conceitos deles são outros, se a liberdade que eles desejam,
não é a nossa liberdade – que eu prefiro de modo incondicional?
Reconheço que tanto do lado islâmico como ocidental há santos, sim, mas há muitos
radicais, fanáticos, assassinos que não valorizam a vida humana e, no todo, a
do próprio planeta.
É
claro, porém, que esse ódio cuja causa, neste momento, seja tão desprezível, torna os muçulmanos temidos pela imprevisibilidade dos seus atos, pela
violência que praticam e intolerância sem limite que demonstram.
Quem são eles quando se aproximam?
Quem são eles quando se aproximam?
É
como sinto e vejo à distância.
(“Todos os louvores e agradecimentos são devidos a
Allah e que a paz e a bênção estejam com seu Mensageiro”).
Melhor se, em vez da intolerância e agressões esclarecessem ao Ocidente o sentido do islamismo e do Alcorão.
Referências:
(1) Recomendo
a leitura do artigo do jornalista Caio Martins de 11.09.2012, “11 de setembro:
qual?” muito esclarecedor sobre as intervenções americanas recentes, no portal www.votebrasil.com;
(2)
Recomendo a leitura do artigo do jornalista Caio Martins, de 16.09.2012, “Primavera
árabe e o outono da democracia”, no portal www.votebrasil.com;
(3) Mais
informações consultar: Sociedade Beneficente Muçulmana, “O Alcorão ensina a violência?”
(http://www.sbmrj.org.br/Alcorao-violencia.htm)
Imagens: A Bíblia e o Alcorão
APÊNDICE
Paz ‘made in’ São Paulo
O jornal “O
Estado de São Paulo” de 16.09.2012 trouxe notícia sob o título “A paz ‘made in
SP’ de cristãos, judeus e muçulmanos”, iniciativa de empresários dessas religiões
que se uniram para organizar exposição, destacando-se totens pela cidade com as
palavras Solidariedade, Amor, Paz, Diversidade, Liberdade, Amizade e Respeito
com até 19 metros de cumprimento. Haverá, também, uma corrida, a simbólica, a
Caminhada de Abrão, profeta que depois de receber o chamado de Deus, “caminhou por
1,2 mil quilômetros na região Oriente Médio – cruzou o Rio Eufrates, a região
montanhosa do Norte da Jordânia, Belém e Jerusalém.”
O patriarca
Abrão que viveu há quatro mil anos, é considerado o fundador do monoteísmo e
figura importante para as três religiões.
Os
organizadores consideram São Paulo “o melhor lugar do mundo” para tal evento,
por ser “o único onde há convivência, interação entre árabes, judeus e cristãos”.
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