A condenação de José Dirceu. Por tudo
o que relatado no processo, não fora surpresa. Ministros tentaram absolvê-lo ofertando-lhe
o perdão. O STF pode ter iniciado um processo de moralização da política
brasileira tão cheia de abusos e escândalos.
Aceitem ou não, a trajetória de José
Dirceu durante os anos cinzentos da ditadura foi corajosa e envolvente.
Cruzei com ele, ocasionalmente, nos
corredores da PUC. Não me engajara no apoio às ações militares, mas não gostava
dos seus discursos.
É sabido que os militares avançavam
na repressão, num período confuso do ponto de vista político com forte
influência do que se passava no exterior, sobras da guerra fria, os horrores da
Guerra do Vietnã. Na América Latina, a repressão muito mais dura dos militares que
tomaram o poder na Argentina e no Chile. Reação antissocialista exacerbada.
Afinal, qual era o modelo
predominante de governo pretendido pelos dissidentes, então, se tomado o
discurso de José Dirceu e seus “companheiros” estudantes?
Cuba, que ostentava um regime
socialista, duro, também repressivo e sem liberdade que até agora persiste.
Pois não foi presa nestes dias a
blogueira Yoani Sánchez que faz oposição aos Castros?
O que queriam, então, esses
estudantes à esquerda, guerrilheiros, além de derrubar os militares do poder?
Até hoje não sei bem. Talvez nem eles
próprios soubessem, embora Cuba se apresentasse a eles como espécie de
referência, independentemente da ditadura que por lá fora implantada.
José Dirceu foi perseguido pela
ditadura por aqui, pela sua “ferocidade”. Preso em 1968 deixou o Brasil em 1969
no mesmo grupo de militantes também presos em troca da libertação do embaixador
americano Charles Burke Elbrick que fora sequestrado por “revolucionários” da
ALN e do MR-8.
Depois de viver e trabalhar em Cuba,
voltou ao Brasil em 1975, clandestinamente e, algo impensável: fez cirurgia plástica
para não ser reconhecido. Viveu alguns anos pacificamente na cidade de Cruzeiro
d’Oeste, norte do Paraná.
Esses fatos passaram, os militares,
sob pressão popular mui forte, deixaram o poder, veio a lei da anistia, a
democracia foi se instalando, o PT foi conquistando espaços e com ele, não só Lula,
mas José Dirceu nos mesmos ventos.
Como pensar a personalidade de José
Dirceu, o estudante revolucionário e corajoso, aparentemente desprovido de
convicção política? Porque não se pode falar em democracia tolerando e
defendendo a ditadura cubana.
[Esse não é somente um
qualificativo dele. Lula, com suas desqualificações também apoia o regime
cubano.]
Alguém que se revelou radical mas que
se submeteu a uma cirurgia plástica...
Ora, com todo o poder na mão “concedido”
por Lula quando eleito em 2002, José
Dirceu passou a chefiar a Casa Civil,
cargo estratégico, porque passa por ali os projetos do interesse ou não do
governo e, também, e principalmente, a articulação política.
Manteve-se no cargo de 2003 a 2005,
deixando o Ministério após as primeiras denúncias de Roberto Jefferson sobre a
existência do mensalão.
E foi pelo mensalão que foi cassado
em 1° de dezembro de 2005, “por falta de decoro” perdendo o mandato de deputado
federal, juntamente com o denunciante Roberto Jefferson.
Quanto ao seu envolvimento no
mensalão não posso duvidar.
Pela sua personalidade forte, mandão,
não poderia estar ausente desse processo, principalmente quando se olha para a
complexão de Delúbio Soares – o tesoureiro do PT -, a submissão que publicamente
ostenta. Ele e Marcos Valério, foram os marionetes do processo. Quanto a este último, vejam as consequências dá
ambição desmedida e aquela crença da (suposta) influência obtida na República:
ele não foi apenas um inocente útil mas um tolo “útil” que em todos confiou mas
acabou “fulminado” e tende a pagar caro por sua “influência” na gestão do
mensalão.
Quem os manipulou? Genoino é que não
foi. Tudo se volta para...José Dirceu pela sua autoridade e hierarquia natural.
Não há como escapar-se desse círculo.
E José Genuíno? Seria inocente sendo
presidente do PT? Também nada sabia? Tal qual Lula? Assinava papéis sem saber o
que assinava, “em confiança”?
Complicado, hem?!
Confiar em quem “caras pálidas”?
Por tudo isso, um processo tão
pensado no Supremo Tribunal Federal só poderia resultar em condenação, não só
pelo clamor da sociedade, cansada da roubalheira e da impunidade, do deboche e
do descaso da classe políticas mas principalmente pelos fortes elementos constantes
do processo e que foram gradativamente revelados.
O voto de Lewandowski foi dirigido no
sentido de “perdoar” José Dirceu, mesmo condenando José Genuíno e Delúbio
Soares. Dias Toffoli pela sua
subordinação a José Dirceu havida no passado, ao absolvê-lo deu um voto “café
com leite”.
Quanto ao “perdão”, tento entender, há
que lembrar que José Dirceu pelo mesmo mensalão, perdera o mandato de deputado
federal (seria espécie de atenuante de natureza política?), um duro golpe para
sua biografia e autoridade.
Que agora se agrava com a condenação criminal
por corrupção ativa.
[Roberto Jefferson
seria beneficiado na dosagem da pena por ter delatado o mensalão?]
Aguardemos o desfecho de todo o
processo, a dosagem das penas e... o seu cumprimento. Um outro capítulo.
[O STF pode ter
iniciado um processo de moralização da política brasileira tão cheia de abusos
e escândalos.]
Há aquela frase muito sintomática de
Roberto Jefferson, referindo-se a José Dirceu no auge do escândalo: “você
desperta em mim os instintos mais primitivos”.
Dirceu em 2006, foi agredido por
bengaladas por escritor paranaense idoso na saída do plenário da Câmara quando
ainda deputado.
Pela torcida popular que se deu pela
condenação do “trio” petista, a quem mais José Dirceu desperta tais “instintos
primitivos”?
Não sei. Talvez seja tema para alguma
tese psiquiátrica.
FRASES IDIOTAS
De Marta Suplicy: “Lula é Deus”. Eu
diria santo, sabe, do “pau oco”;
Do “ministro” Gilberto Carvalho sobre
os primeiros votos pela condenação de José Dirceu no STF: “A dor me impede de
falar”. Que dor, ô meu? Dor que o “impede de falar” deveria se referir ao
esquema de arrecadação do PT em Santo André, que resultou, por decorrências
outras, no assassinato do prefeito Celso Daniel;
De Fernando Haddad: “Esperamos que
imediatamente o Supremo inicie o julgamento do mensalão do PSDB”. Tudo bem, mas
o mensalão do PT não acabou, e o Lula nada sabia... ou sabia? Dá para apurar se
sabia agora que é “cidadão comum”, e não mais acima do bem e do mal como
qualificou numa das suas frases “célebres”, José Sarney. Nesse caso, não mais acima do bem e do mal, Lula não
mais poderia falar em golpe das “elites” se "ingressar" no processo do mensalão ainda inacabado
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