terça-feira, 18 de junho de 2019

HÁ FARSANTES GERINDO O MEIO AMBIENTE?


AS ATITUDES INDICAM QUE SIM.

O Governo Bolsonaro peca pelos excessos: tenta liberar armas e inclui algumas de grosso calibre causando espanto para milhões que não se preocupam com elas; apresenta o projeto de prorrogação da validade das carteiras de motorista e de modo exacerbado dobra os pontos para perda da habilitação pelas transgressões no trânsito e de certa maneira desqualifica as cadeirinhas obrigatórias que se prestam a proteger a integridade de crianças em colisões, com redução de punição no descumprimento dessa medida de segurança.

O que poderia ser recebido como novidade, com tais excessos, porém, geram polêmicas desnecessárias e má vontade aos projetos com tais proposições. Trata-se do perfil bronco, da precipitação, que ainda predomina.
Mas, não esse o tema que me motiva nesta incursão: na verdade, continua sendo a questão ambiental que vai sendo tratada como um peso político quase supérfluo e combatida pelo atual Governo e, pior, com um Ministro do Meio Ambiente agindo como um farsante.










0 Ministro Ricardo Salles tem se apresentado como o agente da omissão, discursos vazios, antiecológico que, sob o argumento de rever todas as políticas ambientais que vigoraram até antes da posse de Bolsonaro, na verdade vem desmontado o que ainda funcionava.
Vejam o incidente constrangedor que provocou ao se referir ao encontro a ser realizado em Salvador, organizado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), um dos eventos preparatórios à Conferência do Clima (COP25), que será realizada em dezembro deste ano em Santiago: anunciara o Ministro Salles que o Governo Federal havia cancelado o evento expondo o seguinte:
"Nós não aceitamos receber porque é uma ação na esteira da COP25. Não faz sentido receber um evento da conferência do Clima se não vamos sediá-la”. (1)
Em entrevista ao G1 completou a “pérola” da ignorância:
“Vou manter um encontro que vai preparar um outro, que não vai acontecer mais no Brasil, por quê? Não faz o menor sentido, vai para o Chile! Vou fazer uma reunião para a turma ter oportunidade de fazer turismo em Salvador? Comer acarajé?”. (2)
Comer acarajé somente? Que atitude desqualificada! Ora, os visitantes não comerão somente acarajé mas levarão a Salvador outra sorte de consumo e certamente de simpatias.
Às estranhezas do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto sobre esse anúncio e pelas razões menores apresentadas, desistiu o Governo Federal de cancelar o encontro.
São as exacerbações do Governo Bolsonaro que justificam o discurso do falastrão do ambiente que tenta fazer média com o chefe, age como um menino de recados e muito pouco de preservação ambiental.
Mas, se o Ministro age com tanta exacerbação, o discurso de outro membro do governo aponta o descaso com a floresta Amazônica que vem sendo devastada com rapidez nunca vista.
Com efeito, disse recentemente o Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, que se afina ao ataque ao ambiente inaugurado por Bolsonaro porque no fundo há o interesse em diminuir ou extinguir áreas de preservação:
“Não aceito essa história de que a Amazônia é patrimônio da humanidade, isso é uma grande bobagem. A Amazônia é brasileira, patrimônio do Brasil e tem de ser tratada pelo Brasil em proveito do Brasil.” (3)
Essa gente é imediatista, não pensa no que a degradação ambiental pode significar de trágico para as próximas gerações, com o aumento demográfico, com a poluição do ar e das águas, a explosão do lixo plástico espalhado no meio ambiente, pelos mares.
Então o general, aliado de Bolsonaro, excluiu o Brasil da humanidade!
Mas, por trás da Amazônia “em proveito do Brasil” há um significado trágico: a madeira legal ou ilegal continuará sendo exportada para o resto da humanidade, especialmente para a do 1º mundo e os pastos que avançam sobre áreas devastadas das florestas – o “plantio” de gado – com todos os efeitos secundários desastrosos há que lembrar que imensas áreas de plantio de soja, 1/3 delas é destinada à ração animal.
E, então, dessas imensas áreas degradadas por pastos e para alimentação do gado, resulta na produção de carne destinada à humanidade que baba num bife. E respira a fumaça contaminada dos churrascos
Para mim, o discurso mais retrógrado é aquele que afirma poder o Brasil fazer o que quiser com suas florestas porque o resto do mundo, a “humanidade”, acabou com as suas. Pois é exatamente por isso que devemos preservar nossa biodiversidade principalmente a Amazônia.

Em matéria ampla, o jornal “O Estado” registrou os “maiores números de desmatamento na Região Amazônica de toda a história”, porque “desde agosto, a devastação ilegal continua e atinge, em média, 52 hectares da Amazônia/dia”.

Informa, ainda, o jornal que o “novo problema é que os dados mais recentes, dos primeiros 15 dias de maio, são os piores porque foram perdidos oficialmente em uma quinzena 6.880 hectares de floresta preservada na Região Amazônica, o mesmo que quase 7 mil campos de futebol. Esse volume ainda está próximo do desmatamento registrado na soma de todos os nove meses anteriores, entre agosto de 2018 e abril de 2019, que chegou a 8.200 hectares.” (4)

Em janeiro de 2019, o SAD [Sistema de Alerta de Desmatamento] detectou 108 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 54% em relação a janeiro de 2018, quando o desmatamento somou 70 quilômetros quadrados. (5)
Para essa situação catastrófica do ponto de vista ambiental, o Ministro, que já fugiu do Senado para não responder perguntas que o comprometeriam, sai com evasivas e culpa os governos passados mas pouco diz sobre suas ações para coibir a agressão crescente às florestas.

Na verdade, ele não apresentou até agora qualquer projeto. Há indiferença ou insensibilidade pelo que podem significar as mudanças climáticas que já se sente, para as futuras gerações.

Ademais, a devastação não se dá apenas na Amazônia, mas também na Mata Atlântica.
Há pouco em editorial, o jornal “O Estado” destacava a diminuição em 9,3% em 2017-2018 em relação a 2016-2107 de desmatamento nessa reserva como se isso fosse algo a comemorar. A diminuição significa que a devastação continua, apenas em ritmo menos intenso. A comemoração seria justificável se o corte fosse zero. Ou se houvesse a compensação pela reposição sistemática de replantio. (6)
Em entrevista recente ao mesmo jornal, José Pedro de Oliveira Costa, arquiteto e professor há 41 anos na FAU e atuando agora no Instituto de Estudos Avançados da USP, é um batalhador ambiental com currículo respeitável na matéria, defendeu sua tese na Universidade da Califórnia com o título bem sugestivo,  “História da Destruição das Florestas Brasileiras”.
Ele observou a perda de respeitabilidade do país pelo retrocesso que se verifica na política de preservação ambiental e invoca Deus:
“A rapidez do ritmo de extinção da biodiversidade prenuncia um prejuízo tremendo. Nessa questão, aliás, me espanta ver a atuação da bancada evangélica no Congresso, que é um dos pilares do atual governo. Porque toda essa natureza, a biodiversidade, é obra de Deus, a criação das plantas e animais… Não bastasse o aspecto científico, temos também o religioso. A natureza tem o direito de existir. O homem não tem o direito de extingui-la. O que você tem, de fato, é 1% dos cientistas que não acreditam que as mudanças climáticas estejam ocorrendo por causa da ação humana. Os outros 99% acreditam.” (7)

Mais que isso, é o chavão pronunciado sempre em manifestações de Bolsonaro, invocando “Deus acima de todos”.

Ou ele pensa que a biodiversidade não tem muito de divindade?

O significado filosófico de uma mata densa – o seu silêncio.
Expliquem a composição do abacate, a doçura do abacaxi, tão doce duma planta agressiva, das laranjas, da melancia…

Dos lindos pássaros que habitam as florestas, os animais...

Sim, há muita divindade nisso tudo.

Estamos destruindo o paraíso.

Referências:
1 – Jornal “O Globo” de 13.05.2019
2 -  Portal G1 de 14.05.2019
3. Revista “Exame” de 10.05.2019
4. Jornal “O Estado” de 22.05.2019
5. Boletim “Amazon” de 28.02.2019

Trecho de relatório recente do Greenpeace:
"Por causa da ganância dessas grandes corporações, o Cerrado, a caixa d’água do Brasil, e a Amazônia estão sendo devorados em velocidade alarmante. Esse rastro de destruição é provocado pela produção de soja, algodão, milho e outros produtos que serão exportados — muitos deles usados para ração animal mundo afora –, acabando com a nossa rica biodiversidade e ameaçando as comunidades tradicionais que vivem nessas regiões.
Os dados são estarrecedores: desde 2010, a produção e o consumo de commodities agrícolas ligadas ao desmatamento, como gado, soja, óleo de palma, borracha e cacau, vem aumentando vertiginosamente. Oitenta por cento do desmatamento global é resultado direto da produção agrícola. No Brasil, entre 2010 e 2017, as fazendas de soja e gado eliminaram quase cinco milhões de hectares do Cerrado."
6. Jornal “O Estado” de 30.05.2019
7.  Jornal “O Estado” de 10.06.2019: “A biodiversidade é decisiva na imagem do Brasil”.



2 comentários:

  1. Bem, se me permite, não concordo cem por cento com tudo o que Bolsonaro faz, assim como ninguém jamais concorda cem por cento com tudo o que alguém faz; mas vejo que o governo de Dilma também fez o mesmo, ou pior, com aquela história de Belo Monte, e ninguém achou ruim.

    Da mesma forma, lembro-me de Dilma pouco antes do impeachment discursando sobre a necessidade de se apertar os cintos, falando sobre a reforma da previdência e sobre aumento de impostos. Mas é claro, ninguém se lembra disso. Parece que o novo Presidente será o bode expiatório de tudo de errado que aconteceu no Brasil nos últimos cem anos.

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    1. Esse meu artigo, mais um do mesmo tema, nada tem a ver com questões políticas. Aliás, como escrevo para mim mesmo, me cansei de criticar o lulopetismo e a Dilma incluída. Foram dezenas neste blog. O PT para o Brasil foi um desastre difícil de sanar. No caso do Bolsonaro, ele se excede, tanto na questão das armas - só faltou liberar bazucas - e no caso das carteiras do motorista, ele vai para os extremos. Aumente para 30 pontos e esqueça as cadeirinhas. Com essas exacerbações que poderia apoiar critica.
      Mas, o tema do meu artigo é de natureza ecológica que considero essencial nestes tempos e, pior, ninguém leva muito a sério porque não está afetando os dias atuais. Mas, a persistir a devastação ambiental, a vida vai ficar mais difícil ainda.

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