AS ATITUDES INDICAM QUE SIM.
O Governo Bolsonaro peca pelos excessos: tenta liberar
armas e inclui algumas de grosso calibre causando espanto para milhões que não
se preocupam com elas; apresenta o projeto de prorrogação da validade das carteiras
de motorista e de modo exacerbado dobra os pontos para perda da habilitação
pelas transgressões no trânsito e de certa maneira desqualifica as cadeirinhas
obrigatórias que se prestam a proteger a integridade de crianças em colisões,
com redução de punição no descumprimento dessa medida de segurança.
O
que poderia ser recebido como novidade, com tais excessos, porém, geram polêmicas
desnecessárias e má vontade aos projetos com tais proposições. Trata-se do
perfil bronco, da precipitação, que ainda predomina.
Mas,
não esse o tema que me motiva nesta incursão: na verdade, continua sendo a
questão ambiental que vai sendo tratada como um peso político quase supérfluo e
combatida pelo atual Governo e, pior, com um Ministro do Meio Ambiente agindo
como um farsante.
0 Ministro Ricardo Salles tem se apresentado como o agente da omissão, discursos vazios, antiecológico que, sob o argumento de rever todas as políticas ambientais que vigoraram até antes da posse de Bolsonaro, na verdade vem desmontado o que ainda funcionava.
Vejam
o incidente constrangedor que provocou ao se referir ao encontro a ser
realizado em Salvador, organizado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (UNFCCC), um dos eventos preparatórios à Conferência do Clima
(COP25), que será realizada em dezembro deste ano em Santiago: anunciara o
Ministro Salles que o Governo Federal havia cancelado o evento expondo o
seguinte:
"Nós
não aceitamos receber porque é uma ação na esteira da COP25. Não faz sentido
receber um evento da conferência do Clima se não vamos sediá-la”. (1)
Em
entrevista ao G1 completou a “pérola” da ignorância:
“Vou manter
um encontro que vai preparar um outro, que não vai acontecer mais no Brasil,
por quê? Não faz o menor sentido, vai para o Chile! Vou fazer uma reunião para
a turma ter oportunidade de fazer turismo em Salvador? Comer acarajé?”. (2)
Comer
acarajé somente? Que atitude desqualificada! Ora, os visitantes não comerão
somente acarajé mas levarão a Salvador outra sorte de consumo e certamente de
simpatias.
Às
estranhezas do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto sobre esse
anúncio e pelas razões menores apresentadas, desistiu o Governo Federal de
cancelar o encontro.
São
as exacerbações do Governo Bolsonaro que justificam o discurso do falastrão do
ambiente que tenta fazer média com o chefe, age como um menino de recados e
muito pouco de preservação ambiental.
Mas,
se o Ministro age com tanta exacerbação, o discurso de outro membro do governo
aponta o descaso com a floresta Amazônica que vem sendo devastada com rapidez
nunca vista.
Com
efeito, disse recentemente o Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança
Institucional, general Augusto Heleno, que se afina ao ataque ao ambiente
inaugurado por Bolsonaro porque no fundo há o interesse em diminuir ou extinguir
áreas de preservação:
“Não aceito
essa história de que a Amazônia é patrimônio da humanidade, isso é uma grande
bobagem. A Amazônia é brasileira, patrimônio do Brasil e tem de ser tratada
pelo Brasil em proveito do Brasil.” (3)
Essa gente é
imediatista, não pensa no que a degradação ambiental pode significar de trágico
para as próximas gerações, com o aumento demográfico, com a poluição do ar e
das águas, a explosão do lixo plástico espalhado no meio ambiente, pelos mares.
Então o
general, aliado de Bolsonaro, excluiu o Brasil da humanidade!
Mas, por
trás da Amazônia “em proveito do Brasil” há um significado trágico: a madeira
legal ou ilegal continuará sendo exportada para o resto da humanidade,
especialmente para a do 1º mundo e os pastos que avançam sobre áreas devastadas
das florestas – o “plantio” de gado – com todos os efeitos secundários
desastrosos há que lembrar que imensas áreas de plantio de soja, 1/3 delas é destinada
à ração animal.
E, então,
dessas imensas áreas degradadas por pastos e para alimentação do gado, resulta
na produção de carne destinada à humanidade que baba num bife. E respira a
fumaça contaminada dos churrascos
Para
mim, o discurso mais retrógrado é aquele que afirma poder o Brasil fazer o que
quiser com suas florestas porque o resto do mundo, a “humanidade”, acabou com
as suas. Pois é exatamente por isso que devemos preservar nossa biodiversidade
principalmente a Amazônia.
Em matéria ampla, o jornal “O Estado” registrou os “maiores
números de desmatamento na Região Amazônica de toda a história”, porque “desde agosto, a
devastação ilegal continua e atinge, em média, 52 hectares da Amazônia/dia”.
Informa, ainda, o jornal que o “novo problema é que os
dados mais recentes, dos primeiros 15 dias de maio, são os piores porque foram
perdidos oficialmente em uma quinzena 6.880 hectares de floresta preservada na
Região Amazônica, o mesmo que quase 7 mil campos de futebol. Esse volume ainda
está próximo do desmatamento registrado na soma de todos os nove meses
anteriores, entre agosto de 2018 e abril de 2019, que chegou a 8.200 hectares.”
(4)
Em janeiro
de 2019, o SAD [Sistema de Alerta de Desmatamento] detectou 108
quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 54% em
relação a janeiro de 2018, quando o desmatamento somou 70 quilômetros quadrados.
(5)
Para essa situação catastrófica do ponto de vista
ambiental, o Ministro, que já fugiu do Senado para não responder perguntas que
o comprometeriam, sai com evasivas e culpa os governos passados mas pouco diz
sobre suas ações para coibir a agressão crescente às florestas.
Na verdade, ele não apresentou até agora qualquer
projeto. Há indiferença ou insensibilidade pelo que podem significar as
mudanças climáticas que já se sente, para as futuras gerações.
Ademais, a
devastação não se dá apenas na Amazônia, mas também na Mata Atlântica.
Há pouco em
editorial, o jornal “O Estado” destacava a diminuição em 9,3% em 2017-2018 em
relação a 2016-2107 de desmatamento nessa reserva como se isso fosse algo a
comemorar. A diminuição significa que a devastação continua, apenas em ritmo
menos intenso. A comemoração seria justificável se o corte fosse zero. Ou se
houvesse a compensação pela reposição sistemática de replantio. (6)
Em
entrevista recente ao mesmo jornal, José Pedro de Oliveira Costa, arquiteto e
professor há 41 anos na FAU e atuando agora no Instituto de
Estudos Avançados da USP, é um batalhador ambiental com currículo respeitável
na matéria, defendeu sua tese na Universidade da Califórnia com o título bem
sugestivo, “História da Destruição das
Florestas Brasileiras”.
Ele
observou a perda de respeitabilidade do país pelo retrocesso que se verifica na
política de preservação ambiental e invoca Deus:
“A
rapidez do ritmo de extinção da biodiversidade prenuncia um prejuízo tremendo.
Nessa questão, aliás, me espanta ver a atuação da bancada evangélica no
Congresso, que é um dos pilares do atual governo. Porque toda essa natureza, a
biodiversidade, é obra de Deus, a criação das plantas e animais… Não bastasse o
aspecto científico, temos também o religioso. A natureza tem o direito de
existir. O homem não tem o direito de extingui-la. O que você tem, de fato, é
1% dos cientistas que não acreditam que as mudanças climáticas estejam
ocorrendo por causa da ação humana. Os outros 99% acreditam.” (7)
Mais
que isso, é o chavão pronunciado sempre em manifestações de Bolsonaro,
invocando “Deus acima de todos”.
Ou
ele pensa que a biodiversidade não tem muito de divindade?
O
significado filosófico de uma mata densa – o seu silêncio.
Expliquem a composição do abacate, a doçura do abacaxi, tão doce duma planta agressiva,
das laranjas, da melancia…
Dos
lindos pássaros que habitam as florestas, os animais...
Sim,
há muita divindade nisso tudo.
Estamos
destruindo o paraíso.
Referências:
1 – Jornal
“O Globo” de 13.05.2019
2 - Portal G1 de 14.05.2019
3. Revista
“Exame” de 10.05.2019
4. Jornal “O
Estado” de 22.05.2019
5. Boletim
“Amazon” de 28.02.2019
Trecho de relatório recente do Greenpeace:
Trecho de relatório recente do Greenpeace:
"Por
causa da ganância dessas grandes corporações, o Cerrado, a caixa
d’água do Brasil, e a Amazônia estão sendo devorados em
velocidade alarmante. Esse rastro de destruição é provocado pela
produção de soja, algodão, milho e outros produtos que serão
exportados — muitos deles usados para ração animal mundo afora –,
acabando com a nossa rica biodiversidade e ameaçando as comunidades
tradicionais que vivem nessas regiões.
Os
dados são estarrecedores: desde 2010, a produção e o consumo de
commodities agrícolas ligadas ao desmatamento, como gado, soja, óleo
de palma, borracha e cacau, vem aumentando vertiginosamente. Oitenta
por cento do desmatamento global é resultado direto da produção
agrícola.
No Brasil, entre 2010 e 2017, as fazendas de soja e gado eliminaram
quase cinco milhões de hectares do Cerrado."
6. Jornal “O
Estado” de 30.05.2019
7. Jornal “O Estado” de 10.06.2019: “A
biodiversidade é decisiva na imagem do Brasil”.
Bem, se me permite, não concordo cem por cento com tudo o que Bolsonaro faz, assim como ninguém jamais concorda cem por cento com tudo o que alguém faz; mas vejo que o governo de Dilma também fez o mesmo, ou pior, com aquela história de Belo Monte, e ninguém achou ruim.
ResponderExcluirDa mesma forma, lembro-me de Dilma pouco antes do impeachment discursando sobre a necessidade de se apertar os cintos, falando sobre a reforma da previdência e sobre aumento de impostos. Mas é claro, ninguém se lembra disso. Parece que o novo Presidente será o bode expiatório de tudo de errado que aconteceu no Brasil nos últimos cem anos.
Esse meu artigo, mais um do mesmo tema, nada tem a ver com questões políticas. Aliás, como escrevo para mim mesmo, me cansei de criticar o lulopetismo e a Dilma incluída. Foram dezenas neste blog. O PT para o Brasil foi um desastre difícil de sanar. No caso do Bolsonaro, ele se excede, tanto na questão das armas - só faltou liberar bazucas - e no caso das carteiras do motorista, ele vai para os extremos. Aumente para 30 pontos e esqueça as cadeirinhas. Com essas exacerbações que poderia apoiar critica.
ExcluirMas, o tema do meu artigo é de natureza ecológica que considero essencial nestes tempos e, pior, ninguém leva muito a sério porque não está afetando os dias atuais. Mas, a persistir a devastação ambiental, a vida vai ficar mais difícil ainda.