Um traçado da degradação ambiental no Brasil e a preocupação
do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que
relaciona a “reserva alimentar” à preservação dos ecossistemas, de ordem a
produzir alimentos para atender a mais de nove bilhões de habitantes até 2050.
Há pouco foi divulgado pela mídia imensas áreas
nativas no Pará devastadas para o plantio de soja.
O Ministério Público Federal e o Judiciário
intervieram mas o mal já estava feito naquele estado que com alguma frequência
surge nos noticiários de regra com notícias negativas.
O que resolvem multas vultosas se há dúvidas que serão
pagas e se terão, por isso, resultado prático, no geral, para impedir a
continuidade desses atos criminosos.
A realidade é que, enquanto se discute ainda o novo
Código Florestal no Congresso, as idas e vindas entre o que quer o Governo
Federal e a bancada ruralista que manipula a casa, a devastação desenfreada na
Amazônia não cessa.
Chega-se ao ponto de comemorar, vez por outra, a
diminuição do desflorestamento, um absurdo, considerando que, a despeito do
retraimento, centenas de hectares são devastados a cada dia.
Tenho com frequência até “febril” combatido a
impossibilidade demonstrada pelo Governo Federal em impedir com ações imediatas
a devastação como tenho combatido a intransigência ruralista no Congresso Nacional
que tem demonstrado enxergar muito pouco que não seja um palmo além do nariz e
tumultuam a aprovação do Código Florestal.
Essa resistência insana é uma das causas da devastação
que se processa no meio ambiente.
Pretendem estabelecer uma proteção infantil aos
agricultores como se fossem crianças irresponsáveis precisando de tutela.
É que muitos são os agricultores que devastaram além
da conta, sem se preocupar que a produção agrícola está intimamente ligada, no
todo, ao meio ambiente que precisa ser respeitado.
Não se pensa sequer a médio prazo, mas somente nos
lucros do hoje.
Porque não é mais possível tolerar grandes devastações
em nome da produção agrícola sem atentar para os graves prejuízos ecológicos, às
fontes de água e ao enfraquecimento do solo pelo desmatamento violento e com o
uso constante do fogo.
Essas práticas absurdas ocorrem para justificar
abertura de pastos, para plantação de soja, predominantemente, cuja produção,
em parte é empregada na alimentação do gado e também a extração ilegal e
criminosa da madeira, sem controle, sem manejo.
A preocupação ambiental é rara e não poucas vezes
tratada com desdém.
No Pará – um estado que se não devidamente abordado
tem-se a impressão que é “terra de ninguém” – o desflorestamento vem atingindo
proporções catastróficas, um reduto de ilegalidades, atos de ignorantes e
criminosos que se aproveitam da fiscalização deficiente para estabelecer com a
devastação exacerbada, a “lei dos fatos consumados”.
E aí, discutem-se as multas que tem procedimentos de
recurso e a coisa se estende sem solução e, pior, sem a recomposição da mata
ilegalmente degradada.
[V. portal G1: http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2012/09/operacao-combate-desmatamento-na-regiao-sudoeste-do-para.html]
Essas “tolerâncias” têm que ser erradicadas no país.
A propósito, no último dia 16 – dia mundial da alimentação - o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) relacionou, num estudo,
de modo expresso que a preservação ecológica está relacionada com a preservação
alimentar. Não parece, mas a ponderação é óbvia.
Nas suas linhas básicas, embora não seja muito enfático nas
políticas atuais de preservação, extrai-se do documento, pontos importantes:
Deve-se, salvaguardar os fundamentos ecológicos de apoio à
produção, incluindo a biodiversidade que serão fundamentais para que o mundo
alimente sete bilhões de habitantes hoje subindo para mais de nove bilhões até
2050. Esse argumento é defendido no estudo de modo a “evitar a fome no futuro”,
que será possível com o fortalecimento da base ecológica da segurança alimentar.
Vai além o documento sustentando que de toda a produção alimentar
1/3 1,3 bilhão de toneladas é desperdiçada pelo que se apresenta como um item
essencial do que se denominou “segurança alimentar” a ser enfrentado e
solucionado Até hoje, sempre houve preocupação, na produção alimentar, em quatro
itens a saber: disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade.
Mas, não houve preocupação com os ecossistemas que sustentam a
produção agrícola.
Do documento, extraem-se essas afirmações:
Do cientista-chefe do PNUMA Joseph Alcamo:
“Esta é primeira vez que a comunidade científica nos dá um quadro
completo de como a base ecológica do sistema alimentar não é apenas instável,
mas que vem sendo realmente prejudicada.”
Do Diretor-Executivo do PNUMA Achim Steiner:
“A era da produção aparentemente cada vez mais duradoura baseada
na maximização dos insumos, como fertilizantes e pesticidas, produção mineral
suportada por água potável, terra fértil arável e avanços ligados à mecanização
estão atingindo os seus limites se é que já não atingiram”.
E acentua:
“O mundo precisa de uma revolução verde, com V maiúsculo que
melhor compreenda como os alimentos são cultivados e produzidos e suas relações
com a natureza, com as florestas, a água potável e biodiversidade.”
Além da melhoria do armazenamento para diminuir o desperdício dos
alimentos, há que promover sistemas que evitem a poluição das águas, inclusive
do mar, pesca não predatória que garanta a reprodução porque os peixes
contribuem com 10% da produção alimentar, em determinado trecho do documento há
recomendações sobre a mudanças de hábitos alimentares, ainda suaves, mas já
refletindo uma tendência que certamente se acentuará:
“Promover
dietas sustentáveis, de modo a evitar hábitos alimentares pouco saudáveis
(quais serão?) e os efeitos associados à saúde e reduzir os impactos sobre os
recursos naturais. Em particular, o menor
consumo de carne e produtos lácteos nos países desenvolvidos deve ser
promovido.”
A redução do consumo de carne foi expressamente observada para os
“países desenvolvidos”, por enquanto,e isso porque o gado bovino exige grandes
extensões de pasto, degradando o solo onde é confinado, polui á água e, pior,
parte da soja produzida é transformada em ração para sua engorda.
[As figuras que ilustram o
estudo não trazem entre os alimentos um bife, mas uma bandeja com vegetais e
outra com peixes. (*)]
Esse relatório foi produzido por doze cientistas que atuam em
diversas áreas do conhecimento, incluindo padrões de consumo alimentar,
produção agrícola, da pesca marinha e de água doce.
Entre nós, nesta terra insensata, esses parlamentares menores do
bloco rural no Congresso Nacional, como afirmei, forçam para reduzir a
responsabilidade dos agricultores que agiram contra a lei e devastaram áreas de
preservação permanente.
E nesse objetivo menor, desonesto, tumultuam a aprovação do Código
Florestal, a menos que seja segundo os seus “interesses”.
Esses desavisados não sabem que o Código Florestal não é para
hoje, mas as ações que ele preconiza de preservação das matas ciliares e sua
recomposição em medidas razoáveis quando devastadas e a recomposição de
florestas ilegalmente derrubadas são a segurança alimentar se não para os seus
filhos, para os seus netos.
Saibam que tem que acabar a farra da motosserra, dos tratores e
dos correntões, do fogo nas matas para plantar soja e gado.
O dinheiro não é tudo.
Há até sérias questões morais na temática ecológica hoje.
Mas, a cegueira e ignorância não permitem que enxerguem um palmo
adiante do nariz.
(*) Consultar:
http://www.unep.org/publications/ebooks/avoidingfamines/portals/19/UNEP_Food_Security_Report.pdf
Foto:
http://www.unep.org/publications/ebooks/avoidingfamines/portals/19/UNEP_Food_Security_Report.pdf
Foto:
Nelson Feitosa - Divulgação (IBAMA)
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