O julgamento
do mensalão, por mérito do relator ministro Joaquim Barbosa, vem atendendo, com
isenção, à aspiração pública de dar um basta à impunidade no país.
O que dizer
da primeira “fatia” do julgamento do mensalão?
De plano
reconhecer que o relator, ministro Joaquim Barbosa avançou nos detalhes no
imenso processo do escândalo.
Não vou,
como princípio, tecer loas à sua postura, apenas dizer que, seguramente, ele
respondeu a uma aspiração do povo brasileiro, aquela imensa parcela
inconformada com os desmandos havidos nos governos recentes do país.
Desmandos,
como tantos outros, que iam passando incólumes mesmo com a “festa de arromba”
que vinha fazendo o partido oficial do governo por seus principais
próceres. “Tudo posso, porque os fins
justificam os meios”.
Creio que,
nunca antes neste país, ao alcançar a democracia, tantos escândalos vieram à
tona. Nem nos tempos de Fernando Collor.
Um exemplo
real de que as coisas já se processavam às claras, foi a ostentação do Land
Rover do ex-secretário do PT, Silvio Pereira, presente da GDK, empresa que
prestava serviços à Petrobrás.
Seguiram-se dossiês falsos – ação dos
“aloprados”-, dinheiro na cueca e outros tantos escândalos que envergonham
aquela parcela de brasileiros que lê jornal e que não reverencia o “mentor” do "bolsa
família", mui “safo”.(1)
O que me
admira é a influência via PT de Lula perante essa parcela sofrida que o endeusa
por tal programa, cuja origem, bom que se lembre, nem é petista, foi lançado no
governo do PSDB – que ele, Lula, criticara e depois o ampliara, porque tempo
tivera para isso. E navegou nas águas calmas da estabilidade que herdara e
arrotava críticas duras a tudo o mais que amealhara do governo anterior para
fixar a sua “marca”.
Só foi
contido não faz muito, pela sua protegida, já na presidência, que elogiara FHC
por ocasião do seu 80° aniversário, por tudo o que representara e realizara o
seu governo. (v. meu artigo “FHC 80 anos:
agora é “Pai da Pátria” de 20.06.2011 neste portal).
Nesse passo,
o que fez o relator ministro Joaquim Barbosa, com isenção, foi dar voz a esse
inconformismo contido mas que vinha sendo externado nas redes sociais.
Como sábias
se manifestam as forças depuradoras!
Certos
episódios políticos e sociais deflagrados resultam em desdobramentos
irreversíveis. Por exemplo, quem poderia imaginar que o senador cassado
Demóstenes Torres, paladino da ética e pureza no Senado fazia parte do jogo do
bicheiro Carlinhos Cachoeira?
Como seriam,
no caso do mensalão os encaminhamentos fora relator e não revisor o ministro
Ricardo Lewandowski? Quais argumentos usaria aos demais petistas, partindo da
absolvição que proclamara do deputado João Paulo Cunha?
Mas, o
relator não é ele...
Sou advogado
militante e tenho como princípio recorrer de decisões judiciais sejam
teratológicas ou fundamentadas, mas tento sempre – com raras exceções, esquecer
a figura do juízo prolator.
Mas, no
julgamento do mensalão há que se reconhecer que o ministro José Dias Toffoli não
poderia estar entre seus pares como julgador pela sua ligação com o PT. O melhor
seria declarar-se suspeito por “razões íntimas”. Talvez fosse seduzido pelos
holofotes que eclodiriam como eclodem no andar do julgamento.
Porém, sua
permanência no julgamento é contraproducente: não acredito que algum dos seus
pares o ouça, leve em conta seus votos, mesmo que elaborado de modo alentado.
Há uma questão complicada aí: a (in) certeza da isenção.
Ademais,
menos que clamores há um brado de esperança brasileira de que as coisas mudem
um dia neste país. Quem sabe não seja com esse julgamento. A impunidade posta
em xeque a partir daí sem condescendências e retribuições.
Quanto a
Lula sobre o escândalo, bem ao seu estilo, num primeiro momento afirmou que o
desconhecia, depois que foi traído, discursaria que o PT e o governo deveriam
pedir desculpas ao Brasil, depois que o mensalão não existia, era apenas “caixa
2”, “legítima” – e isso vem afirmando até agora, mas que “respeitará a decisão
do STF”. O STF exatamente desvenda o mensalão... (2)
Por isso, seu governo, tudo indica, ficará
marcado para a história com o incômodo apêndice do mensalão, pelo menos.
E não sei não se não venha a se transformar num estorvo nacional.
Referências:
(1) Jornal “O Estado de São
Paulo” de 06.08.2012:
"Sujeito safo -
"Questionado pela reportagem a quem beneficiava o esquema e se o então
presidente Lula não sabia, o ministro (Marco Aurélio do STF) disse: "Você
acha que um sujeito safo como o presidente Lula não sabia? O presidente se disse
traído. Foi traído por quem? Pelo José Dirceu? Pela mídia? O presidente Lula
sempre se mostrou muito mais um chefe de governo do que chefe de Estado."
(Safo, no Dicionário Aurélio, entre outros
significados: "Que se safou.")
(2) O advogado de
Roberto Jefferson, Luiz Francisco Correa Barbosa, em sua defesa
no STF – ele, Jefferson, que fora o denunciante do mensalão – acusou Lula de ser o chefe do esquema. E que deveria estar entre
os réus. Mas, fora ele, Jefferson, ao revelar o escândalo, afirmara que Lula de
nada sabia. Que todos sabiam que Lula sabia, era coisa óbvia! Mas, ao contrário
do que muitos apregoam, setores influentes diversos e a própria imprensa,
pouparam Lula do desgaste e como decorrência evitar o fortalecimento de novo
processo de impeachment por estas plagas.
Com sua licença, meu amigo, assino em baixo! Abraços.
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